Era uma vez um padre virgem

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Gay
Contém 11402 palavras
Data: 29/11/2024 15:53:58

Era uma vez um padre virgem

Antes de ele começar a contar sua história é preciso esclarecer como é que o jovem padre Tomaz de Avieiro e Cintra chegou à colônia ultramarina chamada Brasil, mais precisamente na primeira metade do século XVII no ano de 1631, numa localidade denominada Capitania Hereditária de Itanhaém, que havia sido fundada pela Condessa de Vimieiro, muito embora esta dama jamais tivesse pisado nessa colônia. Após desavenças com um dos herdeiros da Capitania de São Vicente, o que a levou a ser destituída como donatária dessa Capitania, acabou por fundar sua própria em parte dessas terras dando lhe o nome de Itanhaém.

Para sermos bem precisos, vamos começar a explicar como ele veio ao mundo. Miguel de Avieiro e Cintra, pai do nosso jovem Tomaz e próspero comerciante e transportador de azeites e vinhos, enviuvara cedo pouco depois do nascimento de seu quarto filho. Ele permaneceu nessa condição até conhecer e se encantar por uma rapariga inglesa, mais de 15 anos mais jovem do que ele na ocasião. Ela havia terminado seus estudos na Inglaterra e voltou para junto da família que mantinha negócios em Portugal. Era uma moça meiga de pele muito clara, com umas poucas sardas no rosto harmônico envolto numa cabeleira loira e que corava com incrível facilidade. Miguel se tomou de amores por ela assim que a viu, e como era seu costume quando encasquetava com alguma coisa, não se deu por vencido enquanto não a tomou em casamento. Tiveram dois filhos, primeiro uma garotinha rechonchuda que era uma cópia fiel da mãe, e depois, um menino, o nosso Tomaz, que tinha uma mescla dos traços paternos e maternos, muito bem entrelaçados, o que lhe conferiu desde cedo, uma aparência muito bonita.

Os meios-irmãos do primeiro casamento, todos homens, eram no mínimo, 10 anos mais velhos do que ele, e faziam gato e sapato do caçula como se ele fosse um brinquedo. Contudo, Tomaz parecia não se incomodar com isso, mesmo quando o faziam passar por situações embaraçosas. À medida que foi crescendo, sua candura e meiguice, certamente herdados da mãe bem como outras tantas características de seu aspecto físico, foram desabrochando e levaram o pai a querer que, tal como a irmã, dedicasse sua vida à igreja. Desde que enviuvou, Miguel se tornou um beato devotado e tinha jurado junto ao leito de morte de sua primeira esposa que, se um dia voltasse a se casar e ter filhos, que os entregaria aos serviços da santa Igreja. Dessa forma, Tomaz e sua irmã foram educados em colégios ligados à igreja e, quando chegaram a idade apropriada, ela foi enviada para um convento para se tornar freira e ele, para um seminário para se tornar padre, algo que ele jamais desejou. Porém, para não se indispor com o pai, submeteu-se resignadamente à sua vontade. Ele sempre havia sonhado com a liberdade, ser o único condutor de seu destino, aventurar-se pelo mundo e conhecer outras culturas e pessoas, não se limitar a uma vida ditada pelas regras de uma sociedade eclesiástica, mas apenas por suas necessidades e valores intrínsecos.

Foi assim que Tomaz passou sua adolescência num seminário até se tornar noviço e depois, aos 19 anos, um padre bastante jovem. O mosteiro lhe pareceu uma espécie de prisão que, antes de enaltecer as pessoas, as tornava servas de uma ideologia opressora. Miraculosamente, ele escapou ileso dos assédios sexuais dos outros noviços e dos padres que dirigiam a instituição, ao contrário de alguns de seus colegas que perderam a virgindade nos corredores lúgubres do imenso edifício do seminário, ou nas clausuras dos padres que saciavam seus desejos carnais nos corpos jovens e rijos dos seminaristas, valendo-se dos mais sórdidos argumentos para conseguir seus intentos. Talvez haja uma explicação para que Tomaz passasse ileso todos aqueles anos, a situação privilegiada de seu pai que não media sua generosidade quando se tratava de fazer doações ou financiar os consertos que o edifício secular exigia. O prior vigiava de perto os sacerdotes que tinham dificuldade de manter seus cacetes sob a batina, ameaçando-os constantemente de expulsão ou até de os excomungar caso viessem a bolinar com o filho de seu maior benfeitor. A mesma atitude severa era adotada em relação aos noviços, cujos hormônios sendo lançados aos borbotões em suas veias, os forçavam a procurar alento para as torturantes ereções nos colegas fisicamente mais fracos e que podiam ser subjugados com certa facilidade, mesmo que não o quisessem.

Tomaz chegou a presenciar dois deles sendo castigados pelo prior, primeiro com uma bela surra que chegou a levá-los a se mijarem todos e, a seguir, expulsando-os numa cerimonia humilhante diante de todo seminário, antes de serem devolvidos aos pais com a pecha de tarados pervertidos. Com os padres flagrados cometendo os mesmos sacrilégios a conduta, no único caso que Tomaz chegou a tomar conhecimento, foi diferente. Eles desapareciam da noite para o dia e depois vinha a explicação de que seus serviços foram requisitados junto ao bispado de alguma freguesia distante.

De qualquer forma, Tomaz, aos fazer os votos, chegou em estado virgem ao vestir pela primeira vez a batina como padre jesuíta; o que por si só, já constituía uma espécie de milagre, uma graça ou benção divina. Ele sempre foi muito estudioso e o método Ratio Studiorum utilizado pelos jesuítas na formação dos jovens o levou a dominar precocemente alguns idiomas, ter sólidos conhecimentos de linguística, medicina, astronomia e geografia. Os superiores da Ordem logo reconheceram nele um valioso e importante instrumento para o serviço missionário nas colônias de Portugal. Aos 20 anos, Tomaz foi enviado à maior colônia ultramarina na América Meridional. Juntamente com alguns outros padres, ele estava incumbido de catequizar os indígenas valendo-se de seus próprios aspectos culturais, principalmente a língua, para se fazer compreender e aculturá-los ao sistema europeu. Ele aceitou o desafio mais como uma forma de conhecer o mundo do que propriamente exercer o trabalho religioso que se esperava dele. Feitos esses esclarecimentos, daqui por diante é o próprio Tomaz que narra sua história e suas aventuras.

Pensei, ao deixar o Porto numa manhã chuvosa de abril e, como diziam aqueles que já haviam enfrentado a mesma viagem e que viram companheiros morrendo em alto mar, que não chegaria vivo do outro lado do Atlântico. No entanto, 43 dias depois de zarparmos, enfrentado uma tormenta que parecia querer destroçar a nau com seus ventos inclementes e ondas gigantescas, aportamos na Capitania de São Vicente sob um céu de um tom de azul como eu jamais havia visto e um sol que brilhava bem mais do que aquele ao qual eu estava acostumado, eu me sentia lépido e faceiro como uma criança. Não havia sofrido do mal dos mares e de nenhum outro desconforto ou doença, não tive pesadelos com Netuno que recebeu em suas águas escuras, os corpos de três tripulantes. Apenas durante a tormenta que durou quatro dias foi que me apeguei à bíblia de capa de couro que trazia comigo, rezando com bem mais devoção do que todos os anos que passei no seminário. Passada a intempérie, coloquei meu livro sagrado novamente de lado, e me pus a observar a imensidão do mar e do céu sentado no convés junto aos mastros que mantinham as velas enfunadas. De qualquer forma, ao desembarcarmos, fui tomado por uma sensação de alívio ao pisar outra vez em terra firme, por mais primitiva e selvagem que ela se apresentasse diante dos meus olhos.

Passamos a primeira noite num abrigo ali mesmo, próximo ao cais, com todas as nossas bagagens numa localidade chamada Enguaguaçú. Na manhã seguinte, sob o lombo de cavalos e mulas, conduzidos por um guia, escalamos uma trilha íngreme por entre as montanhas até chegarmos a um planalto numa colina entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú onde se encontrava a igreja e um colégio, bem como algumas construções nas quais ficamos instalados durante os três meses seguintes, antes de partirmos para nosso destino final, adentrando pela Capitania até as aldeias tupiniquins perdidas no meio das matas selvagens. Nesse período recebemos os relatos e instruções dos padres que já se encontram alguns anos por ali e que nos contaram um pouco das dificuldades que enfrentaríamos com os índios e com as tentativas de aculturamento pelas quais tinham passado. Acho que minha euforia não me permitiu ouvir ou assimilar direito os reveses que nos contavam, eu só enxergava um mundo inexplorado cheio de potencialidades nas quais estava louco para me lançar. A impetuosidade da juventude não nos permite enxergar as coisas com clareza, e isso eu vim de descobrir pouco depois.

