Desde o dia em que meu avô chegou de Floripa, nossa casa se tornou mais movimentada e barulhenta. Seu Hugo não parava quieto, fazia várias coisas ao mesmo tempo, era impressionante sua energia. Pela manhã, ele era o primeiro a sair do quarto. À noite, quando eu ia dormir, ele ficava sentado de pernas cruzadas na sala, fazendo mil coisas no celular, parecia um adolescente.
Durante a semana, nossa rotina começava cedo. Tomávamos café por volta das sete e meu pai saía para trabalhar. Sozinhos em casa, eu e seu Hugo dividíamos as tarefas. Eu fazia a comida, ele arrumava a casa, limpava a área de serviço, cuidava do pequeno jardim, consertava coisas e fazia tudo mais que aparecesse. Às vezes, a gente invertia: ele cozinhava e eu me virava em mil para dar conta de todas as outras coisas.
Depois do almoço, eu ia para a faculdade e ele saía para resolver seus assuntos. À noite, os três homens estávamos de volta ao lar e conversávamos sobre vários assuntos.
O convívio com meu avô estava sendo muito bom para mim. Ele era um homem independente, determinado, resolvia tudo sem perder a calma. Não escondia a idade, mas não falava sobre ela. Com ele, não tinha aquele papo de “no meu tempo, as coisas eram melhores”. Sem fazer cara de dono da razão, ele me contava algumas experiências acumuladas ao longo das suas décadas de vida. Seu Hugo ria muito se si mesmo e eu ria com ele.
Para sair de casa, ele geralmente usava jeans e camisas de manga longa, como se estivesse indo trabalhar. Seus sapatos número quarenta e quatro eram de boa qualidade, bonitos e bem cuidados. O cabelo, ele penteava para trás, mas as pontas logo voltavam para a frente. O perfume, ele nunca esquecia de borrifar atrás das orelhas, no peito e nos pulsos.
Era fácil imaginar que seu Hugo atraía muitos olhares por onde passava. Mulheres e gays deviam se interessar pelo madurão charmoso. Eu só não sabia se ele dava importância aos assédios.
Meu avô tinha uma bunda de encher a calça e uma mala que parecia muito pesada. Em casa, ele vestia camiseta, bermuda acima dos joelhos e calçava uma sandália de couro. Não sei o motivo, mas eu gostava de olhar para seus pés grandes e desbotados.
Uma manhã, ele saiu do quarto usando apenas uma calça de moletom. Meio hipnotizado, desejei passar a mão nos cabelos brancos espalhados em seus peitos. Quase sem piscar, mirei o umbigo, que parecia um botão, e avaliei o pacote bem arrumado no meio das coxas. Como se não percebesse que era o alvo da minha admiração, ele virou em direção à cozinha e falou sem olhar para mim.
— Vai sair agora pela manhã, Gabriel?
Olhando para as costas dele, vi um pedaço do cós da cueca e percebi que era parecida com as minhas.
— Gabriel, acorde. Ouviu a minha pergunta?
— Desculpe, vô. Eu estava pensando numas coisas da faculdade. Vou sair não. Vou terminar uns trabalhos para entregar à tarde.
— Queria que você fosse comigo à concessionária onde seu pai trabalha. Preciso pegar um carro, não me acostumo a viver sem dirigir.
— Seria legal, mas hoje não posso, tenho muita coisa para dar conta.
— Tudo bem, irei sozinho. Já acertei com Leandro, ele está me esperando. Quando você tiver tempo, levarei para dar uma volta. Você será a primeira pessoa que vou botar dentro do meu carro novo. Prometo.
Meu avô fez essa promessa dando um sorriso tão bonito, que eu sorri para ele. Enquanto o pão esquentava, tive uma ideia.
— Só pode ser hoje, vô? Eu queria muito ir. Amanhã, vou ter o dia todo livre. Se o senhor quiser…
Como se não tivesse dado importância ao que falei, ele sentou numa banqueta e tomou uns goles de café. Depois pegou o celular e ligou para alguém. Sentado na sua frente, abri o sorriso quando ele começou a falar com o meu pai.
“Leandro, mudei de ideia. Vamos deixar para amanhã. Quero que Gabriel vá comigo, hoje ele não pode”
Ao terminar a ligação, ele se dirigiu a mim.
— Iremos amanhã. Vamos ter o dia todo para resolver esse assunto. Vai ser divertido.
Eu não era mais menino, mas meu avô ainda fazia minhas vontades.
