-Eu não quero mais nada disso - falei, olhando o teto do apartamento que Marc havia alugado para nós dois. Era um lugar luxuoso, mas sombrio, com luzes amareladas que lançavam sombras nas paredes de tom escuro. O ambiente refletia a presença de Marc: opressor e carregado de um poder que parecia aprisionar.
— Claro que ama — disse Marc, com aquele sorriso frio. — Mas você também me ama.
Fiquei em silêncio, sentindo o peso daquelas palavras. Será que eu amava mesmo Marc? Ou ele apenas manipulava minha mente, me fazendo acreditar naquilo? Era como se ele tivesse um controle invisível sobre mim. O sexo com ele era intenso, embora não tivesse o mesmo carinho e entrega que eu sentia com Kadu. Marc sabia como hipnotizar, prender, e fazer com que eu me perdesse dentro daquele jogo sombrio.
Já com Kadu, tudo era diferente. O toque dele era caloroso, nossos beijos, apaixonados. Não havia aquele clima de dominação, de controle. Eu realmente gostava de Kadu, do jeito que ele me olhava, do cuidado que tinha comigo, dos sorrisos sinceros que trocávamos. Mas com Marc… eu me sentia preso em uma teia, e por mais que eu quisesse sair, me parecia impossível escapar.
— Você me ama? — Marc perguntou, com os olhos fixos em mim.
— Não sei — respondi, quase sussurrando, enquanto fechava os olhos, tentando organizar meus próprios pensamentos.
Senti o peso do corpo de Marc ao meu lado, e ele me puxou para mais perto. Sua barba áspera roçou meu pescoço, e por um segundo, pensei que ele fosse iniciar mais um de nossos jogos. Mas, surpreendentemente, ele apenas me envolveu em um abraço firme, possessivo, como se quisesse me marcar. Era uma segurança ilusória, que durava apenas até ele mudar de humor.
Peguei no sono com o calor dele ao meu lado, mas a sensação de segurança passou rápido. Acordei algumas horas depois e vi Marc sentado em uma poltrona diante da cama, me observando. As sombras da madrugada lhe davam um ar ameaçador, e em sua mão, um copo de tequila reluzia à meia-luz, quase vazio.
— Eu quero que você largue meu filho — disse ele, ríspido, quebrando o silêncio pesado da sala.
— Marc — falei, tentando processar o que estava acontecendo, sentindo meu coração bater mais rápido — eu gosto do Kadu.
— Mas você é meu, e não quero te dividir com ninguém — ele respondeu, enchendo o copo novamente. Sua voz era firme, como se tivesse o direito de ditar minha vida.
— Eu não sou seu, Marc — retruquei, sentindo um medo latente enquanto observava a expressão dele se endurecer. — Eu só fiquei com você da primeira vez porque precisava de dinheiro. E agora estou preso nisso, sem saber como sair.
Dizer aquelas palavras foi como soltar um peso que eu carregava há muito tempo. Mas, para ele, era uma afronta. Marc virou o copo com um movimento agressivo, e a garrafa ao lado dele já estava quase vazia. Ele se levantou, caminhando lentamente em minha direção, com o olhar afiado, predatório, como se fosse um animal encurralando a presa.
— Deixa de ser puta — disse ele com uma frieza cortante, me segurando com força. — Você é só meu, e quero que largue ele.
— E se eu quiser largar você? — perguntei, olhando nos olhos dele, tentando manter a firmeza. Mas por dentro, o medo dominava cada parte de mim.
Marc me olhou fixamente, seus olhos sombrios e vazios de empatia. Ele apertou minhas mãos com mais força, demonstrando o domínio que exercia sobre mim, como se cada palavra minha não tivesse peso algum em sua decisão.
A tensão era quase palpável enquanto ele se aproximava. Marc tinha aquele olhar de quem sabia exatamente o efeito que causava – frio, calculado, pronto para destruir qualquer resistência. Cada passo dele em minha direção parecia mais pesado do que o anterior, e eu sentia o ar do quarto ficar mais denso, quase sufocante. O apartamento estava em penumbra, com apenas uma lâmpada fraca no canto do quarto iluminando mal a poltrona vazia onde ele estivera sentado, agora como uma sombra, um vulto do que ele era quando tentava se fazer de carinhoso.
Ele me segurou pelo braço com força, suas mãos apertando ao ponto de quase machucar, mas eu sabia que ele estava tentando se controlar. A expressão no rosto de Marc oscilava entre desprezo e um desejo intenso, quase obsessivo.
– Largar a mim? – Ele riu, mas o riso era sombrio, sem humor algum. – Acha que pode fazer isso, Yago? Acha mesmo que vai conseguir escapar?
Senti um arrepio percorrer minha espinha, mas tentei manter a calma. Meus olhos encontraram os dele, e eu mantive o olhar firme, mesmo sabendo que era perigoso confrontá-lo assim.