As expedições que seguiam rumo ao interior da Capitania tinham a participação de militares como forma não só garantir a nossa segurança, mas também estabelecer a ordem e a implantação de novos núcleos urbanos para colonizadores dispostos a se estabelecer na Capitania fundando novas cidades. Meus parceiros de jornada era dois padres, mais velhos e experientes do que eu, padre André com algo por volta dos 35 anos, e padre Gervásio entrando na casa dos cinquenta anos, além de um destacamento de cerca de 60 homens comandados pelo capitão Afonso que fora recentemente elevado ao posto de capitão e que era talvez uns oito ou dez anos mais velho do que eu, embora tivesse bem mais experiência de vida, bem como no convívio com os indígenas.

Passamos 18 dias embrenhados entre campos abertos e matas até chegarmos à aldeia dos índios tupiniquins onde poucos brancos haviam chegado até então. Os trilheiros seguiam a frente abrindo caminho num trabalho árduo e lento que permitia avanços muitas vezes curtos. Eu muitas vezes me distraía pelo caminho observando a natureza, tão diversa daquela que eu conhecia, e era invariavelmente repreendido pelo capitão Afonso, um sujeitinho empertigado sob aquela insígnia pousada sobre seus ombros largos, alegando ser sua responsabilidade não perder nenhum dos padrecos sob sua tutela. Eu só não era mais contundente nas minhas respostas porque os padres André e Gervásio compactuavam com sua opinião e também me repreendiam por não controlar meus arroubos de juventude. Era principalmente o padre Gervásio, um homem que levava tudo a ferro e fogo, quem mais me podava as iniciativas que estavam fora do escopo religioso. Padre André dizia amém a tudo que ele falava e fazia, devido a sua inclinação para seguir a disciplina religiosa ao pé da letra, sem jamais contestar qualquer dogma ou circunstância. Era um homem sem opiniões próprias e, quando requisitado a expressá-las, repetia invariavelmente a ladainha dos outros. Para todos eles eu não passava de um moleque que precisava ser disciplinado a todo momento. Passei a detestar o sujeitinho e, a recíproca também parecia valer para ele, pois era seco para comigo e gentil para com meus parceiros.

Estávamos chegando quase ao final da tarde, fazia um calor infernal, o tecido grosso de nossas batinas era totalmente inadequado para aquele clima tropical e nos fazia suar como porcos debaixo delas. Já no navio, tão logo descemos abaixo da linha do equador, eu deixei de usar as ceroulas por baixo da batina, pois as vestimentas me sufocavam. O caminho que os trilheiros haviam aberto na mata era estreito e tínhamos que conduzir os cavalos e mulas em fila indiana, ficando sujeitos a termos as cabeças espancadas pelos galhos mais baixo das árvores. Quando ele finalmente se alargou, já bastante próximo da aldeia mostrando um descampado a nossa frente com as ocas dispostas num círculo ao redor de um pátio generoso, avistei-o de longe sobre uma rocha alta que imergia do leito do rio formando duas cachoeiras de cada lado; uma descendo por degraus de diversas alturas e a outra, despencando livremente de uma altura de uns oito metros para dentro de uma piscina natural em sua base. Ele estava prestes a saltar quando também nos avistou apontando no final da trilha, e acabou desistindo ao ver o tamanho da comitiva. O sol banhava todo seu corpo de um tom acobreado que o dourado dos raios do sol enaltecia. Era um homem grande e forte cujos músculos proeminentes faziam parecer uma escultura de tão perfeito. Trazia os cabelos num corte peculiar que parecia ter sido feito embicando uma tigela sobre sua cabeça e raspando todo seu contorno pouco acima das orelhas, à semelhança do corte de cabelos que vi uma vez nos monges de um monastério beneditino na Espanha, durante a cerimônia de tonsura que marca a entrada dos jovens na vida religiosa, como um símbolo de penitência e renúncia às vaidades humanas. Ele estava completamente nu, e foi isso que mais me impressionou em sua figura viril, a ponto de eu estremecer da cabeça aos pés. Eu nunca tinha visto um homem totalmente pelado, especialmente da cintura para baixo, onde, particularmente nele, pendia um sexo imenso que eu jamais imaginei existir entre as pernas de um homem. À medida que chegávamos mais perto da margem do rio meu coração disparou no peito e, por uns instantes, senti como se uma vertigem fosse me derrubar do cavalo.

Apeamos na entrada da aldeia e fomos cercados por crianças curiosas numa recepção calorosa que contrastou com aquela ao se aproximarem os homens, alguns com estranhos desenhos pelo corpo e rosto, mas todos com uma lança nas mãos. Um dos trilheiros que também era índio se apressou a explicar o motivo de nossa vinda em poucas frases que eu felizmente compreendi em sua totalidade, depois das aulas de um padre que já tivera contato com os Tupiniquins. Não se podia chamar a transformação de suas expressões faciais de amistosas, mas a simples desempunhadura das lanças quebrou aquele clima belicoso. As mulheres nos observavam de longe junto às entradas das ocas, também completamente nuas e, se não, apenas com alguns adereços como colares que pendiam até ao meio dos seios flácidos nos quais em algumas delas uma criança mamava vorazmente, ou penas presas aos cabelos ou em braceletes. Era tanta informação simultânea que me vi perdido sem saber para onde olhar primeiro e o que assimilar.

Apenas uma coisa não saiu do meu foco de visão, ele. Depois de descer da pedra do rio ele se juntou aos demais índios que nos cercavam, nos encarava tão curioso quanto eu a ele. Não demorou para nossos olhares se encontrarem, uma vez que eu estava bem à frente da comitiva quase pareado com o capitão Afonso. Com a proximidade, pude confirmar todos os detalhes de antes e mais alguns que enalteciam ainda mais sua compleição física. Era o homem mais lindo que eu já havia visto. Exótico, sem dúvida, primitivo, certamente, porém de um carisma que mexeu profundamente comigo.

Só apeei do cavalo quando o capitão Afonso sinalizou que a ação era segura, muito embora alguns militares postados na retaguarda da comitiva ainda estivessem com suas armas prontas para atirar se fosse necessário. O cacique que ainda conversava com o índio trilheiro, apresentou sua família e, para minha surpresa, ele era seu primogênito e se chamava Kanauã. Tão logo o clima foi ficando mais descontraído, ele se aproximou de mim, atraído pela pele muito mais clara do que a dos demais integrantes da comitiva e pelos meus olhos azuis. Tal como eu, que nunca tinha visto uma pele acobreada como a dele, ele ficou visivelmente fascinado pela minha, tanto que levou uma das mãos ao meu rosto e o alisou, como se estivesse conferindo se era natural e não uma pintura. O gesto intempestivo dele levou o capitão a fechar a mão sobre a arma que carregava na cintura, e a me repreender.

- Eu não tinha dado ordens expressas para que ficassem posicionados mais ao fundo? Não se pode prever a reação desses selvagens e você está se pondo deliberadamente em risco! Será que não é capaz de seguir uma única vez que seja as minhas ordens? – questionou zangado.

- Não seja ridículo! Não percebe que ele só está curioso, talvez sejamos os primeiros brancos que ele está vendo. – retruquei, uma vez que o toque de sua mão tinha a mesma brandura de uma carícia.

- Mantenha-se afastado deles, padre Tomaz! E, por favor, não nos crie problemas! Será que consegue se comportar? – intrometeu-se o padre Gervásio.

- Mas padre, não estamos aqui exatamente para nos entrosarmos com eles? Como espera que o consigamos se não nos mostrarmos próximos deles e interessados em sua cultura? – questionei.

- Você e suas perguntas, padre Tomaz, será que pode parar de ser tão questionador? – retrucou ele.

- Se entrosar com esses silvícolas não significa que você deva se deixar bolinar por eles! – exclamou o capitão Afonso, que não estava nem um pouco satisfeito do Kanauã estar com sua mão no meu rosto.

- Cuide de suas obrigações enquanto militar, capitão! E não se meta em assuntos que não são da sua alçada! – revidei.

- Acontece que se um deles resolver cortar a sua garganta eu terei que responder pela omissão das minhas obrigações, padre Tomaz! – retrucou ele, furioso. Estava mais do que claro que o capitão e eu ainda teríamos muitos embates, já que nossos santos pareciam não se cruzar.

