FICHA TÉCNICA:
Adaptação Livre do Filme: DESTINOS CRUZADOS
Ano: 1.999
Direção: Sydney Pollack
Elenco: Harrison Ford, Kristin Scott Thomas, Charles S. Dutton
Título original: Random Hearts
Disponível na NETFLIX
Direitos Autorais Reservados a Nassau de Montetout. Proibido a cópia e publicação sem a autorização do Autor.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a vida real terá sido mera coincidência.
O dia vinte de julho de dois mil e vinte e três marcou minha vida como nenhum outro dia nos trinta e um anos de minha vida.
Acordei com o sol de verão em meu rosto quando Analu, apelido carinhoso que eu usava quando se referia à Ana Lúcia, minha esposa e companheira. Enquanto espreguiçava, ela se atirou na cama ficando ao meu lado e disse com sua voz melodiosa:
– Acorda preguiçoso. Você vai se atrasar para o serviço.
– Não vou para a empresa hoje. Tenho uma reunião em Villaverde e vou direto para lá. Deixe-me dormir mais um pouco. – Respondi antes de um bocejo.
– A que horas é essa reunião?
– Está marcada para as dez horas.
– Que bom! Isso está me dando ideias, sabia?
– Você não tem que pegar um avião? – Perguntei tentando mudar de assunto, pois eu já sabia o que era essa ideia de Analu. Como nos últimos meses não estava valendo a pena, preferia não começar o que sabia que não acabaria bem.
– O embarque está marcado para as dez horas e trinta minutos. Ainda não são sete horas e temos tempo de sobra.
Analu tinha apenas uma camisola cobrindo seu corpo e mais nada. Também não tive tempo de despi-la, pois enquanto falava ia tirando a roupa pela cabeça e, já nua, deitou-se de lado encostando-se a mim. Ao mesmo tempo em que sentia o bico de seus seios duros cutucando meu braço direito, uma de suas pernas ficou sobre a minha. Sua mão desceu por minha barriga, entrou por baixo do elástico de minha cueca e segurou meu pau que já estava duro mesmo antes dela se deitar por causa da ereção matutina. Ela falou:
– Delícia. Já está duro como eu gosto, seu safado.
Não disse nada. Acho que homem nenhum perderia tempo nessa hora em explicar o real motivo de sua ereção. E mesmo que eu quisesse falar, não teria sido possível, pois a boca de Analu cobriu a minha e senti sua língua forçando passagem entre meus lábios e começar a explorar minha boca.
Pego de surpresa, fiquei passivo e Analu fez todo o serviço. Arrancou o meu pijama e se arrastou na cama para poder chupar meu pau e, depois de uma breve chupada, veio por cima de mim, encaixou meu pau na entrada de sua buceta e foi deixando seu corpo descer enquanto engolia enquanto acolhia meu cacete com sua buceta úmida e quente.
Não demorou muito para que ambos gozássemos. Foi um gozo simultâneo e intenso, me proporcionando um prazer que há mais de um mês eu não sentia. Depois ela correu para o banheiro enquanto eu me deixei ficar na cama curtindo a preguiça gostosa que me invadiu em virtude daquele momento que para mim parecia especial. Enquanto ouvia o barulho do chuveiro, comecei a planejar fazer algo especial para compensar Analu por ter feito algo que nos fez agir como era antes.
Fui para o banheiro quando ela saiu enrolada na toalha foi minha vez de tomar banho e quando saí ela já estava dentro de uma calcinha e sutiã azul celeste em frente ao espelho se maquiando. Era uma peça de roupa pequena, mas nada de especial, pois era igual a todas as outras que ela usava. Meia hora depois ela saiu dizendo que teria que passar na empresa que trabalhava antes de ir para o Aeroporto de Barajas, me deixando perdido em meus pensamentos.
Minha vida, se acaso eu resolvesse escrever um diário para relatar apenas acontecimentos especiais, ocuparia um caderno de cinquenta folhas, e olhe lá, pois tirando aqueles que envolveram o meu casamento com Analu, não me lembro de outros que poderiam chamar a atenção de alguém. Em suma, eu tive uma vida comum.
Minha aparência também não é de chamar a atenção, exceto pela altura de um metro e oitenta e oito. Excessivamente magro, o que fazia com que tivesse que aceitar o apelido magrão que me deram na empresa, moreno claro, com olhos e cabelos castanhos escuros. Meu pau também não tem nada de especial e, quando duro, atinge os dezesseis centímetros e a grossura também é normal. Talvez, o que se destacava em mim era minha timidez, porém, isso não conta ponto para ninguém, a não ser que você encontre uma mulher que esteja a fim de zoar com sua cara.
Filho único, nasci e cresci em uma pequena cidade do interior do Estado de São Paulo na região de Araçatuba e saí de lá aos dezenove anos quando completei a faculdade de Ciência da Computação me mudei para São Paulo por causa da inexistência de oferta de emprego nesse ramo naquela cidade. Fui admitido em uma empresa por um salário que, se não era lá essas coisas, era maior do que qualquer coisa que pudesse conseguir no interior. Mal dava para pagar o aluguel de uma quitinete e me alimentar. Minha sorte é que a oferta em São Paulo, para onde fui, era tão grande que quatro meses depois recebi um convite de uma concorrente me oferecendo o dobro do que eu ganhava. Aceitei sem pensar duas vezes.
Agora eu podia procurar um apartamento melhor para morar, mas não foi o que eu fiz. Em vez disso, comprei um carro usado através de um financiamento, carro esse que ficava mais no estacionamento do qual eu era mensalista do que me transportando. Isso se devia ao fato de meu serviço ser próximo do apartamento em que eu morava e eu nunca sair para as baladas. Melhor dizendo, para lugar nenhum.
Conheci Ana Lúcia em uma das poucas baladas que compareci. Mas foi por um bom motivo, pois era aniversário do Carlos Eduardo, um cara que sempre me tratou bem e entre nós surgiu uma boa amizade. E isso só aconteceu depois de quatro anos que morava na capital paulista. Ela é irmã de Maria Luiza, na época noiva do Cadu e fiquei com a impressão que Analu tinha recebido a missão de me fazer sentir bem durante a festa, pois permaneceu ao meu lado durante todo o tempo e foi muito simpática comigo.
Dois meses depois, lá estava eu atuando na função de padrinho de casamento de Cadu e Malu. Ana Lúcia foi madrinha de sua irmã e novamente ficamos juntos durante toda a recepção que os pais da noiva ofereceram.
