continuando.
Relato de Laura: a primeira suruba
Bem, Cam, tudo começou após aquele show no Costela’s que você não pôde ir. Estava lotado. Prometi não ocultar nada e já falo que foi o melhor show que vocês fizeram. Como haveria um público mais eclético e diferenciado, vocês ensaiaram canções mais antigas e clássicas e foi lindo. Muita gente cantou, Zé Pedro estava nos vocais, foi emocionante. Findo o espetáculo, ficamos papeando e comemorando o sucesso da apresentação. Eles receberam muitos abraços e propostas para outros locais. Pegaram o violão e ficamos cantando e bebendo muito animados. Batíamos palmas, fazíamos dancinhas, todos alegres. O bar começou a esvaziar e Osório deu a ideia de todos irmos pra casa dele esticar aquela noite. Como era cedo e levados pelo álcool, aceitamos, mesmo eu sabendo que iria segurar vela, estava sozinha com casais formados.
Todos estavam no mesmo carro, uma doblô. No caminho, Zé Pedro notou que Osório estava tomando um rumo diferente e ele falou que explicaria. Enquanto isso, cantávamos sem parar. Fomos pra Torre Alta, aquele bairro chique, e paramos diante de uma mansão. Ele abriu a porta da garagem e pediu pra entrarmos. Era enorme, estava desativada, com chão forrado de um denso tapete, com uma estante de livros, uma mesa grande, cadeiras, sofá, e um freezer.
“Galera, essa casa é da minha tia, ela está viajando. Aqui é um espaço que ela usa pra reunir os amigos dela pra jogos de tabuleiro, cartas, truco, essas coisas. Fiquem à vontade.
Nem sentamos, ligamos o som e começamos a dançar e beber, pro astral não cair. Passou uns 40 minutos, bateram na porta da garagem. Achávamos que era algum vizinho reclamando do barulho, mas o local estava todo fechado, tinha boa acústica. Osório fez uma cara não muito boa e abriu a porta. Daí entraram o Valdão e a Celinha. Estranhamos. O que eles faziam ali? Não eram da nossa turma, muito menos do nosso convívio. Eles também não esperavam nos encontrar lá. Todos ficaram surpresos.
Celinha: Boa noite, gente, desculpe, não sabíamos que estavam aqui.
Osório: Galera, o Valdão e a Celinha trabalharam com minha tia e também frequentam esse lugar. Não os avisei que vinhamos pra cá, mas tá de boa, né?
Valdão: Estamos atrapalhando? Podemos retornar outro dia...
No mesmo momento falamos que não, que ficassem ali, nada demais. Eles se aproximaram, e ficaram conversando com Osório e Bel, enquanto continuamos bebendo e conversando. Até falamos baixinho do fato deles aparecerem lá, a história do Osório de que eles conheciam a dona daquele lugar não parecia verossímil. Mas continuamos na nossa.
Passou um tempinho, o tom da conversa aumentou devido à ingestão de álcool, toda hora descia várias latinhas. De repente, ouvimos muitas risadas. Valdão, Celinha, Osório, Bel, Samara e Raimundão formavam uma rodinha. Ficamos curiosos e aí Valdão falou.
Valdão: pode contar a elas?
Osório: Conta ai, mano
E aí Valdão e Celinha passaram a contar dos envolvimentos que ambos tiveram com estudantes, professores, funcionários, e dentistas já formados. Fomos pegas de surpresa. Contavam detalhes, ocultando nomes, de acontecimentos no bar, e que muita coisa rolava nos fundos do estabelecimento. As histórias eram animadas e começamos a rir surpreendidas. Ficamos bem interessadas no papo, era uma fofocada danada, não costumávamos ouvir aquele tipo de coisa. Imaginei que eles começaram esse assunto pra quebrar o gelo que a presença inesperada deles causou na gente, acredito.