O mesmo grupo de homens, quase todos jovens, que estavam com o Kanauã tomando banho no rio, me instigou a segui-los o que me deixou bastante tentado, já que meu corpo fervia sob a batina. Segui com eles para a margem do rio me afastando assim do restante do grupo. Mal tinha chegado a ver alguns peixes nadando entre as pedras quando um soldado me puxou pelo braço querendo me levar de volta. Eu reagi e ele foi mais enfático, querendo me arrastar a força para longe dali enquanto eu verbalizava meu protesto.

- São ordens do capitão! Vou usar a força se preciso, padre! – ameaçou o soldado

- Eu não estou sujeito às ordens descabidas do seu capitão, portanto tire essas mãos de cima de mim! – revidei.

No mesmo instante o Kanauã não só desarmou o soldado como o lançou sobre a terra poeirenta, com um golpe ágil e preciso. O soldado não compreendeu uma palavra da advertência que ele lhe lançou na cara, para não me tocar e me obrigar a seguir com ele. O incidente deixou tanto índios como soldados a postos, apesar de eu ter tranquilizado o sargento e o outro soldado que vieram socorrer o companheiro de que tudo estava sob controle e eu estava bem.

- Está pondo em risco todo o nosso trabalho por aqui, padre Tomaz! Tem consciência disso? Quer instaurar uma guerra por aqui, ou quer seguir nosso plano de catequizar esses índios? – questionou o padre Gervásio, irritado com meu comportamento.

- Nos isolando e assumindo uma postura esnobe, jamais conseguiremos nosso objetivo, padre! – respondi com firmeza.

- Saiba que tenho outros meios de controlar seus arroubos inconsequentes, padre Tomaz! Não queira experimentá-los! – ameaçou o capitão, que logo se juntou a nós quando presenciou o ataque do Kanauã sobre um de seus homens. Enfatizando bem o – padre Tomaz – como era seu costume quando ficava furioso comigo.

Resolvi não discutir, o barulho da água correndo por entre as pedras, aquele pôr do sol descendo devagar e a vontade incontrolável de me refrescar no rio me levaram a me livrar da batina num gesto ousado que jamais pensei ser capaz de fazer, e segui com o grupo de índios para dentro d’água, tão pelado quanto eles. Foi a sensação mais maravilhosa da minha vida, muito embora eu logo começar a me sentir constrangido com os olhares que eles lançavam sobre a minha nudez, tão peculiar e estranha para eles quanto a deles para mim. O do Kanauã foi particularmente mais perturbador quando, já dentro da água, notei a ereção descomunal consumada entre suas coxas musculosas. Eu precisava me penitenciar, pois me senti tremendamente lisonjeado e, pela primeira vez, atraído por outro homem, o que parecia ser um pecado, não fosse tão prazeroso.

Nunca pensei que meu corpo pudesse despertar esse interesse em outros homens, particularmente minha bunda carnuda e meu rosto liso e imberbe que pareciam excitar os mais inconfessos desejos naqueles índios. O Kanauã logo deixou claro que cabia a ele a primazia sobre o hóspede recém chegado, fossem lá quais suas intenções para comigo. Até então, eu sempre havia conseguido sublimar meus desejos carnais, julgava mesmo que meu corpo seria única e exclusivamente dedicado a Deus e seus desígnios. Porém, naquela tarde tudo no que eu acreditava e que me fora inculcado através da religião, deixou de fazer sentido, diante da enorme vontade e sentir o corpo do Kanauã entrelaçado ao meu. Esse pensamento libidinoso não me abandonou nas semanas que se seguiram. O Kanauã se fazia presente a todo momento, ora para me mostrar os arredores da aldeia, ora para me mostrar como se caçava, ora me ensinando a pescar, e ora simplesmente nominando os astros do firmamento em sua língua enquanto eu o fazia na minha, acrescido do que havia aprendido nas aulas de astronomia. Ele me ouvia com atenção, gostava da minha presença, especialmente tão próxima quando ficávamos a sós. Em pouco tempo ele havia me cativado a tal ponto que já me via tendo relações sexuais com ele, caso me pedisse, tamanho era o tesão inconfesso que sentia por ele.

Um grupo de civis que seguia nossa expedição chegou alguns dias depois. Eram homens que procuravam fundar novos vilarejos desbravando aquela terra para posteriormente trazerem suas famílias. Com a chegada deles se iniciaram também as obras das construções que passaríamos a ocupar tanto como moradia quanto para a catequese dos índios. Estava prevista a construção de uma capela e de uma escola para as crianças índias, onde lhes ensinaríamos a ler e escrever e a seguir o catolicismo.

Até então estávamos dormindo nas barracas erguidas pelos militares, num acampamento sem nenhum conforto. Contudo, passado pouco mais de um mês após a nossa chegada, numa noite em que o Kanauã e eu ficamos novamente a observar o céu até a aldeia toda estar em silêncio, ele me levou para a oca de sua família. Era uma construção ovalada com apenas uma entrada. Por dentro era até bem espaçosa, num dos extremos havia alguns utensílios usados nos preparos dos alimentos e noutro pendiam esteiras de vime trançado que eram usadas como camas. Ele me fez deitar sobre uma delas e se juntou a mim. Eu tremia feito uma vara verde assolada pelo vento. O corpão musculoso e quente dele resvalava no meu antes de ele me tomar em seus braços. Apenas a luz bruxuleante de uma pequena fogueira no centro da oca iluminava o espaço e a expressão cobiçosa de seu rosto. Eu sabia o que ia acontecer quando senti sua ereção roçando minhas nádegas e suas mãos palpando avidamente minha bunda. Apesar do temor, eu não queria e nem conseguiria fugir, pois o mesmo desejo de comungar seu corpo com o meu estava ardendo dentro de mim. Eu me virei ligeiramente de lado, ergui uma das pernas e franqueei minha bunda. Ele se encaixou nela, me apertou com força em seus braços e roçou sua ereção no meu reguinho. Eu mal conseguia respirar de tão apreensivo e soltei um grito quando ele meteu o cacetão no meu buraquinho anal imaculado e estreito. Ninguém se incomodou com meu grito em plena noite, e o Kanauã continuou a empurrar sua verga gigantesca para dentro do meu cuzinho. Eu sentia minha carne se rasgando, a dor provocava espasmos por todo meu corpo, o calor de sua carne pulsando ia se aprofundando nas minhas entranhas enquanto eu gania e gemia, deixando-me devassar por sua intrepidez. Quando dei por mim, ao mesmo tempo em que a dor se misturava a um prazer indescritível e inusitado, eu comecei a ejacular. Ele socava fundo em mim, deliciando-se com meus gemidos e com meu corpo que estremecia debaixo do dele. Não mais do que alguns grunhidos roucos escapavam de sua boca até que a iminência do gozo o levou a ser tomado de espasmos e a rugir mais forte, culminando com um urro no momento em que começou a se despejar dentro do meu cu, liberando os jatos de sêmen que inundaram minha ampola retal com sua virilidade. Eu não saberia definir com palavras o que estava sentindo, só que nunca havia me sentido tão feliz. Até o sol raiar, o Kanauã me possuiu mais duas vezes e, pela primeira vez, eu tive a exata dimensão do significado da palavra selvagem, pois era desse primitivismo que seu corpo e seus instintos estavam tomados quando me fodeu dilacerando minhas pregas anais.

Foi uma noite entremeada de cochilos, uma vez que mal eu caía no sono o Kanauã já estava novamente duro querendo entrar no meu cuzinho. Despertei do último desses cochilos no crepúsculo. Ele dormia agarrado a mim, no restante da oca ressoavam as respirações adormecidas, da fogueira restavam apenas brasas cujas fagulhas piscavam antes de se apagarem. Eu precisava sair correndo dali e voltar para as barracas dos padres antes que alguém tomasse conhecimento do que havia acontecido. Acabei acordando o Kanauã quando quis sair da rede e ele voltou a me apertar em seus braços.

- Preciso ir, ninguém pode saber que passei a noite com você! – sussurrei, para que me liberasse.

- Não preciso esconder meus atos! Você é meu agora, e quero que todos saibam! – devolveu ele, relutando em me soltar.

- Mas não é assim que funciona entre os brancos e, especialmente, entre nós padres. – segundo nossa cultura eu cometi um pecado grave. No livro do qual já lhes falei, a bíblia, está escrito que – O homem que se deitar com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometem uma abominação e deverão morrer, seu sangue cairá sobre eles. – é por isso que tenho que sair daqui agora, antes que descubram o que eu fiz. – afirmei.

- E você acredita mesmo nessa bobagem? Você não gostou de estar comigo? Acha que vamos ser condenados à morte por termos trepado? – questionou.