Ana Lúcia estava divina em seu vestido social. Morena, com um metro e setenta de altura, corpo que a credenciava a disputar qualquer Concurso de Beleza e seu rosto correspondia, sendo perfeito, com seus olhos negros e cabelos ondulados e compridos que lhe caíam como uma cascata negra até abaixo da cintura.
O empenho dela em me fazer sentir a vontade foi tão grande que, na hora da despedida e com a voz tremendo de medo, falei:
– O que você vaaaii faazer no pró… próximo finaal de semana?
– Até agora não tenho nada programado. Por quê? – Os olhos dela estavam fixos nos meus, embora seu rosto demonstrasse a surpresa que ela estava, o que entendi como sendo provocada pela minha coragem em fazer aquela pergunta.
– Queria… Queriateconvidarparasair.
– O que? Não entendi. O que foi que você disse?
Respirei fundo e falei lentamente:
– Você aceita sair comigo?
– Lógico que eu aceito. Só não entendo porque tem que ser na semana que vem. Amanhã é domingo.
– Achei que você ia estar cansada por causa da correria do casamento de sua irmã.
– Que nada. Acho que vai até ser bom para espairecer um pouco.
Então combinamos o básico. Um passeio no Parque do Ibirapuera e talvez um cineminha depois. Foi o que aconteceu. O passeio no parque durou menos de uma hora e logo fomos para o Shopping Ibirapuera assistir a um filme. Não me lembro do nome do filme e nem sobre o que era. Fiquei o tempo todo olhando para Analu que correspondia aos meus olhares e sorria para mim mostrando seus dentes brancos e perfeitos.
Eu posso ser tímido, mas não sou nenhum idiota para não perceber que Analu e eu estávamos sintonizados e surgiu o primeiro beijo. Primeiro, segundo e sei lá quantos mais. Não contei.
Quando a deixei em casa ela se despediu de mim agradecendo pelo passeio e eu, agora mais confiante, a puxei para mim para lhe dar um beijo e ela apoiou as duas mãos no meu peito e me empurrou enquanto falava:
– Aqui não. Meus pais podem nos ver. Isso sem falar nos vizinhos.
– O que tem demais nisso? Você me parece com idade suficiente para beijar.
– É que não somos namorados. Depois vão dizer que eu fico beijando todos os homens que conheço.
– Desculpe. Tentei te beijar porque pensei que fôssemos namorados.
– A não ser que eu tenha ficado muito tonta com seus beijos e você escolheu um desses momentos, não me lembro de você ter me pedido em namoro.
Nessa hora, limpei a garganta, empostei a voz e falei como se estivesse representando o papel do cara mais romântico do mundo:
– Senhorita Ana Lúcia. A senhorita aceita namorar comigo?
A gargalhada cristalina dela encheu o carro e fiquei muito sem graça. Como achei que tinha que fazer alguma coisa para desfazer a besteira que fiz, perguntei:
– Foi tão ridículo assim?
– Não seu bobo. Foi lindo. Só estou rindo porque fui pega de surpresa. Jamais pensei que você fosse agir assim.
– Assim como?
– Assim oras! Engraçado e ao mesmo tempo romântico.
Olhei em seus olhos que se fixaram nos meus. Não sei quanto tempo passou, pois para quem está apaixonado, a relação tempo e espaço é diferente. Como ela não disse nada, arrisquei:
– Então. Isso foi um não?
– Você é muito bobinho mesmo. Lógico que é um sim. Aliás, você demorou muito.
– Mas hoje é a terceira vez que a gente se vê.
– Pois é. A terceira vez. Mas eu esperava que depois da primeira você pelo menos pedisse informações a meu respeito para o Cadu.
– Desculpe. Eu pensei que…
– Marcos…
– Pensei que…
– MARCOS…
– O que foi? Por que você está gritando comigo?
– Porque você é muito lento. Agora pare de falar e, já que estamos namorando, me beije.
Foi um beijo cheio de promessas. Daqueles primeiros beijos entre adolescentes onde as mãos ficam sobrando, pois os dois nunca sabem o que fazer com elas. A diferença é que eu já estava com vinte e cinco anos e Analu ainda ia completar vinte.
Foi um namoro normal. Tão normal que antes de transarmos vários meses se passaram, uma vez que antes tive que conquistar a confiança de Ana Lúcia. Não, ela não era mais virgem e isso causou certo constrangimento. Só que foi da parte dela, não minha, que depois de uma tarde maravilhosa em um motel, perguntou toda desconfiada:
– Você não ficou chateado por eu não ser virgem?
– Nem um pouco. Eu também não sou. – Respondi com um sorriso nos lábios.
– Ah! Mas você é homem!
– E daí? Direitos iguais, lembra? Não é isso que vocês mulheres tanto querem?
– Você não tem nada contra?
– De jeito nenhum. Desde que a igualdade valha tanto para os direitos como as obrigações, sou totalmente a favor.
Ao ouvir isso, Analu pulou sobre mim e me beijou com fúria. Quando finalmente me deixou respirar, disse com voz emocionada:
– Você é especial, sabia? Eu te amo!
O resultado daquela manifestação de amor e alegria da parte dela nos fez voltar para a cama. Tudo bem que isso fez com que o nosso tempo no motel estourasse e tivemos que pagar pelo tempo extra, o que aproveitamos para que o mesmo fosse transformado em pernoite e só saímos do motel no dia seguinte e chegássemos atrasado ao serviço.
Meu atraso foi justificado por Cadu que tinha sido promovido e era o meu chefe. O dela não sei, pois ela nunca se queixou de nada.
Depois de um ano de namoro, recebi uma proposta irrecusável. A empresa que eu trabalhava fechou um contrato com uma multinacional e precisavam de alguém para trabalhar em Madrid. A oferta foi acompanhada por um pequeno aumento salarial, porém, como a moradia seria por conta da empresa e eles ofereceram um carro para eu poder me localizar, além de despesas com combustível, o resultado final era muito vantajoso.
O problema era como resolver o meu relacionamento com Analu. Eu já tinha falado com ela a respeito de casamento e ela, embora não demonstrasse ser contrária a ideia, não se mostrou muito entusiasmada. Eu não queria ficar longe dela e resolvi fazer uma jogada. Coloquei no meu contrato que arrumassem um emprego para ela na Espanha e confirmamos nosso noivado com data marcada para o casamento. Como o tempo era curto, não foi possível casar no religioso e tampouco fazer a cerimônia que seus pais pretendiam. Mas para nós dois aquilo não significou nada, Prometemos que nos casaríamos no religioso em nossa primeira férias e eles poderiam dar a festa que quisessem. Estávamos os dois muito entusiasmados com a mudança para a Europa para nos preocuparmos com isso.
