DOMINGO, 09 DE JUNHO DE 2024
PAULA: Me desculpe Luiz! É tudo minha culpa, tem algo que eu esqueci de lhe contar!
LUIZ: Pelo amor de Deus Paula! O que você não me contou!?
PAULA: Venha comigo, eu vou lhe mostrar.
Vai andando rapidamente até a cozinha ( Luiz logo atrás).
Ela acende a luz e vê o porta retratos quebrado.
PAULA: Foi culpa minha, eu não poderia ter esquecido!
LUIZ; Esquecido do quê?
Paula se abaixa, e coloca a mão debaixo de um dos balcões da cozinha e retira de lá o gato Bimbo.
PAULA: Eu não poderia ter esquecido de fechar o Bimbo para que ele não viesse até a cozinha! E esqueci de te contar justamente isso, que o Bimbo fica acordado de madrugada.
O barulho de metal era de uma panela que ele derrubou de cima do fogão. Quando chegou perto e chamou por Paula o gato se assustou e se escondeu embaixo do balcão, por isso o silêncio.
Não tinha como achá-lo escondido. Quando Bimbo percebeu que Luiz estava indo embora, tentou escapar, subiu no balcão e derrubou o porta retratos.
Luiz retornou à cozinha e novamente, ele novamente se assustou e se escondeu debaixo do balcão. Paula só o achou porque já sabia que ele gostava de se esconder ali.
PAULA: Você se assustou, né? Achou que era um ET?
LUIZ: Pois é, veja como nossa mente fica influenciável com toda essa história, eu achei mesmo que fosse coisa de outro mundo.
PAULA: Então você não está tão convicto assim que seja um golpe, não é mesmo?
Luiz coçou a cabeça, e no seu íntimo concordou com Paula.
LUIZ: Digamos que eu tenho 95% de certeza que é um golpe.
PAULA: Eu estou convicta que não é um golpe, já que estamos acordados , vamos continuar a conversa de ontem, e enquanto conversamos vamos tomar o café da manhã!
Luiz ficou um pouco chateado também porque não pode anotar os seus sonhos como o psicólogo pediu. Ele normalmente já tinha dificuldades de lembrar do que tinha sonhado durante a noite, e a maneira como foi acordado de supetão pelo Bimbo acabou com qualquer possibilidade dele lembrar. O caderninho foi inútil.
“Gato filho da puta!” resmungou Luiz baixinho
PAULA: O que foi que disse?
LUIZ: Nada não Paula. Disse que é uma boa ideia tomar o café agora!
Paula varreu os cacos de vidro, enquanto isso Luiz ligou a cafeteira e colocou o pão e demais itens ali mesmo na mesa da cozinha. Luiz parecia cansado e sonolento, já Paula tinha um semblante alegre.
Enquanto tomavam o café reiniciaram a conversa:
PAULA: Então, tem 5% de chance de ter sido Aletheia que me visitou aqui. Porque sinceramente Luiz, com todo respeito sócio querido, tá mais fácil acreditar em ETs do que na sua tese de ontem.
Luiz tinha ciência de que precisava aprimorar sua tese, mas também se recusava a acreditar em alienígenas.
LUIZ: Tá bom , qual a sua tese então?
PAULA: Em primeiro lugar, eu tenho certeza de que foi a Aletheia que me visitou, porque eu a conheço muito bem! Conheço seu jeito de ser, seu toque , seu comportamento, sua fala, conheço ela por completo!
LUIZ: Respeito seus sentimentos, mas isso é subjetivo. Além disso você pode ter a sensação de que era Aletheia porque você está em um estado de carência emocional.
PAULA: Era ela Luiz! Acredite!
LUIZ: Você lembra do caso do doutor Osvaldo. Lembra quando a gente fazia estágio naquele escritório de advocacia?
Aquele caso tinha sido emblemático para Luiz. Quando ainda era estudante de Direito, e fazia estágio junto com Paula em um escritório que teve como cliente o Dr. Osvaldo.