- Eu não sei! Nunca achei que fosse gostar de um homem como gosto de você! Nunca pensei no assunto até sentir você dentro de mim. – respondi.

- Não temos esse tipo pensamento, ninguém é condenado à morte por saciar seus instintos carnais seja com alguém do mesmo sexo ou não. Eu também gosto de você, e gostei muito do que fizemos, você foi simplesmente maravilhoso. Prometa para mim que faremos mais vezes, que vai se entregar para mim novamente, prometa padre!

- Não me chame de padre, isso só piora tudo! Eu vou para o inferno, isso é certo! Ao invés de catequizar vocês, de os conduzir para uma vida civilizada, de os converter à religião, estou os levando para a danação. É isso, eu vou para inferno, com toda certeza! – exclamei, enquanto minha cabeça dava um nó.

- Venha cá, seu bobinho! Você não pode estar falando sério. Você gostou de tudo que fizemos, e nada disso pode ser tão abominável como acredita. Livre-se desses pensamentos, dessas culpas, e me deixe entrar novamente em você. – tive que escorregar para fora da rede antes de ele enfiar o cacetão duro novamente no meu cuzinho, e saí correndo da oca quando um tom alaranjado começava a se içar no céu escuro.

Fiquei carregando aquela culpa por algumas semanas, ao mesmo tempo em que questionava tudo o que haviam me ensinado, tudo naquilo que eu acreditava ser uma verdade absoluta e inquestionável. Quem era eu para desacreditar dos dogmas seculares, da religião, da moral, do meu sacerdócio? Não, eu precisava me penitenciar, precisava me confessar do meu pecado e contar com o perdão divino. Mas como fazer isso ali, quando apenas padre André e padre Gervásio podiam me absolver do que fiz? Padre André ficaria chocado e me negaria a absolvição, enquanto padre Gervásio se encarregaria pessoalmente da minha excomunhão e do sacerdócio na primeira oportunidade que surgisse. Além do mais, como eu ia pedir perdão de algo do qual não estava realmente arrependido? Eu gostei de cada momento que meu corpo se uniu ao do Kanauã, e faria tudo de novo só para voltar a sentir aquele prazer que abalou todas as minhas convicções e fez meu corpo sentir prazeres que eu jamais imaginei existir. Optei pelo segredo, pela omissão, por não pensar mais nisso enquanto me fosse possível.

Nossa incursão na cultura dos indígenas não foi como eu esperava. Não demorei a perceber que tanto os militares quanto aqueles civis que nos seguiram estavam ali apenas para obter mão-de-obra barata para seus intentos. Se não fosse por bem, haveria como subjugá-los à força, o objetivo era escravizá-los. A religião era apenas um disfarce para isso, um meio de os fazer acreditar que seus conceitos de espiritualidade não passavam de fantasias sem sentido, que o verdadeiro sentido residia na fé cristã para a qual deveriam se converter se quisessem chegar ao paraíso quando morressem. E eu, bem como todos os padres, tínhamos sido bem treinados para fazer uma lavagem cerebral naquelas cabeças que pensavam diferentemente de nós, de se sentirem ateus pecaminosos. Acontece que nem eu acreditava mais nessa baboseira toda. Se o Kanauã era um selvagem que vivia livre e feliz com toda aquela simplicidade tanto material quanto de costumes, por que um único momento em seus braços podia ser tão carregado de sentimentos e prazeres bons?

- Por onde andou padre Tomaz? Desde a noite passada não o vi em sua barraca? – perguntou o padre Gervásio, que me vigiava como um cão.

- Tive um desarranjo intestinal padre! – acrescente-se aos meus pecados mais esse, a mentira.

- Está mesmo com uma aparência esquisita. Por que está caminhando como se suas entranhas estivessem abertas ao mundo? Comeu algo diferente do que nós?

- Não sei, padre! Acho que não poderei acompanhá-los nos propósitos para hoje! – devolvi. Se ele soubesse que minhas entranhas estavam mesmo abertas para o mundo porque a imensa e grossa tora de carne do Kanauã tinha me arregaçado todo eu estaria irremediavelmente perdido.

- Então descanse, meu filho! Talvez uma infusão dos medicamentos que trouxemos possa lhe fazer bem. Vou pedir ao padre André que lhe prepare uma. – Ainda não haviam descoberto uma infusão que recuperava pregas anais esgarçadas, nem um cuzinho encharcado de porra, mas concordei com sua sugestão.

O capitão veio no meio da manhã saber do mal que me afligia, assim que soube que eu estava recolhido à minha barraca. Ele me pegou de ceroulas, pois meu corpo estava em brasa e a batina estava me sufocando. A maneira como olhou para minhas partes despidas me constrangeu. Ao lhe dar a mesma justificativa que dei ao padre Gervásio, notei que ele não acreditou, pois seus olhos começaram a me examinar com mais atenção.

- Tem certeza que é um desarranjo intestinal, padre Tomaz? – havia um certo sarcasmo em seu tom de voz. – O selvagem não teve nenhuma participação nesse seu súbito mal-estar?

- É claro que é, capitão! Ou o senhor acha que eu não sei identificar os sintomas? E, por que o Kanauã haveria de ter qualquer participação na minha doença? O senhor é um abusado, capitão! – devolvi exasperado.

- É que ambos andaram bastante desaparecidos durante toda a tarde de ontem depois que foram se banhar no rio, e já tarde da noite o senhor foi, pelo que imagino, rezar na oca da família do selvagem. – retrucou, tirando suas conclusões.

- Fui lá a convite do cacique, se lhe interessa saber! Ao invés de cuidar e vigiar meus atos, deveria se preocupar com suas obrigações, não acha? Ademais, eu não lhe devo satisfações, capitão. Quando vai enfiar isso na sua cabeça? – revidei furioso.

- Não sei se o senhor sabe, padre Tomaz, (ele enfatizar o padre Tomaz me deixava furioso, querendo esganá-lo, pois o fazia com deliberado sarcasmo) mas esses selvagens têm um comportamento sexual devasso não poupando ninguém a menos que essa pessoa seja capaz de não se deixar estuprar. Sabia que as mães escondem as filhas após elas terem a menarca e só as deixam sair das ocas se acompanhadas de algum parente de confiança, isso porque correm o risco de serem estupradas por qualquer outro homem da aldeia? Os abusos sexuais contra meninas e meninos, até mesmo por parentes, é uma prática comum entre esses povos, embora seja um assunto velado do qual pouco falam, e chegam mesmo a negar se alguém de fora os questiona. Os homens indígenas não veem nisso algo de imoral, pois esses povos são desprovidos de moral e, por isso, considerados selvagens. O selvagem com o qual o senhor anda para cima e para baixo está entre eles e tem a seu favor o fato de ser filho primogênito do cacique, não ter ainda escolhido uma índia para se unir a ela e, estar em constante priapismo como já deve ter notado, particularmente, quando o senhor se aproxima dele. Não me surpreenderia se, a qualquer momento nessas suas andanças com ele e os outros jovens da aldeia, ele resolvesse se apoderar dos seus encantadores atributos físicos, padre. Pense nisso antes de enveredar por essas trilhas na mata ou mesmo durante os banhos no rio. O senhor pode perder sua castidade num piscar de olhos. – despejou crítico.

- O senhor é um pervertido depravado, senhor capitão! Deveria tratar de sua compulsão ao invés de ficar controlando meus passos.

- Estou apenas cumprindo com minhas obrigações, manter a todos são e salvos, especialmente aos senhores padres. No seu caso a minha preocupação está em garantir que nenhum desses selvagens vá se aproveitar desse corpo sensual e dessa bunda generosa com a qual foi contemplado.

- Ora capitão, seu cafajeste! Me poupe de suas insinuações! – exclamei, enquanto ele secava minha bunda com seu olhar libertino e manipulava a pica consistente sob a calça. Ele devia estar desconfiado de que o Kanauã me penetrou, e algo me dizia que a qualquer momento ele ia me desmascarar.

Não sei se foi por coincidência, ou se padre Gervásio foi alertado pelo capitão, mas poucos dias depois de nossa conversa, padre Gervásio me deu praticamente o mesmo conselho, evitar de ficar a sós com esses silvícolas em lugares ermos para não ser vítima de seus instintos sexuais. Mal sabia ele que eu já havia entregue minha castidade ao Kanauã e, apesar de ele ter me dilacerado o cuzinho, não via a hora de estar novamente em seus braços e sentir seu pauzão pulsando nas minhas entranhas.