Nosso casamento, assim como nossa vida, foi totalmente normal. Conquistei a confiança de nosso cliente que por três anos renovou o contrato com a exigência de que eu continuasse a ser o elo de ligação entre minha empresa e a deles. No quarto ano, o contrato foi rompido, porém, eles fizeram uma oferta para mim que aceitei sem pensar duas vezes.
Analu também se saiu bem e dois anos depois também recebeu uma oferta de emprego. Ela tinha frequentado uma faculdade na Espanha e se tornará especialista em publicidade. Todas as campanhas promovidas pela empresa passavam por sua supervisão que tinha o direito de vetar qualquer coisa. E esse era o motivo de sua viagem naquele dia.
Quando ela me disse que teria que viajar até Ibiza, eu estranhei porque sabia que sua empresa não tinha nenhuma filial naquela ilha, mas ela me explicou que não se tratava de uma loja, mas sim de uma filmagem para a próxima campanha de biquínis que seria filmado lá e sua presença era necessária porque uma das modelos contratadas estava causando problemas.
Quando sai de casa na Calle Pizarro no Bairro, próximo ao Getafe para fazer o curto percurso até um Hotel de Luxo do Bairro Villaverde, meu pensamento era sobre os últimos quarenta dias do meu casamento que tinha mudado muito.
Analu e eu transávamos em média três vezes por semana. Ela era muito criativa e quando a rotina começa a atrapalhar, inventava alguma coisa diferente, como assistir filmes pornôs, usar brinquedos ou simplesmente ficarmos nus sobre a cama, de joelhos e olhando um nos olhos do outro, sem poder falar. Pode parecer bobo, mas dava bons resultados, pois olhar a expressão dela se alternando, ora divertida, ora séria ou então sensual, causava o efeito esperado e era sempre eu que quebrava o protocolo inventado por ela de que não podíamos nos tocar e pulava para cima dela. Para cima e para dentro.
Quarenta dias antes, ela usou uma semana das férias que tinha vencido e foi ao Brasil sozinha para visitar seus pais. Essa visita foi forçada por causa de problemas de saúde de sua mãe. Até aí tudo bem, porém, durante essa semana, alguma coisa estranha aconteceu. Houve três dias em que não consegui falar com ela, contrariando o compromisso que firmamos de nos falar todo dia e quando eu ligava para sua casa seu pai apenas informava que ela tinha saído com umas amigas.
Até aí tudo bem. O problema começou a me incomodar quando ela voltou e passou a agir de forma estranha. Embora não se recusasse a fazer sexo comigo, não era mais a mesma coisa. Ela agia de forma mecânica como se estivesse ali apenas para cumprir sua obrigação. Fora isso, era comum ela ficar pensativa e com uma cara sonhadora. Era como se ela estivesse a quilômetros dali. Para piorar ainda mais a situação, o sexo com ela não me satisfazia e parei de procurá-la. Já fazia quinze dias desde a nossa última transa e aquela reação dela naquela manhã foi uma surpresa. Não só ela que teve a iniciativa, como também foi como se tivéssemos voltado no tempo e ela agia como antigamente.
A conclusão de toda essa revisão em nosso relacionamento me deu a certeza de que eu e minha esposa precisávamos ter nossa primeira DR. Isso era uma coisa que eu detestava, até mesmo quando era para decidir qual a marca de um produto que tínhamos que comprar e, mesmo assim, seria eu a pedir por isso.
O que eu não sabia é que jamais teria a chance de ter uma conversa séria com minha esposa.
A reunião naquela tarde demorou mais do que o previsto e só saí de lá quando passava das dezesseis horas. Não tinha me ausentado nem mesmo para o almoço e tivemos que nos contentar com um lanche feito na cozinha do próprio hotel, mas, apesar do cansaço, estava contente por acreditar que tinha sido um sucesso e a empresa tinha sido bem fisgada e logo seria um novo cliente.
Em virtude da hora adiantada, decidi voltar para casa onde, depois de um banho tranquilo, coloquei o celular para despertar às dezenove horas e dormi tranquilo. Acordei antes do horário que pretendia e me deixei ficar na cama curtindo a preguiça até que o celular despertasse. Minha intenção era esquentar no microondas algum dos diversos pratos que Analu deixou preparado para sua ausência de dois dias. Pretendia me alimentar, continuar a leitura do livro que havia começado e depois voltar a dormir.
Não gosto de assistir televisão. Para me manter em dia com as notícias costumo usar a internet. Porém, enquanto esperava a comida descongelar, liguei o aparelho que existia na cozinha. Não que quisesse ouvir as notícias, procuraria por um filme e deixaria rodando apenas ouvindo as intrigas comuns em filmes para poder ouvir algum som, fugindo do silêncio profundo que era aquela casa sem minha esposa. Ao funcionar, o aparelho de TV estava sintonizado em uma novela e comecei a zapear com o controle remoto em busca de um filme.
Não cheguei a encontrar nenhum. Em uma passagem por um canal, quando já estava avançando para o próximo, ouvi alguma coisa sobre um acidente de avião. Retornei ao canal de notícias e prestei atenção.
Uma mulher, tendo como cenário de fundo uma bela praia, falava sobre a queda do voo Madri - Ibiza que, ao decolar de Valência onde fizera uma escala, tinha perdido a sustentação e caído no mar.
Acidentes de avião sempre me chamam a atenção e por isso continuei assistindo. A repórter citava a todo instante o número do voo, o que para mim não significava nada e continuei indiferente. No exato momento em que o microondas apitou informando que a operação de descongelamento estava construída, o âncora do programa fez uma retrospectiva do voo e eu gelei. O horário de saída era às dez horas e trinta minutos, o mesmo horário que Analu me dissera ser o seu voo e o mesmo destino.
Depois de chamar o número do celular dela inúmeras vezes, todas elas obtendo o resultado de ‘fora de área’, tirei forças não sei de onde e me dirigi até o Aeroporto de Barajas. Nem mesmo sei dizer quanto tempo levei para chegar lá e qual o caminho que percorri. Então começou o meu drama. O nome de Analu não estava na lista de passageiros.
Tive que insistir para conseguir que os funcionários das empresas que faziam o percurso Madri - Ibiza e com muito custo consegui descobrir algo que me deixou intrigado. O nome da minha esposa não constava em nenhum outro voo com aquele destino.