No resto da manhã, fiz meus trabalhos. Às pressas, engoli o almoço e saí correndo para a faculdade. Quando voltei, já era noite. Durante o jantar, o assunto foi o carro que seu Hugo ia comprar. Animados feito meninos, ele e o meu pai discutiram sobre potência de motor, tração nas rodas, acessórios e um monte de coisa que eu não entendia. Nunca me liguei nesses assuntos.
Terminado o jantar, eu e Leandro nos sentamos no sofá e Hugo na poltrona. Enquanto eles falavam sobre questões de dinheiro, eu observava o quanto se pareciam. Olhar para meu avô era ver meu pai daqui a vinte anos. Ao me lembrar de que eu parecia com eles, comecei a rir sozinho.
Para relaxar um pouco, estendi o corpo no sofá e coloquei a cabeça no colo de Leandro. Distraído com a conversa, ele começou a brincar com meus cabelos. Virei para o outro lado e meu nariz quase entrou no umbigo dele. Era gostoso esfregar o rosto na pele do meu pai e sentir seu cheiro de homem muito limpo.
Leandro era um pai muito carinhoso, eu adorava esses momentos com ele. Quando morava com a gente, minha mãe implicava com nossas brincadeiras de abraçar, beijar, tomar banho juntos, dormir na mesma cama à tarde. Algumas vezes, ao me ver sentado no colo dele, ela nos repreendia.
“Leandro, você devia dar um basta nessas brincadeiras com seu filho. Biel, pare com essas brincadeiras com o seu pai, você já está bem grandinho para isso, não tem mais graça. Parecem dois meninos.”
Dona Bia reclamava de tudo; agora está lá com o argentino dela, pouco liga para mim. Mas, neste momento, eu não queria pensar nela.
Ao mexer a cabeça para ajeitar os cabelos, senti que minha bochecha ficou bem em cima do caralho do meu pai. Mesmo sem estar dura, a rola dele era de respeito. Por baixo da bermuda, ela estava jogada para o lado, dava para perceber que a cabeça estava batendo na coxa.
No começo eu achava estranho pensar essas coisas sobre a vara do meu pai, mas depois entendi que isso era bobagem. Como ele disse numa das vezes em que tomamos banho juntos e pelados, foi daquela pica cabeçuda que eu saí.
Lembrando-me das vezes em que vi meu pai nu, eu quase não dava atenção à conversa dele com o pai sobre o preço do dólar, o mercado de ações, essas coisas. Quando eu estava quase adormecendo, ele deu um tapinha no meu peito.
— Hora de dormir. Cada homem para o seu quarto.
Com os olhos fechados, falei como se fosse um menino manhoso.
— Pai, me leve nos braços.
Pegando no meu ombro, ele me colocou em pé e fingiu estar me repreendendo.
— Tenha vergonha, rapaz. Você já é um homem.
Lado a lado, fomos os três na direção dos quartos. Na porta do meu, Leandro me desejou boa noite e deu um beijo no meu rosto. Antes que eu entrasse, vô também me deu um beijo.
— Tenha bons sonhos, Gabriel.
Antes de ir para o quarto dele, Leandro deu um beijo no rosto do pai e ganhou um na testa.
Achei bonita a troca de carinho entre meu pai e meu avô. Sentindo-me feliz por viver numa casa de homens, deitei e logo adormeci.
Acordei cedo. Antes das nove, eu e vô já estávamos na rua. Ao chegarmos à concessionária, meu pai veio nos receber com um sorrisão de bom vendedor. Até o meio-dia, andamos pelo pátio, observando os modelos. Seu Hugo fazia mil perguntas e analisava um monte de coisa, mas parecia não gostar de nada. Inesperadamente, ele passou a mão pelo meu ombro, olhou para Leandro e apontou para um dos primeiros carros que tínhamos visto desde que chegamos ali.
— É aquele lá. É o que eu quero, só essa cor que não me agradou. Cinza não combina comigo, vou querer azul metálico. O que me dizem?
Mesmo sem entender muito de carro, eu tive certeza de que ele havia feito a melhor escolha.
— Gostei, vô. O senhor vai ficar um espetáculo dentro dele. E a cor que escolheu é incrível, adorei.
Feliz por eu ter gostado, ele virou para o meu pai e falou de forma definitiva.
— Está resolvido. Vamos tratar da parte financeira.
