Meu príncipe, meu irmão - Capítulo 13: Um novo capítulo

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 3408 palavras
Data: 07/01/2025 08:35:08

A tensão no ar era quase palpável. A pergunta de Eduardo ficou ecoando na minha mente como se ele tivesse acabado de jogar sal em uma ferida que eu tentava desesperadamente esquecer. Suas palavras traziam um misto de ironia e sinceridade, mas o que realmente me desarmou foi a maneira como ele me olhava, como se esperasse por uma resposta que eu nem tinha certeza se poderia dar.

– Então você e o Miguel estão juntos? – ele perguntou, cruzando os braços enquanto olhava para a porta por onde Miguel acabara de sair. – Já era hora de você parar de pensar no Gustavo mesmo.

Fiquei em silêncio, encarando meu irmão. Eduardo parecia diferente. Fazia meses que eu não o via, talvez até mais de um ano, já que eu tinha me isolado completamente do resto da família. Ele estava impecável em um terno preto que moldava perfeitamente seu corpo, agora mais definido – provavelmente resultado do crossfit que ele tanto fazia questão de ostentar nas redes sociais. Sua barba bem feita, a pele bronzeada... Eduardo era o tipo de pessoa que entrava em qualquer ambiente e dominava a atenção. Mas para mim, ele ainda era só o Eduardo. Meu irmão mais velho, que tinha um talento especial para me irritar e para julgar cada decisão que eu tomava.

Respirei fundo antes de responder, desviando o olhar.

– Nós não estamos juntos – falei, a voz mais fria do que eu pretendia. Caminhei até a cozinha, tentando fugir do peso daquele assunto. – Ele é casado. Foi só... algo de um dia. Você quer comer alguma coisa?

Ouvi os passos de Eduardo me seguindo, cada um soando mais pesado que o anterior, como se ele quisesse que eu sentisse a proximidade.

– Sério? Casado? – ele retrucou, seu tom carregado daquele velho olhar de julgamento que sempre me tirava do sério. – Quando você vai encontrar alguém que realmente te mereça, hein?

Senti minha paciência se esgotando. Minhas mãos tremiam levemente enquanto abri a geladeira, fingindo procurar algo. Não queria encará-lo. Não queria ver o rosto que sabia estar cheio de reprovação.

– Eu encontrei, Eduardo – respondi, finalmente me virando para ele. Minha voz saiu mais alta do que eu planejava, mais carregada. – Eu encontrei, e vocês foram contra. Vocês destruíram não só a mim, mas também ele. E isso tudo, por quê?

– Porque vocês eram irmãos, porra! – ele gritou, a voz ecoando pela cozinha.

Aquela palavra – irmãos – me atingiu como um soco. Ri, mas sem humor, sentindo um nó se formar na garganta.

– É engraçado isso, né? – disse, dando um passo na direção dele, sentindo as lágrimas começarem a queimar meus olhos. – Nós só éramos irmãos quando era conveniente pra todo mundo. Você vivia dizendo que ele não era da nossa família, que você era meu irmão de verdade, que ele não era nada. Mas quando a gente resolve ficar juntos, de repente ele era meu irmão? De repente, isso era errado? Sabe o que eu acho, Eduardo? Que você sempre foi um grande de um babaca. Que não podia me ver feliz, nunca.

– Eu? Não podia te ver feliz? – Eduardo rebateu, sua voz mais alta, quase desesperada. – Eu te dei o maior apoio com o Miguel, caramba! Mas você preferiu criar caso dentro da nossa própria família. Você escolheu isso, Léo.

A fúria tomou conta de mim.

– Vai se foder, Eduardo – gritei, apontando para a porta. – Se você veio até aqui pra me julgar, já pode ir embora. Eu não preciso disso. Não de você. Não hoje.

Um silêncio pesado caiu entre nós. Eduardo respirava fundo, claramente tentando controlar o próprio temperamento. Eu quase podia ouvir o barulho de seu coração batendo tão rápido quanto o meu.

Ele suspirou, baixando a cabeça. Quando voltou a me encarar, parecia mais cansado do que irritado.

