Uma grande mudança em nossas vidas Cap 2. Jornada de “Renascimento” - 2.5 - Final

Um conto erótico de Manfi82
Categoria: Heterossexual
Contém 4141 palavras
Data: 05/11/2024 16:27:52

Cap 2.5 - vingança 2/2

Relembrando como terminei meu último relato:

“Na manhã seguinte, meu celular foi bombardeado com mensagens e fotos da minha mãe e das minhas primas. O desgraçado havia começado a ameaçá-las novamente. Não só elas, mas também Amanda. Até Naty e sua nova namorada, Camille, foram citadas.

Fiz o que combinei com meus treinadores e amigos na busca por vingança: encaminhei tudo para eles. Minha mente voltou ao foco, ignorando todos os pensamentos lógicos que me diziam para não entrar no ringue contra o Pedrão. Aquela luta iria acontecer, e eu sairia como vencedor, custasse o que custasse.”

……

Após o fim de semana, em que evitei ao máximo me encontrar com Fabi ou realizar qualquer outra coisa que me desviasse do meu foco – meu objetivo principal naquele momento –, me reuni com meus aliados no plano de vingança contra Pedrão.

Valdão e Bruninho marcaram uma reunião para segunda-feira, às 6 da manhã, pois às 7 eles teriam que dar aula para os alunos de 7 a 12 anos. Estávamos num pequeno vestiário, com as paredes forradas de pôsteres desgastados de lutas antigas. O cheiro forte de desinfetante misturado com o suor impregnava o ar, reforçando que estávamos ali por um motivo muito além da camaradagem.

— Zeca, você tá bem? Melhorou a cabeça depois da última semana? — começou Bruninho, com sua voz calma e aquele jeito sereno, mas introspectivo. Seus olhos atentos pareciam estudar minha expressão, buscando alguma pista de como eu realmente estava.

Antes que eu pudesse responder, Valdão interrompeu, debochado:

— Melhorou nada! Depois do Gustavão encher essa cabeçona de porrada, ele ficou é com a cabeça inchada! — Ele soltou uma risada malandra, o típico carioca marrento que tira sarro de qualquer situação. Seu sorriso largo e despojado contrastava com a seriedade que eu sabia que ele também escondia.

Demorei para responder, tentando disfarçar o nervosismo. Apesar de ter passado o fim de semana focado na luta, os “rounds” com Gustavão tinham abalado minha confiança. Aquela sensação de vulnerabilidade pesava, mas não era algo que eu queria que eles percebessem.

O silêncio se arrastou por alguns segundos, e trocamos olhares em uma comunicação muda que carregava um peso difícil de sustentar. No fundo, todos sabiam o que aquela vingança significava para cada um de nós.

A forma como eles me olhavam mexia comigo. Eu sentia o peso da confiança que eles depositavam em mim, e isso fazia meu coração disparar e minhas mãos tremerem um pouco. Era uma mistura de responsabilidade e uma ponta de inveja mal disfarçada: no fundo, eu sabia que todos ali desejavam a mesma oportunidade que eu estava tendo.

Bruninho quebrou o silêncio, inclinando-se para frente, as mãos cruzadas sobre os joelhos.

— Você tá preparado, Zeca? Essa luta com o Pedrão... Não é só mais uma, né? — Ele falava com calma, mas eu sabia que a pergunta tinha um peso diferente. Não era só sobre técnica ou estratégia; era sobre estar mentalmente preparado para o que estava por vir.

Engoli em seco. Era difícil encarar Bruninho, que estava sempre com aquele olhar sereno e firme. Eu queria que ele confiasse em mim, mas no fundo me sentia um impostor, alguém que mal conseguia manter o próprio medo sob controle.

— Preparado ou não, tô dentro. Esse desgraçado vai pagar pelo que fez — falei, tentando soar confiante, mas minha voz saiu um pouco mais baixa do que eu pretendia.

Valdão soltou um riso curto, aquele sorriso de canto que dizia tudo.

— Esse aí tá com sangue nos olhos, hein? Mas ó, Zeca... só não vacila. Não vai pra cima dele feito maluco. Se não, vai ser você que vai sair de maca. — Ele falava num tom provocador, mas os olhos, por trás da provocação, demonstravam algo além. Um cuidado que eu sabia que ele não demonstrava à toa.

