Beijar o Guigo é muito bom, porque coisas boas assim tem que ser tão erradas e dar tanta dor de cabeça, queria que as coisas fossem mais fáceis, porém minha cabeça não funciona assim, pelo menos depois de escrever pro Rick me sinto mais leve e pude até me desculpar com Guigo, por um momento pensei que não iria conseguir, porém foi só ele ficar parado na minha frente que as palavras pularam para fora.
— Estamos bem? — Ele me pergunta depois de um beijo mais demorado.
— Estamos no meu sofá se pegando e suas pernas estão por cima das minhas, eu diria que estamos muito bem sim — faço uma piada a fim de aliviar o clima e até que funcionou.
— Não consegui me controlar em momento algum depois que você saiu — Guigo confessa.
— Nem eu — digo — quero te falar uma coisa mas não sei como fazer isso.
— Pode me falar qualquer coisa — ele diz.
— Fiquei com ciúmes de você e isso me deixou muito maluco, não gosto disso.
— Quer que eu pare de falar com a Tati? — Ele parece falar sério.
— Não, não posso pedir isso, na verdade eu quero que durante nossa viagem a gente não tenha nada — agora ele parece confuso.
— Como assim?
— Eu não posso namorar e nem quero deixar você esperando para sempre Guigo, então preciso lidar com isso de alguma forma, então, durante nossa viagem você tem carta branca para curtir seu carnaval da forma que quiser e eu farei o mesmo.
— Isso é loucura, não entendo porque não podemos ficar durante a viagem — ele diz tentando se manter calmo.
— Você é um cara incrível, vai que no carnaval você consegue coisa melhor — me doi dizer isso, mas não posso prendê-lo nessa relação que nunca vai evoluir.
— Então tá terminando comigo, você acabou de dizer que estamos bem — agora sou eu quem está confuso sobre com sua expressão.
— Não quero terminar, só que preciso disso para aprender a lidar com esse ciúmes que tenho.
— É só não sentir ciúmes e isso é fácil, eu não fico com mais ninguém — ele tenta argumentar.
— Guigo, por favor, preciso disso.
— Juro que estou tentando te entender Ray, mas não consigo, você diz que não está terminando comigo, mas quer que eu saia por aí pegando geral no carnaval, olha eu entendo que você queira uma relação aberta e por mais que não seja muito meu estilo de relação eu topei, então por que não podemos deixar do jeito que está, não quero passar o carnaval inteiro sem poder te dar um beijo.
— Só pela viagem e aí depois a gente ver, se mesmo depois de você ficar com outras pessoas ainda quiser ficar comigo eu vou aceitar uma relação monogâmica sigilosa com você — digo porque sei que isso não tem como acontecer.
— Então essa viagem vai ser tipo uma despedida de solteiro? Você quer ficar com outras pessoas?
— Sim e não, não quero ficar com ninguém, mas preciso por minha cabeça no lugar, sei que sou confuso, mas é basicamente isso que eu quero — ele estende a mão para mim e eu a seguro.
— Então temos um trato, depois do carnaval você vai aceitar namorar comigo.
— Em segredo — enfatizo.
— Tudo bem, em segredo, mas ainda sim vai ser um namorado certo?
— Certo.
Uma grande parte de mim quer poder namorar com ele, mas isso não vai acontecer, ele vai ficar com a Tati ou pode até aparecer outras garotas mais interessantes durante essa viagem, o foco é que depois disso ele vai perceber que o quer que esteja sentindo por mim não é tão forte assim quando ele espera que seja, claro que para mim não isso não vai funcionar, sei que vou sofrer de ver ele com a Tati ou com qualquer outra pessoa, mas preciso me acostumar com isso, afinal temos uns bons quatro anos de convivência pela frente.
Dessa vez não transamos, mas foi igualmente gostoso pode ficar agarradinho nele no sofá vendo tv e comendo uma pizza que compramos para o jantar, até rachei metade do valor, fico um bom tempo pensando em como dizer a ele sobre o que vi hoje voltando para casa, mas não estou pronto para entrar nesse assunto de cabeça e ele vai precisar de contexto para entender todos os pormenores então por hora, deixo que a aba de conversa sem resposta no face seja minha única confidente no momento.