Eu, enquanto homem, era uma criatura ingênua e inexperiente. Todos aqueles anos no seminário debruçado sobre textos e livros sagrados me tornaram alheio ao mundo real que acontecia fora dos muros do mosteiro. Eu ouvi uma conversa ou outra entre alguns dos seminaristas mais ousados, sobre sexo, desejos carnais, maneiras como se podia aliviar as tentações e instintos próprios da idade, e até de como era a aparência da vagina das mulheres, pois dois colegas seminaristas, antes de entrarem para o mosteiro, já haviam descabaçado umas meninas em suas aldeias de origem. No entanto, eu nem mesmo cheguei a ver outro homem nu antes do Kanauã, e muito menos tinha sentido sequer o toque de uma garota ou outro homem no meu corpo. E, foi isso que me deixou tão extasiado quando o Kanauã me tocou pela primeira vez com suas mãos sedentas e seu olhar de cobiça, me fazendo perder a lucidez.

Sempre achei que a conjunção carnal estava atrelada ao sentimento de paixão que levava ao amor e a duas pessoas quererem compartilhar uma vida em comum. Apesar de todas as nossas diferenças, tanto culturais, de formação, de mundos e realidades totalmente diversas, no momento em que o Kanauã enfiou seu falo cavalar no meu ânus eu achei que ele nutria algum tipo de sentimento por mim e me deixei levar pelo devaneio fantasioso dessa falta de malícia. Também achei que com o tempo, aquela minha admiração por ele, por seu corpo sensual, por sua força, por todas aquelas suas habilidades em sobreviver num ambiente tão inóspito fosse se transformar num sentimento mais profundo e que nos levaria a uma união mais duradora.

- Onde anda com essa cabeça, padre Tomaz! Você está cada dia mais disperso, vive no mundo da lua, e eu gostaria de saber o que se passa em sua cabeça nesses momentos. – disse o padre Gervásio, ao se deparar comigo pensativo e alienado.

- Estou pensando numa maneira mais eficiente de abordar as crianças e lhes ensinar o catecismo. – retruquei para disfarçar, quando na realidade estava pensando em toda aquela quantidade de esperma do Kanauã que formigava no meu cuzinho depois de termos transado em um trecho mais distante do rio naquela manhã de calor infernal.

- E a que conclusão chegou, se posso saber?

- Ainda não está totalmente claro como devemos abordá-los, mas eu comunicarei assim que tiver a solução. – devolvi

- Foi um erro dos seus superiores enviá-lo para a Colônia e para uma missão desse porte, padre. O senhor mal saiu dos cueiros, não sabe nada da vida e passa horas sonhando sabe-se lá com o quê. – retrucou ele.

- O senhor não gosta de mim, não é padre Gervásio? – questionei sem rodeios.

- Para ser muito sincero, não, padre Tomaz! Você pode ter sido um seminarista exemplar, mas está longe de se tornar um padre de verdade. Infelizmente me encarregaram de complementar a sua formação, mas tenho para mim que esse é um trabalho inútil. Contudo, vou encarar isso como um carma que me foi imposto. – respondeu ele, também sem nenhum rodeio ou filtro nas palavras.

O fato é que não nos suportávamos, o que não era nem um pouco raro também dentro das ordens religiosas, mas mantínhamos as aparências, algo que eu estava aprendendo aos poucos juntamente com o cinismo e a hipocrisia.

As crianças da aldeia gostavam de mim, foi assim desde o primeiro dia quando algumas delas, curiosas, me cercaram e começaram a puxar minha batina, aquele traje esquisito que cobria todo meu corpo, ao contrário daquilo a que estavam acostumadas a ver, seus congêneres completamente nus. Mas, não duvido que a minha cara de moleque também tenha tido sua parcela de influência nessa aceitação espontânea, uma vez que os demais membros da comitiva tinham feições mais austeras. Foram as crianças as responsáveis por eu logo ser aceito pelos adultos, deviam me encarar como alguém tão inofensivo quanto elas. E assim comecei a me dedicar a elas, reunindo-as à minha volta, inicialmente por um curto período de tempo, abordando questões triviais e as enchendo de perguntas para matar minha curiosidade e que algumas vezes as levavam a dar gostosas gargalhadas, muito provavelmente pela pergunta ser deveras tola. Com o passar das semanas elas passavam horas comigo ouvindo-me contar histórias e os incentivando a aprender a ler e escrever. O entusiasmo delas fez com que índios jovens e algumas mães se juntassem ao grupo querendo absorver aqueles conhecimentos inusitados que eu trazia.

A ajuda do Kanauã nesse trabalho foi providencial, embora ele mesmo tivesse demorado um pouco e até relutado de início em se submeter às minhas aulas. Ele estava muito mais interessado no meu corpo, que pode vislumbrar brevemente durante os meus banhos, do que no que eu tinha para ensinar. No entanto, após aquela nossa primeira noite juntos na rede da oca de sua família, ele se deixou seduzir por todas aquelas novidades das quais eu falava, chegando mesmo a exigir disciplina da criançada que se dispersava com facilidade. Ali, no meio do nada de um continente distante eu acabei descobrindo minha real vocação, ensinar. Até então eu nunca havia aventado essa possibilidade, mesmo porque meus mestres sempre foram indivíduos arrogantes, cheios de si, como se o conhecimento que tinham adquirido os colocasse acima dos outros mortais; enquanto eu me comunicava de igual para igual e tanto ensinava quanto aprendia com meus “alunos”. Isso foi uma das primeiras desavenças minhas com padre Gervásio que me cobrava a catequização dos silvícolas, como ele os chamava, sua mera aceitação dos textos bíblicos, sua irrestrita subjugação e doutrinação dos preceitos religiosos, abominando tudo naquilo que acreditavam até então, como se sua cultura centenária não valesse para nada.

Esse posicionamento radical também o levou a se desentender com o pajé da tribo, o qual classificou como representante do diabo por seus ritos estrambólicos. Durante um parto complicado de uma índia, enquanto o pajé lhe dava beberagens, a mantinha envolta numa nuvem de fumaça de ervas queimando e invocava espíritos, padre Gervásio se intrometeu e, mudando a mulher da posição de cócoras para a clássica posição ginecológica, levou-a a ter a criança mais rapidamente; quase foi agredido pelo pajé que o quis sacrificar diante da tribo inteira. Foi a primeira vez que o capitão Afonso precisou se valer de alguns de seus homens e das armas para intimidar os índios revoltados. Por algumas semanas prevaleceu um clima belicoso entre eles e nós, até que a diplomacia do capitão com o cacique arrefeceu os ânimos. Nisso tive minha parcela de ajuda, ao convencer o Kanauã durante nossos coitos tórridos de que não estávamos ali para subjugá-los, mas para trazer novos conhecimentos, pois era nisso que eu acreditava naquela época, até a realidade me mostrar o quanto eu estava iludido e enganado. Com o passar do tempo eu me conscientizei de nossa verdadeira e única missão, dominar e escravizar aquela gente para que trabalhassem nas lavouras dos civis que vinham se instalar na região. Quase dois anos depois de eu ter chegado à aldeia, eles já passavam de mil indivíduos, alguns inclusive tinham trazido as famílias e estavam estabelecidos em casas no que começava a se delinear como uma pequena vila.

Foram esses civis que chegavam em pequenas hordas que trouxeram consigo a maleita, dando origem a uma epidemia que em poucas semanas dizimou quase cem pessoas entre índios, militares e civis. Nós padres, fazíamos o que nos era possível com o pouco dos ensinamentos de medicina que dispúnhamos e com a falta de outros recursos. O pajé também não obtinha melhores resultados com suas ervas, embora algumas tivessem se mostrado eficazes em combater alguns dos sintomas da doença.

Padre Gervásio, talvez por já ter certa idade e ser um homem de pouca compleição física, foi um dos primeiros a cair doente. Padre André estava mais preocupado consigo mesmo e em não pegar a doença que se mantinha praticamente o tempo recluso em seu quarto no alojamento que fora construindo para nós atrás da capela; rezando, como afirmava quando eu ia lhe pedir alguma ajuda com os doentes, pois evitava se aproximar deles. Confesso que me sentia impotente diante de tantos doentes, nunca havia visto nada igual. Ao final do dia que, muitas vezes durou mais que 24 horas, eu estava exausto e quando ia me deitar por algumas horas, fui tomado pela desesperança e chorava em silêncio.