Celinha reclamou das músicas desanimadas e colocou pagode, Tchan, Ivete, essas coisas. E aí o pessoal animou. Como já estávamos alegrinhas toda aquela noite, arriscamos alguns passos. Enquanto isso, continuavam as histórias, Bel atiçava eles a contar mais e agora eles faziam mímica, simulando alguns atos. Começou uma algazarra danada. Até Raimundão, todo reservado, ria muito. Celinha dançava com a gente e sentíamos estimuladas a acompanhá-la. Dai vieram umas músicas mais agitadas e começamos a cantar juntos e dançando. Celinha pegou uma máquina fotográfica e registrou uma foto e depois tiramos todos juntos. O clima estava bom. Era um prenuncio do que viria...
Nisso, os casais se beijavam, ficou um agarra - agarra entre eles, a coisa esquentava. Os pagodes começaram a animar. Bel e Celinha começaram umas danças mais lascivas, uma encostada na outra, batíamos palmas, e elas rebolando sem parar. O calor aumentava, a cerveja descia, e todos na mesma agitação. Ouvimos um grito, e quando olhamos, a Samara estava em cima de Raimundão, se esfregando nele, com aqueles peitos enormes na cara dele. Começou a maior balburdia, estávamos surpresas, mas muito excitadas, dava pra ver no semblante de cada um. Ela se levantou, e ele com o pau pra fora. Riamos muito, aquilo tudo era muito inusitado. Era algo assim inesperado, mas não causava desagravo, de alguma forma estava dentro do contexto de uma animação que estava sendo proveitosa. E Samara foi pro meio, Bel a abraçou, todo mundo começou a pular junto, a coisa degringolava pra algo maior.
Apareceu uma bandeja com porções de cocaína. Vocês usavam vez ou outra na época, lembra? Você e Zé Pedro nem tanto. Bem, começou uma cheiração danada, a coisa tava perigosa, mas já estávamos mais ou menos capturadas pelo ambiente de zoação. Todo mundo estava embalado ali, ninguém sentava na cadeira pra relaxar, nem nada disso, cada hora tinha uma novidade, uma beijação, um sarro, brindes, brincadeiras de Valdão, simulações de coitos com pessoas da faculdade, danças e palmas. Naquela pulação e agitação, vejo a Marli bem animada, mais que o normal dela. Vi Manoel lascando um beijaço em Bel. Ela falava.
- Ai gente, tá muito bom aqui, que noite gostosa!!
Nos abraçamos, logo veio uma galera nos abraçou e ficávamos pulando, girando por todo espaço. Começamos a abraçar uns aos outros e cantando. Era um embalo gostoso, as músicas eram conhecidas e começamos a cantar a plenos pulmões. Minutos depois, ouvimos um “cheira, cheira, cheira” e ai vi algo surpreendente: Marli, cheirando uma carreira. Ela estava pra lá de Bagdá, muito doida pra fazer aquilo. A Núbia também tava com cara de quem ia aprontar. Marli foi pular animada com Samara e Celinha e acho que rolou um beijo triplo entre elas, não estou muito certa agora. Mais uma sessão de beijos, danças, as coisas aconteciam em ritmo acelerado, e ai que após um abraço de Bel e Zé Pedro em Núbia, ela gritou bem agitada, mexendo os braços e mandou
Núbia: CANSEI DE SER BOA MOÇA, PORRA, VAMOS CURTIR, UHHHHHHHHH
E tirou a blusa e ficou dançando de sutiã. Todos já riamos, fomos devidamente arrebatados pelo clima total de zoação, bebida, gandaia, e diversão total. Dai, todo mundo foi tirando a camisa e rodando, rolou um funk, e ai a coisa pegou fogo. Vi voar saia pra cima, vestido, sutiã, calcinha... sentia que todos estavam muito coesos e com vontade de chutar o balde. Estávamos todos muito loucos. Núbia se ajoelhou e começou a mamar Zé Pedro. Gritaria total. Eu já estava de calcinha e sutiã, quando vi Bel em cima da mesa rebolando muito, nuazinha. Gritávamos, dançávamos, motivados totalmente pela zona que se tornou aquilo.