– Eu não vim pra brigar – disse, a voz mais baixa agora. – Hoje é o aniversário da mamãe. Eu só... queria que você fosse comigo vê-la.

O chão parecia sumir sob meus pés. Um peso caiu sobre mim, e percebi que era culpa. Claro. Eu sabia que tinha algo importante naquele dia, mas simplesmente ignorei. Já fazia três anos que eu não comparecia às reuniões de aniversário de ninguém da família. Três anos que me isolei. Três anos que fingi que não existia mais ninguém além de mim e da minha dor.

Minha garganta secou, e as palavras pareciam presas.

– Eu... – comecei, mas não consegui terminar.

Eduardo deu um passo à frente, seu olhar agora mais firme, mas ainda carregado de algo que eu não conseguia definir.

– Não é sobre a mamãe, Léo. É sobre você. Ela sente sua falta. Todo mundo sente. Eu também sinto. Só queria que você fosse, nem que fosse por algumas horas.

Meus olhos encheram de lágrimas. Eu sabia que, no fundo, Eduardo só queria me ajudar, mas as feridas que ele e o resto da família haviam deixado em mim ainda estavam abertas.

– Eu não sei se consigo – murmurei, a voz quebrada.

– Tenta – ele pediu. – Só... tenta. Por mim. Por ela. Por você mesmo.

E assim mais uma vez o Eduardo conseguiu o que ele queria. Enquanto eu dirigia, o silêncio do carro parecia amplificar o som da minha respiração pesada. Eduardo estava no banco do carona, mexendo no celular, alheio à tensão que crescia dentro de mim. A ideia de voltar à casa da vó era ao mesmo tempo reconfortante e insuportável. Era como visitar um templo que outrora me trouxera paz, mas que agora só oferecia ecos do que foi um dia.

Os arredores eram familiares, mas eu mal conseguia olhar para eles. Minha mente estava ocupada demais com lembranças. A casa da vó sempre foi um lar dentro do lar, um porto seguro. Era o lugar onde Gustavo e eu... Parei o pensamento ali. Só de pensar no nome dele, meu peito se apertava de forma quase física. Era estranho como certas memórias se recusavam a ser esquecidas, não importava o quanto eu tentasse.

– Tá tudo bem? – Eduardo perguntou, me tirando dos devaneios.

– Tá – respondi, rápido demais.

Ele não insistiu, mas eu sabia que ele percebia. Eduardo sempre teve essa habilidade irritante de captar o que eu estava sentindo, mesmo quando eu tentava esconder.

Quando chegamos à casa da vó, a visão da fachada foi como um soco. Nada parecia ter mudado. As flores ainda estavam no jardim, como se alguém cuidasse delas com o mesmo carinho de sempre. A pintura descascada nas paredes, o portão que rangia ao ser aberto... Era tudo igual, mas nada era igual dentro de mim.

Entramos, e a casa parecia mais cheia do que eu esperava. Minha mãe veio me abraçar primeiro, sua voz carregada de emoção.

– Meu filho, que bom que você veio.

O cheiro dela me levou de volta aos dias em que eu acreditava que o mundo era simples. Mas agora tudo era complicado, cheio de camadas de dor e culpa.

Olhei em volta, procurando a vó. Ela não estava lá.

– Onde tá a vó? – perguntei, tentando parecer casual.

Minha mãe hesitou por um segundo, e então o tio Antônio respondeu:

– Ela tá no quarto. Hoje... hoje não é um dia bom.

O silêncio que se seguiu foi insuportável. Eu sabia o que ele queria dizer, mas não estava preparado para ouvir.

– Vou lá – falei, cortando o momento e me dirigindo ao corredor.

O quarto estava escuro, com as cortinas fechadas, e o cheiro de naftalina misturado ao perfume de lavanda da vó preenchia o ar. Ela estava sentada na poltrona perto da janela, o corpo pequeno e frágil, como se o tempo tivesse roubado parte dela.

– Vó? – chamei, minha voz quase falhando.

Ela se virou lentamente, os olhos claros fixando-se nos meus. Por um momento, achei que ela me reconheceria, mas o sorriso que surgiu em seu rosto era estranho, distante.

