Oi, eu sou o Daniel. Tenho 18 anos, tô no terceiro colegial, sou loiro, alto, malhado pra caramba — tipo, eu pego pesado na academia, saca? As minas da escola vivem me secando, falando que eu sou bonito, que eu tenho um corpão, mas eu sou um cara tímido pra cacete. Nunca beijei uma menina na vida, acredita? Não sei lidar com esse lance de paquera, fico todo travado. Vivo na minha, tentando entender o mundo do meu jeito. Moro com minha mãe, a Ângela, numa casa simples aqui em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo. Meu pai morreu faz uns anos, e a gente vive da pensão dele, que não é grande coisa, mas dá pra ir levando.
Minha mãe é uma mulher daquelas que chama atenção sem nem tentar. Ela é loira, puxada pro ruivo, tem 1,70 de altura, olhos claros cor de mel que parecem que te engolem, e um corpo curvilíneo que ela mantém em forma na academia. É tipo uma deusa, sabe? Aos 42 anos, ela ainda parece ter uns 30, fácil. O pessoal do bairro vive falando que ela é um arraso, mas ela não dá muita bola pra isso. Só que eu e ela, ultimamente, vivemos brigando pra caralho. Ela quer mandar em tudo, acha que eu sou muleque ainda, e eu já não aguento mais essa pressão. Quero minha liberdade, mas ela tá sempre no meu pé, falando de escola, de futuro, dessas coisas que me irritam.
Tudo tava mais ou menos tranquilo — ou pelo menos o normal de sempre — até o Mauro mudar pra casa do lado. O cara é um negão de quase 2 metros, musculoso pra porra, daqueles que você olha e já sente um frio na barriga. Ele é intimidador, mano, parece um armário ambulante. Mudou pra cá com a filha dele, a Aline, uma morena que é de tirar o fôlego. Ela tem um corpo foda, cabelo liso preto, pele bronzeada, mas tem aquele jeito que deixa a gente na dúvida — parece que ela curte mina, mas não assume, sabe? Os dois chegaram do nada, e de repente a rua ficou pequena pra tanta presença forte.
Eu lembro direitinho do dia que vi o Mauro pela primeira vez. Eu tava saindo de casa pra ir malhar, com meu fone no ouvido, e ele tava descarregando umas caixas do carro, um Gol preto tunado que parecia mais brabo que ele. Ele me deu um aceno com a cabeça, tipo “e aí, moleque?”, e eu só respondi com um “fala, cara” bem seco, porque, sério, o tamanho dele me deixou bolado. Minha mãe tava na varanda, varrendo, e eu vi ela dar uma olhada pra ele, mas não disse nada. Só que eu percebi que ela ficou mais tempo olhando do que o normal. Aquilo já me deu um nó na cabeça, mas eu deixei pra lá.
Uns dias depois, rolou a primeira faísca de treta entre eu e ela. Era sábado, eu tava jogado no sofá vendo TV, e ela chegou da academia toda arrumada, com aquele legging que marca tudo e uma regata soltinha. “Daniel, levanta essa bunda daí e vai arrumar teu quarto, parece um chiqueiro!” ela mandou, com aquele tom que me tira do sério. Eu retruquei na hora: “Pô, mãe, eu arrumo depois, deixa eu relaxar um pouco!” Ela cruzou os braços, me encarando com aqueles olhos de mel que parecem que vão te furar.
“Relaxar? Tu só faz isso, Daniel! Tá na hora de crescer, para de viver como se eu fosse tua empregada!” Ela tava nervosa, e eu levantei do sofá, puto: “Tá bom, eu arrumo, mas para de me tratar como se eu tivesse 10 anos, caramba!” Aí ela jogou a vassoura no chão e subiu pro quarto, batendo a porta. Foi o primeiro sinal que as coisas tavam mudando entre a gente, mas eu não imaginava o quanto.
O Mauro começou a aparecer mais por aí. Ele era tipo um vizinho que não passa despercebido, sabe? Sempre de regata, mostrando os braços que pareciam troncos, e com um jeito de quem manda na parada. Às vezes, eu via ele mexendo no carro ou cortando o mato do quintal, e ele sempre me cumprimentava com aquele “e aí, Daniel?”, como se quisesse puxar papo. Eu respondia de boa, mas ficava na minha. A Aline, por outro lado, era mais na dela. Eu encontrava ela saindo de casa com uma mochila, provavelmente pra escola ou sei lá o quê, e ela só dava um “oi” rápido, sem nem olhar direito. Tinha algo nela que me intrigava, mas eu não sabia o que fazer com aquilo.