Ficamos de boas até a mãe dele ligar pedindo para que ele fosse para casa, parece que aconteceu algo com o pai dele, mas nada grave até onde entendi, de qualquer forma peço para ele me ligar assim que chegar em casa para me avisar se está tudo bem, como ele está com um pouco de pressa e sua casa fica bem longe da minha ele pede um carro de aplicativo, o bom é que posso me despedir dele do jeito certo, diferente do ontem quando levei ele na parada de ônibus.
— Me avise quando chegar não esquece.
— Pode deixar — ele me beija mais uma vez e vai embora pois seu carro chegou.
Sozinho de novo, entretanto bem mais tranquilo agora, já me resolvi com ele e meio que o outro assunto também já foi dado como encerrado, resolvo estudar um pouco antes de dormir, que assim o sono vem e não dou como todo perdido o dia de estudo que deveria ter sido, Giovanna me mandou umas anotações que eles fizeram durante o estudo de hoje e isso até que ajuda um pouco também, ela é legal, seria muito melhor se meu interesse fosse por ela e não pelo Guigo — não melhor, mas pelo menos mais fácil.
Na manhã seguinte acordo com minha mãe me chamando, pensei que ela não só iria chegar amanhã, ainda bem que Guigo não dormiu aqui, se não agora seria bem complicado de explicar, vou indo ao encontro dela na cozinha, a vantagem de ter minha mãe em casa é que ela prepara meu lanche da manhã e o café dela é melhor que o meu.
— Oi mãe, bom dia — digo meio sonolento.
— Filho senta aí temos que conversar — não gosto do seu tom.
— O que as fofoqueiras já foram te falar agora — digo sem muita paciência.
— Seu pai quer te pagar uma pensão — ela vai direto ao ponto, mas tudo que consigo fazer é rir com escárnio — Raylan seu pai mudou, ele foi errado, mas quer corrigir os erros dele.
— E ele acha que dinheiro vai resolver alguma coisa, meio tarde para isso não acha, onde estava esse dinheiro naquela vez que você ficou doente e não podia trabalhar por quase um mês, ou melhor onde ele estava quando a senhora foi roubada e quase cortaram nossa luz?
— Não podemos viver no passado Raylan.
— A senhora é que parece que está no passado, ele não é seu marido, ele te traiu na sua própria cama — cada palavra sai com muita raiva.
— Raylan — ela me chama atenção.
— Ele é um bosta, meu pai morreu, seu adorado marido te largou com um filho para criar, sem aviso prévio, sem dinheiro, sem um teto, sem nada, ele catou as coisas dele no armário e foi embora, por que você não está puta da vida com ele por isso! — Estou gritando.
— Eu odiei Raylan — ela diz com calma e serenidade — odie por muito tempo, mas filho o que esse ódio me trouxe? — Fico calado — odiar seu pai tornou nossa vida mais fácil em algum momento? — Ela continua.
— Não quero ele na minha vida, ele perdeu esse direito quando escolheu nos abandonar.
— Raylan ele pode não ter direito de participar da sua vida e isso é uma decisão sua, mas ele é seu pai e ele tem obrigações com você, não importa se você gosta dele ou não filho, mas você tem direito de receber esse dinheiro.
— Por que você não fica então? — Pergunto ainda contrariado.
— Porque esse dinheiro é seu Raylan, não meu, a conta do seu pai comigo já foi paga quando ele me deu você.
— Você é inacreditável mãe, eu não quero esse dinheiro e ponto final.
— Ele vai fazer esse deposito hoje, saque e dê as pobres, queime ou esqueça ele na sua conta, não interessa, mas você vai receber sim e ponto final, ele me traiu verdade e foi embora, mas isso só fez dele meu ex marido, mas independente de qualquer coisa ele ainda é seu pai, quer você queira ou não, ele é e vai continuar sendo.