Dai, foi um pulo pra todo mundo ficar peladão. Nesse momento, extravasamos o prazer de estarmos juntos, todos na mesma “vaibe”, na mesma vibração. Queriamos romper limites, não havia espaço para limitações, tudo estava rumando para uma putaria geral. Quando vimos o pauzão de Valdão, gritávamos animadas, Osório ficava roçando na gente também ereto, nossa, que loucura aquilo tudo!! Tudo naquela noite estava sendo muito prazeroso, ninguém questionava nada, tudo foi fluindo naturalmente. Sabe quando você vai entrando no rio devagar, a água tá gostosa, você vai entrando mais, de repente tá nadando, um jogando água no outro, e aí sente que a correnteza tá lhe levando? Pois é... não tem como voltar mais e você segue o fluxo dela. Essa analogia explica bem como as coisas pararam onde foram parar.
Muitas coisas você deve ter visto nas fotos, tava todos tão alucinados que nem ligávamos pra esses registros, era como se orgulhássemos de deixar de recordação todo aquele astral extremo, puro hedonismo. Quando todo mundo se pegou, foi um festival de beijação, beijos triplos, quádruplos, todo mundo buscando o máximo de curtição. Era uma sensação grande de desprendimento moral, uma sensação de liberdade incrível que vivíamos ali. Dai foi um pulo pra todo mundo começar a trepar alucinados de tesão.
Fodiamos no tapete, os homens metiam e as mulheres gemiam muito.
“AHHHHHH, CARALHO, FODE, ME FODE, AHHHHHHHHHHHHHH”
“AHAAAAA.....AHHH, QUE BUCETINHA APERTADA”
“AI, MEU DEUS, VOU GOZAR, METEEEEEE, AAHHHHHHHHHH”
Trocávamos de parceiro a todo instante. Era muito estimulante tudo aquilo. Todos muito juntinhos, sentia os corpos escorregando a meu redor, sussurros, um misto de cheiros e sabores. As fodas não duravam muito porque os homens, de alguma maneira, sentiam que se gozassem acabaria aquela noite, tudo se esfriaria. O que valia era curtição máxima. Todo mundo passou mesmo a querer depravar de vez.
Uma cena onde todos se acabaram de gargalhar foi Osório por trás de Valdão, enquanto ele metia em Celinha, que estava montada em Zé Pedro. Com a risadaria, Marli foi procurar o banheiro pra urinar. Porém, Raimundão, muito doido, falou “mija aqui, princesa” e se deitou. Naquela algazarra, Marli não teve o que fazer: se agachou e urinou no peito e no rosto de Raimundão. Urrávamos alucinados, o que era aquilo. Estávamos transpondo barreiras éticas, esmigalhando valores e isso excitava todo mundo. Daí começou uma mijação nos corpos de todos. As fotos que você viu mostram o quanto estávamos tresloucados. As experiencias se sucediam e todos estavam a fim de vivenciar tudo aquilo. Rolava uma sinergia muito forte entre a gente. Brincávamos com frutas e legumes, fizemos guerra de bagaços de laranja, quebramos ovos uns nos outros, atirávamos farinha de trigo, uma arruaça de primeira. Depois nos beijávamos e lambiamos os corpos uns dos outros. Não havia espaço pra nojinho ali, Cam, estávamos todos inebriados de um prazer inquebrantável. Estávamos vivendo o ápice da sacanagem e da devassidão. Ninguém raciocinava, pois o que valia era a sensação de liberdade em delirar totalmente. Estávamos impulsionados a quebrar todos os padrões, inclusive de higiene.
Corremos pela calçada no meio da chuva, um momento delicioso. Demos a volta pela casa, isso tudo no meio da rua. Isso aumentava a libido de todos, nos preparava para mais uma rodada de suruba. Dançamos na chuva, fodemos na chuva, pulávamos com um alegria genuína e verdadeira.
