Nós decidimos continuar nossos encontros íntimos, escondidas de nossos namorados.
Por vezes nos questionávamos : que a gente tem é... traição? Ou ... é uma coisa só nossa?
Para mim estava ótimo. Amava os dois. Era apaixonada pelo Cleiton, queria me casar e ter filhos com ele. A Aline era como se fosse uma outra parte de mim, sentia que tinha uma conexão eterna com ela.
O Cleiton sempre foi um ótimo namorado, tão bom para mim! Além disso era inteligente e esforçado. Não queria magoá-lo, mas também não queria ficar sem a Aline.
Várias vezes questionei se eu era normal ... apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo.
E se o Cleiton descobrisse? Se pensasse que não era suficiente para mim? Ou pior, se ele achasse que eu estava brincando com os sentimentos dele?
Várias coisas passavam pela minha cabeça. Por várias vezes conversei com a Aline sobre isso.
O tempo foi passando e continuamos nossos encontros secretos. O sexo entre nós duas ficava cada vez melhor, começamos a usar acessórios e fantasias para apimentar.
E assim dois anos se passaram ...
Os rapazes se formaram e foram promovidos de estagiários para funcionários efetivos. A empresa oferecia muitas opções de crescimento profissional, com possibilidades futuras de alcançarem cargos de chefia, com bons salários. Nos convidaram para um jantar comemorativo, muito merecido.
Escolheram um restaurante sofisticado, com uma vista deslumbrante da cidade e um ambiente acolhedor.
Durante o jantar, o clima estava leve e descontraído. Rimos, conversamos. Daniel sempre mais extrovertido, estava tão animado que mal conseguia disfarçar sua empolgação. Ambicioso, falava que aquele era só o primeiro passo, que um dia seria chefe.
Foi então que, ao final do jantar, Cleiton levantou-se com um brilho nos olhos.
Ele me olhou e com um sorriso travesso disse:
— Adriane, você tem sido minha maior parceira. Eu não consigo imaginar um futuro sem você ao meu lado. Por isso, quero te fazer uma pergunta muito especial.
Olhei para ele, surpresa. Daniel sorriu discretamente, sabendo exatamente o que estava por vir. Cleiton se ajoelhou no chão, tirou uma pequena caixa do bolso e a abriu, revelando um anel brilhante. Com a voz trêmula, disse:
— Adriane, você aceita ser minha esposa?
O restaurante ficou em silêncio por um momento, mas logo a resposta veio em forma de um sorriso radiante. Respondi emocionada:
— Claro, Cleiton! Eu aceito!
O público ao redor aplaudiu, e Cleiton levantou-se e me abraçou, não me contive e chorei de felicidade. Mas a surpresa ainda não havia acabado. Daniel, que até então estava apenas observando a cena com um sorriso, aproveitou a ocasião para fazer o mesmo. Ele olhou para Aline e disse:
— Aline, você tem sido minha inspiração e minha força. Juntos passamos por tantas coisas, e eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado. Por isso, também tenho uma pergunta para te fazer. Aline olhou para ele radiante. Daniel, então, pegou uma pequena caixa de veludo de dentro de sua jaqueta e se ajoelhou, revelando um anel. Ele olhou nos olhos de Aline e, com o coração acelerado, perguntou:
— Aline, você aceita ser minha esposa?
Aline ficou sem palavras por um momento, tocando a mão de Daniel com carinho. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela, com a voz embargada, respondeu:
— Sim, Daniel! Eu aceito! Eu amo você!
O restaurante novamente aplaudiu.
Aquela celebração envolvia muito mais do que comemorar conquistas pessoais e profissionais, mas, acima de tudo, estávamos celebrando o amor e novos começos.
O Cleiton e Daniel foram promovidos a funcionários da empresa, e a Aline e eu fomos promovidas a noivas. E assim, entre risos e lágrimas de felicidade, saímos os quatro do restaurante, prontos para escrevermos um novo capítulo em nossas vidas.
Marcamos o casamento para depois que eu e Aline nos formássemos. Foi tudo ótimo, mas em termos práticos nós tínhamos agora que pensar em como conseguir dinheiro para o casamento e para iniciarmos nossas vidas de casados.
Os meninos estavam trabalhando duro na fábrica, eu continuei firme trabalhando no escritório de contabilidade, enquanto que a Aline não parava em estágio nenhum, ficava no máximo 6 meses. Argumentava que buscava um emprego onde pudesse usar seu poder de comunicação e interagir com pessoas.