Pensei que talvez tivesse me enganado ou que então Analu tinha mentido para mim com relação ao seu destino. Isso fez com que eu fizesse nova peregrinação pelos balcões da empresa aérea e novamente a mesma informação: O nome de Ana Lúcia não constava nas listas de passageiros de nenhum voo que decolou de Barajas naquele dia. Voltei a tentar contato pelo celular e as mensagens de fora de área continuavam. Voltei ao centro de comando que a companhia aérea dona do avião sinistrado tinha montado para atender os parentes das vítimas, porém, a única coisa que consegui foi receber uma bronca do encarregado que alegou estar eu atrapalhando os serviços e que, se eu não tinha parentesco com alguma das vítimas, que, por favor, o deixasse trabalhar.
Desanimado e com o celular no ouvido escutando mais uma vez a maldita mensagem, tive minha atenção despertada para uma situação no mínimo inusitada. Uma mulher que eu jurava conhecer de algum lugar estava discutindo com um funcionário da empresa aérea e o que me chamou a atenção foi quando ela disse:
– Meu marido não estava no avião. Isso é impossível. Eu mesma trouxe ele no aeroporto hoje de manhã e ele embarcou no voo da Ibéria. – O homem perguntou o número do voo e ela respondeu com voz alterada: – Sei lá o número de voo e hora exata! Qual a importância disso?
O homem pediu para que ela aguardasse e voltou logo depois informando que o nome de seu marido não constava em nenhuma lista de passageiros com destino a Londres naquele dia. Não para os voos da Iberia ou qualquer uma de suas concorrentes. Porém, o que ele disse ao encerrar as explicações foi o que me chamou a atenção:
– Senadora Rodriguez. Essas são as informações que temos. A senhora tem que ir até Valência para fazer o reconhecimento do corpo.
Enquanto eu ligava o nome à pessoa, fiquei sabendo de onde conhecia aquela mulher. Ela era Senadora e seu rosto era visto por todos os lados uma vez que concorria à reeleição pelo Distrito de Salamanca, um dos mais caros da Espanha e provavelmente o que ela residia. Seu nome era Concepción Rodrigues e o de seu marido Fernando Rodrigues. Ele eu conhecia bem, embora não pessoalmente, por ser o principal empresário no ramo de computadores da Espanha.
Fiquei pensando sobre a situação daquela mulher ser o contrário da minha, pois enquanto eu tinha certeza de que minha esposa estava no avião e o nome dela não estava na lista, o nome de seu marido estava e ela tinha certeza de que ele não embarcou naquele avião.
Enquanto eu tentava digerir isso, um funcionário usando o mesmo uniforme que aquele que atendia a Senadora foi até ele e cochichou algo ao seu ouvido. Ele ouviu balançando a cabeça e depois, se dirigindo à mulher, perguntou:
– Senadora, temos outro problema. O seu nome consta na lista de passageiros.
– Vocês só podem estar loucos. Olhe bem rapaz. Se por acaso transpirar a notícia de que o Fernando estava naquele avião, quando ele aparecer, vou fazer com que ele processe sua empresa e peça uma fortuna como indenização. Isso por causa do absurdo que vocês estão fazendo. Só de me fazer vir até aqui já me deixa irada.
Dizendo isso ela saiu pisando duro seguida por seus seguranças e eu, depois de ficar plantado por alguns segundos, sai apressado atrás dela. Quando me aproximei, chamei por ela usando o título que seu cargo político outorgava:
– Senadora. Por favor. Posso falar com a senhora?
No mesmo instante um dos seguranças dela me cercou e falou:
– Sem entrevistas, por favor.
Dizendo isso ele se virou e foi ao encalço da mulher que não havia parado e já ia longe. Mas não longe o bastante para não me ouvir quando praticamente gritei:
– Eu sei quem é a mulher que usou seu nome para viajar com seu marido.
Lógico que ela parou. Em plena política, tudo o que ela não queria era publicidade sobre o fato de seu marido estar naquele avião, o que ela não acreditava. Foi por isso que eu me expressei daquele jeito, pois não tinha certeza do que havia acabado de afirmar e só o fizera porque sabia que assim poderia receber a atenção dela que, começou a andar em minha direção e, quando chegou perto, falou contendo sua raiva:
– Que loucura é essa? O senhor acha que isso é hora de se aparecer? Meu marido está em Londres e se você quer chamar a atenção da imprensa, fique nu ou se atire do mezanino do aeroporto.
– Desculpe, – respondi no mesmo tom. – é que achei muito estranho o nome da minha mulher não constar na lista e o seu sim.
– Quem é o senhor e o que pretende de mim? – Perguntou ela já mais interessada.
– Da senhora eu quero apenas um minuto do seu tempo. Meu nome é Marcos Pereira. Sou brasileiro, mas vivo na Espanha há cinco anos, atuo no ramo de informática…
Disse o nome da empresa que eu trabalhava e ela demonstrou conhecer. Depois ela ficou pensativa por um instante antes de perguntar?
– O que faz o senhor pensar que era o meu marido e sua esposa viajando juntos?
– Quanto ao seu marido, não sei de nada. Mas minha esposa viajou para Ibiza hoje e o horário de embarque de seu voo coincide com o que se acidentou. Embora eu tenha certeza disso, o nome dela não consta na lista de passageiros.
– Talvez ela tenha perdido o voo e…
– Já pensei nisso e verifiquei. Não consta em nenhuma outra lista. – Ao ver que ela continuava me olhando sem dizer nada, já complementei a informação: – Também já verifiquei nas listas de voos que decolaram com outro destino. Ela não está em nenhum deles.
A prova que eu estava certo quanto à pergunta que ela ia fazer, foi que ela demonstrou estar reformulando a pergunta antes de fazê-la:
– Talvez ela não tenha viajado. Provavelmente está em algum lugar aqui em Madrid mesmo. Quem sabe até em casa te esperando.
– Acho difícil. Em casa ela não está porque acabo de vir de lá. Isso sem falar que todas as minhas ligações caem na caixa de mensagens.
Ao ver o olhar turvo que ela dirigia, percebi que finalmente tinha conseguido chamar sua atenção. Ela ficou em silêncio por mais de um minuto e, quando finalmente falou, não se dirigiu a mim, mas sim para um de seus seguranças:
– Providencie um helicóptero. Preciso ir até Valência.
– Não é melhor deixar para amanhã cedo, Senadora? Vai ser difícil encontrar alguém que aceite viajar durante a noite.
