Marcos sempre foi uma figura peculiar. Ele também era coreano, e parte do grupinho de futebol que eu jogava toda quarta-feira. Embora o conhecesse há anos, ele nunca foi alguém com quem formei uma conexão genuína. Algo nele me deixava desconfortável.
Não sabia com o que ele trabalhava. Os boatos que corriam eram de que ele fazia "empréstimos" — embora ninguém entrasse em muitos detalhes. Só sabia que ele tinha dinheiro. Sempre esbanjando nos roles, Marcos vestia roupas caras, relógios de marca e dirigia um puta carrão.
Naquele momento, ele era exatamente o que precisava: alguém que me emprestasse dinheiro sem fazer muitas perguntas. Depois de uma das nossas partidas, decidi que não tinha mais como adiar. Enquanto os outros caras se despediam e planejavam a próxima partida, eu me aproximei dele.
"Marcos, posso trocar uma ideia contigo?"
Ele parou de beber, olhou na minha direção com um sorriso falso, tentando ser simpático. Eu sei que era paranoia minha, mas parecia que ele sabia o que eu ia pedir.
"Fala, Paulo. Qual é a boa?"
Eu nunca tinha trocado mais que um cumprimento rápido com ele, mas naquele momento precisei engolir meu orgulho. "Preciso de uma ajuda... financeira, e me contaram que você trabalha com esse tipo de coisa."
Marcos me encarou por um tempo, parecia que calculava algo. Ele deu um longo gole na cerveja antes de responder. "Você quer grana? Tá na pior, irmão?" Ele não parecia surpreso, e o jeito que falou, me fez sentir que estava se divertindo com a minha desgraça.
“Só preciso de um empréstimo rápido até eu resolver algumas coisas." Tentei manter a voz firme, mas a vergonha estava levando a melhor de mim.
"Posso te ajudar, sim. Mas você sabe que não é de graça, né?"
"Eu entendo. Eu pago o que for preciso." A última coisa que eu queria era discutir condições ali, em meio ao barulho do bar, com os outros caras por perto.
Marcos pareceu satisfeito com minha resposta. "Beleza, então. Amanhã, te passo os detalhes. E vê se não some." Ele deu um tapinha nas minhas costas e se afastou, deixando claro que ele estava no controle agora.
Voltei para casa arrependido. Sabia que estava me afundando ainda mais, mas não via outra opção para resolver meus problemas. Maya já estava dormindo quando entrei no quarto. Eu fiquei parado na porta, observando-a por um tempo.
Como ela reagiria se soubesse da situação em que eu me encontrava? Esse pensamento me aterrorizava.
Quando acordei, os valores que Marcos havia me prometido já estavam depositados na minha conta. Era uma quantia alta, o suficiente para cobrir as dívidas e evitar que Maya descobrisse a verdade — pelo menos por um tempo.
Os juros que ele me cobraria eram exorbitantes, e eu tinha muito pouco tempo até o pagamento da primeira parcela. Segundo Marcos, meu caso era uma aposta de alto risco, então ele exigia um retorno do dinheiro mais acelerado. Claramente não existia um pingo de caridade naquela transação.
Os dias seguintes passaram como um borrão. Constantemente ansioso, parecia que eu carregava o peso da dívida diretamente nas minhas costas. Não fazia a menor ideia de como eu conseguiria dinheiro para pagar o Marcos, e o prazo para a primeira parcela se aproximava.
Não conseguia concentrar mais no meu trabalho. Meus colegas começaram a notar meu desânimo, e meu chefe me perguntava se estava tudo bem. Minhas entregas começaram a atrasar, e a carreira que eu havia construído com tanto esforço começou a mostrar sinais claros de desgaste.
O impacto no meu casamento foi ainda mais devastador. Eu me sentia tão culpado que passei a evitar minha esposa. Nossas conversas durante o jantar eram cada vez mais curtas, paramos de sair juntos, e nossa vida sexual desapareceu.
No início, Maya foi compreensiva, acreditando que os problemas no trabalho estavam me estressando. Mas dava para ver que ela estava subindo pelas paredes, precisando urgentemente de sexo. Tentava de tudo para me arrastar para o quarto, e minha resposta sempre era sempre não.
