Segredos de Família - Capítulo 21: Uma ajuda em meio ao caos

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 2389 palavras
Data: 12/12/2024 13:33:29

Eu estava parado de frente para aquela casa que eu não conhecia, mas a pessoa que morava ali poderia ser minha única salvação. Eu não podia mais esperar Bia resolver as coisas do jeito lento dela, eu precisava fazer algo.

Toquei a campainha e uma menininha que aparentava ter uns 6 ou 7 anos, super fofa, saiu pela porta, me olhou e entrou em casa gritando "Papai, tem visita".

Um homem bonito, pardo, com seus olhos cor de mel e cabelo cacheado abriu a porta e veio em minha direção me atender.

-Bom dia - disse ele - posso ajudar?

-Oi, é que eu queria falar com o Tenente Erick, eu sou amigo da Bia. - falei nervoso

Ele me encarou por alguns segundos antes de me mandar entrar.

-Me chamo Yuri - disse ele abrindo o portão - sou o marido dele, entra, ele deve estar chegando.

A casa tinha um ar acolhedor, mas ao mesmo tempo, algo na sua simplicidade fazia com que eu me sentisse deslocado. A fachada era pintada num tom pastel que parecia desgastado pelo tempo, e algumas plantas em vasos decoravam a entrada, trazendo vida ao ambiente.

Aquela menininha, com seus cachos soltos e sorriso inocente, tinha corrido para dentro como se eu fosse apenas mais uma visita de rotina. Mas para mim, aquilo era tudo menos rotina. Eu estava à beira de um colapso. O peso de todas as decisões erradas e das coisas que eu tinha visto nos últimos dias parecia esmagar meu peito.

Quando Yuri se apresentou, percebi de imediato sua postura calma e acolhedora. Seus olhos de mel eram profundos, mas havia algo de distante neles, como se carregassem histórias demais para serem ditas. Ele era bonito de uma forma natural, despretensiosa, e sua presença parecia preencher o espaço com uma tranquilidade que eu mal podia compreender.

"Yuri... marido dele." As palavras ecoaram na minha mente por alguns segundos. Claro, fazia sentido.

— Obrigado, — murmurei, entrando meio hesitante.

A sala era simples, mas organizada. Um sofá confortável, com almofadas alinhadas, uma estante com livros e algumas fotos emolduradas. A casa cheirava a café recém-passado, misturado com um leve aroma floral que vinha de algum difusor. Era um contraste gritante com o caos que parecia seguir cada passo meu ultimamente.

— Você quer um café ou algo pra beber? — Yuri perguntou, enquanto eu me acomodava no sofá.

— Não, tô bem, obrigado. — respondi, a voz ainda um pouco trêmula.

Ele se sentou na poltrona à minha frente, me observando com uma curiosidade gentil, mas cautelosa.

— Então, amigo da Bia... — Ele começou, cruzando as pernas. — O que te traz até aqui?

Eu hesitei, encarando minhas mãos. Elas tremiam levemente.

— É complicado. Não sei por onde começar, mas... eu precisava falar com o Tenente Erick. Parece que ele é o único que pode ajudar.

— Ele é bom nisso, — Yuri comentou, com um sorriso pequeno, mas sincero. — Sempre sabe como ajudar as pessoas.

Houve uma pausa confortável, mas senti que precisava preencher o silêncio.

— E você? — perguntei, tentando mudar de assunto, talvez por covardia, talvez por curiosidade. — Como vocês se conheceram?

Yuri relaxou um pouco mais na poltrona, como se estivesse relembrando algo importante.

— Ele foi meu paciente, acredita? — Ele começou, e eu ergui as sobrancelhas, surpreso.

— Paciente?

Yuri assentiu, apoiando os braços no encosto da poltrona.

