O amanhecer chegou mais cedo do que Emily esperava. A luz suave do sol penetrava pelas cortinas do quarto privativo do Obsidian, iluminando os traços de Vincent, que dormia ao seu lado. O corpo de Emily ainda estava dolorido, suas pernas pesadas, a pele sensível ao toque, resquícios da noite de prazer incontrolável que vivera com Vincent. Ela havia se entregado a ele completamente.
Por um breve momento, enquanto observava Vincent dormir, Emily tentou afastar a culpa, como se pudesse viver naquele instante sem a realidade do que fizera. Mas o peso da traição rapidamente a atingiu. Adriano. A lembrança dele, de sua voz suave na noite anterior, do sorriso despreocupado enquanto saía para o trabalho, fez com que seu peito se apertasse.
Emily saiu da cama silenciosamente, tentando não acordar Vincent. Vestiu-se rapidamente, sentindo o corpo ainda marcado pelos apertos firmes dele, a mente mergulhada em uma confusão de emoções. O que faria agora? Como poderia voltar para casa e encarar Adriano, sabendo o que acabara de acontecer?
Ela pegou o celular. As mãos trêmulas e o coração disparado, já sabendo que não tinha como encarar aquilo sozinha. Havia apenas uma pessoa em quem confiava o suficiente para contar o que fizera: Isabela.
Emily procurou o nome de Isabela na lista de contatos e discou o número. O som do toque parecia mais alto no silêncio daquela manhã. Após alguns segundos, a voz sonolenta de Isabela soou do outro lado.
— Alô? — A voz de Isabela estava confusa, como se não esperasse a ligação tão cedo.
— Isa, sou eu. — A voz de Emily soava quebrada, a culpa já começando a consumi-la. — Eu… eu preciso te contar uma coisa.
Isabela, percebendo o tom sério de Emily, despertou imediatamente.
— Gata, o que aconteceu? Está tudo bem?
Emily hesitou por um momento, tentando reunir coragem para dizer as palavras que, até então, só haviam circulado em sua mente. Ela precisava confessar. Precisava compartilhar aquele peso, ou seria sufocada por ele.
— Eu estive com Vincent ontem à noite — disse Emily finalmente, a voz baixa, como se a simples confissão pudesse quebrá-la. — Eu me entreguei a ele, Isa… completamente.
Houve uma pausa do outro lado da linha. Emily podia ouvir a respiração de Isabela, que parecia absorver o choque do que acabara de ouvir.
— Você dormiu com ele? — Isabela finalmente perguntou, a voz misturando surpresa e preocupação.
— Sim — respondeu Emily, fechando os olhos enquanto a culpa a inundava. — Eu… eu não consegui resistir. Ele estava me provocando há tanto tempo e… eu simplesmente… eu não sei. Eu fiz isso.
Isabela ficou em silêncio por um momento, processando o que havia ouvido. Emily sentiu as lágrimas brotando em seus olhos, o peso da culpa finalmente se derramando.
— Emily… — Isabela começou, a voz dela mais suave agora. — Isso é sério. Adriano… ele não faz ideia, faz?
— Não — sussurrou Emily, sentindo o peito apertar ainda mais. — Ele não sabe de nada. E eu não sei como vou encará-lo quando voltar para casa. Isa… eu preciso da sua ajuda.
Isabela respirou fundo, e Emily podia ouvir a tensão do outro lado da linha. Mesmo que Isabela fosse mais ousada, mais disposta a explorar os limites do desejo, sabia que o que Emily havia feito era algo grave, algo que traria consequências.
— O que você quer que eu faça? — perguntou Isabela finalmente.
— Se Adriano perguntar… onde eu estava… — Emily engoliu em seco. — Por favor, diga que eu passei a noite com você. Que tivemos uma noite de garotas, só nós duas.
Houve uma longa pausa do outro lado, o silêncio quase insuportável para Emily. Ela sabia que estava pedindo muito a Isabela, mentir para Adriano, esconder a verdade sobre algo que poderia destruir o casamento deles.
— Eu… — Isabela hesitou, mas depois suspirou. — Está bem, Emily. Eu vou acobertar você, se ele perguntar. Mas você sabe que isso não vai resolver as coisas, não é?
Emily assentiu, mesmo sabendo que Isabela não podia vê-la.
— Eu sei — respondeu ela, a voz carregada de dor. — Mas eu preciso de tempo para entender o que eu fiz. Eu preciso de tempo para… tentar descobrir como lidar com isso.
Isabela permaneceu em silêncio por mais alguns segundos, e Emily podia sentir a tensão entre elas.
— Só me avisa se precisar de qualquer coisa — disse Isabela, antes de encerrar a chamada. — E, gata… seja cuidadosa com o que vai fazer.
