Parte 7 - Consequências
(Thais)
A semana em que fiquei na casa dos meus pais foi um inferno. Difícil, dolorosa, mas necessária. E foi lá, naquela atmosfera carregada, que minha cabeça começou a processar o que eu tinha feito.
— Nada, Thaís, nada justifica o que você fez — sussurrei para mim mesma antes de dormir, tentando achar alguma desculpa que fizesse sentido. Só que não havia desculpa. Nenhuma.
Minha mãe entrou no quarto certa tarde. Ela me olhou com aquela mistura de pena e preocupação.
— Filha, você precisa de ajuda. Terapia, sabe? Talvez alguém que te ajude a entender... isso tudo.
Concordei com um aceno fraco. Ela sabia que eu estava quebrada, mas nem ela tinha ideia do tamanho do estrago.
Naquela semana, Sérgio me obrigou a fazer o teste de paternidade. Era justo, eu sabia disso, mas cada passo do processo parecia uma facada.
— Você sabe que isso não é só sobre o teste, né? — disse ele, cruzando os braços enquanto me encarava na sala de estar.
— Eu sei — respondi baixinho.
— E sobre o processo? Você entende o que significa eu ter ido à polícia, não entende?
— Entendo.
Ele balançou a cabeça, exasperado.
— Às vezes, acho que você não entende nada. Que vive num mundo onde só existe você.
Não respondi. Não tinha o que dizer.
Mais tarde, durante uma ducha gelada, as palavras dele ecoaram na minha mente. "Um mundo onde só existe você." Era isso. Era exatamente isso. Eu sempre me movi por egoísmo, por prazer imediato. Reconhecer isso foi como levar um tapa de realidade.
Quando Vitinho e eu voltamos para casa, Sérgio veio até meu quarto. Ele se encostou no batente da porta e cruzou os braços. A conversa que tivemos já foi descrita anteriormente, não irei citar novamente.
As semanas seguintes foram um caos crescente, até que veio a primeira bomba. Laurinha.
Recebi a ligação de Sandro numa manhã fria. Ele parecia transtornado.
— Thais, é a Laurinha... ela... tentou se matar.
Congelei. Sinceramente não esperava isso dela. Ainda não sabia tudo o que sei agora.
— O quê? Como assim? Perguntei surpresa e até um pouco reticente.
— Cortou os pulsos. Tá no hospital agora. Deixou uma carta pra mim. Tá tudo... tá tudo nela.
Sandro desligou antes que eu pudesse perguntar mais.
Depois, soubemos do conteúdo da carta. Laurinha escreveu sobre como sua família se desfez quando ela tinha apenas 9 anos, sobre como o irmão mais velho se afastou e sobre como ela acabou nas mãos de Sandro, que a manipulava e abusava de sua fragilidade emocional.
Era difícil ouvir as coisas que ela dizia nas sessões de terapia em grupo. Pedaços do que ela viveu, do que ela sentiu. Tudo se misturava na minha mente.
Enquanto isso, Sérgio e eu estávamos no limbo. Ele não me olhava como antes, mas também não me tratava com crueldade. Apenas me mantinha à distância. A tal “friendzone”.
— Vou sair hoje — anunciou ele numa sexta-feira.
— Com quem? — arrisquei perguntar.
— Com amigos. Talvez conheça alguém. — Ele me olhou nos olhos, sem hesitar. — Você sabe que não pode reclamar disso, né?
Engoli seco.
— Eu sei.
E ele saiu. Voltas e mais voltas, festas, novas amizades... e eu, ali, vendo de longe o homem que eu destruí florescer de novo. Ele parecia outro. Mais confiante, mais leve. De todas as consequências que esperava para mim após tudo que fiz, aquela foi a mais inesperada.
Uma noite, enquanto o observava entrar em casa com um sorriso no rosto, me peguei sorrindo também. Era um sorriso estranho, quase doloroso, mas sincero.
— Pelo menos ele está feliz — murmurei para mim mesma, sentindo uma pontada de algo que nem sabia definir.
……
(Sergio)
Como disse anteriormente, minha vida estava começando a entrar nos eixos novamente. Decidi me dedicar ainda mais à empresa, mas, desta vez, tomei uma decisão que deveria ter tomado há muito tempo: contratei pessoas para as funções vitais. Não precisava mais estar em tudo pessoalmente.
Com isso, passei mais tempo em casa, principalmente com o Vitinho. E foi aí que algo inesperado aconteceu. Uma certa intimidade começou a surgir entre mim e Thaís.