Bruninho me observava, a expressão fechada. Ele sabia que eu estava inseguro. Afinal, era fácil ver através de mim quando se conhece tanto alguém.

— Olha, cara... a gente tá contigo nessa. Só que, se você vacilar com a cabeça, com seu psicólogo... isso pode acabar pior do que qualquer um de nós quer. Não é só por você. É por todos nós.

Essas palavras me atingiram fundo. Eu sabia que não era apenas minha batalha, mas também a deles. Todos tínhamos histórias com Pedrão, feridas que ele deixou ao longo dos anos. Cada um de nós carregava um motivo para querer vê-lo derrotado, mas no final era sobre proteger uns aos outros.

Fiquei em silêncio, tentando absorver o peso do que Bruninho e Valdão estavam me dizendo. Respirei fundo, deixando que o cheiro forte de suor e o ambiente ao nosso redor me centrassem. O cheiro das luvas de boxe, o som abafado de socos vindos do ringue ao lado... ali era o lugar onde, apesar de tudo, eu me sentia seguro.

— Vocês sabem que não vou decepcionar — finalmente respondi, tentando sorrir.

Valdão soltou um “boa” enquanto dava um tapa de leve no meu ombro.

Bruninho se levantou, batendo as mãos para dar por encerrada a conversa.

— Então é isso, rapaziada. Vamos acabar logo com essa aula e depois focar no treino. E, Zeca... qualquer coisa, tô por aqui. Não hesita em chamar.

Assenti, sentindo uma pontada de alívio misturada com uma nova onda de determinação.

Meu treino naquele dia estava mais pesado do que o habitual, e eu me recusava a mostrar qualquer sinal de fraqueza. As pancadas e o esforço eram intensos, mas eu sabia que ceder ali seria um erro. Queria, mais do que nunca, provar para mim mesmo que estava pronto para tudo o que me esperava.

Enquanto socava o saco de pancadas, meu pensamento vagava. Eu nunca fui do tipo que arrumava confusão. Sempre evitei brigas, passava longe de qualquer coisa que envolvesse violência. Desde aquele episódio na infância, quando quase matei um garoto — devia ter uns oito, nove anos —, fui marcado por um trauma que me transformou numa pessoa passiva. De certa forma, essa passividade foi o que me trouxe a este ponto: longe da única garota que amei e encarando a necessidade de lutar contra um canalha para defender minha honra e proteger quem mais me importava.

O lado positivo disso tudo era que, mesmo com o peso a mais que carreguei nos últimos anos, eu sempre tive um gosto genuíno pelas lutas. O tatame, o ringue, o som abafado dos socos e o cheiro do suor me traziam uma paz que só quem vive ali entende. A cada golpe, sentia que liberava parte da fúria que eu acumulava, canalizando-a nas luvas que usava ou no quimono que vestia.

Com o último soco, parei por um instante para recuperar o fôlego, respirando profundamente e sentindo o suor escorrer pela testa. A dor nos músculos era intensa, mas eu sabia que ela fazia parte do processo. Afinal, minha luta não era só contra Pedrão — era contra tudo aquilo que me afastou daquilo que eu mais prezava.

Fui até o bebedouro para encher novamente minha garrafa d'água, e, sem perceber, comecei a observar os garotos em seu treinamento dentro do ringue. Um deles, em particular, capturou minha atenção. Ele tinha um porte mais robusto, visivelmente menos ágil e hábil do que os outros, mas se esforçava mais do que qualquer um ali. Seus movimentos ainda eram desajeitados, sem a fluidez dos mais experientes, mas era evidente que a força de vontade o movia.

Ao vê-lo ali, dando tudo de si, lembrei de quantas vezes, ao longo da vida, pessoas próximas — parentes, amigos e até meus pais, em algumas ocasiões — me desencorajaram, intencionalmente ou não, minando minha confiança. Era como se aquele garoto estivesse carregando, sem saber, uma versão mais jovem de mim mesmo. Havia algo comovente em sua determinação, em como ele se lançava contra suas próprias limitações, buscando, com bravura, alcançar um nível de excelência que ainda parecia distante.

Ele estava encurralado em um dos corners do ringue, enfrentando um oponente maior e mais experiente. O garoto estava ofegante, o rosto já um pouco inchado, mas seus olhos brilhavam com um orgulho genuíno. Ele não desistia. E, se fosse meu filho, eu estaria igualmente orgulhoso.