– Quem é você, querido?

As palavras foram como facas.

– Sou eu, vó. O Léo.

Ela inclinou a cabeça, como se estivesse tentando encaixar as peças de um quebra-cabeça invisível.

– Léo... Léo – repetiu, como se o nome fosse uma lembrança distante. – Ah, você é amigo da minha neta Beatriz?

Senti as lágrimas subirem, queimando meus olhos.

– Não, vó. Eu sou o Léo... seu neto.

Ela sorriu novamente, mas era um sorriso vazio. Aquele sorriso partiu algo dentro de mim. Era como se tudo o que éramos tivesse desaparecido, como se as memórias que compartilhávamos tivessem sido apagadas.

Ajoelhei-me ao lado dela, segurando suas mãos frágeis.

– Eu sinto sua falta, vó – sussurrei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. – Eu sinto tanta falta de você.

Ela apenas acariciou meu rosto, como fazia quando eu era criança, mas seus olhos estavam longe, perdidos em um mundo que eu não podia alcançar.

Quando voltei à sala, meus olhos ainda estavam vermelhos. Minha mãe me puxou para um canto, sua expressão cheia de preocupação.

– Léo, eu sei que é difícil... – começou, mas eu a interrompi.

– Ela não lembra de mim – disse, a voz rouca.

– Mas ela sente você – respondeu minha mãe, segurando meu rosto com as duas mãos. – No fundo, ela sente.

Fiquei em silêncio, incapaz de responder.

O resto do almoço passou em um borrão. Eduardo tentou aliviar o clima com suas piadas, os primos fizeram comentários sobre como eu estava "mais magro" ou "diferente", mas nada disso importava.

O almoço foi se estendendo, enquanto os familiares dispersavam entre conversas e risadas. Eu observava minha mãe de canto de olho, sentindo que havia algo que ela queria me dizer, mas parecia incapaz de encontrar as palavras certas. A maneira como ela desviava o olhar sempre que nossos olhares se cruzavam só confirmava minha suspeita.

No entanto, ela não insistiu. Talvez estivesse tentando respeitar meu espaço, ou talvez temesse minha reação. De qualquer forma, parecia satisfeita em apenas aproveitar o momento raro de me ter ali, na presença dela e de toda a família.

À medida que a noite começava a cair, anunciei minha partida. O céu tingido de laranja e rosa parecia um lembrete de como o tempo passava rápido, levando consigo as horas e as oportunidades. Eduardo, que já estava mais à vontade depois de algumas cervejas, perguntou casualmente:

– Dá pra me dar uma carona? Tenho uma festa perto da sua casa hoje.

– Claro, sem problemas – respondi, tentando não parecer incomodado. A verdade é que eu ainda estava processando todas as emoções do dia e preferia fazer o trajeto sozinho. Mas não tinha forças para recusar.

Minha mãe sorriu ao nos ver juntos, como se aquela interação fosse um presente.

Antes de sairmos, minha mãe insistiu para que nos despedíssemos da vó. Caminhamos até o quarto onde ela estava, e o ambiente parecia carregado de um peso que ia além do tempo. A penumbra era quebrada pela luz suave do abajur no canto, iluminando a figura frágil da vó sentada em sua poltrona. Ela parecia tão pequena e distante, envolta em um cobertor que mal escondia os traços finos de sua velhice.

Eduardo se aproximou primeiro, beijando a testa dela com um carinho genuíno. Depois foi a vez da minha mãe, que segurou a mão da vó e sussurrou algo que não consegui ouvir.

Quando chegou minha vez, ajoelhei-me ao lado dela, como sempre fazia, e segurei sua mão entre as minhas. Havia um leve tremor em seus dedos, mas ela parecia mais alerta do que no início do dia.

– Até logo, vó – murmurei, inclinando-me para beijar sua testa.

Ela abriu os olhos, me olhando com uma intensidade que quase me fez recuar.

– Léo – disse ela, com a voz baixa e rouca, mas inconfundível.