Emily desligou o telefone, sentindo-se momentaneamente aliviada por ter alguém que pudesse ajudá-la, mas o peso da traição não havia diminuído. Ela havia traído Adriano. E, pior ainda, não conseguia se livrar da sensação de que não estava arrependida pelo que acontecera com Vincent.
Respirando fundo, Emily deixou o Obsidian e pegou um táxi em direção à sua casa. As ruas da cidade pareciam estranhamente normais, como se o mundo não tivesse mudado drasticamente em poucas horas. Mas, para Emily, tudo estava diferente.
Quando chegou em casa, o estômago de Emily se revirava. Adriano estava no trabalho, o que lhe deu um momento de alívio. Ela entrou em silêncio, olhou ao redor, e a culpa bateu com força. Aquele era o lar deles. Um lugar que agora parecia estar desmoronando sob o peso da traição.
Emily caminhou pela casa, a mente em um turbilhão. Ela não conseguiria fingir normalidade por muito tempo. Adriano voltaria logo, e ela teria que enfrentá-lo.
Sem conseguir lidar com seus próprios pensamentos, Emily decidiu ir até seu salão de beleza. Talvez o trabalho pudesse distraí-la, ajudá-la a fingir que tudo estava bem. Mas quando chegou ao salão, a simples ideia de estar entre suas clientes, sorrindo e conversando, parecia insuportável.
Suas funcionárias perceberam o desconforto dela imediatamente.
— Está tudo bem, Emily? — uma delas perguntou, com uma expressão de preocupação.
Emily forçou um sorriso, tentando parecer casual.
— Sim, só estou um pouco cansada hoje. Vou deixar os atendimentos com vocês, tudo bem?
As funcionárias assentiram, embora ainda parecessem preocupadas. Emily se trancou em seu escritório no fundo do salão, tentando respirar fundo, tentando encontrar algum tipo de paz.
Mas não havia paz ali. Não naquela sala, não dentro dela. Eventualmente, teria que encarar a verdade. E a verdade era que sua traição estava prestes a destruir tudo o que ela havia construído com Adriano.
Emily pegou o celular novamente e olhou a última mensagem de Vincent. Ele não havia mandado nada desde aquela manhã, e, por um breve momento, ela se perguntou se ele sentia a mesma culpa, se tinha qualquer remorso pelo que havia acontecido. Mas, ao lembrar-se de como ele a olhava, como se soubesse que o destino dela era inevitável, Emily entendeu que Vincent era imune a esse tipo de culpa.
“O que eu fiz?” A pergunta reverberava em sua mente, acompanhada pelo sentimento de que, de alguma forma, ela não estava arrependida pelo desejo que havia saciado, mas sim pela traição.
O celular vibrou de repente, e o nome de Adriano piscou na tela. O coração de Emily disparou enquanto ela atendia a ligação, tentando manter a voz firme.
— Oi, amor — disse ela, com uma leve tensão na voz.
— Oi, amor. Só queria saber como você está. Está tudo bem? — perguntou ele, sem nenhuma suspeita aparente. — Isabela me contou que você passou a noite na casa dela e vocês beberam um pouco além da conta.
Emily sentiu o estômago se apertar, mas tentou respirar fundo. Isabela havia cumprido sua parte no plano, e agora ela precisava manter o disfarce.
— Sim, eu… nem me lembrei de te avisar. — respondeu ela, tentando soar casual, embora a culpa estivesse aumentando em sua garganta. — Acabei dormindo por lá. A noite foi mais longa do que esperávamos, sabe como é…
Adriano riu do outro lado da linha.
— Vocês duas sempre acabam perdendo a noção do tempo quando estão juntas. — Ele suspirou. — Bem, fico feliz que tenha se divertido. Vou voltar para casa em algumas horas, e quem sabe possamos sair para jantar?
Emily sentiu o coração bater mais forte. A ideia de encarar Adriano pessoalmente, de sentar com ele como se nada tivesse acontecido, era sufocante.
— Claro, podemos fazer isso — respondeu ela, forçando um tom leve. — Te vejo mais tarde, então.
— Até mais, amor. — Adriano desligou, sem nenhum indício de desconfiança.
Emily abaixou o celular, sentindo o corpo tremer. Ela havia conseguido passar pela ligação, mas sabia que o confronto real estava por vir. Como poderia continuar mentindo?
Ela saiu do escritório e passou pelo salão, tentando evitar os olhares das funcionárias. A energia vibrante do salão agora parecia exaustiva, e tudo o que ela queria era desaparecer por um momento. Sabia que voltar para casa e encarar Adriano seria doloroso, mas a ideia de manter aquela mentira crescendo dentro dela a aterrorizava.