Aquela cena trouxe um lembrete. Eu também precisava superar meus próprios limites — físicos e emocionais — para atingir o próximo patamar. Era o momento de dar um salto, de virar a chave e encerrar essa jornada para o meu renascimento.

Decidido, voltei ao treino com foco renovado. Cada soco no saco de areia, cada golpe nas manoplas dos treinadores, era como se eu estivesse enfrentando Pedrão ali, naquele exato instante. Minha precisão e intensidade aumentaram, e meus movimentos ganharam uma agressividade controlada que surpreendeu a todos ao redor. A academia inteira parou para assistir. Não me importei. Fiquei ali, usando a técnica do hiperfoco, canalizando cada emoção para continuar, firme e incansável.

Após uma pausa para iniciar o treino de musculação, a segunda etapa do meu ciclo diário, notei que um murmurinho começou a ganhar força pela academia.

Sem entender ao certo o que estava acontecendo, segui o fluxo dos alunos, que se moviam rapidamente em direção ao andar onde estavam os equipamentos para boxe, muay thai e kickboxing. Conforme me aproximava, uma sensação incômoda começou a crescer no meu peito.

Ao chegar lá, fui tomado por uma espécie de choque. Pedrão estava no local, acompanhado de mais quatro amigos. Senti um aperto na espinha, mas me mantive firme. Comecei a caminhar em sua direção, avançando pelo meio dos alunos que estavam amontoados ali, cada um dos meus passos mais decidido que o anterior.

Quando me aproximei, um dos amigos de Pedrão me notou e me apontou com um sorriso debochado, soltando uma risada forçada.

- Olha só, Pedrão! Não é que o maior corninho do Brasil está realmente focado nos treinos?

A risada ecoou entre eles, cada um entrando na provocação, enquanto Pedrão ria de forma mais contida. Seus olhos, porém, ficaram fixos nos meus, carregados de uma intensidade que quase me fez hesitar. Ele sustentava o sorriso de escárnio enquanto avançava lentamente, sua postura ameaçadora e confiante, cada passo calculado para me intimidar.

Eu não recuei. Firme, esperei sua aproximação, sentindo meus punhos se fecharem com força ao lado das pernas. Meu coração disparava, e a tensão se transformava em um impulso selvagem, quase irracional. Não pensava mais em nada além de derrubá-lo, de descontar tudo o que estava engasgado.

Senti o ar pesado com a risada debochada dos amigos de Pedrão, cada risada como um soco no estômago. Ele se aproximava com aquele sorriso cínico, e a sensação de vulnerabilidade crescia dentro de mim. Minha vontade de atacar se misturava com o medo de ser humilhado na frente de todos.

Quando ouvi passos firmes atrás de mim, meu coração disparou.

— Que palhaçada é essa aqui? — A voz de Gustavão cortou a atmosfera, forte e autoritária. O líder da academia se aproximou, acompanhado de Valdão e Bruninho, ambos com expressões sérias. Eu podia sentir a tensão no ar aumentar.

Os amigos de Pedrão pararam de rir, a atmosfera mudando instantaneamente. Pedrão, que estava tão seguro de si, agora parecia ligeiramente desconcertado.

— Olha quem chegou! O grandão! — ele disse, tentando manter o tom provocador, mas eu notei a inquietação em seus olhos.

Gustavão não se deixou abalar. Ele se posicionou entre nós, com os braços cruzados, olhando diretamente para Pedrão.

— Você tá achando que isso aqui é uma zona? — Gustavão disparou. Sua voz tinha aquele tom firme que fazia todos se calarem. O silêncio foi quase palpável.

Eu me sentia um espectador, o coração batendo forte enquanto observava a cena se desenrolar. Gustavão sempre foi respeitado, e a presença dele ali era um alívio e um peso ao mesmo tempo. Ele olhou para mim rapidamente, e eu pude ver um flash de preocupação em seus olhos, como se soubesse o que eu estava passando.

— Só porque você acha que tem um grupinho e uma reputação, não pode sair por aí fazendo o que quer, Pedrão — continuou Gustavão. O desafio estava claro, e a tensão crescia.

Os amigos de Pedrão olhavam para ele, incertos. Eu estava parado, prestando atenção em cada movimento, cada palavra. E então, Pedrão decidiu responder.