— Sou médico. Trabalho num hospital público aqui no Rio. Erick chegou lá durante uma operação que deu errado. Ele tinha sido ferido e foi parar na minha ala. — Ele fez uma pausa, como se os detalhes fossem muito pessoais para compartilhar por completo. — Ele era... quieto, muito reservado, mas tinha algo nele que me chamava atenção. Talvez a força, sabe? Mesmo machucado, mesmo vulnerável, ele ainda parecia ser a pessoa mais segura do mundo.

Eu ouvi em silêncio, absorvendo cada palavra.

— E como foi... começar a se aproximar dele? — perguntei, genuinamente curioso.

Yuri deu uma risadinha, balançando a cabeça.

— Ah, foi complicado. Ele não confiava em ninguém, e eu... bem, nunca tinha lidado com alguém como ele. Mas, aos poucos, as coisas foram acontecendo. Descobri que, por trás de toda aquela fachada de durão, ele é só um cara tentando fazer o melhor, mesmo quando o mundo tá caindo aos pedaços.

A sinceridade na voz dele me tocou. Havia algo puro na forma como ele falava de Erick, algo que parecia tão distante da confusão que era o meu próprio relacionamento com Cadu.

Antes que eu pudesse dizer algo, Yuri inclinou a cabeça levemente para o lado, me observando de novo.

— E você? — ele perguntou. — O que tá acontecendo pra você estar tão... — Ele hesitou, escolhendo as palavras com cuidado. — Tão perdido?

Eu respirei fundo, sentindo a pressão no peito aumentar novamente.

— É uma longa história, — murmurei, desviando o olhar.

— Eu tenho tempo, — ele respondeu, calmamente.

Antes que eu pudesse decidir se realmente deveria me abrir, ouvi o som de passos na entrada. Yuri se levantou, um pequeno sorriso surgindo no rosto.

— Deve ser ele.

Eu me endireitei no sofá, tentando preparar minha mente para o que viria a seguir. O Tenente Erick tinha acabado de chegar, e a sensação de que algo grande estava prestes a acontecer pairava no ar como uma tempestade prestes a desabar.

O som dos passos ecoou na entrada da casa, cada passo parecia ressoar dentro de mim como um presságio. Eu engoli em seco, tentando controlar a respiração que ficava mais curta a cada segundo. Quando Erick finalmente entrou, sua presença dominou o ambiente. Ele era alto, com uma postura rígida e um olhar afiado que parecia enxergar através das pessoas. Ele carregava um ar de autoridade, mas também uma calma perigosa, como se estivesse sempre pronto para agir.

— Yuri? — Erick chamou, franzindo o cenho ao me ver sentado no sofá. Seus olhos escanearam a sala, a postura automaticamente em alerta. — Quem é esse?

Yuri se aproximou de Erick e colocou uma mão tranquilizadora no braço dele.

— É o Yago, ele é amigo da Bia. Disse que precisava falar com você, Erick. Parece urgente.

Os olhos de Erick caíram sobre mim novamente, avaliando minha expressão. Eu sentia o peso do seu olhar como se ele pudesse enxergar todo o caos que se escondia em mim. Meus olhos começaram a arder, e eu sabia que não poderia segurar por muito mais tempo.

— Tá tudo bem? — Erick perguntou, a voz firme, mas não fria. Era o tipo de voz que você esperava ouvir de alguém que comanda, mas que também sabe ouvir.

Eu balancei a cabeça, incapaz de formar palavras no início. A respiração estava trêmula, o nó na garganta parecia impossível de soltar. Finalmente, as palavras começaram a sair, cada uma mais pesada que a anterior.

— Não... não tá tudo bem. — Minha voz saiu baixa, quase inaudível, mas Erick e Yuri ficaram atentos, se aproximando. — Eu tô... eu tô perdido. Eu não sei mais o que fazer.

Minhas mãos tremiam enquanto eu as pressionava contra as coxas, tentando me ancorar na realidade. As lágrimas começaram a escorrer, silenciosas no início, mas logo eu estava soluçando, o peso de tudo desabando de uma vez só.

— Calma, garoto. — Erick se agachou na minha frente, sua expressão era séria, mas havia algo nos seus olhos, uma mistura de compreensão e paciência. — Respira fundo. Me diz o que tá acontecendo.