Nem mesmo do padre Gervásio o padre André quis cuidar e, apesar das nossas diferenças, ele se viu obrigado a aceitar minha ajuda quando ficou acamado. Moribundo, ele não perdeu a empáfia, a certeza de que eu era um caso perdido aos olhos de Deus e que meu destino final seria arder no fogo do inferno era reafirmada a todo instante. Cada vez que estava com ele, ouvia essas reprimendas e não lhes dava mais importância do que serem fruto do estado febril que vinha em períodos e lhe tirava o juízo. De qualquer forma, não era nem um pouco lisonjeiro ouvir as blasfêmias que aquele velho me lançava com o pouco de energia que lhe restava. Ele deixou esse mundo no final de uma tarde durante mais um dos calafrios paroxísticos seguidos de febre e sudorese, no qual entrou em convulsão até morrer. Eu estava ao lado dele, quis segurar sua mão e lhe dar o sacramento da extrema-unção, mas ele estava mais disposto a me condenar ao inferno.

- É um sacrilégio o senhor ainda querer dar qualquer sacramento ao um cristão, padre Tomaz! Nem mesmo digno de sua batina o senhor é; visto que, há tempos resolveu por conta própria e à revelia da Igreja usar roupas civis alegando mais adequadas a esse calor tropical. Nunca me enganei quanto aos seus sumiços constantes com aquele selvagem para perpetrarem pecados abomináveis. Sim, padre Tomaz, eu tenho plena convicção que o senhor e aquele representante do diabo se deitam como só é permitido a um homem e uma mulher para fins de reprodução, que o senhor, padre Tomaz, degradou seu corpo com os coitos que pratica com aquele ser bestial. Arderás no fogo do inferno, criatura pervertida! Que o capeta o carregue em sua derradeira morada! – praguejava ele com a voz fraca e o olhar se apagando aos poucos, até um último estertor o fazer calar para todo sempre.

Fiquei abalado por alguns dias com as últimas palavras dele. Me questionava se ele não estava com a razão e eu tivesse mesmo me perdido para os prazeres mundanos e carnais. Contudo, havia tanto a se fazer por todos aqueles doentes que não me sobrava muito tempo para ficar divagando com filosofias religiosas. É certo que, a despeito do tesão incontido do Kanauã, não me entreguei aos seus desejos não só pelas duras palavras do padre Gervásio, mas porque estava tão exausto que levar aquele cacetão no cuzinho me exauriria por completo.

Alguns dias após a morte de padre Gervásio, foi o capitão Afonso que adoeceu. Eu nunca o tinha visto abatido e, aos primeiros sintomas que o obrigaram a ficar recluso, vi as energias daquele homem sendo consumidas como um fogo que consome a lenha. Também nunca tinha visto aquele macho completamente nu e, tal como aconteceu quando vi o Kanauã pela primeira vez, fiquei impressionado com sua sensualidade e o tamanho de sua virilidade. Ele resmungou quando o despi para aplicar compressas de água fria para controlar a febre e os calafrios, mas se deixava cuidar como uma criança indefesa, aceitando o toque das minhas mãos que dizia serem leves e macias.

Com a epidemia se alastrando sem controle, alguns civis começaram a fugir sem saber que carregavam consigo os parasitas que infectariam outras pessoas para onde estavam indo. Para minha surpresa e desespero, padre André debandou com eles.

- Não vou morrer para ajudar esses selvagens! O senhor deveria fazer o mesmo, padre Tomaz! Salve-se e não queira fazer o papel de bom samaritano. Nossas vidas valem mais do que a deles, que estão destinados ao inferno desde que nasceram em pecado e nunca foram batizados. – disse ele numa frieza impressionante antes de partir sem o menor remorso em me deixar ali sozinho.

- Padre, e seus votos? O senhor devia se comportar como um mensageiro de Cristo nesse mundo e levar essas pessoas à redenção, não foi isso que jurou? – questionei, numa última tentativa de demovê-lo de sua intenção.

- Nunca me disseram que eu teria que dar minha própria vida para isso, padre! E não vou fazê-lo! Quero viver, não morrer nesse inferno esquecido por Deus. – devolveu, me largando ali sozinho. Desde aquele dia me questionei quanto a tudo que me foi ensinado no seminário, e até do fato de ser cristão, pois parecia que tudo isso não passava de estratagemas para controlar e dominar os incautos fieis.

Um estranho sentimento se apossou de mim enquanto cuidava do restabelecimento do capitão. Assistir a seus ataques paroxísticos sem poder fazer muito por ele foi me deixando apreensivo e com medo de também o perder para a doença como havia acontecido com tantos outros. Apesar das nossas rusgas, eu o admirava nem sei bem porquê. Ele era inegavelmente um líder, tinha não só seus homens sob comando sem menosprezar as capacidades individuais de cada um que, aliás, conhecia como se fossem seus irmãos. Era um homem destemido e valente como pude conferir em algumas situações críticas. E agora, que estava restrito ao leito e dependia dos meus cuidados, o que me levava a observar detalhadamente todos os seus atributos físicos, incluindo aquele torso vigoroso e maciço com pelos sensualmente distribuídos e o imenso membro viril que culminava numa glande enorme e saliente no formato de um cogumelo, ele me parecia mais atraente do que nunca. Essa atração não apenas física, mas também emocional por homens já não me causava mais dúvidas e questionamentos, eu era concludentemente um sodomita, e me sentia bem comigo mesmo nesse papel.

Minha relação com o Kanauã passou por algumas turbulências quando ele começou a se engraçar por uma índia jovem de uma tribo cuja aldeia distava pouco mais de quatro léguas rio abaixo. Ela lhe foi oferecida pelo pai como símbolo de amizade e reconhecimento de sua posição dentro da aldeia. Era uma jovem bonita, ancas largas, longos cabelos negros que refletiam tons azulados quando sob os raios do sol, tetas firmes que se projetavam do tronco e estavam parcialmente ocultas sob diversas fileiras de colares, coxas roliças entre as quais sobressaíam grossos lábios vulgares e o adiposo monte de Vênus. Como as demais índias, a bunda era chapada e sem nenhum atrativo, embora fosse essa parte anatômica da qual o Kanauã mais gostava, e que o levou a perder a cabeça quando se deparou pela primeira vez com a minha, rechonchuda, rija e cheia de carnes sedutoras. Pela primeira vez eu senti ciúmes de alguém, um sentimento novo e um tanto quanto doloroso que mexeu bastante comigo.

- Por que está tão interessado nela, eu não lhe dou o suficiente? – questionei certo dia, depois de ele ter sumido por dois dias com seus colegas e pernoitado na aldeia vizinha.

- Foi um presente, não posso recusar, seria uma afronta. – respondeu ele.

- Isso não responde a minha pergunta! Quero saber se está gostando dela, e o que viu nela para estar tão esquisito?

- Não estou esquisito! É você quem está! Ademais, está chegando a hora de eu ter uma esposa, é o que todos esperam de mim. – retrucou

- Então vai tomá-la como sua mulher?

- Não sei dizer! É uma possibilidade. Essa questão ainda não foi discutida no conselho dos homens da tribo.

- Se isso acontecer, como fica a nossa situação? Vai deixar de me procurar?

- Nada vai mudar entre nós! Eu gosto de você e vou continuar trepando com você! Não sei do que tem medo. – devolveu

- Então eu só sirvo para você trepar, um relacionamento você quer com essa índia! É nela que quer fazer filhos, e com ela que vai coabitar, é ela quem vai apresentar como sua mulher. – eu já nem sabia mais o que estava falando, de tão tomado pelo ciúme que estava. – Pensei que você era meu homem, mas vejo que me iludi!

- O que deu em você? Nunca agiu dessa maneira, sempre gostou de fazer sexo comigo e agora deu para fazer esse montão de perguntas.

- Não quero te dividir com mais ninguém! Quero que seja só meu! – exclamei impositivo. Eu estava perdendo o juízo, agia como se tivesse direito de reivindicar aquele homem para mim, como se houvesse a remota possibilidade de formarmos um casal.

- Em minha cultura tenho o direito de ter mais que uma parceira, seja como esposa ou apenas para o sexo. Vou ter você e uma esposa, pois não vou abrir mão de você quando me unir a mais alguém. – isso estava tão evidente em seus pensamentos que nem cogitava algo diferente.

- Mas na minha não é assim! Homens têm apenas uma única mulher. Fora isso está cometendo adultério.

- E quando homens da sua cultura tem outro homem, o que fazem? Não se casam e tem filhos?

- Não se pode ter relacionamentos com outros homens, é sodomia, a sociedade repugna!

- Viu como você e sua cultura são esquisitos! Eu nem poderia ter você se vivêssemos na sua sociedade, portanto, não reclame só porque me presentearam com uma jovem que nem eu mesmo sei se quero como esposa. – retrucou ele, perdendo a paciência comigo.