— Ah, vai se ferrar, Gustavão! — ele disse, tentando recuperar um pouco da confiança. — Não tenho medo de você nem de seus joguinhos de poder!

Gustavão avançou um passo, e a mudança na dinâmica foi quase instantânea. Ele olhou nos olhos de Pedrão com um ar de desdém.

— Você realmente acha que isso é sobre mim? Não sou eu que tenho que provar algo aqui, não é? — Ele gesticulou para a plateia de alunos que agora observava com interesse, como se um espetáculo estivesse se desenrolando diante deles.

As palavras de Gustavão eram como um golpe. Eu podia sentir o nervosismo de Pedrão crescer, suas piadas e provocações perdiam força à medida que a presença de Gustavão dominava o ambiente.

— Você quer fazer uma luta, Pedrão? — Gustavão perguntou, desafiador. — Ou vai continuar se escondendo atrás de seus amigos?

Nesse momento, meu estômago revirou. O que estava acontecendo ali? Era um embate que eu não havia previsto, e a ideia de que Pedrão poderia ser desafiado me deixou um misto de esperança e medo.

Mas então, Pedrão respirou fundo e respondeu, tentando resgatar a situação.

— Não precisa fazer esse show, Gustavão. Aqui não é sua casa!

Gustavão sorriu de forma irônica, como se estivesse se divertindo.

— E você acha que pode me intimidar com esses seus truques? Olha em volta, Pedrão. Você não está mais em uma posição de poder.

Os alunos começaram a murmurar, as vozes se misturando em um burburinho.

Olhei para Bruninho e Valdão ao meu lado. Eles pareciam tensos, mas havia uma determinação em seus olhares. Eu sentia que a situação estava prestes a explodir. O meu papel, por um momento, parecia estar nas mãos de Gustavão, e eu não tinha certeza se isso era bom ou ruim.

Com cada palavra que Gustavão proferia, a humilhação de Pedrão se tornava mais evidente.

- Você deixou claro que não queria pertencer a este time, a esta família, ao começar a ofender e a chantagear nossos membros. Nesta academia, mexeu com um, mexeu com todos.

Neste momento, Gustavao começou a andar lentamente, mas com um propósito firme, na direção de Pedrão, que se manteve parado, como se uma corrente invisível o impedisse de se mover. A atmosfera na academia estava carregada de tensão, com os treinos e os sons dos equipamentos ao fundo criando um contraste com o silêncio nervoso que se instalou entre nós.

— Gustavo… cara… eu só vim pegar minhas roupas e acessórios em meu armário. Eu mudei de academia, conforme me solicitou — Pedrão falou, sua voz vacilante, como se estivesse tentando se convencer de que tinha controle sobre a situação.

Eu observei Pedrão e, naquele instante, ele parecia uma menininha assustada. O sorriso interno que brotou em mim era incontrolável ao ver aquele desgraçado demonstrar tanta fraqueza e vulnerabilidade.

— Você aceitou o desafio de Zeca? — Gustavao interrompeu o silêncio, sua voz firme cortando a tensão no ar e causando uma preocupação instantânea em mim.

— Sim… claro! Próximo sábado. Certo? — respondeu Pedrão, tentando soar desdenhoso, mas seu olhar traiu um leve tremor de incerteza.

— Muito bem. A luta será aqui. Mande o líder de sua nova academia entrar em contato para que possamos “alugar” juízes e observadores disponíveis pela nossa organização — Gustavao declarou, enquanto olhava diretamente para Pedrão, que novamente nada respondeu.

A desvantagem de Pedrão em lutar em nossa academia era enorme. Porém, eu podia quase sentir a pressão aumentando, como um peso sobre seus ombros. Ele talvez achasse que não precisava se preocupar, mas o murmúrio ao nosso redor contava outra história.

Após mais um breve silêncio, Gustavao finalizou:

— Pedrão, na faculdade você pode ser o maioral com aqueles estudantes adolescentes e mimados. Mas aqui nesta academia, você não é nada mais do que minha “putinha”.

As palavras de Gustavao ecoaram, e pude ouvir risadas e piadinhas ao fundo, todas dirigidas a Pedrão. Ele, após um tempo que pareceu interminável, agradeceu a Gustavao pelo tempo que treinou em seu time, de forma humilhante, e começou a sair da academia, com a cabeça baixa, como um derrotado.