Senti um nó se formar na minha garganta. Ela lembrou meu nome.

– Sim, vó, sou eu.

Um sorriso delicado curvou seus lábios, enquanto sua mão apertava a minha com uma força que não imaginei que ainda tivesse.

– Você é meu neto Léo.

As palavras dela me atingiram como um golpe, e eu não consegui segurar as lágrimas que escorreram silenciosas pelo meu rosto. Havia tanto tempo desde que eu me sentia visto assim, pelo que eu era, sem julgamentos ou máscaras.

Mas então sua expressão mudou, como se algo estivesse incompleto.

– Mas falta... falta mais um neto – disse ela, franzindo a testa.

Eduardo se apressou em responder:

– Estou aqui, vó.

Ela balançou a cabeça, impaciente, como se Eduardo não estivesse entendendo.

– Não, não. Tenho três netos. Cadê o Gustavo?

Meu coração parou por um momento, como se o ar tivesse sido sugado do ambiente. Tentei responder, mas as palavras ficaram presas na garganta.

– O Gustavo não pôde vir, vó – consegui dizer, a voz embargada.

Ela olhou para mim com um misto de confusão e tristeza.

– E vocês ainda estão juntos? – perguntou ela, com uma inocência tão brutal que fez minha mãe e Eduardo trocarem olhares desconfortáveis.

O silêncio que se seguiu parecia ensurdecedor. Eu abaixei a cabeça, tentando conter o choro que ameaçava explodir, mas não consegui.

– Não, vó. Nós... não estamos mais juntos – confessei, minha voz quase sumindo.

Ela suspirou profundamente, como se aquela informação pesasse em seu peito.

– Que pena – disse ela, com um tom melancólico. – Eu nunca vi dois jovens que se amavam tanto como vocês. Em toda a minha vida, nunca vi um amor tão verdadeiro.

As lágrimas desciam pelo meu rosto, quentes e incessantes. Meu peito doía com a intensidade das lembranças que aquelas palavras trouxeram.

– Eu também acho que era verdadeiro, vó – admiti, soluçando. – Tenho certeza que era.

Ela me olhou com ternura e estendeu a mão para tocar meu rosto.

– Então nunca deixe de acreditar nisso, meu querido.

Levantei-me com dificuldade, sentindo meu corpo pesar com o fardo das emoções. Beijei sua testa uma última vez antes de me afastar.

O caminho para fora da casa foi um borrão, as vozes da minha mãe e do Eduardo tentando preencher o vazio que eu sentia. Mas nenhuma palavra podia tocar o que estava quebrado dentro de mim. E, mesmo enquanto dirigia de volta para casa, com Eduardo ao meu lado, tudo que conseguia ouvir eram as palavras da vó ecoando na minha mente: Eu nunca vi um amor tão verdadeiro.

O silêncio no carro era pesado, quase tangível. Eu dirigia pelas ruas familiares, as mãos firmes no volante, mas minha mente vagava em um turbilhão de pensamentos. Eduardo, sentado no banco do passageiro, olhava pela janela, tão calado quanto eu. O som do motor e o leve chiado do ar-condicionado eram a única trilha sonora daquele momento.

Depois de um tempo, Eduardo quebrou o silêncio, a voz baixa, mas incisiva:

– Por que você tá indo por esse caminho?

Eu não respondi, mantendo meus olhos na estrada.

– Léo... – ele insistiu, mais direto desta vez – você ainda tem essa mania, né? De procurar o Gustavo por essas ruas.

Engoli em seco, sentindo um nó se formar na garganta. Ainda assim, mantive o olhar fixo na estrada, como se evitar sua expressão pudesse diminuir o impacto da conversa.

– Nunca parei – admiti finalmente, a voz fraca, quase um sussurro.

Eduardo suspirou, claramente tentando entender o que se passava pela minha cabeça.

– Por quê? – ele perguntou, soando mais curioso do que julgador.

– Porque... – comecei, tentando organizar meus pensamentos – ainda tenho esperança de que um dia vou encontrá-lo. Que ele vai estar perdido, caído em alguma calçada, precisando de ajuda. Que ele vai estar procurando o caminho de volta pra casa.