Emily voltou para casa pouco antes de Adriano. Sentada no sofá, ela tentou ensaiar mentalmente a conversa que sabia que poderia surgir. Será que deveria confessar? Ou manter o segredo para sempre, fingindo que o que aconteceu com Vincent era apenas um deslize? Mas cada vez que tentava racionalizar o que fizera, a culpa apenas aumentava.
Quando a porta se abriu e Adriano entrou, Emily sentiu o estômago se revirar. Ele estava sorrindo, alheio à tempestade emocional que estava prestes a explodir dentro dela.
— Ei, amor — disse ele, caminhando até o sofá para lhe dar um beijo. — Como foi o dia no salão?
Emily se forçou a sorrir de volta, tentando manter a calma.
— Foi… foi normal — respondeu ela, sem conseguir manter o tom leve.
Adriano não parecia perceber o desconforto dela de imediato. Ele se sentou ao lado de Emily, pegando a mão dela.
— Pensei que poderíamos ir a algum lugar novo para jantar. Talvez um lugar mais reservado, onde possamos conversar e relaxar.
Emily assentiu, mas a ideia de um jantar tranquilo parecia insuportável. Como poderia sentar em um restaurante com ele, sorrindo e fingindo que tudo estava bem?
— Na verdade… — começou ela, sentindo as palavras saírem com dificuldade. — Eu… não estou me sentindo muito bem. Acho que peguei um resfriado, e estou meio cansada.
Adriano franziu a testa, preocupado.
— Tem certeza? Parecia estar tudo bem mais cedo.
Emily tentou manter o controle da situação, mas sabia que ele começaria a notar sua mudança de comportamento se ela continuasse a se afastar.
— Sim, acho que só foi um dia difícil — mentiu ela, sentindo-se sufocada pela própria voz.
Adriano observou Emily por um momento, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo, mas, por enquanto, ele parecia aceitar sua explicação. Ele deu um meio sorriso e acariciou o rosto dela suavemente.
— Ok, então. Podemos pedir algo para comer em casa e relaxar. Não quero que você se esforce se não estiver bem.
Emily sentiu o toque dele, suave e cheio de carinho, e isso só aumentou sua culpa. Ela havia traído aquele homem, e agora ele estava tentando cuidar dela. A mentira que estava contando para ele parecia mais pesada a cada segundo.
— Obrigada, Adriano — disse ela, a voz falhando levemente.
Aquela noite foi uma das mais longas para Emily. Adriano pediu comida, eles assistiram a um filme, e ela tentou agir com naturalidade, mas o peso do que havia feito estava sempre presente. Cada vez que Adriano sorria para ela, ela sentia o nó na garganta apertar. Como ele não podia ver a culpa nos olhos dela? Como ele não percebia o que ela havia feito?
Mais tarde, quando Adriano adormeceu ao seu lado, Emily ficou acordada, encarando o teto, o corpo congelado pela culpa. O segredo estava corroendo-a por dentro, e, por mais que tentasse convencer-se de que poderia viver com isso, sabia que, eventualmente, a verdade a destruiria. Ela estava em um caminho sem volta.
*****
Os dias que se seguiram ao encontro de Emily com Vincent no Obsidian foram como um pesadelo que se repetia sem fim. A culpa e a ansiedade começaram a tomar conta de cada aspecto de sua vida. Cada vez que olhava para Adriano, sentia-se sufocada pela traição que pairava entre eles como um fantasma invisível. Ela havia cruzado uma linha, e o peso do segredo a estava dilacerando por dentro.
Adriano, alheio ao caos que se passava dentro dela, continuava a agir com carinho e dedicação. Ele a abraçava, e beijava com ternura, e tentava criar momentos especiais entre eles, mas cada gesto de amor apenas fazia Emily sentir-se mais distante. Mas não era apenas a culpa que a consumia. O desejo por Vincent, aquele desejo ardente, primitivo, que ela havia sentido naquela noite no Obsidian, agora parecia mais forte do que nunca. A lembrança das mãos firmes de Vincent em seu corpo, o jeito como ele a controlava, a levava a lugares que ela nunca havia conhecido antes… Tudo isso continuava a assombrá-la, mesmo quando estava ao lado de Adriano. O prazer que Vincent havia lhe proporcionado parecia ter despertado algo profundo dentro dela, algo que não podia mais controlar.
Cada toque de Adriano, embora carinhoso, parecia insípido comparado à intensidade com que Vincent a fazia sentir-se viva. Mesmo quando tentava focar no relacionamento com seu marido, sua mente vagava de volta para aquela noite, para os momentos em que Vincent a possuía de corpo e alma.
No salão, Emily tentava manter as aparências, mas sua mente estava sempre distante, emaranhada entre a culpa por Adriano e o desejo de ver Vincent novamente. As funcionárias começaram a perceber sua distração, e até as clientes comentavam sobre como Emily parecia diferente, mais distante, menos envolvida.