Foi então que ela começou a trabalhar numa loja de roupas chiques dentro de um shopping center. Em pouco tempo se tornou a melhor vendedora da loja.
O lado ruim é que ela trabalhava aos sábados, mas eu costumava visita-la, ia no horário de intervalo dela para lancharmos juntas e conversarmos.
Num desses sábados aconteceu algo que me fez estremecer e duvidar das minhas crenças, ou melhor, da minha ausência de crença. Novamente, mais um dia de sábado ficou gravado para sempre na minha mente.
Eu cheguei na loja e ela estava terminando de atender uma cliente muito elegante, uma mulher alta, negra e magra. Pela quantidade de sacolas, a venda tinha sido muito boa.
No final da compra a cliente fez questão de abraçar a Aline, disse que tinha adorado o atendimento e que quando voltasse à loja queria sempre ser atendida por ela.
Aguardei a cliente sair e fui dar um abraço na minha amiga/amante:
— Uau, Aline! Parabéns! Você fez uma venda incrível! A cliente estava super feliz, e adorou seu atendimento!
Aline sorriu com um brilho de satisfação nos olhos, mas logo se mostra um pouco mais reflexiva ao responder:
— Obrigada, Adriane. Eu gosto de ser vendedora. Adoro interagir e me conectar com as pessoas. Realmente essa venda foi muito boa, R$ 3.500,00.
Mas... para ser honesta, tem que vender muito para conseguir uma comissão boa. Gostaria de vender coisas de mais alto valor, sabe? Acho que assim conseguiria ter comissões melhores.
Ouvi atentamente, compreendendo o sentimento dela:
- Eu sei, você também está preocupada em juntar dinheiro para o casamento, né? Mas eu vejo que você se sente satisfeita em ser vendedora e atender clientes.
- Isso, o fato de estar comprometida, me preparando para casar me deixa muito feliz, mas ao mesmo tempo muito ansiosa! Além de ser uma mudança radical na vida tem essa questão de juntar dinheiro para a cerimônia e para comprar um apartamento junto com o Daniel.
- Eu sei exatamente como você se sente, porque eu sinto o mesmo!
- Vamos aproveitar esse meu horário de intervalo para irmos também numa loja de produtos esotéricos que tem aqui do lado. A proprietária, Dona Vera, é sensitiva e espiritualista, sempre me dá bons conselhos e me bota pra cima!
A loja ficava a uma quadra do shopping, era pequena e discreta, quase escondida entre dois prédios antigos de uma rua de paralelepípedos. Na fachada, uma placa de madeira esculpida à mão exibia as palavras Caminhos da Luz, envolvidas por desenhos de luas crescentes e estrelas. O aroma que escapava pelas frestas da porta era bem agradável: uma mistura envolvente de incenso de sândalo, mirra e um leve perfume floral que lembrava jasmim e lavanda.
Ao atravessar a porta, o mundo exterior parecia desaparecer. O interior da loja era um labirinto de prateleiras. Cristais de todas as cores refletiam a fraca luz das poucas lâmpadas espalhadas pelo ambiente. Amuletos pendiam do teto, girando levemente, e entre eles, pequenos sachês de ervas exalavam notas de camomila e alecrim. Frascos de vidro etiquetados com nomes ridículos como “Essência de Harmonia”, “Pó de Proteção” ficavam expostos em um balcão de madeira gasta. O ambiente era impregnado por um fundo constante de mirra que parecia emanar das paredes, possivelmente para conferir à loja um ar de elevação espiritual.
Ao fundo, uma cortina de contas separava a área principal de um pequeno espaço reservado – que descobri ser para leituras de tarô e consultas mais íntimas – de onde um cheiro de chá de ervas parecia vir, completando o cenário olfativo.
Aline começou a olhar os produtos da loja em busca de algo para comprar, até que se encantou com um colar, bastante singelo, com uma pedra de quartzo rosa, ela pegou da prateleira e foi até caixa pagar:
- Oi Dona Vera? Como está a senhora? – Perguntou alegre – Essa é Adriane minha amiga que lhe falei.
- Muito prazer Dona Vera, muito bonita sua loja – disse eu, forçando o máximo para ser simpática.
- Muito prazer Adriane, obrigada, tenho essa loja a mais de 20 anos, e também sou sensitiva, faço aconselhamentos espirituais.