Feliz por ter feito uma boa venda e por ter ajudado o pai a fazer um excelente negócio, Leandro nos conduziu até sua mesa. Enquanto preenchia a documentação, ele informou que o prazo de entrega seria entre quinze e trinta dias, porque precisaria pedir na cor escolhida. Vô disse que estava tudo bem, não havia urgência, seria até bom passar uns dias ansioso por algo que lhe daria prazer.
Fechado o negócio, fomos os três almoçar num restaurante. Entre uma garfada e outra, vô comentou que eu poderia pegar o seu carro quando precisasse, só me pediu para ter muito cuidado, porque não gostaria que eu fizesse besteira e me machucasse.
— Obrigado, vô, mas eu ainda não sei dirigir.
Pousando o garfo e a faca ao lado do prato, ele olhou sério para o filho e falou como se estivesse dando um sermão.
— Leandro, como pode isso? Seu filho está indo para os vinte anos e você ainda não resolveu a habilitação dele. Está esperando o quê?
Num tom defensivo, meu pai começou a se justificar, parecia que tinha voltado a ser um menino.
— Já estou resolvendo isso. Biel passou por uma fase muito corrida, por causa dos estudos. A prioridade era entrar na faculdade. Agora que já entrou, estou vendo uma autoescola para ele.
Voltando a falar no seu tom sorridente, vô disse que, a partir de agora, esse assunto era dos três. Ocupado com meus sushis, sorri daqueles dois homens que me tratavam como se eu ainda fosse um menino.
De noite, como não poderia deixar de ser, o assunto foi a compra do carro. Ao deixarmos a mesa, Leandro sentou na poltrona e Hugo no sofá. Para continuar a ver minha série, sentei ao lado de vô e me desliguei da conversa. Quando dei por mim, já estava com a cabeça no colo do coroa.
Como se fosse meu pai, vô começou a fazer um carinho gostoso nos meus cabelos. Respirando fundo, virei a cabeça e esbarrei na sua barriga, minha boca quase colou no seu umbigão. Para que eu me acomodasse melhor, ele se ajeitou no canto do sofá e abriu um pouco as coxas. Pronto: o caralho dele ficou fazendo pressão embaixo da minha bochecha. Fingindo bocejar, puxei o ar com força e senti um cheiro bom. Assim como o filho, Hugo era um homem muito cuidadoso com o corpo.
A bermuda que ele estava usando era de um tecido grosso, mas eu reconhecia o formato e sentia a firmeza da sua rola. Segurando o riso, pensei: “A pica madura ainda tem muito leite para dar de mamar a quem quiser”. Eu não devia pensar essas coisas sobre o pai do meu pai. Virei a cabeça para o outro lado, dei um sorriso inocente para Leandro e tentei me concentrar no que estava passando na TV, mas meus olhos começaram a pesar.
A sala estava quase escura, iluminada só pela TV. Vô não parava de brincar com meu cabelo: metia os dedos entre os fios, alisava o couro, puxava delicadamente minha cabeleira para cima e juntava tudo na mão, como se fosse fazer um rabo de cavalo. Esses carinhos eram tão bons, que meus olhos se fecharam de vez e a mente se apagou.
Quando abri os olhos, estava tudo claro. Depois de um instante, minha mente despertou e levei um susto. Eu estava bem acomodado na minha cama, com a cabeça no travesseiro e o lençol cobrindo meu corpo.
Fiquei confuso; eu não me lembrava de ter ido do sofá para a cama. Depois de muito pensar, tive certeza de que não foram meus pés que me levaram da sala para o quarto. Intrigado com isso, fui tomar banho. Quando estava lavando a pica, pedaços de imagem se formaram na minha mente, mas eu não sabia se eram parte de um sonho ou da realidade.
Terminei o banho, vesti um short curto e uma regata e fui para a cozinha. Usando apenas uma boxer preta, Leandro me recebeu com a mesa arrumada para o café.
— Bom dia, Biel. Sente-se, sirva-se. Você está precisando comer bem, está muito magrinho, não pesa nada.
Quando eu ia sentar, Hugo veio da área e me abraçou por trás; pensei que ele ia montar em mim, mesmo sabendo que eu era fraquinho. Segurando nos meus quadris, ele me colocou de frente e ficou me olhando da cabeça aos pés.
— Seu pai diz que você está muito magro; mas eu prefiro assim. Para mim, está ótimo.
Enquanto eu pensava no que aconteceu à noite, Leandro deu as coordenadas.
— Vamos tomar café para cair na vida. Não sei o que vocês farão hoje; no meu caso, há muitos carros esperando para serem vendidos.
E assim, foram passando os dias.