– Dê um jeito. Eu quero e é para já. Se vire. Suborne as autoridades que controlam o espaço aéreo. Faça qualquer coisa, mas tem que ser para agora.
O homem saiu sem responder e ela falou para o outro:
– Consiga uma sala VIP. Não posso ficar aqui porque logo os repórteres vão descobrir essa merda e vão me bombardear de perguntas.
O segundo segurança também saiu e ficamos apenas ela e eu. Quando ela começou a caminhar, deu alguns passos e depois parou, virou-se para mim e disse:
– Acho melhor o senhor vir comigo.
Sem dizer nada, eu a segui e meia hora depois estávamos sobrevoando Madrid com destino à Valência. Na hora fiquei imaginando como era bom contar com as regalias que um cargo público oferece. Se fosse eu teria problema para chegar a Valência mesmo que fosse a pé. Meu sotaque macarrônico teria criado problemas com o preconceito que os espanhóis demonstram contra quaisquer estrangeiros, principalmente aqueles que são originários da América Latina.
Fiquei olhando para a Senadora Rodrigues que, longe do público, aparentava uma idade bem abaixo do que aquela que mostrava na mídia ou em seus comícios. Depois, quando fiquei sabendo que ela tinha trinta e cinco anos, quatro a mais eu que tinha calculado que ela contava com trinta anos. Ela passou a maior parte do tempo gasto na viagem falando com um senhor idoso que surgiu do nada e passou a agir como se fosse uma sombra dele e, pelo pouco que entendi, eles falavam de assuntos ligados à sua campanha eleitoral e as consequências do que ela estava fazendo, pois o simples fato de se deslocar até Valência poderia parecer que era uma confirmação que seu marido estava entre as vítimas do desastre aéreo e, para a imprensa, isso era um prato cheio.
Chegamos a Valência pouco antes da meia noite. Já havia uma limusine esperando por nós e uma Van para seus seguranças. Com as ruas desertas por causa da hora, chegamos ao aeroporto onde um hangar tinha sido preparado para receber os corpos das vítimas.
Depois da insistência da autoridade policial que coordenava os trabalhos de resgates dos corpos e muito a contragosto, Concepción aceitou fazer o reconhecimento do corpo que fora identificado como seu marido. Ela só fez isso quando lhe apresentaram os documentos da vítima que, em virtude do avião ter caído na água, estavam intactos. Fiquei aliviado quando ela o reconheceu e não consegui disfarçar isso quando fui lhe apresentar meus respeitos por sua dor.
Entretanto, não era dor o que ela sentia naquele momento. O que ela demonstrou foi estar com muita raiva por ter sido enganada por um homem que, dizendo que se dirigia a Londres, tinha viajado com destino à Ibiza com outra mulher e, para piorar ainda mais, usando o seu nome. O comprovante de reserva em um hotel no nome do casal só serviu para piorar a sua raiva. Então ela se dirigiu a mim falando:
– Em vez de ficar fingindo que sente muito pela minha perda, vá lá ver se o corpo da mulher que viajava com ele era mesmo a sua esposa.
Aquela frase dela fez com que eu caísse na realidade. Aquilo era algo que eu não queria fazer, mas sabia que tinha que fazer. Acompanhei um policial que levantou um plástico negro que cobria um corpo e cambaleei, sendo amparado pelo policial. Lá estava minha Analu. Seu corpo estava intacto mostrando que não sofreu nenhum ferimento e provavelmente a causa de sua morte tenha sido afogamento, o que ficou comprovado quando a perícia emitiu seu relatório.
Voltei para junto da Senadora que, ao ver minha expressão de dor, não disse nada. Eu acabara de saber que tinha perdido a minha esposa e, pior que isso, que eu era corno. Uma hora depois estávamos voando de volta para Madrid.
O corpo de Ana Lúcia foi transferido para o Brasil com a cortesia da empresa aérea. Também fui contemplado com uma passagem de cortesia e participei de toda a cerimônia me esforçando para esconder minha revolta e sem comentar nada com seus familiares. Eles não precisavam acrescentar o fato de ela estar em companhia de um amante à sua dor.
Na semana que fiquei no Brasil, resolvi investigar e a primeira coisa que fiz foi reconstituir os passos de Analu naquela semana que ela esteve por aqui. Descobri o nome da amiga que era citada como sendo a pessoa que estava junto dela nas vezes que eu tentei falar com ela e não consegui.
Foi muito doloroso ver aquela mulher, da mesma idade da minha falecida esposa, ficar tentando mentir para mim e caindo em contradição a todo momento. Entretanto, sabia que tinha que passar por cima disso e continuei pressionando até que ela não resistiu e contou a verdade.
Analu tinha conhecido Fernando no avião que a trouxe ao Brasil. Ele muito elegante a tratou muito bem e ela se sentiu atraída por ele, aceitando um convite para jantarem em uma das três noites que ele ficou em São Paulo. Do jantar para o motel foi uma questão de horas. Segundo sua amiga, ela se sentiu tão bem transando com o cara que eles voltaram a se encontrar todos os dias, sendo o segundo durante a tarde no quarto de hotel dele e o último novamente em um motel.
Eles trocaram contatos e o que parecia ser uma aventura ocasional entre um homem e uma mulher, ambos casados, evoluiu para um romance e eles mantiveram um caso durante todo esse tempo. O que aconteceu foi que o Fernando disse que estava cansado de encontros furtivos, sempre no final da tarde, horário que ela devia estar na academia, e queria algo a mais. Então eles armaram uma viagem para Ibiza onde teriam dois dias para viverem sua relação sem nenhum problema.
De posse dessas informações, mas sem nenhuma prova, voltei para a Espanha e a primeira coisa que fiz foi procurar a Senadora. Ela não gostou nada disso e me passou um sermão, me acusando de estar querendo resolver um problema que não tinha mais solução. Disse também que já tinha seus problemas com a traição e a morte do marido e ainda tinha que administrar tudo isso para não cair no conhecimento do público, o que atrapalharia em muito a sua campanha.
Em troca, a acusei de estar preocupada apenas com a política e que um dia ela iria se arrepender disso. Ela se descontrolou de vez e eu, para não ser jogado na rua por um de seus seguranças, virei as costas e saí de sua casa.
Julguei que aquela tinha sido a última vez que coloquei os olhos na figura de Concepción, só havia me esquecido que isso é impossível quando se trata de políticos. Lá estava ela nos outdoors, primeiras páginas dos jornais, nos noticiários da internet e até nas zapeadas nos canais de TV aparecia seu rosto sorridente. Era como se ela estivesse rindo de minha tragédia e eu ficava irritado todas as vezes que a via.
