Eu amo meu marido
Quando a cirurgia terminou chegaram o cirurgião plástico, uma cirurgiã ginecológica e outra cirurgiã oncológica, nos levaram para uma enfermaria, perguntam a todo instante se poderiam ficar apenas os mais próximos, eu respiro fundo e digo que sou o marido, eu gosto de repetir que sou casado no papel e na igreja, mas quem disse dessa vez foi Hugo, fico puto, mas Hugo diz que todos estávamos lá desde às dez da manhã, e eram onze da noite, estava longe de alguém dizer que não éramos todos parte da mesma família.
Foi assim que acabamos todos na mesma enfermaria ouvindo que era necessário histopatológico para dar certeza, mas aparentemente eram apenas nódulos benignos, isso dá um alívio e Kate começa a chorar, o cabelo de Estela agora era ruivo (próximo do original) e num Joãozinho desfiado, os estudantes disseram que foi assim que Beni começou, a equipe respondia questões mais técnicas de Mateus, Kate pergunta quando ela e Beni poderiam transar, a cirurgiã plástica disse que achou que Beni era casado comigo, Kate disse que eu não tinha xoxota. Agora eram duas questões: ia demorar mais tempo para transar com um homem do quê com uma mulher?
Nesse momento alguém bate a porta e abre, Fátima diz que só veio deixar umas flores e perguntar sobre... Ela estava com um vestido rosa escuro e eu desmaiei. Não faço ideia do que aconteceu, mas acordei não sei quanto tempo depois, Daniel e Hugo no quarto, meu marido deitado num sofá dormindo, Hugo segurava minha mão e mexia no celular. Ele fez que ia acordar Daniel, mas pedi que não, ele disse que era duas e meia da manhã, eu não iria embora antes de saber o que estava acontecendo com meu coração, ele disse que eu era a prova dos quatro, eu disse que lamentava.
Ele pediu para eu falar que eu não gostava dele porque ele era rico, esnobe e cheirava bem como a burguesia, eu ri e disse que sim, ele disse que deu em cima de Priscila quando a conheceu, e ela disse isso a ele que o odiava porque ele era rico, esnobe e cheirava bem como a burguesia, dois meses depois eles eram amigos, ele disse que merecia uma chance, ele era grandão e forte como um galã de malhação, usava um cabelo mullet e roupas caras demais que pareciam despojadas. Ele pergunta se podia diminuir a potência do ar, estava frio e Daniel parecia arrepiado, agradeci pelo cuidado, pedi para ver meu prontuário, ele disse que eu desmaiei quando vi aquela mulher com flores, ele apontou as flores e eu pedi para ele jogar as flores, ele viu meu pulso acelerar e saiu para se desfazer de tulipas que devem ter custado caro, voltou depois de deixar as flores na capela, agradeci também por esse cuidado.
Ele me olha e diz que queria ser meu amigo mas tinha de dizer uma coisa sempre quis comer Priscila e essa vontade aumentou quando Benício surgiu, ele me pergunta se era gay, diz que se sente um cuzão por achar Beni um tipo de homem diferente dele e de mim, eu digo que Beni era um cara diferente, era um homem trans e nós não. Ele diz que antes de Beni era muito homofóbico, Ricardo era sem preconceito com todo tipo de gente, o cara mais boa praça do mundo, apesar da merda de vida que é a dele, a cabeça de Jonas era um show a parte, ele diz que se acha o pior dos quatro, Daniel resmunga e muda de lugar, eu peço pra ir no banheiro e Hugo me ajuda, sento no vaso mas não era nada, Hugo do meu lado segurando o soro, ajudando a levantar, me leva pra cama, Daniel acorda e o ajuda a me acomodar outra vez na cama.
Conversamos, Hugo diz que o pai de Kate estava vendo um jeito de mandar ela e a prima para fora do país, Portugal talvez, Daniel disse que era a coisa certa pelo motivo errado, pergunta se ele gostava das meninas para ir com elas, Hugo começa a chorar e diz que não, ele diz que não sente carinho por mulher alguma, só vontade de foder, muita, muita, muita, ninguém podia pensar diferente, mas não pode voltar pra casa sabendo que Beni está em observação na UTI, eu pergunto se ele iria para Portugal se Jonas fosse, ele fica puto, se controla e diz que iria, mas não sente nenhuma vontade de beijar Jonas, já conversaram sobre isso, o enfermeiro entra e acende a luz, depois se desculpa, eu o conhecia, corrijo o proceder dele e ele se envergonha, vê meus dados, anota, pergunta se fui ao banheiro, digo que não consegui urinar, ele diz que não tenho bebido água, tem uma infecção urinária, Hugo pede pra ver todos os prontuários que eu tenho, faz umas anotações e diz que vai detonar os safados. Digo que não tenho endocardite, ele diz que é uma possibilidade aberta.
Ficamos conversando por algum tempo quando o enfermeiro volta, diz que voltou só pela fofoca, mas podia ir embora se a gente estivesse indo descansar. Digo que são meus amigos, digo que Daniel é... mando o enfermeiro fechar a porta, Hugo observa o cara e eu observo Hugo, volto a dizer que estou casado, somos um trisal Beni que estava se recuperando da cirurgia, Daniel e eu. O rapaz solta a franga, mãozinha na boca e no peito, diz que nunca no Brasil iria imaginar o escândalo, logo eu o super-macho... Digo que de vez em quando, duas ou três vezes por mês a gente pega umas putinhas, o rapaz é indiscreto, digo que não é um pau que faz um homem, ele por exemplo tinha pau e nunca foi homem, sempre a cocotinha, ele dá uma bichadinha e rebola, diz que sou um cavalheiro, digo que duas coisas não se nega a ninguém água e boquete, eu queria um copo de água e que ele fizesse um boquete em Daniel e em Hugo ao mesmo tempo, mas no sigilo, se a coisa vaza nós dois perdemos o emprego.