Esse cliente era inteligentíssimo, cientista formado em física e com especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado cursados em algumas das melhores Universidades do Brasil e da Europa.
Ele era ateu e cético, só acreditava no que podia ser racionalmente provado, até que sofreu um grave acidente de carro.
Perdeu os movimentos da cintura para baixo, tinha que se locomover em cadeira de rodas. Ficou desesperado, pois não havia cura. Viajou para outros países em busca de tratamento, mas simplesmente não havia cura.
Então ele encontrou um golpista, um charlatão que lhe disse que incorporava o espírito de um médico alemão já falecido, e que realizaria uma cirurgia espiritual que faria com que voltasse a andar. Cobrou-lhe um valor absurdo e realizou a tal “cirurgia espiritual”.
Foi realizada nos fundos de uma casa, num quarto imundo, utilizando uma faca de cozinha, sem nenhuma higiene.
A cirurgia consistia simplesmente no falso médico enfiar a faca na sua perna.
Como o doutor Osvaldo não sentia a perna, também não sentiu dor alguma. Mas a falta de higiene lhe causou problemas de saúde que quase lhe levaram a morte, e o problema das pernas obviamente não foi resolvido.
PAULA: Eu lembro desse caso, nós ficamos abismados como um homem tão culto e inteligente como o Osvaldo foi cair num golpe tão besta quanto aquele.
LUIZ: A perita psicóloga contratada deu uma explicação. Não vou lembrar dos termos técnicos, mas ela disse que pessoas que estão neste estado de desespero e vulnerabilidade tem muita tendência em acreditar em golpes.
PAULA: Você acha que é meu caso? Tudo bem que eu esteja fragilizada emocionalmente porque eu sinto muita falta de Aletheia. Mas se for verdade que são alienígenas, teremos uma explicação bem melhor do que aconteceu.
LUIZ: Você está falando de explicação para a suposta cura da lesão cerebral do Claudio, né?
PAULA: Não somente isso, mas também explicaria vários comportamentos da Aletheia que eu nunca tinha entendido direito. A Celeste nunca fez nada de estranho no período que vocês namoraram?
LUIZ: Eu nunca notei nada.
PAULA: É que você é muito distraído, você não notava nem quando ela cortava o cabelo.
LUIZ (envergonhado): Isso é verdade
Luiz é um profissional competente, nas audiências e na análise de peças processuais ele é muito atento, nada escapa. Mas na vida pessoal ele é muito distraído.
PAULA: Lembra que você me contou que na primeira vez que você ficou com a Celeste lá em casa, que ela baixou a cabeça e disse que a Aletheia estava pedindo para se apressar para irem embora, mas só estavam vocês dois no quarto? Dava impressão que elas conversavam por telepatia.
LUIZ: Ah, ela me explicou isso! Ela disse que naquele momento que a gente tinha acabado de fazer amor, que ela pegou o celular e viu um monte de mensagens da Aletheia pelo Whatsapp, falando que já estava na hora de ir. Ela baixou a cabeça porque pegou o celular meio escondido de mim, ela achou que se eu visse que ela estava vendo o whatsapp no celular ia quebrar o clima entre a gente.
PAULA: Mas e se a explicação seja que de fato elas conversavam por telepatia, e ela só falou isso para disfarçar?
LUIZ: É muito mais fácil defender essa tese. Afinal, o fato de serem alienígenas poderia justificar qualquer coisa. Você poderia dizer que eles são capazes de flutuar, voar, levitar, mexer objeto com o poder da mente, que eles tem pistolas laser. Você pode justificar qualquer coisa com a tese Alienígena.
PAULA: E é verdade. Se eles conseguiram vir do planeta deles para cá, talvez eles possam mesmo fazer tudo isso. E você esqueceu, talvez eles se desmaterializem, atravessem paredes, se teletransportem e muitas outras coisas.