“MAMA MEU PAU, VADIA, AHAHHHHHHH
“QUE PAU DELICIA, GOSTOSO, FODE MINHA BOQUINHA, PORRA, ME MATA DE PRAZER”
“AI, AI, AI, AI, AI...FODE, FODE, METE, ME ARROMBA,AI, AI, VOU GOZAR PORRAAAAAAAAAAAAAAAAAAA”
Fico intrigada o quanto estávamos agraciados por uma harmonia coletiva que não sei explicar de onde veio.
Tivemos várias rodadas de suruba, Valdão gritava que “quem cai na putaria, não tem orientação sexual”. Isso porque ele foi enrabado por Osório, uma das coisas mais loucas que presenciei. Os meninos não interagiam entre si, mas as mulheres se chupavam, se beijavam e se roçavam, todas elas. Ali não existia amizade, estávamos despidos de nossas personalidades, cada um vivia ali uma alteração de caráter.
Éramos muito criativos, várias poses, muitas performances majestosas. Era incrível como estávamos alinhados, trepavamos e nos misturávamos com precisão. Todos dispostos a dar o seu melhor, gozavamos juntos, era sublime a maneira como nos dedicávamos a mais pura entrega sexual desmedida.
“AHHHHHHHHHHH, QUE DELICIAAAAAAAAAAAAAAAAAA.....UHHHHHHHHHHHH, VAMOS CURTIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIRRRRRRRRRRRRRR, IRRAAAAAAAAAAAAA”
“EU QUERO FUDEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEERRRRRRRRR, CARALHOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO”
“TREPA, MULHERADA, TREPAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, A GENTE QUER TREPAAR, TREPAR,TREPAR,TREPAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR”
Não cansávamos, parecia que trocávamos energia, não deixávamos a peteca cair. Mas tudo acaba. Os homens ejacularam em nossos rostos, após uma ciranda de chupação, formamos um círculo deitados, um chupando o outro. Após isso, começamos a nos beijar, acariciando os corpos um do outro a fim de ir relaxando. Fomos nos acalmando com aqueles beijos moderados, caricias dengosas, até todos deitarem naquele tapete imundo de tanta substancia e dormimos colados uns nos outros, uns em cima dos outros praticamente. O dia já havia amanhecido.
Acordei, alguns já estavam de pé, conversando, fumando, Marli se queixando de dor de cabeça, Núbia ainda deitada no peito de Manoel, Bel tossindo muito. Eu estava mole, com fadiga muscular, ainda processando tudo o que passamos, mas nada estava muito claro na minha cabeça. Tava tudo muito quieto, conversávamos pouco, ninguém tocava no assunto da noite anterior. Lembro que Osório disse que ali não era a casa da tia dele, pertencia a uma mulher que ele estava comendo, mostrou a foto, era uma atriz famosa, fazia novelas... não vem ao caso agora... e ali, ele Valdão e Celinha, se encontravam pra transar com as pessoas da faculdade que eles revelaram na noite anterior. Aquele espaço, segundo eles, era o “Clubinho da Indecência”. Rolava de tudo por ali, secretamente, com várias pessoas envolvidas e sabe-se lá se rolava apenas sexo mesmo ali... Osório me falou que não esperava Valdão e Celinha naquela noite e disse que “da próxima vez” seria só nossa turma mesmo. Pedi pra tomar um banho, tava toda grudenta, peguenta, imunda. Tomei um banho de mangueira, Osório perguntou se eu queria café, mas eu queria ir embora. Ainda ouvi Núbia chorando antes de deixar aquele lugar. Acho que fui a primeira a sair.
Não sabia o que pensar sobre o que vivemos, parecia uma fantasia alucinógena. Passei o fim de semana com o corpo quebrado e por mais que tentasse entender o que havia se passado, não conseguia compreender. Porém sentia uma saciedade enorme, uma sensação de deleite.
Não conseguíamos conversar sobre isso, aliás, ninguém entendia aquele comportamento insano, mas no fundo, todos avaliaram as delícias daquele programa irresponsável e aquela noite mágica. Combinamos de não contar a você sobre isso, afinal, foi incompreensível até pra gente, quanto mais pra um de fora.