Eu estava tão apaixonado por aquele selvagem insensível que nem me dava conta das exigências que fazia e do que esperava do nosso relacionamento. Que a paixão cega era evidente, eu nem raciocinava mais como alguém instruído e me deixava conduzir por um ciúme doentio. O que me levava a outro questionamento, o poder que um caralhão sedento tinha sobre um homossexual ludibriado pelo destino. Estava numa enrascada e não sabia como agir. Ao mesmo tempo que desejava terminar tudo com o Kanauã, não queria abrir mão das noites que passava em seus braços, e dos coitos prazerosos que o cacetão dele atolado fundo no meu cuzinho me proporcionava.

- Está triste? – perguntou-me o capitão quando lhe aplicava as compressas frias para controlar a febre que há mais de uma semana o assolava todos os finais de tarde.

- Não! Estou apenas cansado!

- Brigou com o índio? – estranhei a pergunta, ele parecia saber mais do que eu suspeitava.

- Não! De onde tirou essa ideia? Nossa amizade continua intacta. – devolvi, escondendo meus sentimentos.

- Não estou falando da amizade, mas do que acontece quando ele te leva para passar a noite na oca da família dele ou quando desaparecem durante horas por aí. – insistiu

- Não acontece nada! E se acontecesse isso não seria da sua conta!

- É da minha conta sim! A sua segurança e também a sua integridade! Não pense que gosto de saber que você e esse índio andam fornicando por aí. Só não tomei providências quanto a isso ainda porque não saberia explicar e justificar a minha atitude. – afirmou

- O que quer dizer com isso? Que atitude? Fique de boca fechada que só pode estar delirando!

- Vou colocar um ponto final nessa história assim que me recuperar, você não perde por esperar, seu moleque safado! Eu já devia ter enrabado essa sua bundona assim que o vi pela primeira vez e fui tomado pelo tesão. Você nem teria dado uma chance para aquele índio, isso eu garanto, se tivesse sentido meu cacete no seu rabão. – ele nunca havia falado dessa maneira atrevida comigo, e parecia não se arrepender de sequer uma palavra proferida.

- Só não vou te dar uns socos porque está doente! Quem você pensa que é para falar nesse tom comigo? Abusado! – revidei zangado. Ele me encarou rindo, o corpão quente e empapado de suor tremia tão forte que receei que entrasse em convulsão.

- Não vou deixar aquele índio levar a melhor! Não vou mesmo, padre Tomaz! – exclamou, antes de ficar tão exaurido com os calafrios que adormeceu.

- Seu bestalhão, trate de se recuperar logo de uma vez! Está me fazendo perder a cabeça toda vez que tenho que me deparar com esse corpão e esse sexo gigantesco. – murmurei, mas ele já não me ouvia mais.

À medida que o Kanauã ia se envolvendo com a índia fui perdendo o tesão por ele. Minha mudança de comportamento não passou despercebida por ele que, a todo momento, me questionava quanto ao que estava acontecendo comigo, o porquê de eu não me entregar mais tão prontamente aos seus desejos carnais, a razão de eu o estar evitando.

- Não está acontecendo nada comigo! Só estou cheio de afazeres cuidando dos doentes, e não sou só eu, como você pode perceber o pajé também está muito ocupado com eles. Desde que o padre André nos abandonou, fiquei sobrecarregado. – justifiquei, pois ainda não sabia como dizer que não estava mais a fim de transar com ele.

- Preciso meter em você! Já estou me segurando há tempos e preciso entrar no seu cuzinho e sentir você me agasalhando a rola. – devolveu, enquanto despudoradamente arriava minha calça e esfregava sua ereção no meu rego.

- Procure a índia! Não foi um presente do pai dela, por que ainda não a trouxe para a aldeia e se refestelou entre as pernas dela? – indaguei

- Então é isso, está com ciúmes dela? Pensei que gostava de mim, que me queria como seu homem.

- Não estou com ciúmes! Ora, que bobagem! Por que eu haveria de sentir ciúmes se sei que não podemos ter um futuro juntos?

- Por que acha que não podemos ter um futuro juntos? Eu te quis desde o primeiro dia que chegou na aldeia.

- Ora, porque .... porque ... porque mais dia menos dia você vai se unir a ela e formar a sua família e eu não vou ficar entre vocês dois.

- Você está assim desde que começou a cuidar do capitão doente. Não tente negar, pois eu sei que está interessado nele, só esperando o momento em que ele esteja curado para fazer sexo com você. – afirmou com tal certeza que quase tive vontade de confirmar, mas me calei, uma vez que essa questão, ao acabar caindo nos ouvidos do capitão, poderia deixá-lo furioso comigo.

- Não tenho nada com o capitão! Você bem sabe o quanto ele e eu discutimos e quantas desavenças já tivemos, algumas inclusive por sua causa, quando sempre me posicionei a seu favor.

- Isso nunca mudou o que ele sente por você! Quando a comitiva chegou à aldeia ele já estava interessado em você, por isso nunca foi com a minha cara quando começamos a transar. – em parte ele tinha razão.

Ouvindo-o agora sentenciar com todas as palavras, eu havia notado que o capitão Afonso deu diversos sinais durante toda a nossa viagem até a aldeia de seu interesse por mim. Acontece que eu era tão inexperiente nesses assuntos sentimentais e das abordagens com finalidades sexuais que não compreendia seu comportamento, o que nos levou a brigar ao invés de nos aproximar.

No dia seguinte a essa conversa, enquanto eu me banhava no rio depois de haver anoitecido, o Kanauã veio se juntar a mim e começou a me bolinar dentro da água. Procurei me esquivar, estava exausto e não queria terminar a noite também com o cu doendo por conta de suas investidas. No entanto, ele estava determinado a me foder e, quando quis sair do rio, ele me reteve usando sua força e, quando me neguei a me entregar à sua lascívia, ele me lançou sobre a areia grossa da margem e me penetrou o cuzinho com seu falo cavalar apoquentado pela abstinência que já durava alguns dias. Quando terminou de se saciar, meu cuzinho estava tão arregaçado que eu mal conseguia caminhar, meu pescoço e ombros estavam cobertos das marcas deixadas pelos dentes dele e ambos peitinhos estavam inchados e rodeados de hematomas de tanto que ele judiou deles.

- Seu bruto! Quando eu digo que não quero você precisa respeitar a minha vontade, não pode simplesmente me tomar à força. – afirmei zangado

- Posso! Você me pertence! Posso te usar como quiser, sou seu homem e vou ser o futuro cacique dessa aldeia, portanto posso fazer o que eu quiser. – devolveu ele

- Nunca mais toque em mim! Não te quero mais! Não é assim que as coisas funcionam, você pode ser cacique ou seja lá o que mais, mas não pode usar as pessoas como se elas não tivessem vontade própria. Acabou Kanauã! Não te quero mais, nunca mais! – retruquei com a lágrimas rolando pela face. Nunca havia me sentido tão humilhado. Ele usou meu corpo e me deixou machucado como se eu não valesse nada.

- Não chore! Eu não quis ser bruto com você, mas você me obrigou a isso! Deixe eu te abraçar e venha para a rede comigo, amanhã tudo estará melhor. – sentenciou arrependido.

- Não! Eu disse que não quero mais! Me solta!

Ao invés de me dirigir ao meu quarto, fui ver como o capitão estava. Os ataques paroxísticos daquela tarde haviam cessado e ele dormia tranquilo. Deitei-me ao lado dele completamente nu e adormeci com o calor do corpão dele.

Ao amanhecer, o capitão havia acordado antes de mim e estava enrodilhado em conchinha às minhas costas com um braço cercando minha cintura. Ele não disse nada para não me acordar, apenas usufruiu do roçar nas minhas nádegas que estavam perfeitamente encaixadas na sua virilha.

- Me desculpe, não percebi que já era tão tarde! Eu me deitei ao seu lado porque ... porque ... porque você estava com calafrios e eu pensei que isso podia ajudar. – inventei desconcertado.

- Ajudou! Estou me sentindo bem melhor esta manhã, acho até que já recuperei todas as minhas forças. Poderíamos testar o quanto se você me deixar entrar no seu cuzinho, o que me diz? – se não havia se curado, ao menos estava a caminho de o fazer, pois o bom humor e a voracidade com a qual insinuava sua ereção entre os meus glúteos comprovava minha suspeita.

- Você continua tão moribundo quanto antes, não queira fazer estripulias antes de estar completamente curado. – devolvi, ao me levantar contra sua vontade. – Então me prometa que vai passar todas as noites aqui comigo de agora em diante, e eu estarei curado bem antes do que você imagina. – acrescentou, com uma expressão carinhosa estampada naquele rosto coberto por uma barba cerrada que ele não fazia desde que caiu doente, e na qual eu até então não tinha reparado direito, mas que era tremendamente sensual e viril.