- Se a senhora é sensitiva, me passa os números da Mega Sena que vai ajudar muito ...
Neste momento a Aline me deu uma cotovelada que quase quebrou minha costela, e me olhou com uma cara feia, como nunca antes.
Eu me arrependi de ter falado aquilo. Eu não acreditava em nada daquelas coisas: sensitiva, cristais, pedras e o caralho a quatro. Mas eu tinha que respeitar as crenças da Aline.
- Eu não tenho os números da Mega Sena, mas o número da sorte de vocês é 3, e hoje é um excelente dia para você participar de jogos e sorteios – respondeu Vera.
“ Claro” pensei eu , esse é o típico chavão dessas “videntes”.
Enquanto pagava pelo colar, Aline comentou com Vera que estava ansiosa pois estava se preparando para casar, estava ainda fazendo faculdade e tinha que juntar dinheiro para começar a vida ao lado do futuro marido. Tudo isso era motivo de alegria, mas a deixava preocupada também. Gostava do emprego de vendedora, mas precisava de um salário melhor, pois por mais que vendesse as comissões estavam abaixo do que precisava.
Vera segurou carinhosamente as duas mão de Aline, ambas fecharam os olhos, baixaram as cabeças e se concentraram:
- Vejo uma excelente oportunidade de emprego surgindo para você Aline. Na semana que vem ... até a metade da próxima semana você receberá um convite para trabalhar em um outro emprego, com salário maior e possibilidades de comissões mais altas. Tudo isso devido à sua dedicação e à sua vocação para trabalhar com vendas.
- Puxa, que notícia boa! Tomara que tudo ocorra conforme essa previsão! Estou precisando de um salário melhor mesmo! Mas também tenho uma preocupação que está me apertando o peito, desde que noivamos, o Daniel parece estar menos carinhoso comigo. Está mais distante, parece que o amor dele diminuiu!
- Minha Filha, eu percebo sua angústia, vamos ali na salinha que vou dar um consulta espiritual para você e sua amiga!
Neste momento a Vera olhou diretamente nos meus olhos e fez questão de enfatizar:
- E será gratuita!! Não precisa pagar nada!!
A sala de Vera não era grande, iluminada apenas por velas, com cortinas pesadas que bloqueavam a luz do dia, criando uma atmosfera de mistério. O cheiro suave de incenso preenchia o ar, e o som distante de um relógio marcava cada segundo com um tic-tac . Me sentei ao lado de Aline e de frente para Vera.
Nós três demos as mãos. Vera tinha os dedos finos, mas adornados com anéis bem grossos, ela começou a nos observar com um olhar penetrante até que suas pálpebras ficaram ligeiramente caídas como se estivesse prestes a entrar em transe. Ela baixou a cabeça e ficou em silêncio por alguns segundos.
Um denso silêncio tomou conta do ambiente!
Até que Vera levantou a cabeça e começou a falar com uma voz diferente de alguns minutos atrás. Possivelmente ela usava essa voz para dar mais impacto nas suas consultas. Mas era uma voz penetrante que parecia ecoar pelo ambiente. Era como se uma outra voz, enigmática e profunda estivesse se infiltrando em seu corpo, parecia até que a sala tinha ficado menor
“Vocês estão aqui para buscar respostas que o mundo físico não pode oferecer, disse Vera, - Mas lembrem-se, nem todas as respostas são fáceis de digerir. O que está oculto será revelado... de uma maneira ou de outra.”
Engoli seco e meus olhos buscaram os de Aline, mas ela desviou, focando-se na figura mística de Vera.
Parecia sentir o peito apertado. Por vezes não era fácil carregar o segredo dos nossos encontros secretos, muito menos diante de uma estranha que parecia enxergar mais do que deveria.
Vera continuou, suas palavras a começaram a sair em um fluxo constante,
“Eu vejo uma conexão entre vocês duas... algo mais forte que o amor, mais forte que o desejo... Uma ligação eterna, selada pelo destino. Vocês duas... vocês são mais do que apenas amigas, mais do que simples noivas de outros homens. Existe algo que transcende. Um laço que não pode ser quebrado, não importa o que façam. Este laço se estenderá aos seus filhos! Os filhos de vocês também terão uma conexão entre eles!”