E cada um ficou com as impressões daquela noite louca. Ninguém esperava repetir. O curioso é que a lembrança das coisas não me causava nojo, nem repulsa, e na minha cabeça algumas passagens eram difusas. Evitamos falar sobre o assunto. De alguma maneira, parecia que aquilo não fora tão grave. Tenho uma análise sobre isso que conto mais tarde.
Lembramos das fotos. Estávamos tão ensandecidos que nos deixamos fotografar e nem sabíamos de quem era a câmera. Osório disse que era de Celinha. Procuramos ela, que nos disse que não iria revelar nada, que se deixou levar pelo momento e bateu as fotos, mas que ia jogar os negativos fora. Sossegamos, mas nem tanto. No dia da filmagem ela afirmou que revelou algumas fotos para mostrar ao representante do contratante quem iria participar, mas não entregou foto alguma. Não deu nem pra ficar apreensiva, estávamos no mesmo barco. E agora... as fotos estão com você.
Durante as férias começamos o namoro e aquela aventura toda não desnorteou a consciência de ninguém. Era algo estranho, mas preferimos não discutir sobre isso. O semestre recomeçou, todos vibraram com nosso namoro, e a vida seguiu. As amizades não foram abaladas e todos seguiam como se nada tivesse acontecido. Os namoros de todos se fortaleceram.
A verdade é que eu, Núbia, e Marli conversamos que aquela noite foi uma inversão de temperamentos. Marli, muito ingênua e submissa, se sentiu imperativa e corajosa; Núbia, conservadora e moralista, se tornou rebelde e desencanada; e eu, centrada e metódica, me senti desorientada e impulsiva. Reconhecemos que foi um momento de desapego de tudo.
Naquele semestre mal fomos pro Costela’s bar, não porque havia o perigo de Valdão e Celinha mencionarem algo, mas porque os namoros estavam vingando. Estávamos nos conhecendo e aquela noite louca foi ficando pra trás. Até que chegou o mês de novembro e uma proposta pra lá de indecente iria sacudir nossas mentes novamente.
Um dia, estava com você na sua casa, era meados de novembro de 2003. Meu celular tocou, era Núbia.
- Lau, você tá podendo falar?
- Aconteceu alguma coisa?
- Cam taí com você?
- Sim
- Olha...estamos aqui naquele...naquele local da nossa festinha naquele dia
- Um momento...
- Cam, vou aqui na cozinha. A Nubs quer me contar uma fofoca.
- Vai lá
- O que vocês estão fazendo aí???
- Surgiu uma proposta louca ai... você precisa nos encontrar. Estão todos aqui, exceto Valdão e Celinha. Eles receberam um convite inusitado... E passou pra Osório. Você precisa vir, é algo muito louco!
- Estou na casa do Cam!
- Ai, Lau, dê um jeito! É urgente. Tchau!
Fiquei preocupada. Do que se tratava? Fiquei apreensiva. Será que alguém descobriu? Que raio de proposta era essa?
- Cam, a Nubs tá precisando de minha ajuda. Visitar uma prima dela que tá no hospital, ela não quer ir só.
- Ué? E você conhece essa prima?
- Vi uma vez na casa dela... Não devo demorar, já volto.
- Levo você lá...
- Não, não, chamo um táxi, tá de boa.
- Alô, Nubs? Tô indo prai. Diga a Zé Pedro que despistei o Cam dizendo que fui no hospital com você visitar uma prima sua. Passe pra ele, caso o Cam entre em contato. Tô odiando fazer isso, mas não sei do que se trata essa reunião repentina aí.
Lá chegando, estava todos com cara de ansiedade. Fui logo falando
- E aí, gente? O que aconteceu?
Osório: Lau... o Valdão e a Celinha gravam vídeos amadores pra um site estrangeiro, já algum tempo. Eles ganham com isso. Bom, o site entrou em contato com eles dizendo que um ricaço que financia a atividade deles queria procurar o casal pra uma proposta. Bem, adiantando, esse sujeito é um magnata do petróleo e como não tem como gastar suas centenas de bilhões, ele roda o mundo filmando orgias amadoras. Ele viu um vídeo de Valdão e Celinha mais um pessoal ai e gostou muito e está disposto a pagar uma bela grana pra turma que aceitar. E essa turma... somos nós aqui. E aí?