LUIZ: Então porque as duas que nos encontraram tem tanto medo assim de polícia? Se tem todos esses poderes?
PAULA: A Aletheia me explicou que ela desobedeceu regras da missão dela aqui na Terra, foi punida e proibida de entrar em contato conosco. Ela teve novamente que contrariar seus líderes para vir aqui me ver e por isso essa fuga. Me disse ainda que os Alienígenas tem pessoal infiltrado na polícia, que são os que vieram aqui atrás dela.
LUIZ: (risos) Depois minha tese que é difícil de acreditar! (risos). Você está na mesma situação do Dr. Osvaldo, acreditando em absurdos!
PAULA: Mas veja a situação do Claudio, ou você acredita que ele é um clone, ou não tem explicação para o caso dele.
LUIZ: Paula, eu até acredito que possam haver alienígenas, pois existem bilhões de planetas no Universo. Mas será que por coincidência uma raça de alienígenas teria exatamente a mesma aparência que nós, seres humanos?
PAULA : Não tenho como saber isso Luiz.
LUIZ: Então vai pensando aí sobre isso, enquanto eu vou usar o banheiro.
Luiz se levanta e vai ao banheiro e deixa o celular na mesa onde Paula está tomando o café da manhã.
Passados alguns instantes começa a tocar a música “Viva la Vida” do “Coldplay” no celular dele, num volume muito alto.
Paula tenta desligar, mas precisa da digital do Luiz. A música toca mais um pouco e para de repente.
Passados 4 minutos começa a tocar novamente a mesma música no celular, num volume ainda mais alto.
Só que dessa vez Paula vê que Luiz já saiu do banheiro e está retornando, ele pega o celular, coloca a digital e em seguida desliga a música.
LUIZ: Desculpa Paula, coloquei essa música do Coldplay no despertador do celular, deixei alto assim para eu poder acordar, se eu não desligo ele volta a tocar depois de 4 minutos.
PAULA: Sem problema Luiz, sobre sua pergunta eu não tenho ideia se um alienígena teria exatamente a mesma aparência que nós. Mas a Aletheia falou que eles tem uma camuflagem genética!
LUIZ: É o que eu te disse, sendo alienígena você pode inventar e justificar qualquer coisa. O que é camuflagem genética?
PAULA: Deve ser alguma técnica que eles têm que permite mudar de aparência, mas na verdade mesmo eu não sei.
LUIZ: Tá, mas sendo só uma camuflagem, a Celeste teria também o mesmo aparelho reprodutor de uma mulher normal? Se é só camuflagem, como a Celeste ficou grávida de mim?
PAULA: Eu não tenho a mínima ideia. Mas já que você falou sobre a gravidez da Celeste. Se tudo isso é um plano do Claudio, como é que ele ficou sabendo da gravidez da Celeste?
LUIZ: Como assim?
PAULA: Ué, a Celeste te ligou na manhã do acidente e te contou que estava grávida. Ela só contou para você e depois de algumas horas ela morreu. Como o Claudio ficou sabendo da gravidez?
LUIZ: Ah entendi, o Claudio me disse que a Celeste foi punida por estar grávida de mim. Se for um golpe, ele teria de saber que a Celeste estava grávida.
PAULA: Sim, como ele ficou sabendo?
LUIZ: Eu poderia levantar um milhão de suposições, mas eu vou deixar para o Fabião investigar. Não se esqueça que amanhã de manhã temos horário marcado com ele.
Paula faz uma cara séria, como se estivesse pensando em algo preocupante.
LUIZ: Que cara é essa Paula?
PAULA: Pensei agora, a Aletheia falou que os Alienígenas tem ramificações na polícia, e o Fabião é ex-policial. E se ele for um deles?
LUIZ: (risos) Não é possível que você esteja falando sério Paula (risos), aí você tá viajando na maionese mesmo (risos). Para com isso Paula, senão você vai ficar louca.