Yuri se sentou ao meu lado no sofá, colocando uma mão em meu ombro. Era um toque sutil, mas me fez sentir que eu não estava sozinho.

Eu respirei fundo, ou pelo menos tentei, mas a dor no peito era insuportável. Mesmo assim, comecei a falar, atropelando as palavras.

— É o Marc. Ele... ele não é quem vocês pensam. Ele não é só um empresário, ele tá envolvido com tráfico de pessoas. — As palavras saíram rápidas, cada uma como um soco. — Ele me... ele me força a ficar perto dele, a fazer coisas... eu... eu tô preso a ele.

Erick não reagiu imediatamente. Ele permaneceu agachado, olhando para mim, deixando-me despejar tudo. Seu silêncio parecia me incentivar a continuar.

— Ele usa a empresa como fachada. Aquele lugar... — Minha voz falhou por um momento. — Ele leva pessoas pra lá e as vende. Eu tentei... tentei denunciar, mas ele sempre dá um jeito de me manipular, de me fazer ficar.

Yuri apertou levemente meu ombro, e eu o ouvi suspirar profundamente.

— Você não tá sozinho, Yago, — ele disse, a voz baixa, mas carregada de emoção. — Eu sei como é isso.

Eu olhei para ele, confuso, e Yuri começou a falar.

— Antes de conhecer o Erick, eu estive nas mãos de um traficante. — Ele engoliu em seco, claramente revivendo memórias dolorosas. — Samuel. Ele controlava tudo em minha vida. Eu achava que nunca ia escapar. Ele usava medo, chantagem, tudo que podia para me manter sob controle. Mas eu escapei. Erick me ajudou a sair dessa, e eu prometo que ele vai te ajudar também.

Yuri falava com uma firmeza que me dava esperança, mas o desespero ainda me engolia. Eu voltei o olhar para Erick, lágrimas ainda escorrendo pelo rosto.

— Por favor... eu não aguento mais. Ele vai me destruir. Vai destruir tudo. Me ajuda... eu preciso de ajuda.

Erick colocou a mão no meu joelho, um gesto firme e solidário.

— Eu vou te ajudar, Yago. — Sua voz era baixa, mas havia uma determinação nela que fez meu coração acelerar. — Mas pra isso, você vai precisar confiar em mim. Vamos fazer isso do jeito certo, pra que ele nunca mais possa machucar você ou qualquer outra pessoa.

Eu assenti, sem forças para falar mais nada. Yuri me abraçou, um gesto inesperado, mas acolhedor, e pela primeira vez em muito tempo, eu senti que talvez houvesse uma saída.

O ambiente, que antes parecia um cenário de tensão insuportável, agora tinha um calor humano, uma esperança tênue, mas real. Eu não sabia como seria o próximo passo, mas naquele momento, eu sabia que não estava mais sozinho.

Erick puxou uma cadeira para se sentar à minha frente, o olhar fixo no meu rosto. Ele parecia tentar enxergar além das palavras, como se pudesse entender minha alma só pelo meu desespero. Do outro lado, Yuri sentou ao meu lado no sofá e segurou meu braço com um aperto firme, mas reconfortante.

— Yago, respira fundo. — A voz de Erick era firme, quase uma ordem, mas não era brusca. — Eu preciso que você me conte tudo. Do começo. O que aconteceu? Como você foi parar nisso?

Engoli em seco, tentando organizar os pensamentos, mas tudo parecia um emaranhado de lembranças dolorosas e sentimentos confusos. O ambiente ao redor era aconchegante, com móveis de madeira escura, livros em uma estante alta e a luz da tarde entrando pela janela, contrastando com o peso que eu carregava dentro de mim.

—Tinha uma boate... Eu... eu só queria ajudar minha mãe. — Minha voz saiu trêmula, quase um sussurro. — A gente tava passando por um momento difícil, sabe? Eu queria ajudar a pagar as contas, aliviar um pouco pra ela.