Inacreditável que ela vai me obrigar a ter qualquer contato com ele, será que ela não entende que ele está claramente tentando me comprar, ele vai começar a mandar essa tal mesada, aí um belo dia ele vai querer me entregar pessoalmente e quando menos esperar vai querer está na minha vida, não vou permitir que isso aconteça, posso ser obrigado a receber essa merda de dinheiro, mas ela não pode me obrigar a gastar.
Nem dormi muito bem essa noite, mas pelo menos posso sair de casa ir para a faculdade, nem como nada, só tomo banho, estou muito puto que minha mãe não entenda o que aquele traidor escroto está querendo, pior é que assim como ela disse ele fez um depósito para minha conta hoje bem cedo, foi um valor tentador até, o infeliz está mesmo querendo me comprar, engraçado que quando estava com a gente não tinha tanto dinheiro assim, agora tem um carro caro e dinheiro na conta.
Saí tão puto de casa que nem percebi que ainda é cedo, dessa forma fui um dos primeiros a chegar na sala, pego meu celular e vejo tem uma mensagem da minha mãe que nem vou abrir, estou chateado com ela agora, também tem uma mensagem de bom dia o Guigo, que respondo de pronto me desculpando por não ter mandado antes, saí de casa tão doido que nem vi que tinha chegado mensagem no meu celular.
“Bom dia, posso dizer que sonhei com você?” — Guigo consegue ser o cara mais fofo do mundo mesmo só levando patada minha, tenho que começar a tratar ele melhor.
“Pode” — respondi.
“Pega as anotações da aula para mim hoje, por favor”
“Ué, por que você mesmo não anota?” — Estou tentando ser mais legal com ele, mas aí ele tá forçando a amizade já.
“Não vou hoje, meu pai pegou uma pneumonia, minha mãe está surtando, ele tá bem, mas vou ficar em casa para dar um suporte para ela, antes que ela deixe meu velho ainda mais doido do juízo” — tá, agora estou me sentindo mau por ser sigo ignorante com ele.
“Mas ele está bem mesmo?”
“Sim, já está medicado e o médico dele disse que ele pode ficar em casa, mas que se piorar devemos levar ele pro hospital, meu pai odeia aquele lugar, mas também ele passou tanto tempo lá que eu entendo ele”
“Beleza, vou fazer as anotações para você, então não vou te ver hoje mesmo, né?” — Acho que acabei me acostumando a vê-lo sempre depois da aula, já tem uns três dias seguidos que ele estava indo lá para casa.
“Não vou ter como sair de casa hoje, mas você pode vir aqui se quiser” — meu coração palpita.
“Não sei se é uma boa ideia”
“Não vou forçar, mas ficaria muito feliz de te ver” — ele joga sujo.
“Qualquer coisa te aviso.”
“Ótimo então vou ficar esperando.”
“Como foi o sonho?” — Tentei não perguntar, mas fiquei curioso.
“Vem aqui que te conto” — Filho da mãe.
“Tchau Guigo.”
“Até mais tarde Ray.”
A professora chegou e tive mesmo que parar de trocar mensagens com ele, tenho que admitir que fiquei muito satisfeito em saber que Tati não sabe o motivo do Guigo não ter vindo a aula hoje, ele me falou sobre seu pai, mas não é algo que todos saibam, acho até que ele só contou para mim, sendo assim melhor não comentar nada com ninguém, pois ele pode não gostar e sei bem como é não querer entrar em detalhes sobre a família com todo mundo.
— Raylan tu sabe do Guigo? — Ciço me pergunta.
— Ele teve um assunto de família, mas está tudo certo — digo.
— Como você sabe? — Tati me questiona, pois ouviu minha conversa com Ciço.
— Ele me pediu para mandar minhas notas da aula para ele depois — digo com satisfação.
— Por que ele não pediu para mim?
— Ai Tati você vai ter que perguntar para ele — digo.
Antes que ela possa dizer mais alguma coisa a professor nos interrompe informando que teremos que fazer um trabalho em grupo, nunca escrevi um artigo na vida, pelo menos quando ela anuncia os grupos descubro que estou no grupo da Giovanna, mas nem consigo comprar pois logo em seguida ela diz o nome do Daniel, só pode ser castigo.