Fiquei boquiaberta com isso. Que coisa ridícula!
Laura: Vocês tão de sacanagem? Vocês querem gravar um vídeo pornô??
Osório: Qual o problema, Lau? Depois do que fizemos, mostramos que temos uma química incrível, vai dar tudo certo. Estaremos mascarados, essa é a condição. E, Lau... sem querer criamos outros vínculos. Acabamos estabelecendo ali uma irmandade.
Laura: Vocês estão loucos? Querem repetir aquilo? Onde vocês estão com a cabeça???!!
Zé Pedro: Todos aceitamos, Lau. No início, achamos a proposta absurda, nada a ver voltarmos. Nubia e Marli também não queriam, mas mudaram de ideia agora.
Nubia: Lau, pense bem... eu fiquei arrasada logo após aquele dia, mas tudo passou rapidamente, não sabia onde esconder a cara, como pude me meter naquilo?? Mas era uma Nubia certinha, melindrosa, que estava com essa vergonha. Aquela ali não era eu. Aliás, ali ninguém estava com consciência plena. Mas as marcas do prazer que sentimos naquela noite, ninguém aqui consegue esconder. Olha... estou pra entrar num grupo de jovens da paróquia, e pretendo seguir nessa vida, mas... uma parte de mim quer se manifestar daquela maneira, pelo menos uma vez mais, novamente, e quando soube que eles iam pagar 5 mil dólares, fiquei fascinada.
Laura: 5 MIL DÓLARES???? Vamos nos prostituir agora???
Núbia: Não, Lau, apenas vamos ganhar pra sentirmos juntos as maravilhosas surpresas daquela noite. Todos aqui concordam. Só falta você!
Laura: Esqueceram que namoro agora, porra! Com o amigo de vocês? Colega de tantos anos??? Que é isso! Querem que eu engane ele?? Vocês não tem coração??
Zé Pedro: Compreendo, Lau, mas é uma espécie de fechamento de um ciclo, uma maneira de encerrarmos com chave de ouro aquela irmandade que se formou.
Laura: Vocês estão loucos! A gente quer fechar um ciclo, e se ao invés de fechar, ele continuar aberto? Se tudo der errado, todos são companheiros uns dos outros, eu não! Meu namorado é o único que ficou de fora daquela loucura! Não vou trair ele assim, seria sacanagem demais!
Marli: Ok, Lau, entendo seu lado. Olha, ali eu fui uma garota que encontrou uma maneira de modificar o jeito de ser, sempre fui meiga e delicadinha, nunca me senti tão empoderada como naquele dia! Todos nos despreendemos do que somos, do que a sociedade espera, isso cansa, teremos uma chance de uma fuga mais uma vez! E podemos ganhar com isso! É muito gratificante estar estimulada daquela forma, fiquei abismada depois daquilo, mas ao mesmo tempo orgulhosa de ter rompido barreiras! Queria sentir aquilo mais uma vez, e sim, estranhamente estávamos irmanados naquela noite, aquilo tudo nos arrebatou de um jeito que não tínhamos, ninguém tinha como escapar daquilo! E agora, Lau, é a oportunidade de nos perdermos num encontro que pode ser o último, ninguém quer agir daquele modo o tempo todo. Eu quero aquele furor novamente, Lau!
Núbia: Lau, eu realmente endosso tudo que Marli disse, eu quero mais uma vez me embrenhar naquela coletividade, estávamos unidos demais, é algo que nos capturou, podemos escapar disso, não pensava em vivenciar aquilo novamente, mas surgiu essa chance, não foi a toa! Não podemos desperdiçar! Quantas pessoas não gostariam e ter aquele momento de renúncia total às nossas personalidades! Vamos nessa, Lau! Sem você não haverá nada.
Samara: Se toca, garota! Eu que sempre fui safadinha, jamais poderia imaginar uma coisa daquela. Elas tem razão. Criamos uma conexão! Estamos ligados pelo prazer extremo daquela noite.