– Eu não sou um brinquedo seu, Marc – falei com um fio de voz que tentava soar mais confiante do que eu me sentia. – Você não pode simplesmente me controlar... não pode me fazer largar quem eu quero só porque você quer.
Ele estreitou os olhos, sua mão ainda segurando meu braço como uma algema de ferro. Por um segundo, achei que ele ia explodir, mas em vez disso, ele soltou o braço e me empurrou de volta para a cama, sua respiração pesada, um misto de raiva e algo mais, algo que eu não conseguia decifrar.
– Você não sabe o que está dizendo. – Ele murmurou, andando de volta à poltrona e jogando-se nela com um cansaço forçado, como se aquela discussão fosse algo cansativo demais para sua paciência limitada. – Mas eu vou fazer você entender, de uma forma ou de outra.
A sala estava em silêncio absoluto, e eu podia ouvir o som do gelo derretendo no copo que ele deixara sobre a mesa ao lado da poltrona. Marc me observava, como um predador que analisa sua presa antes de atacar. Aquele olhar vazio, frio, que me arrepiava até a alma.
– Você gosta dele, não é? – Ele quebrou o silêncio, e a pergunta soou mais como uma acusação. – Acha que ele vai te amar tanto quanto eu? Acha que ele vai te proteger?
Minha mente estava confusa. Com Kadu, eu sabia que havia algo bom, algo que me fazia querer ser uma pessoa melhor. Mas com Marc... Era como se ele tivesse uma parte de mim que eu não conseguia arrancar, como se, de alguma forma, ele fosse a escuridão que me prendia e me atraía ao mesmo tempo.
– Kadu não é como você, Marc – respondi, tentando manter a voz firme. – Ele não tenta me controlar, ele não me trata como um objeto.
Marc riu, uma risada vazia e debochada, quase como se ele achasse graça na minha ingenuidade.
– Você realmente acredita nisso? – Ele murmurou, pegando o copo e virando o último gole de tequila. – Todos têm um preço, Yago. E eu já comprei o seu.
Senti uma onda de raiva me invadir, misturada ao medo. Eu queria gritar, queria dizer a ele que ele estava errado, que eu não era apenas uma posse dele, mas sabia que, no fundo, ele me manipulava como ninguém jamais havia feito. Senti o peso da verdade nas palavras dele, e isso me enojava, mas ao mesmo tempo me deixava paralisado.
Ele se levantou da poltrona novamente e caminhou até a janela, olhando para fora. Ficamos em silêncio por um momento, enquanto ele observava as luzes da cidade lá fora, como se fosse dono de tudo que via. A atmosfera do quarto parecia ainda mais sombria, com uma tensão que apertava meu peito.
– Vou te dar uma chance, Yago – disse ele, sem se virar para me encarar. – Ou você larga o Kadu... ou eu acabo com ele.
Aquilo foi como um golpe. Meu coração acelerou e minha mente ficou em um turbilhão. Ele estava falando sério. Marc não era do tipo que fazia ameaças vazias. Conhecendo-o, ele era perfeitamente capaz de fazer algo assim – e o faria sem pestanejar.
– Você está louco – sussurrei, quase sem fôlego, tentando processar o que acabara de ouvir.
Marc finalmente se virou, seu rosto sem qualquer traço de misericórdia. Aproximou-se novamente, mas desta vez, seu toque era quase gentil, uma carícia que passava pelos meus cabelos, descendo até meu rosto. Seus olhos cravaram nos meus, frios e calculistas.
– Eu posso ser louco, mas você sabe que eu não minto – ele disse, sua voz baixa, ameaçadora. – Larga o Kadu, ou vou acabar com ele, entendeu?
Eu tremia, e ele sorriu, satisfeito em me ver assim, tão impotente. Ele estava jogando comigo, como sempre fazia, e eu sabia que ele estava ganhando. Sabia que, no fim, eu não tinha escolha – não se eu quisesse proteger Kadu.
– Quer saber? Eu vou contar pra ele sobre a gente, se eu não posso estar com ele, prefiro não estar nem com você - falei tentando o intimidar, mas eu estava assustado o suficiente - eu posso perder ele, mas você também vai me perder.
O silêncio que seguiu parecia interminável. Eu podia sentir a tensão no ar, quase palpável, e preparava-me para alguma reação agressiva. Conhecendo Marc, eu esperava que ele explodisse, como sempre fazia, talvez me puxasse, me ameaçasse... mas ele fez algo inesperado.
De repente, ele caiu de joelhos à minha frente. Seus ombros, geralmente rígidos e autoritários, estavam curvados. Seus olhos, que sempre brilhavam com um misto de arrogância e superioridade, agora lacrimejavam, e ele parecia tão pequeno. Ele me olhava de um jeito que me desarmava, um olhar de desespero que eu nunca tinha visto antes.
— Eu... eu te divido, então — sussurrou, a voz embargada. — Mas, por favor, não me deixa, Yago. Eu não posso perder você.