— Ótimo dois nerds no meu grupo, vou precisar fazer nada então — digo só para provocar o babaca do Daniel.
— Por favor, até porque não quero que nenhuma parte do meu artigo esteja mal escrita — Giovana falou de propósito, pois ela sabe que estou de implicância com Daniel, mas tenho a impressão de que é mais um toque para mim do que uma crítica.
— Giovana esse tema é bem amplo mas tenho umas ideias, eu li dois livros que abordam a pedagogia do Paulo Freire de uma forma muito legal — Daniel já começou com as nerdices dele.
— Ah ótimo, me passa no grupo que vou dar uma olhada e aproveito para dividir com você uns artigos que já li sobre também — eles estão me excluindo do trabalho, não que eu me importe, afinal meu nome vai está nele do mesmo jeito mesmo.
Depois da aula Ciço e Daniel vão para biblioteca, meus outros amigos vão todos pro RU para almoçar, mas não estou com fome, desde cedo estou sentindo meu estômago revirar ainda sobre a conversa que tive com minha mãe, me despeço do pessoal e saio da faculdade, enquanto caminho para minha para de onibus, não consigo parar de pensar no quanto não quero ir para casa agora, minha mãe vai está lá e vai querer mais uma vez me forçar a aceitar o babaca de volta na minha vida, reconheço que isso pode ser uma desculpa também para fazer o que vou fazer, mas quer saber foda-se também.
“Qual seu endereço?”
Depois de dois ônibus e um terminal finalmente consegui chegar, ele está na parada assim como disse que estaria, só de vê-lo com uma bermuda folgada de moletom e uma camiseta branca fez valer a pena a viagem que acabei de fazer, isso também me fez admirar ele um pouco mais, afinal minha casa fica ainda longe do que a faculdade, ou seja ele realmente cruza a cidade pra chegar em casa quando vai me ver.
— Oi — ele diz com um sorriso gigante no rosto.
— Você não mora, se esconde né — faço uma piadinha comum na nossa cidade quando alguém mora longe.
— Vai começar o bullying regional, olha que a Messejana é quase uma cidade independente tá.
— Também, se eu morasse longe desse jeito também iria querer ficar por aqui mesmo — digo ainda na zueira.
— Estou feliz que você veio, mesmo sabendo que você iria ficar zuando meu bairro — ele diz rindo.
— Tá parei, até porque nem todo mundo pode morar perto bem que nem eu — digo.
— Muito humilde — ele diz me fazendo rir da forma que ele falou — minha mãe está meio surtada hoje, mas não liga não tá.
— E meu amigo de mãe surtada eu entendo a minha está me enchendo tanto que eu tive que cruzar a cidade só para não ir para casa — digo.
— Então veio me ver só para fugir dela? — Ele diz fingindo estar ofendido.
— Mesmo que eu diga que sim, você vai saber que é mentira né — digo aceitando que tem algo entre a gente, embora não saiba o que é exatamente, lutar contra não está dando muito certo.
— Ainda bem que você sabe — ele diz me puxando para um abraço com a mão no meu ombro.
Ele mora um residencial, parece uma vila só que chic porque tem um porteiro, é literalmente um rua com casas dos dois lados, no final tem um campo de futebol e a casa dele é a última do lado direito, as casas não segue um padrão, tipo só parece que aluguem monroe a rua e fechou a vizinhança no mesmo lugar.
— Você disse que seus parentes moravam todos na mesma rua — digo.
— E moram, todas as casas aqui são dos parentes da minha mãe e tem uns do meu pai também.
— Isso não é uma rua, é tipo uma vila — digo.
— Um residencial, mas para gente é nossa rua, cresci correndo aqui com meus primos — ele diz de forma nostálgica.