— Zeca, não esqueça de nossa “luvinha” mais tarde — Gustavao me lembrou, seu olhar agora focado em mim.

Também não respondi com palavras, apenas com um gesto de cabeça. Minha mente estava pronta, alinhada e concentrada para corresponder a aquele teste. O ar estava denso, cheio de expectativas, e eu sabia que não poderia falhar.

……

Nas próximas quatro ou cinco horas, treinei incessantemente, a ponto de quase desmaiar por desidratação ou hipoglicemia. Já passava das três da tarde quando Gustavao mandou me chamar para uma conversa em sua sala.

Era uma sala pequena, mas confortável. Nas paredes, havia fotos de atletas de muay thai e jiu-jitsu que haviam sido “revelados” naquela academia. Sobre a mesa de madeira retangular, duas marmitas e uma foto especial: Gustavao em Curitiba ao lado do mestre Rafael Cordeiro e do meu ídolo, Wanderlei Silva, que naquela época já tinha retornado do Japão após dominar o Pride GP e fazer a Chute Boxe famosa no mundo todo.

Mesmo exausto, observei aquela foto com admiração, sentindo orgulho por ter um professor e amigo como Gustavao. Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que ele abriu uma das marmitas e empurrou para mim. Era um virado à paulista, prato típico da culinária popular de São Paulo.

Eu o encarei, confuso, e ele soltou uma gargalhada, mantendo o semblante sério.

— Me disseram que você anda inseguro com a luta contra o Pedrão.

Fiquei em silêncio, sentindo um gosto amargo na boca e uma pontada no estômago. Abaixei a cabeça, sem saber o que responder.

— Você acha que passando fome vai conseguir ganhar a luta? — ele interrompeu, me entregando um garfo e uma faca.

Sem responder, puxei a marmita e comecei a “brincar” com os talheres, hesitante. Gustavao deu umas garfadas na sua própria comida e, depois de um tempo, continuou:

— Se não quiser, é só falar. Vou dar pro seu Severino, o vigilante da rua.

Ele voltou a comer e, entre uma garfada e outra, disse:

— Entrei na sua cabeça muito fácil. Sem experiência nenhuma, treinando só duas vezes por semana, você conseguiu sobreviver três rounds comigo, um cara que tem mais anos de muay thai do que você de vida.

O encarei, surpreso, com uma mistura de incredulidade e admiração.

— Precisa aprender a ser “normal”. Tudo em excesso ou escassez faz mal. Na semana que antecede uma luta, não forçamos nossos atletas com treinos pesados.

Comi uma colherada daquele virado, que parecia ainda melhor naquele momento, e comecei a me acalmar.

— De hoje até quarta, eu vou assumir seus treinos. Quinta e sexta, você fará apenas um treino leve, de recuperação. No sábado de manhã, faremos um treino de ativação muscular, e, antes da luta, um aquecimento leve, só pra entrar no clima.

Finalmente, consegui responder:

— Mas eu ainda não consegui te vencer!

Ele sorriu, meio desdenhando.

— Só você, os professores e o Valmir, que está treinando na Ásia, conseguem sobreviver três rounds comigo quando estou lutando sério.

Aquela afirmação me pegou de surpresa, mas um sorriso discreto escapou. Gustavao continuou:

— Nas “luvinhas”, começaremos a praticar a estratégia que você vai usar na luta. Conheço seu adversário muito bem. Se for aplicado e determinado, terá chances.

Agradeci, timidamente. Meu coração acelerou. Pela primeira vez, um vislumbre de esperança.

— Mas pra conseguir seu objetivo, você precisa se alimentar e descansar. Após o almoço, vá pra casa e volte às 19h. Participe da aula desse horário pra aquecer. Logo depois dos rounds dos alunos, subiremos no ringue e começaremos a colocar nosso plano em prática.

Sem mais palavras, terminamos o almoço. Fui pra casa e, no horário estipulado, voltei. Após a aula, começamos a praticar focados na luta que, naquele momento, significava tanto para mim e para muitos naquela academia.

…..

Na noite em que tudo finalmente chegou ao fim, eu sabia que a luta não era só contra Pedrão. Ele estava ali, a poucos metros, aquecendo o corpo como quem ensaia um show de violência, mas eu via além dele.

Aquele ringue era mais do que um palco para a nossa rivalidade, era o espaço em que eu enfrentaria cada peso, cada fantasma, cada promessa que fiz a mim mesmo quando o desespero tentava me vencer.

