— Papai, socorro! — gritou Isa, e o desespero em sua voz nos fez sair do quarto em disparada, procurando por ela pela casa. Enquanto eu checava os cômodos, Erick já havia pegado sua pistola em cima do armário, pronto para agir.
Seguimos os sons de Isa, até que a encontramos no corredor, apontando para o chão com um olhar de puro pânico.
— Uma barata! — gritou ela, fazendo nossos corações aliviarem ao entender que não se tratava de uma ameaça séria.
Trocamos olhares exasperados, sentindo o nervosismo se dissipar. Ainda que já tivéssemos passado por muitos perigos meses atrás, algo em nós sempre ficava em alerta, especialmente quando se tratava da segurança de Isa.
Erick soltou o ar em um suspiro e olhou para ela, ainda um pouco sério.
— Você tá brincando, né, Isa? — ele disse, tentando disfarçar a preocupação na voz.
— Da próxima vez, grita "barata", e não "socorro", mocinha — falei, pegando-a no colo, tentando suavizar o momento.
Isa baixou o olhar, percebendo que Erick havia ficado irritado de verdade.
— Desculpa, papai... — disse ela, com uma voz tão doce que imediatamente suavizou até a expressão de Erick.
Eu sorri e fiz carinho no rosto dela.
— Não foi nada, meu amor. Seu pai só se assustou. Ele é um medroso, você sabe disso, né? — brinquei, dando um olhar significativo para Erick, que entendeu que era hora de relaxar e se desculpar com Isa.
Erick se aproximou dela, ainda sorrindo, e a pegou no colo, enchendo-a de beijos e fazendo cócegas. A risada de Isa encheu o ambiente, e o clima de tensão desapareceu completamente. Aproveitei para pegar uma vassoura e dar um fim na causadora do alvoroço — a tal barata.
Logo, todos estávamos arrumados e prontos para a festa. Anne e Gabriel haviam planejado uma celebração de fim de ano em sua nova casa e convidaram algumas pessoas do hospital. Até minha sogra estava entre os convidados, o que me deixou um pouco nervoso.
Anne e Gabriel tinham se mudado para uma casa na mesma rua em que morávamos, o que Isa adorava, já que havia se apegado muito a eles, principalmente a Anne. Ela a via quase como uma tia ou irmã mais velha. A nova casa era linda, com um jardim espaçoso e uma piscina onde Isa adorava brincar nos dias mais ensolarados.
Os pais de Anne, depois de conhecerem a casa e verem o quanto Gabriel estava dedicado, finalmente resolveram aceitar o namoro dos dois, embora eu soubesse que o relacionamento deles ainda estava longe de ser aprovado com entusiasmo. Anne sempre fora decidida e faria de tudo para ficar com Gabriel.
Chegamos à festa e, ao ver a decoração, fiquei impressionado. O jardim estava iluminado com luzes que davam um ar romântico, havia flores espalhadas por toda a parte, e a casa estava cheia de pessoas. Muito mais do que eu esperava.
Assim que descemos do carro, fomos recebidos por Anne, que usava um vestido rosa elegante e que ressaltava sua alegria contagiante. Ela se aproximou e pegou Isa no colo, dando-lhe um abraço apertado.
— Que bom que vocês chegaram! — disse ela, sorrindo.
— Tá cheio, hein, amiga? — falei, rindo e notando que ela estava radiante.
Ela deu uma risada animada e apontou para o centro do jardim, onde havia vários instrumentos montados.
— Vai ser a festa do ano! — exclamou. — E olha só... música ao vivo! — disse, com os olhos brilhando.
— Música ao vivo? — perguntei, surpreso.
— E karaokê com banda! Tá preparado pra cantar, Yuri? — brincou ela, sabendo muito bem que eu ficava com vergonha de me apresentar.
— Nem pensar! — ri, mas internamente já sabia que, após dois ou três drinks, eu estaria no palco.
Enquanto Erick cumprimentava os amigos do trabalho, fiquei ali com Isa e Anne. Mal tive tempo de me acostumar com o ambiente quando Gabriel apareceu com um sorriso no rosto.
— Que saudade! — disse ele, me abraçando de um jeito caloroso. — Não quer mais saber do seu amigo depois que começou a namorar, né?
Eu ri, retribuindo o abraço.
— Ah, Gabriel, não fala assim. Você sabe que é meu melhor amigo — respondi, tentando acalmar seu ciúme brincalhão.
Enquanto conversávamos, notei minha sogra, Dona Helena, parada ao fundo, observando a cena. Ela era uma mulher de presença forte, de olhar atento, e desde o começo de meu relacionamento com Erick, sempre foi cautelosa comigo. Decidi me aproximar e cumprimentá-la.
— Dona Helena, é bom vê-la aqui — disse, tentando soar despreocupado.
Ela sorriu e me abraçou de leve, algo raro.
— Yuri, preciso falar com você — disse, e fez um gesto para que nos afastássemos um pouco da festa.
Nos acomodamos em um banco do jardim, e ela me olhou com uma expressão profunda.