Sua casa tem uma garagem com um carro popular estacionado, a sala é dessa com um balcão que separa a cozinha da sala, é uma espaço pequeno, porém a garagem é até que grande, depois da cozinha tem uma porta que leva para uma área de serviço imagino, também tem um corredor curtinho, desses que fica com a porta do banheiro no meio e os quartos um de frente para o outro, é um lugar modesto, porém extremamente limpo e organizado.
— Esse é meu quarto e o da frente é dos meus pais — a porta do quarto dos pais dele está fechada, imagino que seja por conta do ar condicionado.
O quarto do Guigo entra em contraste com o resto da casa, ele tem um guarda roupas que está está aberto e bem desarrumado, sua cama de casal tem roupas e livros em cima, ele tem uma cadeira gamer e uma tv na parede então o quarto dele é mais maneiro que o meu, mas tenho que dizer que o meu é mais arrumado.
— Sua mãe não entra aqui né? — Digo.
— Não, mas ela diz que devo arrumar meu quarto uns três a quatro vezes por semana — ele diz tirando as coisas de cima da cama e guardando para que eu tenha onde me sentar.
— Suas anotações — mal consigo terminar de fala e ele me puxa para um beijo, nossa como estava sentindo falta desse beijo e do seu perfume, nem parece que estivemos juntos ontem.
— Para sua mãe pode entrar aqui — digo meio vermelho.
— Ela não entra sem bater é o combinado aqui de casa — ele diz.
— Mesmo assim — digo — me dá um segundo para me acostumar com a ideia de que eu cruzei a cidade para te ver.
— Quando você fala isso só aumenta a vontade de te beijar — ele diz e entendo perfeitamente o que quer dizer pois me sinto da mesma forma.
Tiro seus óculos e coloco com cuidado em cima da cama, Guigo me encara com tanto desejo, as coisas entre a gente está escalonando muito rápido, tiro sua camisa e ele a minha, puxo ele para se deite por cima de mim na cama, ele se posiciona entre minhas pernas e me beija com muito fogo, meus dedos caminhão pelas suas costas, ele beija meu pescoço me fazendo erguer o corpo a fim de ter ainda mais contato com o seu.
— Não deixa marca — digo.
— Tá — ele responde sem parar de beijar meu pescoço.
— Guigo, vem aqui filho — sua mãe grita por ele, mas não parece urgente, pelo menos.
— Droga — ele diz baixinho respirando ofegante — não sai da aí já volto.
Ele levanta e vai ver o que sua mãe quer, mas antes dá uma arrumada em seu membro duro dentro da cueca, estou rindo dessa cena, ele tentando amoleceu seu pau antes de entrar no quarto dos pais dele, enquanto ele vai lá aproveito para dar uma olhada melhor em seu quarto, em sua mesa tem seu computador que está com a tela apagada porém ele ainda está ligado, Guigo devia está trabalhando antes de eu chegar, ele tem uma caneca personalizada com um um símbolo famoso de um anime chamado fullmetal alchemist, alguns papeis e muitas canetas e essas coisas no porta canetas, mas o que mais me chama atenão é um porta retrato com uma foto dos pais dele com um bebê no colo que imagino ser ele.
— Oi, voltei, você se importa se a gente for na farmácia rapidinho, é que tenho que comprar um remédio do meu pai que acabou — ele diz todo fofo — mas se quiser me esperar aqui.
— Eu vou com você — digo e ele sorri em satisfação — é você aqui?
— Sim, essa é a única foto do meu pai antes do acidente — ele diz.
— Eu sei que é meio difícil para ti falar disso, mas se um dia você quiser conversar sobre o que aconteceu com ele, sabe que vou estar aqui para você, né? — Ele já comentou, mas estou com um pressentimento que foi um pouco pior do que ele falou, não sei, só sinto que precisei dizer isso então falei.
— Obrigado — ele me beija.
Depois de vestirmos nossas camisas de novo vou com ele para farmacia, só que vamos no carro o que é melhor, já que o sol está de rachar a cabeça de qualquer um, até pergunto porque ele anda de carro de aplicativo e de ônibus se tem o carro em casa, mas ele responde que o carro fica sempre a disposição do seu pai, pois ele pode precisar ir para o hospital a qualquer momento e ainda tem suas consultas e tudo mais, então meio que ele não utiliza o carro para nada que seja muito demorado.