Foi em uma dessas tardes, quando Emily estava sozinha no escritório do salão, que seu celular tocou. O nome de Vincent apareceu na tela, e seu coração disparou. Mesmo sem querer, ela sabia que aquele era o momento que ela estava esperando, ou temendo.
Ela hesitou por um momento, o dedo pairando sobre o botão de atender, mas o desejo que borbulhava dentro dela a venceu. Ela atendeu.
— Vincent — disse ela, a voz fraca, mas carregada de uma tensão que ela não conseguia controlar.
A voz de Vincent, baixa e sedutora, soou do outro lado da linha. Apenas o som de sua voz fez com que um arrepio percorresse sua espinha.
— Emily. — Ele disse seu nome como se fosse uma promessa. — Estava esperando que você atendesse.
Ela não conseguia falar. O peso do que ele representava, do que ele havia despertado nela, estava ali, vivo, entre eles, mesmo que estivessem separados pela linha do telefone.
— Você sabe que não pode me evitar por muito tempo — continuou ele, sua voz baixa e firme. — Eu vejo como você está se sentindo. Vejo o desejo que está tentando esconder. Não precisa lutar contra isso. Venha me ver. Esta noite, no Obsidian. Só nós dois.
A proposta de Vincent fez o coração de Emily bater mais rápido. Ela sabia que deveria dizer não, que deveria cortar qualquer contato com ele e tentar salvar o que restava de seu casamento. Mas o desejo por Vincent… esse desejo era incontrolável. Ela sentia-se dividida entre a culpa por Adriano e a necessidade de estar novamente com Vincent, de sentir suas mãos dominadoras em seu corpo, de ceder àquele prazer que ele sabia exatamente como proporcionar.
— Eu… não sei se posso — disse Emily, hesitante, mas ela sabia que era uma mentira. Ela sabia que iria.
Vincent riu suavemente, um som cheio de confiança, como se soubesse que a escolha já estava feita.
— Você pode, Emily. E vai. — Ele fez uma pausa, deixando o peso de suas palavras afundar na mente dela. — Apenas siga o que você sente. O que você quer.
A ligação terminou, mas as palavras de Vincent ficaram ecoando na mente de Emily.
A culpa por Adriano era esmagadora, mas o desejo que Vincent despertava nela era insuportável. Se fosse ao Obsidian, estaria entregando-se completamente a Vincent, não apenas fisicamente, mas emocionalmente também. Ele sabia exatamente como manipular seus desejos, como torná-la cativa de suas vontades.
Emily passou o resto da tarde inquieta. Ela deveria ir? Poderia continuar fingindo que seu casamento com Adriano ainda tinha conserto, ou deveria se entregar de vez a Vincent e ao desejo que ele provocava?
Ao voltar para casa naquela noite, Adriano a recebeu com o carinho de sempre, sem desconfiar da batalha interna que ela travava. Ele a abraçou, beijou sua testa e falou sobre os planos para o fim de semana, mas Emily mal conseguia ouvir. A mente dela estava no Obsidian, em Vincent, em tudo o que ele havia prometido a ela.
— Está tudo bem, amor? — perguntou Adriano, percebendo o silêncio dela. — Você parece distraída.
Emily o olhou, tentando forçar um sorriso, mas o peso da mentira que carregava a sufocava. Ela queria confessar, queria despejar toda a verdade e lidar com as consequências, mas cada vez que tentava, algo a prendia. O medo de perder Adriano. O desejo por Vincent.
— Eu só… tive um dia cansativo — respondeu ela, desviando o olhar. — Acho que preciso de um tempo para mim esta noite. Talvez eu dê uma volta, ou vá ao salão.
Adriano franziu a testa, mas assentiu, respeitando o espaço que ela pedia.
— Claro. Faça o que precisar. Só quero que você fique bem — disse ele, com o carinho que sempre a fazia sentir-se segura.
Mas naquela noite, a segurança que Adriano oferecia não era suficiente. Emily precisava de algo mais. Precisava de Vincent.
Depois que Adriano foi para o quarto, Emily se levantou e pegou as chaves do carro. A decisão já havia sido tomada, mesmo que ela ainda tentasse resistir. Ela dirigiu em silêncio até o Obsidian, cada quilômetro percorrido afundando-a mais na decisão que sabia ser a mais perigosa de sua vida.
Quando chegou ao clube, Vincent já estava esperando por ela. Ele a conduziu diretamente para um dos quartos privativos, sem palavras, mas com uma presença que dizia tudo. Ele sabia que a tinha nas mãos, e Emily, ao cruzar a porta, soube que havia se rendido completamente.