O suor já escorria pelas minhas costas antes mesmo do toque inicial. Gustavo, o líder da equipe, fez questão de me lembrar de cada detalhe do plano de luta, enquanto o som de "INNER Self" preenchia o espaço em volta de mim. Aquela música batia direto na minha alma, como um grito de revolta e resistência, enquanto eu ajustava as ataduras e sentia o peso das luvas nas mãos. E a letra… cada verso me lembrava dos motivos para estar ali.

Caminhei em direção ao ringue, o rosto impassível, mas o coração martelando no peito. O olhar fixo em Pedrão, mas, ao mesmo tempo, distante, absorvendo cada energia ao meu redor. Eu não estava ali apenas por mim — era por tudo o que ele ameaçara tirar de mim. E por cada golpe que ele prometera a quem eu amava. Ele queria fazer daquela luta uma questão pessoal, e eu estava disposto a jogar na mesma moeda.

Quando o primeiro round começou, senti o impacto do seu primeiro golpe como uma onda me atravessando. Não havia erro: ele era implacável. Suas mãos eram pesadas, e eu podia sentir o desprezo em cada movimento dele. Ele não só queria vencer; queria me destruir. Mas eu estava ali justamente para isso, para ver até onde aguentava, para testar cada centímetro da minha resistência. A cada soco que acertava o meu corpo, eu me preparava para devolver em dobro.

Os rounds se arrastavam como se o tempo tivesse se distorcido ali dentro. Perdi os primeiros dois rounds de forma rápida, cada golpe me levando a um limite novo. Senti minha respiração ficando irregular, o peso do cansaço invadindo os músculos. Gustavo gritou do meu canto, lembrando-me do treinamento, das técnicas, mas era como se só o som de "INNER Self" ressoasse na minha cabeça. Aquilo era uma guerra mental antes de qualquer coisa.

No terceiro round, algo começou a mudar. A dor se transformava em um estranho combustível. Cada golpe dele acendia uma faísca dentro de mim, me desafiando a resistir, a ir além do que eu pensava ser capaz. E por um momento, eu o acertei com força. Senti meu punho bater contra o seu rosto, e a expressão dele mudou — talvez uma sombra de surpresa, talvez irritação. Era uma pequena vitória, mas suficiente para me fazer continuar.

As provocações de Pedrão, os insultos, tudo se misturava com o barulho da torcida, que clamava por um vencedor, não importava o que estivesse em jogo para cada um de nós. O suor e o sangue escorriam, e a dor era quase um alívio comparado ao peso do que aquela luta significava.

No início do quinto e último round, abri os olhos e encarei a multidão. Meus olhos procuraram, quase que instintivamente, um ponto específico. Uma pessoa em meio àquela maré de rostos desconhecidos. E lá estava ela, com um olhar que misturava ansiedade e esperança. Ela era a principal pessoa que eu precisava ver ali, o último toque de motivação que eu não sabia que procurava. Sem que pudesse evitar, um sorriso escapou dos meus lábios. Foi um momento de triunfo silencioso, de certeza em meio ao caos.

Mas, então, algo em mim começou a mudar. Era como se aquele sorriso tivesse trazido uma clareza estranha. O mundo pareceu desacelerar, e eu soube que estava pronto. Os golpes de Pedrão continuavam, mas agora eu não me defendia. Simplesmente recebia cada um deles, absorvendo o impacto, permitindo que ele esgotasse a própria força. Eu deixei meu corpo relaxar, abandonando a resistência, sentindo a dor como uma velha amiga.

O silêncio começou a tomar conta da minha mente, cada golpe parecia me levar a um lugar de calma que eu jamais esperava encontrar. Não era sobre vencer, não mais. Cada pancada era um passo para o esquecimento, e eu deixava que o corpo seguisse esse caminho.

Até que, finalmente, as luzes ficaram distantes, o som abafado, e eu senti o chão se aproximando, tudo escurecendo ao meu redor.

Continua…

Bem meus amigos chegamos ao fim de mais um capítulo. Peço para todos que queiram que continue mande um comentário.

As vezes a falta de likes e apoio me broxam a continuar essa série neste site.

Sei que o público daqui quer histórias curtas e eróticas, então, se for o caso, deixarei de postar está série neste site.