A farmácia não é tão longe da casa dele, mas para vir a pé seria um pouco, enquanto ele vai com a receita na mão buscar o remédio do seu pai aproveito para dar um uma olhada, estou com vontade de comprar camisinha, mas não quero passar uma ideia de que temos que transar hoje — embora se rolar não vai ser ruim — até porque nossas amassos estão bem boas do jeito que estão.
Mesmo na dúvida acabei pegando um chocolate mesmo, pode ser que ele tenha na casa dele, faço uma nota mental de por umas na mochila depois, nunca se sabe quando pode precisar, ele volta com o remédio em mãos e nos dirigimos para o caixa, ele parece animado, mas vejo um certo cansaço em seus olhos, eu sei como é ter que amadurecer antes do tempo não é fácil mesmo.
— Quer alguma coisa? — Ele me pergunta — Um sorvete, ou chocolate?
— Peguei chocolate para gente já — digo mostrando a barra que peguei — mas agora que você falou acho que vou levar um sorvete também.
— Pega lá que eu passo tudo no meu cartão.
— Nada disso, eu passo o chocolate e o sorvete, pode deixar.
— Ray — ele tenta argumentar.
— Sempre que você vai lá em casa você gasta comigo, hoje estou na sua casa e então é minha vez — digo — e acho que devemos fazer rolês de casal normal e não de casais da terceira idade, primeiro costurei sua roupa, agora estamos na farmácia.
— Ah quer dizer que somos um casal.
— Sério que foi só isso que você ouviu? — Inacreditável esse cara.
— Tá, que tal comermos uma pizza antes de você ir embora, tem uma pizzaria perto lá de casa.
— Perfeito, bem melhor — digo, mas pelo fato de que vou poder passar a tarde com ele.
Voltamos para sua casa e agora sua mãe estava na cozinha ela é loira e baixinha, olhando para ela parece ser jovem, porém a mulher carrega um semblante carrancudo, pensando bem ela é completamente diferente da minha mãe, enfim ela me encara da cabeça aos pés e depois olha para o Guigo.
— Quem é esse Guigo? — ela pergunta.
— É o Raylan, ele é meu amigo da faculdade.
— Uhum, sei pai está doente e você trás amigos para casa Guigo — ela começa a reclamar na minha frente como se eu não pudesse ouvir, é um pouco constrangedor.
— E quando ele não está mãe — ele diz deixando o remédio na bancada e me puxando para seu quarto, até bate a porta depois que passamos.
— Desculpa — digo me sentindo mal por ter causado algum problema para ele.
— Não esquenta não, ela é chata assim o tempo todo, meu pai nem liga para quem vem aqui em casa.
— Não quero causar problemas — digo.
— Você não é um problema, embora te entenda às vezes seja um pouco difícil — ele diz rindo e me beijando.
— Seu besta, mas tipo ela sabe que não somos só amigos? — digo com cuidado escolhendo as palavras.
— Deve saber, nunca conversei abertamente com ela sobre minha sexualidade, mas também nunca fiz muita questão de esconder nada.
— Então quer dizer que você costuma trazer seus esquemas para casa — um ciúmes que começa a me pegar de novo.
— Uma namorada da época de escola, depois da Laila nunca mais beijei ninguém nesse quarto até você é claro — agora me sinto meio ridículo de ter ficado com ciúmes.
Ele tira minha camisa e depois a dele, com um sorriso safado me deita em sua cama e voltamos para onde estávamos, trocando beijos e carícias, porém dessa vez com menos lascívia e mais carinho, ficamos trocando beijos e carinhos por um bom tempo, ele pediu para Alexa tocar umas playlist meio indie para gente, não curto muito essas músicas, mas aqui curtindo o momento com ele essa vai entrar para minha lista de playlists favoritas.
— O acidente foi um pouco pior do que te falei — ele diz enquanto está deitado no meu peito e faço cafuné em seu cabelo.