No dia de pegar seu carro, meu avô acordou todo animado. No café da manhã, perguntou se eu estaria livre à tarde. Respondi que adoraria ir com ele, mas não poderia, porque teria prova na faculdade.
— Fim de período é coisa de doido, vô. Engana-se quem pensa que Psicologia é só conversa. Tem tanta teoria para a gente estudar.
— Sei como é isso, também me descabelei para dar conta de tantas coisas quando fiz a faculdade de Economia. Eu sobrevivi; você também sobreviverá.
Era engraçado imaginar meu avô, ainda garotão, fazendo faculdade. Acho que, naquele tempo, ele parecia comigo; só não era gay. “Ou será que vô Hugo brincava de troca-troca com os amigos quando era novinho?” Envergonhado por ter pensado isso, evitei olhar nos olhos dele.
Era melhor deixar de ideias e ir para o quarto estudar. Foi o que fiz
A prova não foi traumatizante; saí da sala convicto de que teria um ótimo resultado. Andando pelo corredor com alguns amigos, liguei o celular e vi que tinha uma mensagem do meu avô, perguntando que horas terminaria minha aula. Respondi que já estava livre. No mesmo instante, ele mandou outra mensagem.
“Já estou com o carro. Posso passar aí para pegar você?”
Era sexta-feira, meus colegas tinham me chamado para ir a um barzinho jogar conversa fora. Era legal sair com eles, mas seria bom voltar para casa com seu Hugo, sentindo o cheiro de carro novo. Na saída do bloco, fiz um comunicado à minha turma de estudo e curtição.
— Pessoas bonitas, adoro sair com vocês, mas hoje não vou poder, surgiu um compromisso de última hora.
Lamentando por não poderem contar com minha presença, os bonitos fizeram questão de ficar comigo enquanto o carro chegava. Devem ter imaginado que eu iria para casa com meu pai, já que ele ia me buscar algumas vezes.
Na confusão do trânsito, meu avô teve que estacionar no outro lado da rua. Quando meu celular começou a tocar, eu já estava olhando para o seu reluzente carrão azul.
Enquanto eu me despedia dos meus amigos, ele saiu do carro e ficou em pé ao lado da porta, tentando me ver no meio do bolo de estudantes. Ao atravessar a rua, fui recebido com um abraço.
— Parabéns, vô. Seu carro é show.
Com delicadeza, ele passou a mão no meu cabelo e prendeu alguns fios atrás da orelha, para ver melhor o meu rosto.
— Estou cumprindo a promessa: você é a primeira pessoa que levarei para dar uma volta.
Como se eu fosse um príncipe, ele abriu a porta para que eu entrasse. Rindo muito, sentei e fiquei olhando para os meus amigos, que continuavam de olho no carrão do coroa que foi me buscar. Eu até imaginava o que eles estavam pensando.
— Coloque o cinto e vamos voar.
Fiquei até com medo ao ouvir isso, mas vô se revelou um ótimo motorista, muito atento ao trânsito, muito cuidadoso. Antes de irmos para casa, passamos num shopping. Seu Hugo disse que precisava comprar algumas roupas. Segundo ele, muitas peças que trouxe de Floripa não combinavam com o clima do Rio.
Sempre me pedindo opiniões, ele escolheu calças, bermudas e camisetas. Eu disse que não precisava, mas ele quase me obrigou a escolher algumas peças para mim. Já que ele fazia questão de me presentear, peguei duas camisetas e um jeans que ficava ajustado nas minhas pernas finas, sem apertar.
Numa loja de material esportivo, ele foi direto para a seção de sungas. Com naturalidade, analisou alguns modelos, separou uma verde e uma preta com listras brancas e colocou na minha mão.
— Qual das duas você acha que vai ficar melhor em mim?
Era engraçado ajudar meu avô a escolher uma sunga. Esforçando-me para não rir, dei uma opinião sincera.
— Se fosse pra mim, ficaria com a preta, gosto assim, com listras.
— Seu gosto parece com o meu. Vou ficar com a preta; minha bunda vai ficar bonita dentro dela. Já percebeu que somos homens da bunda redonda? Seu pai e você saíram a mim.
Não deu para segurar: na frente da vendedora, soltei uma gargalhada. Meu avô falava essas coisas de um jeito divertido. Sem esperar que eu parasse de rir, ele me deu mais uma ordem.
— Escolha a sua. E não me diga que não precisa.
Ainda sorrindo, obedeci. Depois de olhar vários modelos, escolhi uma sunga lilás. Minha bunda ficaria uma tentação dentro dela; muita gente ia ficar com vontade de comer. Enquanto esperava na fila para pagar, vô disse que precisávamos ver um dia para irmos à praia.