Ao final do surto de maleita, um terço dos índios havia perdido a vida junto com outras tantas centenas de civis brancos e militares. Os índios que sobreviveram e tinham condições de trabalhar nas lavouras que os civis instalados em suas propriedades estavam implantando o faziam na condição de escravidão. A posse das terras conquistadas da Capitania era assegurada pelo próprio governador na Capitania e, durante os três anos que se seguiram, começaram a restringir os indígenas a áreas cada vez menores. Houve alguns conflitos, algumas mortes de ambos os lados, e minha atuação como religioso foi expandida com a chegada de mais um padre, porém já não influenciava mais nada. Obrigado a se posicionar a favor dos civis, o capitão Afonso precisava controlar essas rebeliões e conflitos, o que fazia muito a contragosto, pois era avesso a mortes desnecessárias.

Embora não estivesse mais trepando com o Kanauã, eu ainda tinha certo acesso e poder sobre ele, o que foi crucial para os conflitos não descambarem para uma guerra declarada como vinha acontecendo em outras regiões onde os civis estavam se apossando das terras indígenas. Ele atendia muitos dos meus pedidos para uma pacificação.

A doença do capitão havia nos aproximado e fez surgir uma paixão que nenhum dos dois podia mais controlar. Ela se intensificava a cada novo dia e, embora não fosse vista com bons olhos por todos que estavam a nossa volta, não a reprimíamos. Eu desconhecia aquela faceta carinhosa e cheia de cuidados da personalidade do capitão e foi ela que me levou a amá-lo com todas as minhas forças. Nossos corpos clamavam um pelo outro e pareciam só encontrar o equilíbrio e a paz de espirito quando estavam unidos pelos coitos.

Enquanto o sexo que eu fazia com o Kanauã era quase que exclusivamente físico, com o Afonso era algo que transcendia a conjunção carnal, era algo que envolvia sentimentos e mexia com todo nosso metabolismo. Tudo isso era novo para mim e o Afonso se deleitava com a minha inexperiência nesse campo restringido pelo celibato que me foi imposto. Um exemplo desse deslumbre que o deixou em êxtase foi quando pincelou seu caralhão excitado e melado pelo meu rosto me fazendo sentir o aroma de sua masculinidade. Eu não sabia como agir, fiquei aspirando seu cheiro sem ter a menor ideia do que estava porvir.

- Chupa minha rola, seu tesudinho! – exclamou quando percebeu que eu estava demorando a colocar a jeba na boca, pois eu nem sabia como fazê-lo.

- Chupar? – indaguei perplexo

- Sim, chupar! O índio nunca te fez chupar o cacete? – questionou surpreso

- Não!

- Ah Tomaz, seu padrezinho gostoso e safado! Quer dizer que nunca fez sexo oral? Que essa boquinha de lábios vermelhos e carnudos nunca mamou uma rola? – perguntava excitado.

- Claro que nunca!

- Tenho tanto a te ensinar, seu molecão ingênuo! E a primeira coisa que vai fazer agora é colocar minha pica na boca e chupar todo esse melzinho que ela está expelindo. – sentenciou.

Fiz o que ele mandou e, ao sentir o sabor picante e ligeiramente salgado daquele sumo delicioso, me perdi em devaneios, sorvendo guloso cada gota daquela preciosidade. O Afonso se contorcia e grunhia, agarrando minha cabeça e a afundando nos pelos densos de sua virilha.

- Isso, chupa tesudo, chupa! Chupa e sente o sabor do teu macho! – grunhia ele, numa rouquidão sensual, ao mesmo tempo em que se deixava conduzir pelo prazer.

Eu me perguntava como tinha chegado a essa idade sem fazer a menor ideia dos prazeres que duas pessoas podiam compartilhar, e acreditar no que haviam me ensinado durante todos aqueles anos de estudos no seminário, que os prazeres da carne eram pecados abomináveis. Como isso podia ser verdade se o Criador fez de nós seres para viverem em toda sua plenitude?

Ao mesmo tempo em que mamava a verga colossal do Afonso, eu afagava seus bagos globosos e pesados. Arrebatado pelo cheiro e sabor do cacetão dele, eu o explorei lambendo toda sua extensão, sentindo-o pulsar nos meus lábios, massageando com a língua as bolas peludas e consistentes, até ele ser tomado por um espasmo que pude sentir com a mão espalmada sobre o baixo ventre dele, e os jatos de sêmen começarem a eclodir na minha garganta. Nem por um segundo hesitei em os engolir, saboreando sua textura leitosa de sabor amendoado.

- Tomaz, seu moleque tesudo do caralho! Você aprende rápido como satisfazer um macho e está me deixando maluco engolindo minha porra nessa gula toda! – exclamou em êxtase, o que me deixou feliz por ter lhe proporcionado esse prazer.

Acabei meio que viciado no esperma dele e, não se passava sequer um dia que eu não fazia um boquete naquele cacetão grosso e voluntarioso. O Afonso só ficava a me observar em jubilo, afastando ligeiramente as pernas para que eu tivesse total acesso ao seu membrão e sacão. Quando eu terminava de mamar seu leite másculo, era ele quem usava a boca e a língua devassa para lamber meu cuzinho, mordiscar a pele lisinha e sensível do meu reguinho e extrair de mim gemidos tão lascivos que memoravam aos bacanais profanos da era pré-cristã. Eu nem imaginava que esses prazeres eram possíveis e só queria estar nos braços do Afonso para me saciar com eles.

O Afonso não escondia sua tara pelo meu cuzinho, depois de descobrir o quão saciado seu cacete ficava ao ser encapado pelas minhas carnes úmidas e quentes. Ainda que o metesse com cuidado no meu anelzinho apertado, acabava por me dilacerar as preguinhas o que me fazia ganir e gemer deixando-o com o tesão tão exacerbado que só pensava em devassar e se apossar das minhas entranhas, até atingirmos o clímax e ambos gozarem quase simultaneamente. Invariavelmente eu acabava melado com a minha própria porra e o cu encharcado com a dele.

Ao final de cada coito, continuávamos engatados, os corpos entrelaçados, os beijos apaixonados se sucedendo indefinidamente e aquela sensação de prazer pleno percorrendo o que se afigurava um único ser, feito de duas partes que já não podiam mais subsistir sem a outra.

- Quero sair daqui, voltar para a civilização, e quero que venha comigo, Tomaz. (o capitão passou a me chamar pelo meu nome depois de eu começar a aceitar seus galanteios e o deixar meter aquele caralhão no meu cuzinho receptivo) – disse-me certo dia, após outro conflito que ceifou vidas. Eu já vinha pensando na mesma coisa, estava farto daquela situação que se complicava a cada dia.

- Para onde vamos? Também não quero mais ficar aqui. Pensei que pudesse fazer a diferença na vida dessas pessoas, mas percebo que só trouxemos desgraça para ambos os lados. Também vou abdicar do sacerdócio, nunca foi o que quis para a minha vida. Fui levado a isso pela vontade e ordem do meu pai, e tudo mudou quando descobri com o Kanauã que era homossexual, o que torna minha vida religiosa incompatível com quem eu sou. – devolvi

- Não importa o lugar, conquanto estejamos juntos! Podemos voltar para o Reino se quiser, ou podemos nos instalar numa cidade já consolidada. Pelos meus trabalhos e conquistas posso entrar para a reserva, meu soldo como capitão vai nos permitir ter uma vida confortável. Podemos adquirir algumas terras, sempre tive vontade de trabalhar no campo, o que vai nos permitir ter uma vida ainda melhor. Você pode se dedicar a lecionar, já que é o que gosta e pelo que ficou provado, as crianças também gostam de você. – a proposta dele era tentadora e aquele par de olhos me encarando iam me convencendo a aceitar sem pestanejar.

Havíamos permanecido na aldeia por quase seis anos quando decidimos nos mudar. Nos últimos anos eu descobri o verdadeiro amor nos braços do Afonso, no pulsar intrépido do cacetão dele no meu cuzinho. Era um sentimento mágico que, embora cercado de preconceitos da sociedade, nos fazia felizes. Nos instalamos numa fazenda e deixamos os dias correrem nos amando com uma paixão que aumentava dia-a-dia e nos unia em torno de uma felicidade como nunca havíamos sentido.

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Comentários

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Texto espetacular com riqueza de detalhes, tanto em aspectos históricos quanto culturais, regados de um erotismo natural. Parabéns!

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