— O que? — Levo um tempo para entender o que ele está falando.
— É que não falo para ninguém porque detesto a cara de pena que as pessoas fazem, ele quase morreu e faz hemodiálise hoje em dia, fora que precisa passar por muitos exames periodicamente, mas tipo ele não é invalido se liga — ele me encara e me lança um sorriso fraco — mas minha mãe o trata como se ele fosse, às vezes acho que ela o sufoca.
— Ela deve está tentando fazer o que acha melhor — digo.
— Eu sei disso, o problema é que ela esqueceu que tem um filho, sei que o pai precisa de ajuda, mas ele realmente está bem, ele já esteve muito pior, mas quando ele voltou para casa e começou a apresentar melhoras minha mãe criou uma relação de dependência não sei, tipo ela vive para ele e esquece de todo o resto, até largou o trabalho.
— Quando meu pai nos deixou minha mãe chorou bastante e meio que passou entrou num ciclo na qual não saiu mais, ela trabalha até a exaustão com a desculpa de que é por mim, mas acho que ela só queria ir embora também, nãos me entenda mal, sou muito grato por tudo que ela fez e reconheço seu esforço, mas ela não esteve muito presente na minha vida esses últimos anos — digo — desculpa isso não é uma competição, não devia ter dito nada.
— Relaxa, eu gosto que possamos conversar sobre tudo, parei de falar sobre meus pais com meus amigos porque não queria ser o coitado da turma — ele me beija gentilmente nos lábios — quer falar sobre seu pai?
— Hoje não, mas um dia eu te conto tudo — digo, ainda não quero revisitar esse dia, embora ele venha em meus sonhos de vez em quando.
Ficamos numa boa ouvindo música e nos curtindo por mais um tempo, mas ele precisou trabalhar, até falo de ir embora, mas ele me impede e também não quero ir ainda, gosto de ficar olhando para ele enquanto trabalha, ele fica tão sexy concentrado, para aproveitar melhor meu ponto, entrei no grupo onde o Daniel já colocou os tais artigos e os baixo para ler, já que Guigo tem que trabalhar, vou estudar para o trabalho então e assim calar a boca daqueles nerds que não botam fé que posso fazer um bom trabalho.
O tempo passou rápido até, umas seis e meia ele finalmente terminou o trabalho e eu acabei lendo bem mais do que planejei, até encontrei uns dois artigos muito bons para usarmos como referência, aqueles dois vão ver só por terem me subestimando, Guigo volta para cama e me enche de beijos, ele está tão carinhoso comigo e isso é muito estranho, pois nunca tive esse tipo de relação com ninguém.
— Você vai querer comer pizza? — Pergunto.
— Sim, porque você mudou de ideia depois do sorvete e do chocolate?
— Eu adoro pizza então sim, quero ir comer pizza, mas você parece cansado.
— Estou bem.
Ele toma um banho e troca de roupa, ainda me ofereceu uma toalha para tomar banho também, mas não estou muito à vontade com a ideia, a mãe dele me deixou meio desconfortável, então fico só esperando por ele no quarto mesmo, ele falou com seus pais e então saímos para pizzaria, o lugar fica em frente a parada de ônibus bom que depois da pizza já fica perto para ir embora, afinal não vou gastar um rim em um carro de aplicativo.
A decoração do lugar é bonita e chamativa, tem um cheiro bom de pizza vindo de outras mesas e mesmo ainda sendo cedo tem muitas pessoas ocupando as mesas, Guigo escolheu uma mesa na calçada para gente, ele disse que é melhor por seu mais ventilada e também por ser melhor para conversar de forma mais privada.
— Esse lugar é novo, mas eu já conhecia, tipo eles ficavam lá pros lados da Oliveira Paiva — uma avenida conhecida da cidade.
— Legal, a pizza tem cara de ser boa mesmo — digo.
— É uma das minhas favoritas — Guigo parece mais relaxado agora que terminou o trabalho e também saiu de casa — obrigado por ter vindo.
— Estou feliz que você me chamou — digo, acho que aos poucos ele está quebrando minhas barreiras e isso é assustador e empolgante ao mesmo tempo.