A Senadora era uma mulher bonita. Loira, com um metro e sessenta e sete centímetros de altura e olhos verdes. Seu corpo parecia querer provar que os políticos não trabalham muito, pois parecia ter sido esculpido através de aparelhos de alguma academia. Ou seja, ela era bonita e gostosa. Que me desculpem os políticos e todos que um dia votaram nela, mas era isso que ela era.
Toquei minha vida guardando a minha dor para curtir os momentos solitários que eram muitos. Com exceção daqueles que eu estava no serviço, o resto do tempo eu me trancava em casa e ficava tentando me dedicar a alguma coisa, porém, a leitura inacabada do livro não avançava, pois era comum eu ter que voltar mais de três vezes ao início de uma página porque, na metade dela, apesar dos meus olhos estarem decifrando as palavras, minha mente viajava e eu não conseguia seguir o enredo. O mesmo acontecia quando queria assistir a um filme, o que fazia com que eu desistisse de ler ou ficar diante de uma televisão. Tentei me distrair fazendo caminhada e foi pior, pois cada árvore, cada casa, cada poste, parecia ter gravado neles a imagem de Analu. Quando não era de minha falecida esposa era da Senadora e eu me esforçava para odiar as duas. E nem isso eu conseguia.
Tudo ficou ainda pior quando a companhia aérea entregou em meu endereço os pertences de Ana Lúcia. Cada peça de roupa que eu retirava da mala fazia surgir na minha mente a imagem dela vestida com elas. A bolsa de mão também foi entregue e só serviu para aumentar a minha dor. Seus documentos, cartões de crédito e até um talão de cheques eram provas de que ela não ia mais voltar e tudo ficava muito pior.
Até que, em um bolsinho lateral da bolsa, quase invisível por ser da mesma cor que o forro, encontrei uma chave. Não era cópia de nenhuma das chaves usadas em minha casa e imaginei que poderia ser de sua sala na empresa em que trabalhava, o que me levou a ir até lá para devolvê-la à sua chefe. Minha tentativa de boa ação só serviu para piorar as coisas, pois não era e ninguém lá me disse do que se tratava.
Porém, fiquei desconfiado de uma de suas colegas que, ao ver a chave, ficou muito nervosa. Tão nervosa que chegou a gaguejar enquanto negava ter conhecimento do que se tratava. Aquilo ligou um botão no meu desconfiômetro e, voltando para casa, fiz uma coisa que nunca tinha feito antes. Fui bisbilhotar no celular dela e a primeira surpresa foi descobrir que ela tinha colocado senha de entrada, o que antes não existia.
Consegui a senha na terceira tentativa. Era uma combinação do aniversário dela e do meu. Entrei e não encontrei muita coisa. O nome do seu amante estava lá, porém, a única que tinha para ler que não fosse a informação que a mensagem tinha sido apagada eram três, Uma enviada por ela cerca de quarenta minutos antes do horário de embarque que dizia: ”Já estou no aeroporto. Onde você está?”, a resposta do amante dizendo que já estava chegando e a dela dizendo: “Vem logo. Já estou com saudade”.
Até que a descoberta daquela chave teve alguma serventia, pois me levou a ousar invadir a privacidade da falecida e fui acometido de um ódio intenso dela e de seu amante. Por sorte, não joguei o celular no lixo depois de quebrá-lo. Eu não sabia ainda, mas ele seria de alguma utilidade.
A raiva, sempre má conselheira, me levou a procurar por Concepción. Fui até a casa dela no intuito de perguntar se ela sabia de onde era aquela chave. Dessa vez ela não brigou comigo. Em vez disso, me atendeu com a cortesia de um político em época de campanha eleitoral e chegou até a me oferecer uma bebida e, quando lhe falei sobre a chave, ela disse que não sabia do que se tratava e me aconselhou a esquecer do que tinha acontecido porque ficar remoendo aquilo só ia me causar mais sofrimento.
Controlei a vontade de mandar ela para um local nada agradável e saí dali com mais raiva ainda. Como já estava atrasado para o serviço, liguei para o meu chefe e avisei que não estava em condições de voltar naquele dia.
Passei o resto do dia vasculhando o celular dela. Tentei seu e-mail e redes sociais, pois todos estavam com a senha gravada e abriam sem problemas, mas lá não encontrei nada. Imaginando que ela poderia ter deletado as mensagens que recebeu do amante e entrei na lixeira, com o mesmo resultado. Mas as mensagens deletadas recentemente estavam lá, o que indica que ela não tinha limpado a lixeira e isso significava que, se não havia nenhuma mensagem dele ali era porque essas mensagens não existiam.
Como última tentativa antes de destruir aquele aparelho, consultei o registro de ligações e notei que havia um número de telefone fixo que havia ligado para ela em três ocasiões diferentes. Anotei o número e fui ligar meu notebook. Pela primeira vez na minha vida ia usar meus conhecimentos de informática e dar uma de hacker. Invadi o computador da companhia telefónica e descobri o endereço onde ficava o telefone. Em seguida, liguei para o número e precisei repetir a chamada três vezes para que fosse atendido. Uma voz desleixada me informou que era de um telefone público e, com muito custo, consegui o endereço.
Ficava em um bairro residencial próximo ao centro onde a maioria dos prédios era enorme contendo apartamentos pequenos, o que quer dizer que havia uma enormidade de possibilidades. Tive a ideia de pegar uma fotografia de Analu e ficar próximo ao telefone perguntando para as pessoas que saiam dos prédios se já a tinham visto. No último momento me lembrei de levar também uma fotografia de seu amante e, como eu não tinha, peguei uma da internet. A fotografia dele tinha sido divulgada com muita frequência depois do acidente. Evitando ler as notícias que sempre o classificavam como marido exemplar e empresário honesto, copiei a foto e melhorei para ter uma boa impressão. Fiz uma impressão, mas como não ficou muito boa, passei a foto para o meu celular.
Na manhã seguinte sequer tive o trabalho de informar que novamente estaria ausente do meu trabalho e me dirigi ao local. Passei a manhã toda mostrando as fotos e consegui encontrar três pessoas que disseram já ter visto Analu por ali e duas que viram o Fernando. Porém, nenhuma delas puderam me dizer qual o prédio e apartamento que eles ocupavam.
Quando a fome apertou, comi um lanche e voltei a minha investigação. No período da tarde consegui mais duas respostas afirmativas quanto ao fato de eles serem visto nas redondezas, porém, mais uma vez não adiantou nada, pois esses também não sabiam dar a informação que eu precisava.