— Você vai sair de novo hoje? — perguntou ela, cruzando os braços enquanto me observava colocar o blazer.
— Vou. Só uma reunião informal com uns amigos.
— Sei... "reunião" — respondeu com um tom de ironia, enquanto desviava o olhar para o chão.
De alguma forma, o ciúme dela me fazia sorrir por dentro.
— Thaís, você sabe que não há nada entre nós... ainda. — Fiz questão de enfatizar a última palavra, e ela me olhou com uma mistura de surpresa e timidez. — Mas isso não significa que você não pode seguir em frente também. Não fique presa a mim.
Ela balançou a cabeça, claramente desconfortável.
— Não é tão fácil assim.
Naquele momento, me aproximei dela, ergui seu queixo com delicadeza e falei:
— E se, na próxima sexta, você escolhesse o que nós vamos fazer? Como fiquei duas semanas sem cumprir o combinado, acho que você merece essa escolha.
Ela abriu um sorriso radiante, os olhos brilhando de expectativa.
— Posso pedir qualquer coisa?
Por um instante, hesitei. Algo na maneira como ela perguntou me fez recuar. Não queria me envolver novamente em qualquer jogo de sedução ou manipulação.
Ela percebeu minha reação e, antes que eu me afastasse, me envolveu em um abraço apertado. Seus olhos encontraram os meus, cheios de sinceridade.
— Eu não falei por mal... por favor, olha pra mim. Eu nunca mais vou fazer nada que você não goste.
Sua voz tremia, mas havia firmeza em suas palavras.
— Eu li sobre isso, sabe? Em um site. Que tal a gente escrever nossos desejos, mas também nossos limites? Não se preocupe, não estou falando em voltar a ser sua esposa, embora esse seja meu maior desejo. Estou falando de a gente curtir como sempre quisemos, de verdade.
Fiquei em silêncio, processando o que ela acabara de dizer. Havia uma parte de mim que queria acreditar nela, mas outra ainda carregava desconfiança.
Ela percebeu minha hesitação, ajeitou minha camisa com cuidado e, antes de se afastar, deixou um beijo suave na minha bochecha.
— Você que sabe — disse, com um sorriso maroto. — Mas eu adoraria ser sua. Ser verdadeiramente sua putinha. Faria coisas que, tenho certeza, poucas fariam por você.
Ela enfatizou a última frase, o olhar cheio de malícia, e seguiu em direção ao banheiro. De costas para mim, andava de forma deliberadamente provocante, insinuando-se sem reservas.
Fiquei parado por um momento, sem responder. Estava atrasado, mas também visivelmente excitado.
Deixei a conversa morrer ali, mas percebi que as coisas estavam mudando entre nós.
Enquanto isso, meu relacionamento com Laurinha atingiu um novo patamar. Estar ao lado dela enquanto ela planejava o casamento era algo que eu não sabia que precisava.
— Você vai usar gravata ou não no meu casamento? — perguntou ela com um sorriso brincalhão.
— Laurinha, eu nem sei se sei dar nó em gravata.
— Não me importa. Você vai aprender.
Ri, sentindo um calor no peito. Era bom vê-la feliz, especialmente depois de tudo o que ela passou.
Mas aquele episódio horrível ainda me assombrava.
— Não quero nem imaginar como ela estava naquele momento — confessei certa vez a Thaís, quando ela me viu perdido em pensamentos. — Caída no box, toda ensanguentada...
— O importante é que ela sobreviveu — respondeu Thaís, colocando uma mão no meu ombro.
Ela estava certa. A diarista que cuidava do apartamento da Laurinha salvou sua vida ao perceber a demora no banho. Mas a imagem daquele dia, mesmo que só em minha mente, me perseguia.
Enquanto isso, as consequências daquela madrugada continuavam a se desdobrar.
— Você viu isso? — perguntou minha secretária, entrando na sala com um tablet em mãos.
Era um programa de TV sensacionalista. O rosto de Gabi estava lá, acompanhado de manchetes escandalosas. Ela havia perdido o emprego no hospital, estava sendo processada pelo conselho de ética e intimada a depor no meu caso. Optou pelo silêncio, mas isso só piorou as coisas para ela.
Até o noivo dela, que trabalhava no mesmo hospital, foi envolvido. Não demorou para ele decidir romper o noivado.
E Sandro? Esse teve o destino que merecia. Saiu do apartamento onde morávamos e foi morar com a noiva, Mari. Mas sua sorte acabou rápido.
— Eles vieram aqui em casa, Sandro! — Mari gritava ao telefone, desesperada, após o mandato de busca e apreensão na casa deles. — O que está acontecendo?