Vera fez uma pausa dramática, como se estivesse absorvendo a intensidade da energia que agora fluía, e em seguida continuou:
“Mas há segredos... que vocês escondem. E eu vejo que... essas coisas ocultas uma hora serão expostas. Eu vejo as máscaras caindo. Não só as suas, mas as deles também.”
O rosto de Vera contorceu-se em um misto de dor e resignação, como se estivesse vendo uma verdade amarga que não poderia ser evitada.
“Os homens que vocês escolheram... Daniel e Cleiton... suas almas estão cobertas com sombras também e um dia todas as mentiras vão vir à tona. A verdade virá com a força de um vendaval. Mas lembrem-se, minha querida... às vezes a verdade tem o poder de destruir. E isso pode ser fatal.”
O clima na sala mudou drasticamente, ficou pesado, a tensão era palpável : minhas mãos suavam, meu coração começou a bater rápido, o que antes parecia ser uma consulta simples agora parecia tomar um rumo ruim.
Vera continuou, sua voz agora mais grave, como se falasse com o peso de uma profecia.
“Cuidado com os caminhos que escolhem. O destino de todos vocês está entrelaçado, mas é um destino que trará perigos. Vocês caminham sobre uma linha tênue, onde são necessários segredos para manter a paz. Quando ele se romper, não haverá mais volta. Os homens de quem vocês gostam ...poderão fazer escolhas que colocarão todos em risco. A mentira será o catalisador da queda.”
Senti um calafrio percorrer minha espinha. Olhei para Aline que estava pálida, os olhos arregalados.
.“Mas lembrem-se,” continuou Vera, sua voz quase um sussurro agora, “não há salvação sem sacrifício. E às vezes, o sacrifício é mais profundo do que imaginamos. O que é perdido... pode ser que não seja recuperado. Então, se escolherem continuar com esse segredo, se optarem por seguir o caminho que se impuseram... que seus corações estejam preparados.”
Vera então soltou nossas mãos, a sala voltou ao seu estado habitual, mas carregada de uma energia diferente.
A face de Vera estava pálida, parecia exausta.
Troquei um olhar silencioso com Aline e nos levantamos, as palavras da vidente estavam reverberando na minha mente.
Agradecemos a consulta e saímos da loja, Aline ainda tinha de voltar ao trabalho e precisávamos ainda fazer um lanche.
Saímos de lá e fomos até uma lanchonete próxima, Aline parecia inquieta, desembrulhava o guardanapo ao redor do sanduíche com certo nervosismo:
- Você acredita no que a Vera disse? Perguntei tentando soar casual, mas a curiosidade me apertava. Dei uma mordida no sanduíche, mastigando devagar, esperando pela resposta.
Aline suspirou, apoiando o queixo na mão:
- Eu não sei, Adri... Quer dizer, ela parecia tão certa. Sobre as coisas escondidas, sobre o Daniel... Você acha que ela pode estar certa sobre nós?
Eu mantive a calma, tomando um gole de suco antes de responder:
- Eu não sei. Você sabe que eu não acredito muito nessas coisas... previsões, vidências... Nem sempre são verdade. Pode ser que ela tenha dito aquilo só porque viu o seu nervosismo.
- Mas e se não for só isso? - Ela apertou a embalagem do lanche entre as mãos, os dedos tremendo levemente. - Daniel realmente mudou, sabe? Antes, ele era tão atencioso, tão carinhoso. Agora, parece que ele... não se importa tanto.
- Tentastes falar com ele sobre isso? - perguntei, inclinando-me levemente para ela. – Às vezes, as pessoas mudam porque estão passando por algo que não falam. Ou porque se acomodam.
Ela me olhou com aqueles lindos olhos verdes brilhantes, cheios de dúvidas.
- E você? O que acha do Cleiton? Você acha que ele esconde alguma coisa?
Ri, mas o som saiu seco:
- Cleiton? Ele é um livro aberto. Não consegue guardar segredos nem se tentar. – Fiz uma pausa e acrescentei com um sorriso torto: - Não é uma “vidente” que mal conheço que vai me fazer duvidar dele.
Aline não riu. Ela deslizou o colar de quartzo rosa em minha direção.
- Isso é para você. Eu comprei pensando em você, para simbolizar nossa amizade!
Peguei o colar, não acreditava naquelas coisas de energia das pedras, mas valorizava por ser um presente da Aline:
- “Amizade” - perguntei, arqueando uma sobrancelha – Temos algo a mais que uma amizade!