— Você sabe que eu sou uma mãe exigente. Sempre fui muito cuidadosa com o Erick e Isa. Para mim, família é tudo, e confesso que demorei para aceitar a ideia de que meu filho estava com alguém... alguém que poderia não ser capaz de compreender tudo que ele passou. Mas, com o tempo, você provou o quanto o ama.
Senti um peso em suas palavras e minha respiração ficou mais leve. Eu não sabia o quanto ela realmente sentia sobre nosso relacionamento até aquele momento.
— Yuri, você trouxe a alegria de volta à vida do Erick. Ele voltou a sorrir, a se abrir... Ele é um homem diferente, mais leve e mais feliz. Eu vejo isso, e isso me conforta. Se eu tinha alguma dúvida sobre você antes, hoje tenho certeza de que meu filho está em boas mãos.
Minha garganta se apertou, e as lágrimas surgiram sem eu querer.
— Obrigado, Dona Helena. Isso significa muito para mim... eu realmente amo seu filho, mais do que tudo.
Ela sorriu, um sorriso emocionado, e me segurou pela mão.
— Então, cuide dele e de Isa. E, acima de tudo, cuide de você, Yuri. Um coração que ama tanto precisa estar inteiro.
Voltamos para onde estavam todos, e senti uma paz indescritível. Logo, Isa veio correndo para perto de mim, enquanto Erick observava, parecendo ainda mais feliz.
Enquanto estava ali com Isa, Erick pegava o violão e se acomodava no banco do karaokê, a festa parecia parar por alguns segundos. Era difícil acreditar que ele realmente estava prestes a cantar ali, na frente de todos, com aquele jeito sério e postura firme que sempre mantinha em público. Mas ele parecia completamente à vontade, com um leve sorriso que só eu conhecia. A banda preparava os acordes, e os primeiros sons preenchiam o ambiente.
A iluminação suave refletia nele, destacando sua expressão concentrada e o brilho no olhar que ele lançava diretamente para mim. A primeira nota que saiu foi grave e profunda, e o salão inteiro pareceu silenciar com a surpresa de ouvir Erick cantar. Aquela voz tão grave e marcante encaixava perfeitamente na melodia de "Pra Sempre com Você" do Jorge e Matheus. Ele cantava olhando fixamente para mim, como se mais ninguém estivesse ali.
Anne se aproximou, rindo e cutucando meu braço.
— Como você conseguiu esconder que ele canta assim? — ela perguntou, também surpresa.
— Ele escondeu isso até de mim, amiga! — respondi, sem tirar os olhos dele, com uma mistura de orgulho e emoção no peito.
Erick continuava a cantar, e suas palavras pareciam entrar direto no meu coração. Cada verso soava como uma declaração, lembrando-me de todos os momentos difíceis que passamos, mas também de todas as vezes em que ele esteve ao meu lado, me apoiando e me amando sem hesitar.
À medida que a música avançava, senti um calor no rosto, e não demorou para perceber que meus olhos estavam marejados. Ele cantava para mim, e, de repente, o barulho das outras conversas e risadas ao redor desapareceu. Era como se fôssemos só nós dois, ele e eu, em uma conexão invisível que envolvia apenas o nosso amor.
Assim que ele terminou a canção, o salão irrompeu em aplausos, mas Erick não saiu do palco. Em vez disso, ele se aproximou de mim, com o violão ainda pendurado e um sorriso nervoso nos lábios. O salão inteiro parecia prender a respiração, observando o que ele faria a seguir. Ele estendeu a mão para mim e, segurando-a, ajoelhou-se lentamente, mantendo o olhar preso no meu.
— Yuri, — ele começou, a voz tremendo um pouco, — desde o primeiro momento que eu te conheci, sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. Ao longo desses meses, passamos por tanto juntos, e tudo o que a gente enfrentou só fortaleceu meu amor por você. Eu não consigo imaginar minha vida sem você e Isa, sem nós três juntos, sendo a família que sempre sonhei.
Minha visão já estava turva pelas lágrimas que ameaçavam cair, e eu sabia que não era o único. Ao meu redor, alguns amigos também olhavam emocionados, em silêncio, assistindo ao momento.
Erick então segurou firme a minha mão, respirando fundo.
— Yuri, você aceita ser meu marido, ser a pessoa com quem eu quero compartilhar cada amanhecer e cada dificuldade, lado a lado, pelo resto das nossas vidas?
Eu não consegui conter as lágrimas. Com o coração acelerado e a mente em um redemoinho de emoções, mal pude responder entre os soluços de felicidade. Olhei para ele, para aquele homem que enfrentava o mundo e se mostrava vulnerável apenas para mim, e respondi, com a voz embargada:
— Claro que sim, Erick! Sim, mil vezes sim!
O salão explodiu em aplausos e comemorações, e ele me puxou para um beijo, selando ali nosso compromisso diante de todos que amávamos. Naquele momento, tudo fez sentido, e eu sabia que não havia nada mais importante do que aquele amor que compartilhávamos, forte o suficiente para sobreviver a tudo e nos dar a certeza de um “pra sempre” que começava agora.
Xxxxxxxx
Meus amores, até terça o conto "Segredos de Família" terá uma pausa e sairá apenas os capítulos finais desse conto. Amanhã, sairá o último capítulo até às 11h da manhã, e na terça, sairá o Epílogo do conto.