Minha voz quebrou no final, mas continuei olhando para frente, apertando o volante como se aquilo pudesse conter as emoções que ameaçavam transbordar.

Eduardo ficou em silêncio por alguns segundos antes de dizer algo que me cortou como uma lâmina:

– Léo, nessa altura do campeonato... o Gustavo provavelmente já tá morto.

As palavras dele pairaram no ar, cruéis e pesadas. Não respondi. Apenas continuei dirigindo, tentando ignorar o buraco que aquelas palavras haviam aberto dentro de mim.

Quando finalmente estacionamos em frente ao meu prédio, soltei o cinto, saí do carro e disse, sem olhar para Eduardo:

– Você já pode ir embora.

Subi para o meu apartamento em silêncio, o peso do dia inteiro finalmente me atingindo com força. Assim que fechei a porta, me deixei cair no sofá, a cabeça latejando com a mistura de memórias, dores e saudades.

Alguns minutos depois, ouvi a campainha tocar. Levantei-me com relutância e abri a porta. Eduardo estava lá, um olhar arrependido estampado em seu rosto.

– Desculpa – ele disse, antes que eu pudesse fechar a porta. – Eu não devia ter dito aquilo no carro.

– Mas disse – respondi, cruzando os braços, sem esconder minha irritação. – E sabe por quê? Porque no fundo você sempre achou que ele era um problema, que ele atrapalhava a nossa família.

Eduardo suspirou, passando a mão pelos cabelos, claramente frustrado.

– Não é isso, Léo. É que você precisa aceitar a realidade.

– A realidade? – retruquei, a voz subindo involuntariamente. – Você sabe o que é a minha realidade, Eduardo? É dormir todas as noites sentindo o lado vazio da cama. É acordar de madrugada procurando por ele, mesmo sabendo que ele não tá lá.

Minha voz falhou, e eu senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eduardo deu um passo à frente, mas eu continuei:

– É olhar para os lugares que ele amava e sentir que o ar fica pesado, que tudo é vazio. É não saber se ele tá vivo, morto ou se algum dia vou vê-lo de novo. Essa é a minha realidade, Eduardo.

De repente, ele me puxou para um abraço forte, quase esmagador. No início, resisti, mas logo desabei, soluçando em seus braços como uma criança.

– Eu tô aqui, Léo – ele disse, a voz baixa e firme. – Deixa que eu faço o papel dele por uma noite. Deixa que eu seja o seu porto seguro, só hoje.

Eu não consegui responder. Apenas chorei mais, deixando que ele me segurasse.

Eduardo me guiou até o quarto, ajudando-me a deitar na cama. Ele se sentou ao meu lado, segurando minha mão como se dissesse, sem palavras, que eu não estava sozinho.

E naquela noite, pela primeira vez em anos, adormeci sentindo um resquício de paz, com a presença de alguém que, apesar de todos os conflitos, ainda era minha família.

Acordei com os primeiros raios de sol atravessando as frestas da cortina. O calor do abraço que me envolveu durante toda a noite ainda parecia estar presente, como se o peso dos braços de Eduardo permanecesse ali, mesmo que ele já não estivesse mais na cama. O lugar ao meu lado estava vazio, frio, mas o gesto de proteção dele ainda ecoava em mim.

Por alguns segundos, fiquei deitado, encarando o teto, tentando processar tudo o que tinha acontecido. Os braços de Eduardo me envolveram a noite toda, como se ele pudesse me proteger de qualquer coisa, até mesmo das memórias que me atormentavam. Foi uma das poucas noites em que consegui dormir sem interrupções, sem acordar sufocado por pesadelos.

Levantei-me devagar, os pés tocando o chão frio enquanto meu corpo ainda carregava o peso do cansaço emocional. Fui até a sala, onde um cheiro familiar de café fresco me recebeu. Sobre a mesa, encontrei um café da manhã que Eduardo tinha preparado: frutas cortadas, pães e até uma caneca de café ainda quente.