Minha mente ficou em choque. Aquele homem que minutos atrás me ameaçava sem qualquer hesitação agora implorava, de joelhos, como uma criança desamparada. Era perturbador, desconcertante. Vi em Marc um lado que eu nunca imaginei que ele tivesse. Havia algo muito errado em tudo aquilo.
— Marc... — comecei, a voz fraca, sem saber o que dizer, mas ele me interrompeu, segurando minha mão com força, como se dependesse disso para continuar respirando.
— Por favor, Yago — ele insistiu, os olhos cheios de lágrimas. — Eu te amo. Eu não posso te perder.
O brilho sombrio e possessivo que sempre dominava Marc tinha sumido, mas não por completo. Eu sabia que aquela face de vulnerabilidade era passageira. Era como se houvesse um jogo constante dentro dele, oscilando entre o amante desesperado e o manipulador cruel.
Marc ainda estava ajoelhado diante de mim, com uma expressão devastada que parecia um misto de desespero e angústia. Eu nunca o tinha visto assim antes — aquele homem frio, imponente e, até então, implacável, agora se mostrava vulnerável.
Ele segurou minhas mãos com força, os olhos marejados fixos nos meus, como se estivesse diante de seu último recurso, disposto a renunciar qualquer migalha de orgulho que ainda tivesse para não me perder.
— Yago... — sussurrou, a voz quebrada, os ombros tremendo. — Eu faço qualquer coisa. Eu te imploro, não me deixa... Eu sei que não sou o homem que você merece, mas... me perdoa. — Ele apertou minhas mãos com mais força, como se estivesse tentando ancorar-se em mim. — Eu não vou suportar te ver com outra pessoa.
Aquela súplica, vinda dele, me deixou paralisado. Uma parte de mim estava incomodada, quase repulsa pela ideia de ser manipulado novamente, mas o jeito como ele se desmoronava aos meus pés me confundia. Eu sentia o peso da culpa e da dúvida crescendo no peito, e a raiva que havia sentido antes foi se dissipando, deixando um vazio difícil de definir.
— Marc... — tentei dizer, mas ele não me deixou continuar. Com um movimento rápido, ele puxou minha mão até seu peito, onde o coração batia descontrolado, e fechou os olhos, como se sentisse uma dor física.
— Por favor, Yago. — A voz dele era um sussurro rouco. — Me dá uma chance. Eu sei que você ama o Kadu, eu entendo... Mas eu preciso de você de qualquer jeito, mesmo que seja pela metade. Eu aceito isso. Só não me abandona.
Minha mente gritava que nada daquilo estava certo, que eu deveria sair dali e não olhar para trás. Mas, ao mesmo tempo, o que eu sentia por Marc era algo que eu ainda não sabia nomear. Era como se ele exercesse um poder quase magnético sobre mim, me atraindo de volta sempre que eu tentava me libertar.
Então, em um impulso confuso, eu me abaixei, encarando seus olhos avermelhados. Toquei seu rosto, e ele se inclinou para o meu toque, fechando os olhos como se aquele fosse o único alívio que ele poderia ter.
Eu o beijei.
O beijo começou hesitante, carregado pela tensão entre nós, mas logo ele me puxou para mais perto, com aquela necessidade voraz que eu conhecia tão bem. Parte de mim ainda relutava, me alertando que nada daquilo era certo, que estávamos apenas afundando ainda mais nesse emaranhado de sentimentos distorcidos. Mesmo assim, acabei me rendendo, ignorando a voz da razão.
Nos segundos que se seguiram, tudo pareceu se dissolver numa tensão magnética, onde cada toque e suspiro levava à próxima conexão. Marc me envolveu com braços firmes, puxando-me para mais perto como se fosse a última vez, como se, naquele momento, ele realmente temesse perder o que tínhamos, distorcido ou não. Sua mão deslizou pelo meu rosto, descendo ao longo do meu pescoço, como se precisasse marcar cada detalhe, cada pedaço de mim que ainda estava ali com ele.
Ele me deitou suavemente sobre o colchão, e a intensidade de seu olhar, penetrante e faminto, trouxe um arrepio que percorreu todo o meu corpo. Ele se demorou, olhando para mim de uma maneira que era ao mesmo tempo possessiva e sedutora, uma mistura de luxúria e adoração quase desesperada. Com uma calma tensa, suas mãos exploraram meu corpo, os dedos traçando linhas de fogo pela minha pele, como se ele estivesse tentando memorizar cada centímetro.
Eu podia sentir o calor de sua respiração, pesada e entrecortada, e a forma como ele se movia sobre mim, lentamente, como se quisesse prolongar cada segundo daquilo. O mundo exterior desapareceu, e tudo o que existia era a proximidade do seu toque, a pressão de seu corpo contra o meu, e o calor que emanava dele, crescendo a cada instante, tomando tudo ao nosso redor.
As próximas horas foram uma mistura de desejo e confusão, cada toque e movimento entre nós me deixando em um estado de torpor, onde as certezas desmoronavam e só restava aquela sensação intensa e visceral que ele sabia como provocar.