"As possibilidades de felicidade são egoístas, meu amor. Viver a liberdade, amar de verdade, só se for a dois... só a dois. - Cazuza"
A segunda-feira chegou com o cheiro de novo desafio no ar. O relógio da escola parecia arrastado e as conversas sobre o "desafio Isabela" se espalhavam como fogo em palha seca. Camila, com seus fones de ouvido e olhos vazios, sabia que algo estava prestes a acontecer. Ela podia sentir a tensão no ar. Não era apenas o estigma de "rebeldia" que a perseguia; era algo mais, algo que ela ainda não procurava entender, já bastavam os problemas com sua mãe dentro de casa.
Lucas, seu amigo inseparável e cúmplice, se aproximou com aquele sorriso conspiratório. Ele estava segurando o celular, os dedos ágeis passando pelas telas, e a mensagem estampada na tela era impossível de ignorar.
Lucas: Camila, você já viu isso? A rainha está desafiando você, ou melhor, ‘as rebeldes’ - disse, com um tom que era metade diversão, metade ironia.
Camila não precisava olhar duas vezes para saber do que se tratava. Era uma postagem de Isabela, claro. A garota que sempre se achava a dona do pedaço. A foto era deslumbrante — Isabela, com seu sorriso perfeito e olhar de quem comandava o universo, rodeada por suas “estrelas” — Larissa, Bianca e Marina. A legenda era clara: “Se você acha que tem estilo, me mostre, sexta-feira após a última aula. Mas, por favor, algo mais interessante do que esse look de brechó.”
Camila olhou para Lucas e deu uma risada amarga, sem esconder o sarcasmo.
Camila: Eu devia ficar impressionada? Ela acha que pode me desafiar na minha própria zona de conforto?
Lucas levantou uma sobrancelha, rindo.
Lucas: Acho que você vai ter que provar que está em outro nível. A dúvida no olhar dela foi quase palpável.
O sorriso de Camila foi rápido, mas cheio de decisão.
Camila: Ela quer um desafio? Vou dar o melhor desafio que ela já viu. - Mas Camila não estava pensando em suas roupas, e sim no passado com Isabela.
Nos dias seguintes, Camila não perdeu tempo. Ela sabia que para quebrar o jogo de Isabela, não poderia apenas reagir de maneira previsível. Isabela esperava uma Camila que se importasse com as aparências, com as marcas e o glamour. Mas Camila não era isso. Ela não precisava ser alguém que se encaixasse. Ela seria a própria quebra de expectativas.
A semana passou cheia de provocações entre os dois lados, mas Camila já se preparava para o desafio mentalmente, pois já sabia exatamente o que fazer no dia. Chegou o dia. O pátio da escola estava lotado de alunos ansiosos, e Camila sabia que os olhares estavam voltados para ela. Ao lado de Lucas, que estava claramente se divertindo com a situação, ela respirou fundo. Isabela, como sempre, estava cercada pelas suas amigas. O grupo parecia imbatível, dominando a cena como se o mundo fosse só delas. Mas o que Isabela não sabia era que sua tentativa de humilhar Camila estava prestes a ter um efeito diferente do esperado.
Isabela estava deslumbrante com seu conjunto Secret branco e acessórios dourados para constratar. A primeira coisa que Isabela fez ao ver Camila foi olhar com aquele sorriso superior, como se quisesse dizer: “Você não tem chance”. Mas então, ela parou. O que Camila estava vestindo não era nada como ela esperava.
Camila usava uma camiseta de banda, simples e direta, mas a peça-chave era a jaqueta de couro vintage que pendia sobre seus ombros. A jaqueta não era uma peça da moda, não vinha de uma vitrine chique, mas exalava algo mais — história, autenticidade, e uma confiança que Isabela não conseguia entender. Seus jeans surrados, que pareciam feitos para desafiar qualquer padrão de beleza imposto, só reforçavam a aura de quem não tinha tempo para futilidades.
Isabela tentou manter o semblante de quem estava no controle, mas seus olhos a traíam ela não entedia o motivo, mas seu olhar estava vidrado em Camila. Em um momento de sanidade ela viu os outros alunos olhando para Camila, a reação deles era... diferente. Não era a aprovação que Isabela costumava obter com sua perfeição polida, mas algo mais genuíno.
Camila avançou em direção a ela com um passo decidido. Isabela se recompôs e, com uma falsa leveza, cruzou os braços.
Isabela: Então, Camila... é assim que você se destaca? Usando coisas velhas? - Perguntou, com aquele tom doce que sempre disfarçava a intenção de fazer um corte.
Camila não sorriu, mas seu olhar desafiador era como uma lâmina afiada.
Camila: Não tenho que me preocupar em agradar você, Isabela. Não preciso de roupas caras para ser alguém. O que eu uso, uso porque gosto. Algo que você talvez não entenda.
A resposta foi direta e cortante. A tensão entre as duas aumentava a cada segundo, e, ao redor delas, o silêncio se tornava mais pesado. Isabela franziu a testa, tentando se recuperar do golpe. Ela não esperava que Camila tivesse a audácia de falar assim.
Isabela: Você acha que... isso é suficiente? - Forçou uma risada, mas ela soou vazia. - Você não pode competir com a perfeição. O mundo sempre vai olhar para quem tem mais, Camila.
Camila a olhou com um sorriso enigmático, como se soubesse algo que Isabela ainda não entendia, se aproximou quase colando suas testas, nessa distância podia sentir a respiração de Isabela.
Camila: Eu não estou competindo, Isabela. Eu sou única. E isso, sim, faz toda a diferença.
Isabela sentiu um calafrio percorrer sua espinha, um misto de raiva e... algo mais. Algo que ela não queria admitir, mas que estava se tornando impossível ignorar. Talvez fosse a confiança crua de Camila. Talvez fosse a forma como ela não se importava com os padrões que tanto a incomodavam.
Isabela: Você... você acha que pode me desafiar em meu próprio jogo?- Tentou falar, mas suas palavras estavam mais vazias do que queria deixar transparecer.
Camila deu um passo à frente, os olhos queimando com uma intensidade que era difícil de ignorar.
Camila: Eu não estou jogando o seu jogo, Isabela. Eu estou jogando o meu. E isso, querida, é algo que você nunca vai entender.
E, com isso, Camila se virou, sentindo a energia de uma vitória que não estava nos olhares ou nas palavras. Ela sabia que tinha algo que Isabela nunca teria — a liberdade de ser quem realmente era.
Mas, naquele momento, algo estranho aconteceu. Isabela ficou ali, parada, observando Camila com um misto de raiva e surpresa, enquanto uma onda de algo inexplicável surgia dentro dela. A sensação foi tão forte que a fez perder o rumo por um segundo. Algo na maneira como Camila a olhou... uma intensidade tão inesperada... Um arrepio percorreu sua espinha, e ela teve que desviar o olhar rapidamente.
E, no fundo, Isabela sabia: aquilo não era só sobre estilo.