PAULA: Tem razão Luiz, eu tô viajando mesmo.
O despertador do Luiz começa a tocar de novo “Viva la Vida” do “Coldplay”.
Luiz tem dois despertadores, um exclusivo para o final de semana e um diário. Luiz pede desculpas de novo e desliga o despertador.
LUIZ: Tá na minha hora Paula, eu já vou indo. Obrigado pelo café, amanhã a gente se encontra direto lá no escritório do Fabião.
Luiz pega suas coisas e vai para casa, almoça e a tarde decide fazer um pouco de exercício físico no parque Barigui. Exercícios ajudam a combater a insônia, quer dormir bem porque no dia seguinte tem a reunião com Fabião de manhã e a tarde tem que atender um cliente importante, para se preparar para audiência que será na quarta-feira dia 12 de junho.
Já a noite em casa, Luiz se planeja para dormir cedo, no dia seguinte pretende acordar as 06:00h.
Para se distrair começa a ver alguns vídeos de stand up no You Tube. Um dos vídeos recomendados é de um humorista que diz porque não acredita no ET de Varginha.
“Eu devo estar pesquisando muito sobre ETs, até os vídeos de stand up recomendados são com temas de alienígenas” pensa Luiz
Luiz começa a assistir o vídeo, em um determinado ponto o humorista fala:
“Pensa! O Alienígena tá no planeta dele, longe pra caralho, ele fez a malinha dele, saiu de lá. Ele tinha Nova York, ele tinha Londres, mas ele olhou Varginha e pensou, o tempo aqui tá mais seco”
Luiz dá risadas com o vídeo e manda o link por whatsapp para Paula, e junto escreve uma mensagem:
“ Paula, eu sei que é só um vídeo de comédia, mas fazendo uma analogia, os alienígenas vieram pra cá pro nosso planeta e podiam ir para Londres ou Nova York, porque eles iriam montar um hospital aqui ou irem para Prudentópolis”.
Pouco depois Paula responde com uns emojis de risadas e escreve:
“ Luiz, se você fosse um alienígena e quisesse vir para Terra e passar desapercebido, você iria para Londres, Nova York ou para o interior do Brasil? “
Termina com mais emogis de risadas e um emoji de rosto pensativo
Em seguida Paula manda outra mensagem:
“ Quem disse que além daqui do PR eles também não estão em Nova York e Londres?” Mais emojis rindo e pensativos.
Luiz pensa: “ A Paula está mesmo levando a sério essa história de ETs. Ainda bem que amanhã vamos cedo no Fabião. E lembrando disso eu preciso dormir cedo hoje.”
Luiz já se conhece, começa a perceber que será uma noite de insônia. São 22:30h e ele não está sentindo sono.
Já faz 2 meses que ele suspendeu os remédios para a insônia que o Psiquiatra tinha receitado, por causa dos efeitos colaterais.
Olha para as duas balas que restaram daquelas 3 que a prostituta Scharlenne lhe deu. Mas resiste em experimentá-las.
“ Se até as 23:30h eu não conseguir dormir, vou chupar uma dessas balas” pensa .
Veste o pijama, deita-se na cama e tenta dormir. Passa o tempo e ele permanece acordado. Olha para o relógio, e já são 23:27h, decide chupar uma daquelas balas.
Ainda deitado na cama Luiz pega a bala que está na cabeceira, tira a embalagem e põe na boca.
O gosto é bom, dissolve rápido na boca. Mal tem tempo de chupar a bala toda e Luiz já está dormindo.
De madrugada, quase ao amanhecer, ouve uma voz funda e penetrante, que parece ocupar todo o ambiente:
- Luiz!
Se levanta e ouve a voz novamente:
- Luiz, meu amor!
Impossível não reconhecer aquela voz:
- É você meu amor?
- Sim, sou eu!
Continua ...