A bichinha diz que precisa avisar que estava jogando papo fora comigo, Daniel diz que pode ir em seu lugar precisava dessa gulosa e tinha medo de passar a noite na punheta, Daniel vai e volta e diz que o pessoal diz que gostam de mim, ele diz que ajudo os novatos, ajudava, deixei de ser mestre, fala com cara feia, arruma a boca, pede o restante da água, pede para fazerem silêncio, liga a televisão, ele se ajoelha e Hugo recua, o técnico em enfermagem diz que tem dois mestrados em boiolagem, não ia arranhar o pau de um gatinho desse, ele ajoelha e pergunta porque playboy cheira tão bem, eu tento segurar a gargalhada, mas é impossível.
Daniel diz que um veadinho assim não é uma mulher, eram outros carinhos, segura a cabeça do boiola e enfia o pau meio duro, o rapaz chora e é solto, Daniel pergunta se ele gostou da pressão, o rapazinho diz que sim e chupa o pau de Daniel e deixa no grau, passa para Hugo, Daniel vem me beijar, o rapaz se levanta pra ver, suspira e diz que é melhor que a mega da virada, Daniel o pega e fode bem a garganta do putinho e diz que um dia vai surgir o cara certo pra ele, o rapaz quando liberado mostra uma aliança na corrente do pescoço, diz que seu boy é eletricista, rústico, escândalo; a conversa dura pouco, batem na porta e o veado corre para o banheiro, Daniel calmo diz que o rapaz precisou fazer o número dois, a colega chama de bicha burra, não pode... “Esse é o doutor Conrado, tu conhece algum enfermeiro que conheceu o todo poderoso do hospital, que é amigo do diretor médico? Foi ele que me ensinou tudo o que sei, se ele mandar eu bater na tua cara esses óculos vão parar na portaria. Cumprimenta os bofes, sua ridícula e vamos embora ver essa emergência que deve ser porra nenhuma.”
Sei lá fiquei envaidecido com aquelas palavras, me emocionei, doutor Conrado? Eu, eu? Pedreiro, favelado, um merdinha? Daniel tentava me acalmar, Hugo também, talvez por copiar Dan, Hugo passava a mão em meu peito, Daniel tira a camisa e mostra um tórax como o meu, porém cabeludo, mando Dan tirar a minha bata de hospital, Hugo diz que não precisa, digo que eu preciso, Hugo e eu nos beijamos, eu pergunto o nome de Hugo, ele estranha mas responde, pego a mão de Hugo e coloco em minha barriga, a faço deslizar entre meu umbigo e meu peito, Daniel rouba um beijo de Hugo, que não reage a princípio, mas Daniel estava sendo cauteloso, cuidadoso, pergunta depois do beijo qual era o nome dele e Hugo responde, e eu digo que então nada havia mudado, Hugo se impacienta e diz que precisa sair, Daniel e eu concordamos e peço para Dan desligar o ar condicionado, logo eu durmo. Acordo com um beijo de meu marido, Hugo estava mexendo no celular, ele ralha com Daniel por ter me acordado.
Não recebo alta e a suspeita de endocardite cria fôlego. Meu marido estava para ter alta e quando tivesse eu não estaria lá. Dan e Hugo foram embora depois que Kate chegou, ela chegou com um livro imenso de propedêutica e passou a manhã inteira lendo e fazendo anotações, disse que eu era um paciente chatinho de diagnosticar, conversamos sobre a suruba da madrugada em que ela foi morar lá em casa, ela disse que nunca havia feito anal até o incidente com Hugo, disse que desde lá tudo vem dando errado, mas tudo parecia melhor e mais correto que antes. Ela tranca a porta e deita do meu lado, diz que sabe que não pode ficar lá em casa, mas tinha medo de ir embora. Ela me abraça e dorme, alguém forçava a porta e eu a acordo, ela levanta e abre a porta, ela não sabia quem era, era o dono do hospital, ele se desculpa, disse que me fez uma promessa e não cumpriu, peço para Kate sair e ficar na porta dizer o nome de meu visitante e não deixar ninguém vir.
Converso com ele sobre a noite no terreiro e a mulher de rosa, falo sobre Estela, mas ela era só uma doidinha procurando diversão e companhia, falo de como eu senti medo da esposa dele, Fátima veio com um vestido rosa e deixou tulipas, ele diz que eram amarelas, presente dele, ele diz que brigaram, mandou ela para o apartamento de Manhattan. Ricos sendo cruéis entre si, que desumanidade... Ele diz que estava arrumando um jeito de separar-se sem escândalo, seria mais viável se Fátima desse em cima de outra pessoa, era só uma cláusula de quebra do acordo pré-nupicial.
Eu tenho um telefone cheio de mensagens dela, ele não podia obter provas de maneira escusa. Jarbas entra como um boi no abatedouro, indomável, diz que estamos pedindo demissão, ninguém quer ver a foto da mulher dele, podia ser um rei, foda-se, se encontrasse alguém próximo de meu casamento outra vez... O cara, dono do hospital, abre um sorriso e diz que essa demissão ia ser aceita, mas seremos recontratados na semana seguinte, só precisava de uma coisa, e Daniel que sabe que coisa que é, pede desculpas, a coisa certa na pessoa errada.
Um murro bem no meio do nariz do cara, a coisa certa na pessoa errada. Nosso chefe supremo com o nariz gotejando sangue por causa de Daniel.
Porra, eu amo meu marido.