— Tem que ser um dia que seu pai também possa ir. Vamos os três desfilar nas areias de Copacabana. Estou com saudade do mar daqui.
Feitas as compras, fomos comer pizza e ficamos conversando bobagens, rindo de tudo. O passeio estava ótimo. Meu avô era um cara legal demais. Às vezes, eu tinha a impressão de que algumas pessoas estavam achando que eu era o novinho do coroa. Mas o que as pessoas pensavam não tinha importância.
Na volta para casa, ao olhar as mensagens que meus amigos haviam mandado, comecei a rir. Todos tinham certeza de que o homem que me pegou na faculdade era meu novo namorado.
“Biel, que coroa gato você arranjou! Arrasou!”
“Biel do céu, você não falou nada para a gente! Tá passando é bem, não é, amigo?”
“Se você souber onde tem outro homem desses, me avise. Sou louco por um coroa do cabelo branco.”
O pessoal estava viajando legal. Pensei em mandar mensagem desfazendo suas ilusões, mas desisti. Depois, eu esclareceria tudo pessoalmente.
Quando chegamos, Leandro já havia jantado. Fui tomar banho e vô ficou conversando com ele. Nessa noite, fomos cedo para a cama. O dia foi longo; os três estávamos cansados.
No sábado à noite, meu pai se arrumou todo, colocou perfume e avisou que iria sair, não sabia que horas estaria de volta. Como se eu fosse o pai dele, dei umas reguladas.
— Já vi que tem mulher nessa história. Cuidado com a sua vida, Leandro. Vê se volta cedo para casa, o senhor tem um filho para criar.
Rindo da minha cara de ciúmes, ele me deu uns beijinhos no rosto e fez uma promessa.
— Fique tranquilo, Biel. Nenhuma mulher vai me tomar de você. Meu amor é todo do meu filho.
Assim que ele me deixou, fui para o quarto e fiquei ouvindo música. Quando passava das nove, veio a vontade de sair de casa. Pensando em ligar para os amigos, fui tomar água. Hugo estava na sala, olhando distraído para a TV. Ao me ver, perguntou se estava tudo bem. Respondi que sim e passei para a cozinha. Na volta, veio a inspiração.
— Vô, estou com vontade de sair de casa. Vamos?
Como se só estivesse esperando pelo convite para ir curtir a noite de sábado, ele tirou a bunda do sofá e deu um passo na direção do banheiro.
— Você me dá quantos minutos para tomar banho e me arrumar, Gabriel?
Contagiado por sua boa disposição, comecei a andar em direção ao quarto e lancei um desafio.
— Vamos ver quem se arruma primeiro, vô.
Quando saí do quarto, vô já estava pronto. Para sair comigo, ele se vestiu de preto: calça, camiseta, sapato, talvez até a cueca. Em contraste com tudo isso, os cabelos brancos pareciam mais iluminados.
— O senhor fez essa produção toda para sair comigo? Valeu! Ficou lindão.
— Eu não posso fazer feio ao lado do meu neto. E você também está muito bonito com esse jeans e essa camiseta colada no peito seco. Esse seu cabelão faz a diferença, na sua idade, o meu também era grande.
— Gostei de saber disso. Agora, vamos nessa. Aliás, para onde vamos?
— Você me convidou, você escolhe o lugar.
— Já sei, conheço um lugar legal. O senhor se incomoda se tiver música e gente dançando?
— Prefiro que seja assim mesmo. Adoro música, gosto de dançar.
No carro, meus olhos foram atraídos pelo pacote de pica que se formou entre as coxas dele. Quando levantei a cabeça, vô estava olhando para mim. Envergonhado, falei algo sem importância, só para quebrar o gelo.
— Mais de dez horas da noite! Nunca saí tão tarde assim para curtir.
Sorrindo, ele cravou os dedos compridos na minha coxa fina e deu um aperto. O sinal abriu, o carro voltou a andar. Sem olhar para mim, ele deu um aviso.
— Nossa noite não tem hora para acabar, Gabriel.
A danceteria estava lotada, mas conseguimos uma mesa perto do bar. Tomando um coquetel de frutas, ficamos conversando e observando as pessoas. Olhando nos meus olhos, ele fez uma pergunta que eu não esperava, mas não me assustou.
— Você tem namorado?