Agradeço demais aos que sempre estiveram comigo até aqui, mesmo sem nunca se pronunciar.

Obrigado!!

Obs: FICA PROIBIDO A COPIA, EXIBIÇÃO OU REPRODUÇÃO DESTE CONTEÚDO FORA DESTE SITE SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO AUTOR.

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Comentários

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Não perca o animo, em que pese ter achado que deu final na verdade não, falta um encerramento para o Zeca e Pedrão e com a Amanda, seu enredo e profundo e nem sempre precisa de só relações sexuais , mas a finalização para o casal e o pretenso dominador e necessário e você tem muito talento, finaliza, esperamos e ansiamos. abraço

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Eu diferente da maioria aqui, gosto de contos grandes, estou adorando essa serie. Continue logo, pois está muito boa. Quero saber coo vai terminar essa luta do Zeca com o Pedrão, quero saber o castigo que o pedrão vai ter ganhando ou perdendo, quero saber como o pai da mina vai seguir, quero saber o que vai ser a vida ddela em Londrina, se o passado dela vai atrapalhar, quero ver ela acabar com a mãe, que foi a maior culpada de tudo, essa mãe narcisista que acabou com a vida do ex marido e da filha.

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Só para esclarecer...esse conto e este capítulo acabaram.

Não parei ele no meio. Kkkk.

Qt a periodicidade das postagens...depende da aceitação do público. Eu percebi que a maioria gosta de contos curtos, com estrutura e enredo simples, apenas para algum tipo de prazer...kkkk

Essa série fosse de tudo isso, por isso falei em parar de postar aqui!!

Mas se há demanda poderá haver produtos...kkkk

Porém, se não demanda é besteira insistir.

Já houveram 7 vezes mais estrelas que o último dessa série. Agradeço a todos.

Mas me contem o que acharam?? Critiquem de forma construtiva principalmente. Ou não, me critiquem apenas.

Mas levar hrs do dia planejando, mais algumas e etc para que pareça que ninguém gostou ou odiou é muito ruim... principalmente pq já falei meu objetivo com estes contos, e este se aproxima mais do que pretendo destravar até o final do ano.

De QQ forma obrigado a todos!!

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Não faça isso por favor, estamos todos aqui loucos pra saber o final e você decide parar. Que maldade. o conto é otimo e cativante.

3 estrelas

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Estamos todos na esoectativa dele fazer igual o Stalone e quebrar esse cara no tapa. Ficamos aqui com a sensação de que essa era o momento onde ele ligaria o seu hiperfoco e somente vai parar depois de destruir o outro sujeito.

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Não consigo não responder...kkk

Apenas leia com atenção essa frase.

Até que, finalmente, as luzes ficaram distantes, o som abafado, e eu senti o chão se aproximando, tudo escurecendo ao meu redor.

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Muito bom, pode continuar a escrever

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Pelo amor de Deus n deixe de postar e qje sacanagem parar o conto justamente nesse climax ...

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Outro excelente capítulo, parabéns meu irmão!

Vc não é nem louco de deixar de postar a continuidade deste conto! 🫣🫣

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A história é muito boa, continue, por favor.

Só não demore tanto pra postar.

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Amigo vc entendi a complexidade desta história...

Não é um conto de sexo em que o marido pega a mulher com iluminação negão de pinto grande e decide virar corno

Eu preciso fazer um planejamento para que a história se mantenha integra, sem furos.

Cada personagem tem sua personalidade própria.

Cada arco tem sua própria complexidade.

Eu faço um desafio para vc e todos os outros...se mostrem interessados na história, me ajudem...pq eu estou numa fase de bloqueio num livro...QQ ajuda, QQ feedback me ajuda.

Senão eu não tenho motivação para continuar...não tem como ser mais claro e sincero, eu não vivo disso, eu trabalho peridos de 10 a 12 hrs ouvindo problemas dos pacientes o dia todo. Sem motivação não há criatividade que resista.

Essa série é algo que estou curtindo fazer, eu me identifico com o personagem...tem muitas questões minhas dentro dele e da história, então eu vou continuar escrevendo.

Mas talvez aqui não seja o lugar que preciso, com o feedback necessário.

Essa resposta vale para todos.

Agradeço demais todos os comentários.

Se envolvam na história e me ajudem a continuar...e evoluir como escritor. Pq é isso que busco aqui!

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