E qualquer pessoa que tem um vício sabe como é, quando o estresse aumenta, a vontade de buscar aquele pico de dopamina é irresistível. Apostar parecia ser a única saída para aliviar a tensão.
Fiz a coisa mais estúpida da minha vida. Apostei todo o dinheiro que recebi do Marcos. Eu perdi tudo, de novo. Não sei o que Marcos faria comigo, só sabia que não tinha a menor chance de pagar aquela dívida.
Chegou o dia do primeiro pagamento, e pedi mais prazo para Marcos. Ele disse que não havia problema, só precisava pagar a multa na parcela seguinte. Quando eu não paguei a segunda parcela, o tom dele ficou mais duro, dizendo que aquela era minha última oportunidade, se não ele teria que tomar uma atitude.
Ele não especificou o que aconteceria, mas dava para entender que corria um risco enorme se não resolvesse a situação. Eu estava tão no limite que comecei a ter insônia e ataques de pânico. Era só a casca do homem de antes.
Entre a segunda e a terceira parcela, teria o casamento de uma amiga de Maya. O último lugar onde queria estar era uma festa, mas Maya insistiu para irmos. Minha esposa acreditava que sair de casa e se divertir poderia me ajudar, sem saber a verdadeira fonte dos meus problemas.
Contra minha vontade, cedi. Ela estava tão empolgada com a festa, e naquele momento, eu só queria evitar uma discussão.
No dia do casamento, não conseguia nem me arrumar. Vesti meu terno, mas quando me olhei no espelho, fui tomado por uma vontade imensa de chorar. Sentia nojo de mim mesmo. Eu era um impostor, uma fraude, o que estava fazendo era injusto com a pessoa que eu mais amava em todo mundo.
Maya, por outro lado, estava simplesmente deslumbrante. Ela escolheu um vestido longo, dourado, com um decote profundo na perna, cheio de brilho.
Quando ela veio me ajudar a dar o nó na gravata, percebi o quão alta ela estava, graças ao salto. Seus lábios estavam tão próximos dos meus, senti uma vontade imensa de beijá-la. Porém, não o fiz.
Ela virou de costas e foi ao banheiro para terminar a maquiagem, e fiquei ali, admirando sua beleza por mais alguns instantes. Parecia que era a última vez que ia vê-la toda arrumada daquele jeito.
O vestido era bem justo, acentuando sua cintura, o ponto de que eu mais gostava do corpo dela. O movimento do quadril dela ao caminhar ainda me arrepiava, mesmo depois de tantos anos juntos.
Fomos em silêncio no Uber para o casamento, eu totalmente perdido em meus pensamentos. Ao chegar, Maya foi direto conversar com suas amigas e, pela primeira vez em semanas, eu a vi rindo de verdade, sem preocupações. Seu sorriso iluminado me atingiu como um soco no estômago. Eu não havia reparado o quanto minha angústia a afetava. Maya não merecia isso. Ela não merecia o homem que havia me tornado.
Tomei uma decisão: depois daquela noite, eu contaria tudo. Sem mais mentiras, sem mais segredos. Enfrentaria as consequências, pediria perdão e tentaria ser o homem que ela merecia. Eu precisava reconstruir o casamento que eu havia destruído com meu vício.
Abracei Maya por trás e depositei um beijo carinhoso no seu rosto, tomando cuidado para não borrar sua maquiagem que ela havia feito com tanto zelo. Ela olhou para mim com um sorriso genuíno, feliz em ter o marido de volta, mesmo sem saber quanto tempo aquilo duraria.
Ficamos ali por alguns segundos, apenas nós dois, e por um momento, senti que tudo iria se resolver. Mas, a realidade não demorou a me puxar de volta. Senti um toque nas minhas costas.
"Como vai, Paulo?"
Virei para trás e fiquei pálido ao ver que quem me cumprimentava era o Marcos. Apertei sua mão de forma automática, sem conseguir dizer nenhuma palavra.
O que aconteceu depois foi ainda mais surpreendente. Ele se virou para minha esposa, com um sorriso cheio de dentes. "Nossa, Maya, quanto tempo! Que bom te ver por aqui."
<Continua>
Semana que vem eu posto a continuação aqui.
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