Quando percebi, já tinha passado das dezesseis horas e decidi que estava na hora de ir embora, deixando para decidir se iria voltar ali ou não quando estivesse em casa. E foi justamente nessa hora que minha sorte mudou, pois quando eu estava manobrando o carro para sair, vi uma mulher descer de um carro e se dirigir com passos firmes a um dos prédios. Fiquei atônito, pois era ninguém menos que a Senadora. A mulher que dizia não ter conhecimento da finalidade daquela chave.
Desci do carro e a segui. Quando cheguei à frente do prédio vi que ela conversava com o porteiro e procurei ficar escondido. Notei que ela insistia sobre alguma coisa com o porteiro que respondia com negativas. A situação continuou a mesma mesmo depois que ela lhe mostrou seu documento de identidade, o que entendi que ela estava dizendo a ele quem era e muito provavelmente aplicando nele a famosa ‘carteirada’. Não adiantou e ele continuou a negar. A situação só se resolveu quando ela abriu sua bolsa, tirou sua carteira e de dentro dela duas notas de cem euros que foram parar na mão do porteiro que, na mesma hora, virou-lhe as costas e começou a mexer em um armário que havia atrás dele como se estivesse distraído e Concepción se dirigiu ao elevador.
Assim que a porta do elevador se fechou eu entrei no prédio e respondi ao porteiro quando ele perguntou o que eu queria:
– Estou com a Senadora. Sou o guarda costas dela.
Não sei se a mentira colou e nem havia como, pois eu já tinha visto em que andar o elevador parara no terceiro andar e quando acabei de falar já tinha começado a subir a escada de dois em dois degraus. Foi o suficiente, pois quando cheguei ao segundo andar, antes de abrir a porta que me daria acesso ao corredor, ouvi os sons dos saltos dela no piso de cerâmica. Aguardei e, quando ela parou, abri uma fresta na porta e a vi usando uma chave para abrir a porta e entrar. Para não chamar a atenção, andei calmamente até lá e experimentei a chave que era de Analu e a porta se abriu sem problemas.
Quando entrei no apartamento, Concepción estava em pé no meio da sala apreciando a decoração, se é que se pode chamar de decoração um sofá e uma estante cujo único propósito era conter um aparelho de televisão. A surpresa de me ver fez com que ela corresse para o único quarto do apartamento e eu fui atrás. Eu tinha ligado o ‘foda-se’ e estava pronto para dar umas porradas naquela política de merda se ela viesse com aquela conversa fiada de esquecer tudo. Eu estava certo de que ela iria reagir quando eu entrasse no quarto e se visse sem saída.
Não foi o que aconteceu. A surpresa paralisou a nós dois.
Se a decoração na sala era praticamente inexistente, a do quarto era um luxo só. Uma cama king size tomava mais da metade do quarto e para todo o lado que se olhava havia espelhos. Até no teto. A cabeceira da cama era munida com botões que controlavam o som, o ar condicionado e um aparelho de televisão que cobria toda a parede que ficava em frente da cama. A roupa de cama, a cortina eram o que existe de mais fino e o tapete, por si só, valia uma fortuna. Não bastasse isso, o espaço que antes servia como cozinha foi remodelada e transformada em um banheiro que não era nada simples. Até uma hidromassagem existia lá e em um canto uma geladeira novinha.
Eu não acreditava que em apenas um mês aquele homem providenciara tudo aquilo. Para mim, ele já era um contumaz comedor e aquele apartamento já existia antes de ele e Analu se conhecerem. Espantado, fiz uma pergunta nada pertinente para Concepción, querendo confirmar minhas suspeitas. Com uma voz abafada pela raiva ela confessou:
– O Fernando já tinha esse apartamento. Eu tomei conhecimento dele através de uma mulher que eu pensava ser minha amiga, mas em vez disso foi amante dele e frequentadora desse lugar. Foi ela que me deu o endereço.
– Para mim isso é conversa fiada. Você já sabia da existência dele assim como sabia do caso que ele mantinha com minha esposa. Pelo jeito você é uma corna conformada.
Isso foi a gota d’água. Com os olhos cegos por causa das lágrimas que teimavam em escorrer de seus olhos, a Senadora avançou em mim e começou a esmurrar meu peito enquanto falava:
– Seu filho de uma puta. Quem você pensa que é? Seu maldito insensível que não respeita a dor dos outros.
Dor dos outros? Será que aquela mulher queria entrar em uma disputa comigo para descobrir quem estava sofrendo mais?
Entretanto, não tive coragem de agredir ela e consegui me controlar, segurando seus pulsos para que ela parasse de me agredir. Isso fez com que nossos corpos ficassem colados e ela levantou o rosto e me encarou. Ficamos paralisados, um olhando para o outro sem dizer nada. Fiquei admirando seu rosto e pela primeira vez reparei o quanto ela era bonita. Seus cabelos loiros e curtos sem um único fio fora do lugar, seus olhos azuis arregalados com as lágrimas escorrendo e borrando toda a sua maquiagem e a harmonia de seu nariz que parecia ter sido esculpido por um artista, seus lábios carnudos e as maçãs de seu rosto rosados.
Então aconteceu algo que eu não esperava e fiquei sem reação. De repente, aproveitando que eu tinha afrouxado a pressão que fazia em seus pulsos, Concepción levou suas duas mãos, e as minhas que ainda a segurava, para trás do meu pescoço e vi seu rosto se aproximando de mim. Ela estava nas pontas dos pés e mesmo assim seu rosto ficava abaixo do meu, o que fez com que ela fizesse pressão para que eu abaixasse minha cabeça.
E nossos lábios se encontraram. Um beijo intenso e molhado onde logo nossas salivas se misturaram com suas lágrimas enquanto ela sugava minha língua como se precisasse disso para sobreviver.
Não houve nenhum diálogo. Nossas roupas foram arrancadas do corpo com a velocidade que a urgência do desejo que se apoderou de nós exigia e caímos na cama já nus. Concepción, embaixo de mim, levantava seu quadril como se seu corpo estivesse sendo comandado por sua buceta que buscava pelo objeto de seu desejo. Não satisfeita, usou uma das mãos para segurar meu pau e colocá-lo na posição correta. Soltei meu peso e senti meu membro ser engolido por um poço úmido e quente. Sua buceta parecia não se satisfazer apenas com os movimentos ligeiros que eu fazia para foder e fazia movimentos musculares. Era como se uma boca sem nenhum dente estivesse mastigando meu pau.