— Não é nada, só um mal-entendido — ele respondeu, tentando se esquivar.
Mas ela não era boba. Após ouvir toda a história de uma investigadora, Mari deu um fim no relacionamento.
Para piorar, Sandro foi demitido do mercado onde trabalhava no mesmo dia em que a polícia apareceu lá. O dono do estabelecimento não queria nenhum tipo de problema em sua loja.
E então, aconteceu o inevitável.
— Doutor Sergio, tem um homem lá fora querendo entrar. Está muito alterado. Parece o Sandro — avisou minha secretária, com os olhos arregalados.
Respirei fundo, pensando rápido.
— Mande ele subir. Mas antes, ligue as câmeras de segurança aqui da sala.
Quando ele entrou, estava visivelmente perturbado.
— Sérgio, você destruiu minha vida! — gritou, sem qualquer cuidado com o tom.
Cruzei os braços, mantendo a calma.
— Sandro, você sabe que está colhendo exatamente o que plantou. Agora, comece a enumerar as inúmeras coisas que fez comigo. Você pensou em mim? Em como foi destruindo minha vida e minha alma, pouco a pouco?
Ele começou a despejar uma série de acusações, enquanto eu ouvia em silêncio. Meu celular, com o gravador ligado, capturava cada palavra.
— Você vai pagar por isso! — ameaçou, apontando o dedo na minha direção.
— Sandro, cuidado com o que diz. Cada palavra sua aqui pode ser usada contra você.
A expressão dele mudou. Pela primeira vez, percebi que ele estava começando a entender que tinha se enforcado com a própria corda.
…..
(Thais)
Antes de contar como foi todo esse momento tenso da nossa história, gostaria de falar sobre o melhor sexo da minha vida, pelo menos até aquele momento.
Ele me surpreendeu de verdade e fez o que pedi, escreveu seus desejos e também seus limites. Eu fiz o mesmo e passamos algum tempo discutindo sobre isso, compartilhando nossas expectativas.
Sinceramente, eu já estava meses dependendo só de vibradores, e a situação estava insuportável. Mas ele segurou minha onda.
— Tudo será resolvido na sexta — disse ele com aquele sorriso que eu tanto amava.
Foi difícil esperar o resto da semana. E, para ser honesta, essa expectativa só aumentava meu desejo.
Eu sempre chego primeiro em casa, pego Vitinho com meus pais e espero Sérgio para o jantar.
Porém, naquela noite, pedi para que meus pais ficassem com o Vitinho. Teríamos a casa só para nós.
As horas pareciam uma eternidade, e eu estava ficando cada vez mais ansiosa.
Sérgio chegou com uma garrafa de gin e algumas latinhas de tônica. Ele sabia que essa era a minha bebida favorita.
Ele preparou o gin tônica mais gostoso da minha vida. Sérgio ficou com refrigerante. Disse que nunca mais tinha bebido desde tudo o que aconteceu.
Um sentimento de tristeza, culpa e remorso tentou me invadir, mas ele não deixou.
— Está tudo bem. Pelo menos, nessas próximas horas.
Ele então me segurou pelas mãos e me levou até o quarto.
— Vai tomar um banho e esperar no banheiro até eu te chamar — ordenou. Me deu apenas uma camisola vermelha e prateada, sexy, sem mais nada.
Fiquei no banho por um bom tempo, até que resolvi sair e me secar. Precisava secar meu cabelo também. Sérgio nunca gostou de maquiagem, então não me preocupei com isso.
A expectativa estava me deixando louca, mas resolvi ser obediente, como havia prometido. Já falei para vocês que adoro estar nessa situação.
Finalmente, ele me chamou. A luz do quarto estava mais baixa, e um cheiro delicioso invadiu minhas narinas assim que entrei. Ele me deu pequenos abafadores de som e, com um toque suave, colocou uma venda preta nos meus olhos, feita de um tecido macio e maravilhoso.
Antes de me colocar os abafadores, ele falou:
— A partir de agora, você apenas obedece. Eu vou fazer isso, mas de uma forma que seja boa para nós dois. Podemos parar a qualquer momento. Não se sinta obrigada a nada. Eu pesquisei a respeito e vou te mostrar como isso pode ser bom, sem precisar recorrer à dor ou humilhação. Confia em mim.
Eu respondi com um sorriso e, como sempre quis dizer para o meu Sérgio, pelo menos nesses momentos mais íntimos, disse:
— Sim, senhor.
Continua….
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