Guigo está certo em gostar desse lugar, pois a pizza daqui é perfeita mesmo, poxa a borda recheada é um espetáculo fora a parte, a companhia dele também faz qualquer rolê ser ainda melhor, desde que comecei a me aproximar dele percebo que estou ficando menos tenso com as coisas e certos pensamentos que nunca tive agora me ocorrem com frequência como por exemplo e de namorar outro cara.
Depois de comer vejo a hora e realmente preciso ir para casa, minha mãe já mandou mensagem perguntando onde estou e detesto isso, de vez em quando ela quer me tratar como criança, Guigo pede a conta e já vou logo pegando minha carteira do bolso pois iremos dividir, afinal vi no cardápio que as pizzas aqui não são tão baratas assim, sei que falei que não ia gastar o dinheiro que entrou na minha conta, mas um pouquinho não vai fazer mal.
— A pizza de vocês foi por conta da casa — a garçonete diz de forma muito simpática.
— Ué, você é vip assim Guigo.
— Nem olhe para mim, é a primeira vez que isso me acontece aqui — ele diz também sem entender.
— Moça é algum tipo de promoção ou algo assim? — Pergunto ainda com dificuldade de acreditar que não vão nos cobrar uma conta de mais de sessenta reais.
— O dono disse que pra dar baixa na sua conta, mas não sei o motivo — nem a garçonete sabe o porquê de tamanho generosidade.
— Onde ele está? — Pergunto e então ela aponta na direção do caixa.
— Que porra ele pensa que está fazendo — digo com meu sangue fervendo, me levanto de uma vez e penso em ir na direção dele, mas não vou fazer isso, esse merda não merece nem que eu brigue com ele.
— Vamos embora daqui Guigo — digo de forma brusca e ele levanta e me acompanha sem entender nada.
Estou tremendo, pego meu celular para abrir no aplicativo do banco, vou transferir o dinheiro da conta para ele, porém estou tão nervoso que nem consigo lembrar minha senha do banco, Guigo começa a se preocupar com minha reação exaltada e repentina.
— O que aconteceu Ray?
— É ele Guigo — digo com lágrimas de ódio escorrendo em meu rosto, por um instante um pico de raiva começa a crescer dentro de mim, mas preciso segurar, não vou descontar minha raiva em cima do Guigo, não dessa vez.
— Ele quem Ray.
— O merda que nos abandonou, sabia que ele estava bem de vida, mais ai é de mais, esse merda tem um puta lugar como esse.
Guigo pensa por dois segundos e de repente vejo seus olhos se iluminando, ele matou a charada, agora ele sabe porque tenho tanto ódio desse cara, não sei se ele vai ser capaz de entender, mas pelo menos agora ele sabe, Guigo apenas me abraça, quero afastá-lo, mas não consigo, porque preciso desse abraço mais do que tudo agora.
— Vou te deixar em casa — ele diz.
— Não precisa, eu vou ficar bem, estou mais calmo agora — digo depois de ficar em seus braços por mais um tempo, ele não comenta nada sobre o que acabou de descobrir e agradeço mentalmente por isso.
— Pelo menos pede um carro de aplicativo — ele está preocupado comigo.
— Vou de ônibus mesmo, preciso pensar um pouco sobre algumas coisas.
Tem certeza que não quer que eu vá com você? — Ele insiste, mas preciso ficar sozinho para não acabar descontando minha raiva nele.
— Vou ficar bem, aviso assim que chegar em casa prometo — e assim fiz, fui para casa de ônibus e avisei quando cheguei, no portão de casa, minha mãe já sabia do ocorrido, ele deve ter ligado para ela, mas a ignoro e passo direto para meu quarto batendo a porta para deixar claro que não quero conversa, Guigo entendeu meu estado e me mandou só uma mensagem de boa noite e me desejou que ficasse bem, não sei se vou conseguir ficar numa boa agora, mas pelo menos amanhã é sábado não preciso acordar cedo, pois é vai ser uma longa noite.