O que elas falavam tinha sentido. Queria negar, mas de alguma forma, aquilo foi muito forte. Sim, estávamos lidando com aquilo, mas de alguma maneira, foi criado laços inquebrantáveis ali. Porém, estava irredutível.
Laura: Gente... o que vocês falam é tocante, mas não quero isso agora. Todo mundo vai viver sem aquilo, ficou na memória de cada um, foi magistral aquele nosso encontro. Mas estou apaixonada pelo Cam, não posso fazer isso com ele. Sinto muito...
Alguém ainda me chamou mais virei e fui muito enfática.
- NÃO!!NÃO, NÃO NÃO E NÃO!! NÃO, NÃO, NÃO... E NÃO!! PRONTO!!
E sai correndo dali. Não podia fazer isso com você, não era justo. Porém, corroboro tudo o que elas falaram. Sem querer, criamos uma irmandade. Aquilo mexia comigo e com todos, mas não dava mais. Havia um tipo de potência oculta que nos unia, nos enlaçava... É algo meio difícil de esclarecer.
Dali pra frente tudo foi correndo normal, as meninas falaram comigo e compreenderam, me deram apoio. Tudo parecia seguir bem, até... Bem, Cam, difícil o que vou falar agora, talvez seja o momento mais difícil do relato... O fato de eu ter aceitado depois disso que contei é que... Vou contar o que houve. Você vai recordar e entender.
Novembro de 2003. Camilo estava no shopping Center. De repente, se aproximam duas pessoas
- Ei, você é o vocalista da banda, né? Esqueço seu nome...
- Diga, Valdão! Oi, Celinha! Surpresa encontrar vocês aqui.
- Oi, meu jovem. E aí? Nas compras?
- É tô aqui procurando um presente.
- Ah, nós também... viemos comprar um presente pra sobrinha... ela é pequena... não sei se você está comprando pra criança também, não temos filhos, estamos na dúvida.
- Não, é pra namorada
- Ah, uma morena de cabelos lisos? Ela também faz odonto lá né?
- É, isso mesmo, a Laura
- Ela faz aniversário?
- Sim, daqui a uns dias.
- Olha! Que coincidência, querido!
- Hum... Tô pensando aqui... falo com ele, Cel?
- Fala, homem!
- Bom, é... Camilo, né? Bom, eu e Celinha fomos chamados pra gerir um novo lugar no fim de semana, quando cai o movimento lá, vocês não tem aula... Então, estamos arrumando lá e queríamos fazer um teste pra ver iluminação, se o lugar é acessível, essas coisas. Então, se caso você quiser fazer uma surpresinha pra ela, chamar os amigos, lá é um bom local. Ah, e não precisa pagar aluguel não! Não tá pronto, é apenas... um teste, sabe?
Celinha: Mulher gosta de surpresa! Ah como é bom uma festa de aniversário, quando menos esperamos, estão todos lá, você é pega de surpresa.
- Bom, não sei ainda, mas pode ser.
- É que vocês sumiram esse semestre, não foram lá. De repente... Bom, fica a proposta. Até mais.
No dia seguinte, Bel liga pra Camilo
- Alô, Cam? Oi, tudo bem? Me diga uma coisa... você e a Lau tem algum programa especial sexta-feira?
- Oi, Bel... vamos jantar em família e depois sair pra dançar.
- Ah, legal... É que falei com as meninas e queríamos fazer uma surpresa pra ela. Só que não temos lugar. Lá no Costela’s tá meio batido, queríamos um lugar mais isolado, sossegado, sabe? No início da tarde, coisa rápida. Estamos dispersos esse semestre.
- Olha... Encontrei Valdão e Celinha, parece que eles estão com um espaço ai pra abrir, algo assim.
- Ah, olha só! Vou conversar com eles. Qualquer coisa ligo de volta, tá? Beijo.
Camilo leva Laura no local para a surpresa
- Nossa, Cam, pra onde você tá me levando? Essa venda tá apertando meus olhos.