Antes de responder, tomei um gole da bebida e lancei um olhar para a pista, tinha pessoas de todas as tribos sacudindo o esqueleto. Depois, olhei de novo para meu avô e falei o que ele queria saber.
— Atualmente não. Eu estava enrolado com um carinha da faculdade, mas terminamos faz um tempo. Estava chato, ele só me procurava para…
Por pouco, não falei demais. Deixando esse assunto de lado, ele se levantou e estendeu a mão para mim.
— Vamos para a pista?
Sem pensar em nada, peguei na mão dele e já fomos dançando para o meio do povo. Na pista, Hugo não quebrava tudo, mas mexia braços, peitos e bunda de um jeito interessante, gostoso. E fazia cara de quem não estava nem aí para o que pensavam dele. Girando ao meu redor, ele foi se soltando e logo estávamos dançando no mesmo ritmo.
As batidas da música, o movimento das luzes, a fumaça, as pessoas dançando ao nosso redor, tudo isso nos deu uma sensação de liberdade. Cada vez mais eufóricos, um passou a se atirar para o outro, como se fosse um jogo.
Até que aconteceu. Depois de girar em torno do meu corpo, Hugo me pegou pelos quadris, olhou nos meus olhos e uniu seus lábios aos meus. Sua língua avançou sobre a minha e senti o gosto do morango da bebida que ele tomou.
Nossos corpos estavam unidos e nossas bocas grudadas. Agoniados dentro das calças, nossos caralhos queriam se conhecer mais de perto. De olhos fechados no meio da multidão, eu me sentia perdido.
Quando abri os olhos, não soube para onde olhar. Eu estava nos braços do meu avô, que havia acabado de me dar um beijo muito demorado, muito gostoso. Percebendo que eu estava confuso, ele me levou de volta para a mesa e, num tom preocupado, começou a se explicar.
— Acho que fiquei louco. Tanto tempo sem ter alguém… perdi a noção. Eu não queria lhe fazer mal, Gabriel. Foi um impulso, não deu para controlar. Você está bem? Quer alguma coisa?
Diante do meu silêncio, ele baixou a cabeça, demonstrando que estava envergonhado pelo que fez. Eu não estava com raiva, estava todo atrapalhado. Era bom estar com aquele viúvo que tinha idade para ser o meu avô — e era. Ao pensar nisso, o rosto do meu pai surgiu na minha mente e fiquei triste. Parecia que eu estava traindo Leandro.
Ao meu redor, tudo estava girando. Levantando a cabeça, Hugo olhou nos meus olhos de novo.
— Gabriel, desculpe. Esqueça, por favor. Quer ir para casa?
Nada fazia sentido. Em silêncio, peguei na mão dele e o levei de volta para a pista. Mesmo sem saber o que eu estava sentindo, ele entrou no clima e logo estávamos nos jogando de novo um para o outro.
Dessa vez, eu tomei a iniciativa: passando as mãos por seu pescoço, puxei sua cabeça ao encontro da minha e abri a boca para que ele enfiasse a língua.
Não sei quanto tempo ficamos dançando e nos beijando no meio de muitas pessoas. Parecia que estávamos morrendo de sede e de fome.
Meu avô tinha uma pegada forte e carinhosa ao mesmo tempo; eu estava todo mole nos braços dele. O mundo era uma loucura, eu queria que a música nunca mais acabasse.
Quando saímos do bar, fomos de mãos dadas até o carro. Antes de girar a chave, ele me deu um beijo apaixonado.
— Já são quase duas da manhã, Gabriel. Para onde você quer ir agora?
Como se eu estivesse com frio, minha voz saiu trêmula.
— O senhor disse que nossa noite não tinha hora para acabar.
Com os olhos brilhando, ele encostou a cabeça em meu peito e deu uma mordidinha no meu mamilo, por cima da camiseta.
— Aiii… doeu.
Com voz rouca, ele revelou seu desejo.
— Gabriel… Biel… eu quero tudo. Você quer? Hum?
Sem fugir dos olhos dele, passei a mão sobre o volume roliço dentro da sua calça. Respirando fundo, tentei fechar os dedos em torno da pica madura. Deu para sentir que o negócio duro ali era grosso e de bom tamanho. Sem largar a carne pulsante, passei a ponta da língua em seus lábios e dei uma ordem.
— Vamos, vô Hugo, ligue logo esse carro.
— — —
QUANDO postei o primeiro capítulo, não imaginei que tantas pessoas iriam se interessar por esta história. Obrigado a todos os leitores que gostaram da narrativa de Biel.
Espero que tenham gostado deste segundo capítulo.