Nenhuma palavra foi dita. Os sons que se ouviam eram aqueles provocados por nossos gemidos de prazer e os gritos que demos quando gozamos juntos. Enchi sua buceta com meu esperma e ela, mesmo depois de ter gozado, ficou rebolando e se movimentando até gozar mais uma vez para depois permanecer imóvel sem reclamar do meu peso que ainda estava sobre ela, onde fiquei até que o meu pau amolecesse e saísse de dentro de sua buceta. Rolei para o lado e fiquei paralisado. Eu não conseguia entender o que tinha acontecido e não tinha a mínima ideia do que fazer a seguir.
Foi ela que me convidou para irmos até a hidromassagem onde transamos mais uma vez.
Voltamos para a cama e ela ligou o aparelho de TV optando por uma comédia romântica. Fiquei impressionado como ela se divertia com as piadas fracas que os artistas recitavam, como se emocionava nos momentos dramáticos e chegou até mesmo a aplaudir quando o casal central do filme se acertaram no tradicional felizes para sempre.
A reação de Concepción atingiu em cheio o objetivo, pois acredito que era essa a sua intenção. Na medida em que o tempo passava fui me desligando da minha dor e nem pensava em Analu. A prova disso foi quando ela tocou no nome da falecida.
Fui pego de surpresa. Mas ela falou com tanta naturalidade que não senti nada ao ouvir sua pergunta:
– Você comia o cuzinho de sua esposa?
– Comia sim. Não era frequente, mas acontecia de tempos em tempos.
– O Fernando nunca quis foder o meu. Ele dizia que isso é coisa de vagabunda. Mas pelo jeito você não pensa assim, pois eu sei o quanto amava sua esposa e mesmo assim fala disso sem se exaltar.
– Para mim sempre foi uma prova de amor.
– Ah! Quer dizer então que ela não gostava e só aceitava fazer porque te amava?
– Não é bem assim. Ela fazia porque gostava. Tanto é que quando isso acontecia ela gozava muito.
Concepción ficou pensando quieta. Ao que tudo indicava, ela estava pensando sobre o que eu tinha lhe dito. Depois de cinco minutos de silêncio, ela falou:
– Posso te pedir uma coisa?
– Já sei. Você vai pedir para eu foder o seu cuzinho e a resposta é sim. Eu quero.
– Que você vai foder meu cuzinho eu já sei. É inevitável e eu quero muito. Então não é isso que eu ia te pedir.
– E o que você ia pedir?
– Eu queria te pedir para que você seja carinhoso comigo. É minha primeira vez e estou com medo. Quero também pedir para que, se eu pedir para você parar, vai ser porque estarei sentindo muita dor e você tem que me prometer que vai parar. E tem mais uma coisa. Se você conseguir, faça bem gostoso e me faça gozar. Não pare até eu gozar, está bem?
Respondi com um beijo em sua boca e depois pedi para ela ficar de quatro e comecei a estimular seu rabinho com minha língua. Depois usei um dedo e quando ela começou a gemer enfiei mais um até que ela mesma pediu:
– Acho que já está bom. Agora vem. Fode minha bunda. Come o cu de uma Senadora.
Apenas mandei ela se deitar de ladinho e erguer uma perna. Quando ela obedeceu, ajudei com a mão a sustentar o peso da perna levantada enquanto com a outra que estava sob seu corpo, passei a fazer carinhos em um de seus seios. Só então lhe disse:
– Minhas mãos estão ocupadas. Pegue você meu pau e coloque na entrada de seu cuzinho.
Concepción me obedeceu. Sem dizer nada, ela pegou meu pau e, antes de levar até sua bunda, esfregou ao longo de sua buceta molhada e eu, achando uma que a ideia dela era muito boa, forcei a entrada e penetrei sua xoxota. Ela, gemendo disso:
– O que você está fazendo? Não é aí. Buraco errado.
– Estou só lubrificando meu pau para ficar mais fácil. Sua buceta está molhadinha.
– Hum! Bem pensando. Gostei. Aiiiiii.
O grito dela foi porque, enquanto ela falava, soltei sua perna e saí de dentro de sua buceta. Depois segurei eu mesmo meu pau e coloquei na porta de seu cuzinho forçando até que a cabeça entrasse.
– Ai, ai, ai. Como dói.
– Calma. Logo você se acostuma. – Ela virou a cabeça para trás para me olhar nos olhos e eu, entendendo aquele gesto como uma censura, perguntei:
– Você quer que eu tire?
– Não se atreva a tirar. Já estou me acostumando. Enfia mais, enfia.
Não só enfiei, como fiquei socando meu pau naquele cuzinho apertado. Tão apertado que meu pau doía. Mas a dor foi cedendo espaço ao prazer e logo a voz chorosa da Senadora pedia:
– Ai seu gostoso. Fode minha xoxota, fode. Se meu marido achava que isso era coisa de puta, então eu quero ser puta o resto da minha vida. Mas eu quero ser a sua puta.
A voz dela, enquanto falava, foi ficando mais aguda e mal parou de falar começou a gritar que estava gozando. Não consegui resistir e gozei inundando aquele cuzinho de porra.
Depois disso, tomamos mais um banho e pedimos uma pizza que foi devorada com a ajuda de um vinho dos vários que tinha no apartamento. Depois nos deitamos e logo fomos dominados pelo cansaço e sono. No dia seguinte, acordamos antes do sol raiar e ainda transamos mais uma vez antes de irmos embora.
Concepción, em momento algum pediu para que eu mantivesse segredo de nossa noite. Mas eu sabia que jamais comentaria com alguém sobre aquela noite maravilhosa que ela me proporcionou.
Como diz a letra da música Almas Gêmeas do Fábio Júnior, aquela mulher agiu como se tivesse enfiado a mão no meu peito e arrancado o mal pela raiz. A partir daquele dia, passei a encarar a traição de Analu com menos rancor até que a raiva e o ódio caíram no esquecimento.
Seis meses depois, em agosto de 2023, voltei para o Brasil e hoje completa oito meses que estou em um novo relacionamento. Dessa vez, porém, quero fazer as coisas diferentes e manter esse relacionamento aberto para novas experiências. Já tentamos um ménage e fomos bem sucedidos e agora estamos conversando sobre dar um passo a mais. Ela quer um ménage com outro homem e estou disposto a aceitar.
Quando penso nisso, fico imaginando que, se eu tivesse tido um relacionamento liberal com Analu, ela não precisaria fazer nada escondido de mim, o que evitaria a viagem que acabou em uma tragédia.