- Calma, mulher. Estamos chegando
Porta da garagem se abre
- SURPRESA!!!
Laura: Pois então, Cam. Quando você tirou a venda e vi a galera e onde estávamos... realmente foi uma surpresa. Era o local onde realizamos a primeira suruba.
Camilo ficou pasmo
Laura: Sabe o que isso quer dizer, Cam?
Camilo: Não acredito!! Quer dizer que...
Laura: Armaram pra você me levar lá. Infelizmente, como você de nada sabia... você... caiu como um patinho. Eles fizeram tudo pra que eu retornasse praquele lugar e visse todos ali novamente, esperando que se formasse ali a conectividade que surgiu naquela noite. Era a primeira vez que reuníamos novamente, todos os onze, após aquela noite. Um dos meninos acompanhou você até o shopping e bateu o fio pra Valdão, que encontrou você lá. Não foi coincidência...
Camilo não acreditou como ele foi passado pra trás pelos “amigos”.
Laura: Assim que entramos, nos serviram para um brinde. Comecei a sentir um comichão, ver todos eles ali, alegres, sorridentes, naquele mesmo ambiente... Celinha, malandra, sacou a câmera, tirou umas fotos e entregou a máquina a você.
Celinha: Camilo, você pode tirar uma foto dela com a gente?
Laura: quando eles me levaram pra tirar uma foto com eles, comecei a fraquejar. Quando eles pediram pra eu sorrir, um comichão tomou meu corpo. Pensei “sacanas! Eles conseguiram! Eles armaram direitinho pra que eu participasse. Nossa, eu... não sei se vou suportar”
Aquela Laura inconsequente, irresponsável, tesuda, ordinária, e fodedora começou a se apossar de mim. Quando você se posicionou pra foto, brotou em mim um grande riso.
Quando vi aquela foto, minha ficha caiu. Estávamos juntos. Senti a vibração de cada um. Estávamos juntos novamente. A vontade de entrar em ação com aqueles putos gostosos se acendeu como nunca!! Eu já não estava no meu normal. Por isso, peguei a taça e falei.
- Bem, pessoal... realmente estou muito surpresa por essa surpresa (risos). Na verdade, pedi ao Cam pra passar o dia repousando, com ele, não tinha a mínima intenção de sair de casa durante o dia e sairmos somente à noite. Mas cá estou. Não queria não, mas...
Levantei a taça e passei uma mensagem cifrada, dúbia. Você não entendeu, Cam, mas com certeza, o sorriso de todos estava evidente que eles captaram minha mensagem
- ... Como estou aqui posso dizer que ACEITO! TÔ DENTRO! VOU CURTIR ESSA FESTINHA COM VOCÊS!
Camilo: Porra, Laura! Você agora vai querer dizer que você aceitou participar do vídeo porque eu cai numa armadilha???
Laura: Estou dizendo, Cam, que você me levou pra cova dos leões. E não tive escapatória: seria devorada por todos. Estar naquele lugar lascivo novamente, aquele ambiente onde rola muita putaria, me desnorteou... Não estou colocando a culpa em você. Estou dizendo que me preveni muito pra que esse momento não chegasse, mas infelizmente foi o que aconteceu naquele dia. Juro a você: eu não queria de forma alguma continuar com isso e havia mesmo rejeitado participar da filmagem. Estava decidida a não participar. Mas aquela surpresa...
Ficamos um tempinho lá e pedi pra ir embora. Quando estávamos saindo, uma parte de mim estava bem sacana. Lhe dei um beijo, abracei, você estava de costas pra eles. Olhei por cima do seu ombro. Quando os vi, pareciam uma torcida gritando gol. Movi os lábios pausadamente pra eles perceberem o que eu estava falando, via leitura labial.
- VOCÊS NÃO PRESTAM!! VOCÊS VENCERAM! NOSSA IRMANDADE ESTÁ DE VOLTA!!! VAMOS REALIZAR A MAIOR ORGIA DE TODOS OS TEMPOS!!!
(continua...)