— E foi assim que você acabou naquela boate? — Erick perguntou, a testa franzida, enquanto cruzava os braços e inclinava-se ligeiramente para frente.

— Sim. — Balancei a cabeça, desviando o olhar para o chão, sentindo a vergonha queimar meu rosto. — Eu vi um anúncio de trabalho e fui. No começo, parecia algo normal, só atender clientes, servir bebidas. Mas não demorou muito pra perceber que não era bem assim.

Yuri apertou levemente meu ombro, um gesto silencioso de apoio que me ajudou a continuar.

— Eles começaram a me oferecer mais dinheiro... se eu topasse... me prostituir. — Minha voz falhou, e eu tive que fechar os olhos por um momento, respirando fundo para segurar as lágrimas. — Eu pensei... eu pensei que seria só uma vez, que seria o suficiente. Mas não foi. Nunca era suficiente.

Os olhos de Erick ficaram mais escuros, o maxilar contraído, mas ele não disse nada, esperando que eu continuasse.

— Foi assim que conheci o Marc. — Meu coração disparou só de dizer o nome dele. — Ele era um cliente. No começo, ele parecia... legal. Gentil até. Mas tudo mudou quando ele começou a me oferecer coisas. Dinheiro, presentes... ele fez com que eu dependesse dele.

— Dependesse como? — Erick perguntou, a voz tensa, mas controlada.

— Financeiramente. Ele pagava as contas da minha mãe, me dava tudo que eu precisava, mas sempre com condições. Eu... eu achava que estava no controle, mas ele... ele sempre estava um passo à frente. — As lágrimas começaram a cair novamente, e eu nem tentei segurá-las. — Ele me tem nas mãos.

Yuri se aproximou mais, colocando um braço ao redor dos meus ombros, me puxando para um meio abraço.

— Continua, Yago, — ele incentivou, a voz suave e paternal. — Você precisa colocar isso pra fora.

— Eu... eu tô namorando o filho dele. — As palavras saíram em um soluço, como se eu tivesse arrancado algo preso na garganta. Erick arregalou os olhos, surpreso, mas não disse nada. — O Kadu... ele é maravilhoso, sabe? Ele não faz ideia de nada disso. Eu amo ele. Amo de verdade.

Meus olhos se encontraram com os de Erick, e eu vi algo mudar na expressão dele. Era como se ele finalmente entendesse a gravidade de tudo.

— Eu não quero perder o Kadu, mas eu sei que, do jeito que as coisas estão, ele vai me deixar. Ele vai descobrir, e eu vou terminar sozinho. — A dor na minha voz era quase palpável, e Yuri me apertou mais contra ele, como se quisesse me proteger de tudo.

— Você ama ele de verdade? — Erick perguntou, a voz mais suave agora, quase um sussurro.

— Amo. — Assenti, soluçando. — Mais do que qualquer coisa.

Yuri me puxou para um abraço completo dessa vez, e eu cedi, chorando contra o peito dele. Era um gesto tão simples, mas carregado de uma compaixão que eu não sentia há muito tempo.

— Você não vai terminar sozinho, Yago. — Yuri falou, a voz calma e firme, como um pai que promete proteger o filho. — Nós vamos ajudar você. Erick vai saber o que fazer.

— Yuri tá certo. — Erick se levantou, caminhando até a janela, onde ficou parado por alguns instantes, olhando para fora. — Mas pra isso, eu preciso que você confie em mim. Vamos acabar com o Marc, com tudo isso. Ele não vai mais machucar você, nem ninguém.

Eu o observei, com uma mistura de medo e esperança. Pela primeira vez em muito tempo, senti que talvez houvesse uma saída. Talvez, só talvez, eu pudesse recomeçar.

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Comentários

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Adorei, na verdade amei essa aparição do Yuri também! Hahaha ahh Thiago. Você e suas histórias tão gostosas!

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Ficou tensa a narrativa. Ansioso pelos próximos capítulos.

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