Mas o que realmente chamou minha atenção foi o caderno das minhas sessões com a doutora Mônica. Ele estava lá, fechado, com um bilhete cuidadosamente colocado sobre ele. Meu coração apertou no peito ao ver o nome de Eduardo rabiscado no canto do papel. Peguei o bilhete com mãos trêmulas e comecei a ler:

"Léo,

Eu precisei sair mais cedo para trabalhar, mas não queria ir sem deixar isso aqui para você. Sei que pode parecer errado, mas acabei lendo seu caderno. Foi mais forte do que eu, e talvez eu tenha invadido algo muito pessoal.

Eu me senti na obrigação de escrever algo do meu ponto de vista. Há coisas que você pensa sobre mim, sobre nós, que precisam ser esclarecidas. Escrevi um capítulo como se fosse meu, para que você entenda melhor o que eu sinto e como vejo tudo isso. Espero que leia com o coração aberto.

Ah, e sobre o próximo capítulo da sua vida, Léo... Quero que você se dê a chance de reescrevê-lo com mais amor por você mesmo.

Com carinho, Eduardo.”

Meus olhos permaneceram fixos no bilhete por um longo tempo, enquanto um misto de emoções inundava meu peito. Ele tinha lido tudo... As palavras que eu jamais imaginaria compartilhar com alguém estavam agora em suas mãos.

Peguei o caderno, ainda incerto sobre o que encontraria ali, mas com o coração pesado de curiosidade e, talvez, de algo mais profundo: esperança.

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Comentários

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Sofro, mas adoro saber as coisas a conta gotas pela sua escrita. E agora tô doido pra ler do ponto de vista do Eduardo!

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Amigo ta sumido desde ontem que postou o capítulo e nao olhou nenhum comentário, estamos ansiosos pelo cap de hoje, se voce nao tiver morrido, nós mesmo te matamos kkkk brincadeira... espero que esteja bem, divo, atualiza logo vai, pfzinho

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Tô por aqui!!! Estou finalizando o próximo capítulo ainda. A semana está corrida, mas não esqueci de vocês não.

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Thiago, tuas mãos têm um não sei que nos arrebata a todos. Conte-nos mais...

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Muito bom, apesar de ser triste. Quero saber o que aconteceu, e como se separaram, e o Gustavo vai retorna, não demora pra posta, dstou ansioso.

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AQUI DOIDO SEM SABER QUE ACONTECEU COM GUSTAVO. PRA MIM NÃO FICOU CLARRO.

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Este capítulo foi o mais fácil de ler. Liso e direto. Sem recursos a artimanhas literárias. E foi o que deu luz à estória. Mas foi também o único capítulo que acabei de ler com uma lágrima no olho, o que não é nada usual depois de tanto que já vivi. Os meus parabéns pelo enredo excelente da estória. Mas desta vez apreciei ainda mais a fluência narrativa. Simples. Direta. Sem curvas nem contracurvas. Uma obra de Picasso pode ser muito controversa e valer milhões de Euros. Mas a verdade é que a maioria de nós olha para ela como o burro para o palácio mesmo rendidos à beleza patente. O surrealismo deslumbra-nos pelos malabarismos da harmonia e equilíbrio estéticos. Todavia, para mim, nada como o pós impressionismo de um Van Gohg. Sei que o Th1ago está a perceber onde quero chegar com esta analogia. A beleza está intrinsecamente associada à leveza da simplicidade. Permita-me que lhe envie o meu sincero abraço.

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Os capítulos que se passam no presente vão facilitar um pouco mais a compreensão. ♥️

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Coração pesado. Essa é a frase sobre esse capítulo, so espero que eles se reencontrem e fiquem juntos pra sempre. To triste.

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completamente tomado pela história, pulsando e respirando a vida de Leo.

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Th1ago do céu, foi impossível segurar as lágrimas nesse capítulo, o coração assim não aguenta.... Por favor, não demore para postar os demais, vou ter uma parada cardíaca já já rs

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Ah, foi a vozinha né? Ela ainda vai aparecer muito

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Não só a vozinha, mas entender toda a dor do Léo, e começar a entender de fato o que se passou com ele e Gustavo

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