“Queria te falar tantas coisas, queria te falar do meu amor que muito tempo não é correspondido, queria te falar de minhas lágrimas, do meu sofrimento, da minha dor e da minha paixão. - Cazuza”
A casa de Camila, espaçosa e elegante, guardava muitas memórias. O cheiro de pão fresco e café sempre a fazia lembrar dos tempos em que sua mãe, carinhosa e cheia de vida, acordava a todos com beijos e abraços. Antes da tragédia que abalou suas vidas, a casa era repleta de risadas e o som das brincadeiras de Pedro com seu pai. Aquela era uma época em que Camila se sentia protegida, amada, e as paredes da casa refletiam calor e felicidade.
Mas agora, dois anos após o acidente fatal que levou seu pai, tudo parecia diferente. O brilho nos olhos de sua mãe havia desaparecido, substituído por uma determinação rígida e uma frieza que ela usava como escudo. Mesmo assim, Camila sabia que tudo o que a mãe fazia era por eles, por ela e por Pedro. Apesar do distanciamento emocional, sua mãe ainda se preocupava profundamente, embora não soubesse mais como demonstrar isso.
Pedro, agora com 12 anos, ainda tinha lembranças vivas de seu pai. Ele era o tipo de criança que observava tudo, absorvendo cada detalhe. O amor que ele sentia pelo pai era palpável, e a ausência dele deixou uma lacuna em sua vida que nem Camila nem a mãe sabiam como preencher. Pedro sentia falta das conversas antes de dormir, dos passeios na fazenda e da voz calma de seu pai o guiando nos momentos difíceis.
Naquela tarde, ao chegar em casa, Camila encontrou Pedro na sala de estar, olhando para um álbum de fotos antigo. Ela se aproximou silenciosamente, sentando-se ao lado dele. As fotos mostravam uma família feliz: sua mãe rindo com o pai, Pedro no colo do pai, e ela mesma, mais jovem, abraçada pelos dois.
Pedro: Eu sinto falta dele -disse, com a voz baixa, mas cheia de emoção.
Camila colocou a mão no ombro do irmão, sentindo o peso das palavras dele e olhando para a jaqueta que ela usava e fora o último presente de seu pai.
Camila: Eu também, Pedro. Todos nós sentimos - Camila respondeu, tentando esconder a própria dor.
Pedro: Por que a mamãe mudou tanto? -ele perguntou, com os olhos cheios de tristeza que alguém na sua idade não deveria carregar.
Camila não sabia como responder. Era difícil explicar que a dor da perda havia transformado sua mãe de uma forma que ninguém esperava.Antes que Camila pudesse encontrar as palavras, sua mãe apareceu na porta, segurando uma bandeja com pamonha e suco. Era algo que não acontecia a algum tempo, os três ali apreciando o que o goiano faz de melhor, e havia uma suavidade em seu olhar que Camila não via há muito tempo.
Stefhany: Eu pensei que vocês poderiam gostar de um lanche - sua mãe disse, colocando a bandeja na mesa.
Camila e Pedro trocaram olhares, surpresos, mas felizes com a surpresa. Enquanto eles comiam em silêncio, a mãe de Camila olhou para eles com um olhar distante, mas não sem emoção. Ela sabia que estava falhando em demonstrar afeto, mas tentava, mesmo que fosse difícil.
Stefhany: Pedro, sei que as coisas são diferentes, mas quero que saiba que amo vocês dois - sua mãe finalmente disse, com a voz trêmula.
Pedro a abraçou, e Camila sentiu um nó na garganta. Apesar de tudo, ela ainda era a mãe amorosa que lembrava, só que agora estava lutando contra uma dor que parecia interminável. Aquele momento, por mais breve que fosse, trouxe uma pequena fagulha de esperança para Camila. Talvez, aos poucos, elas pudessem voltar a ser a família que eram antes, mesmo que a ausência de seu pai fosse uma constante lembrança da perda.
Camila sabia que a jornada seria longa, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que havia uma chance de reconciliação e cura.