Ela desviou o olhar, os olhos fixos no copo de café pela metade:
- Não complica, Adri. Já é complicado o suficiente.
Eu suspirei, sentindo o peso do momento:
- Olha, Aline, seja lá o que for que você esteja sentindo, ou o que você acha que a Vera viu... o mais importante agora é você resolver isso com o Daniel.
- Você acha que ele esconde algo?
- Eu acho que não. Ele só deve estar passando por uma fase estressante. Ele trabalha muito lá na fábrica e todos nós estamos ansiosos pelo casamento, é algo que afeta a todos!
Enquanto Aline brincava com a borda do copo de café, pensei nas palavras de Vera e no olhar preocupado de Aline. O nosso caso era algo que não podia ser ignorado, um dia teria de vir à tona
Depois do nosso lanche, voltamos para a loja. Entrando no shopping, como de costume Aline cumprimentava todos, os seguranças, o pessoal da limpeza, os outros funcionários, os donos de loja. Ela rapidamente fazia amizade. Ao contrário de mim que mal cumprimentava meus colegas do escritório.
Chegamos na loja e enquanto Aline se organizava para voltar ao trabalho, meus olhos foram capturados por uma calça incrível. Era perfeita: elegante, moderna, exatamente o tipo de peça que eu usaria em várias ocasiões. Meu coração bateu mais forte, mas quando olhei para a etiquetareais. Eu quase ri sozinha.
Definitivamente não dava.
A Aline notou meu encantamento pela calça , e ela, toda animada, disse que conseguiria um bom desconto para mim. Funcionários têm desconto, e ela ainda disse que ia falar com a gerente para tentar algo a mais. Admito que fiquei tentada. E quando Aline voltou, toda orgulhosa, dizendo que conseguiu abaixar o preço para 300 reais, eu fiquei dividida.
Ainda era caro para o meu orçamento, pois eu estava guardando cada centavo para o casamento. Mas Aline insistiu, dizendo que eu poderia parcelar. Pensa bem!
Ainda por cima, o shopping está fazendo aquele sorteio: a cada 150 reais em compras, você ganha um cupom para concorrer a um carro e prêmios em dinheiro! Vai que você ganha, hein?!
Eu ri. Claro que não acreditava muito em sorteios, mas aí Aline me lembrou da vidente Vera, que disse que hoje era o dia de sorte em jogos e concursos. Talvez fosse um sinal. Com Aline do meu lado, insistindo e falando que aquela calça ficaria perfeita em mim, eu cedi. Fiz a compra. No caixa, o atendente me entregou dois cupons para o sorteio. Enquanto eu preenchia um deles com meu nome, endereço e telefone, Aline pegou o outro e começou a preencher também. “Eu vou te ajudar a ganhar isso, Adri!”, ela disse com um sorriso confiante.
Saímos juntas da loja com os cupons na mão. Caminhamos até uma enorme urna de vidro, cheia de outros cupons. Aline parecia ainda mais animada que eu. Quando chegamos lá, joguei meu cupom na urna sem pensar muito. Já Aline, como sempre, tinha o seu próprio jeito de fazer as coisas. Antes de colocar o cupom, ela o pressionou contra o peito com as duas mãos, fechou os olhos e murmurou uma oração rápida, mas cheia de fé. Depois, abriu os olhos, olhou para mim e disse:
- Agora, você precisa beijar o cupom também, Adri.
Eu comecei a rir:
- Tá brincando, né? Você acha que beijar o cupom vai fazer diferença?
- Não tô, não! Anda logo!
Ela beijou o papel e estendeu na minha direção. Me senti meio boba, mas fiz o que ela pediu. Beijei o cupom também, ainda rindo. Só depois disso ela colocou o papel na urna com todo cuidado, como se aquele simples gesto garantisse a vitória.
- Pronto!, disse ela, triunfante. - Agora é só esperar. Você vai ganhar, eu tô sentindo!
Eu balancei a cabeça, ainda achando graça, mas não consegui evitar um sorriso. Se a sorte vier mesmo, vou ter que agradecer à Aline e à sua fé e ao beijo no cupom.
Continua ...
“O estado contente da mente
Depende somente de acreditar
O estado contente da mente
Depende da gente, é só acreditar
Sou feliz, alegre e forte
Tenho amor e sorte”
Música Feliz, Alegre e Forte – Marisa Monte