Uma noite, eu tava voltando da academia, suado pra cacete, quando vi o Mauro na varanda dele, tomando uma cerveja. Minha mãe tava na nossa varanda também, regando as plantas, e os dois trocaram um “boa noite” que parecia mais demorado do que o normal. Eu entrei em casa, joguei a mochila no chão e fui pegar água na cozinha. Quando olhei pela janela, vi o Mauro se levantar e ir até o muro que separa as casas, falando algo pra ela. Não deu pra ouvir, mas ela riu — um riso que eu não ouvia dela fazia tempo. Aquilo me deixou com um aperto no peito, tipo um ciúme que eu não sabia explicar.
No dia seguinte, eu tava no quarto, tentando estudar pra uma prova de matemática que eu sabia que ia me foder, quando minha mãe bateu na porta. “Daniel, desce aqui, preciso falar contigo.” O tom dela tava diferente, mais sério. Eu desci, já imaginando outra discussão, e ela tava na sala, de pé, com uma cara que misturava raiva e outra coisa que eu não conseguia sacar.
“Que foi, mãe?” perguntei, largando o caderno na mesa.
“Eu vi o Mauro hoje de manhã, ele me chamou pra tomar um café na casa dele. Fui lá, e ele perguntou de ti,” ela disse, olhando pra mim como se quisesse ver minha reação.
“E daí? O que ele queria saber?” Eu cruzei os braços, já ficando bolado.
“Ele falou que te acha um garoto gente boa, mas que tu parece perdido. Disse que se tu quiser, ele pode te ajudar a arrumar um trampo ou te dar uns conselhos. Eu disse que tu não precisa disso, que tu tá estudando e tal, mas ele insistiu,” ela explicou, e eu senti o sangue subir.
“Perdido? Que porra é essa, mãe? O cara mal me conhece e já tá falando de mim? E tu, indo lá tomar café com ele como se fosse íntima? Que papo é esse?” Eu levantei a voz, puto pra caralho.
“Para com esse tom, Daniel! Ele só tá sendo legal, é um vizinho! Eu não vou ficar me trancando em casa só porque teu pai morreu, eu também tenho vida!” Ela rebatesse, os olhos faiscando.
“Legal? Ele é um cara que dá medo de olhar, mãe! E tu tá rindo pra ele como se fosse teu melhor amigo! Eu não sou criança, eu vejo as coisas!” Eu gritei, e ela deu um passo pra trás, surpresa.
“Tu tá com ciúme, é isso? Meu Deus, Daniel, cresce! Eu não sou tua propriedade!” Ela virou as costas e subiu pro quarto de novo, me deixando ali com raiva e um monte de coisa na cabeça.
Depois dessa, as coisas entre eu e ela só pioraram. Eu comecei a reparar mais no Mauro e na Aline, tentando entender o que tava rolando. O negão começou a aparecer na nossa casa de vez em quando, tipo pra trazer um bolo que a Aline tinha feito ou pra pedir um favor bobo, como uma chave de fenda. Minha mãe sempre atendia ele com um sorriso que me irritava pra cacete. Eu ficava na minha, mas tava de olho, sentindo que algo tava errado.
Uma tarde, eu tava saindo pra malhar e vi a Aline na calçada, mexendo no celular. Ela levantou o olhar e me viu, dando um “oi” meio seco. Eu parei, meio sem graça, e puxei papo: “E aí, Aline, como tá sendo morar aqui?” Ela me olhou de lado, como se estivesse me avaliando.
“Tá de boa. O bairro é tranquilo, mas meu pai acha que falta movimento. Ele tá acostumado com lugar mais agitado,” ela disse, com uma voz calma, mas com um tom que parecia esconder algo.
“Sei como é. Minha mãe também vive falando que aqui é parado demais,” respondi, tentando parecer natural. Ela deu um sorriso de canto de boca.
“Tua mãe é legal. Meu pai gostou dela logo de cara,” ela jogou, e eu senti um calor subir pelo pescoço.
“É, ela é simpática,” falei, seco, querendo mudar de assunto. “Tu estuda por aqui?”
“Sim, faço primeiro ano na estadual. E tu?” Ela guardou o celular no bolso, me encarando.
“Tô no terceiro, no Dom Bosco. Tentando passar de ano sem me foder muito,” ri, meio nervoso, e ela riu junto, um riso curto.
“Boa sorte, então. Te vejo por aí, Daniel,” ela disse, já se virando pra entrar em casa. Eu acenei e fui embora, mas aquele papo ficou na minha cabeça. A Aline era um mistério, e o Mauro… bom, ele tava começando a me dar nos nervos.
Uns dias depois, a coisa esquentou de vez. Era sexta-feira, eu tava voltando da escola, cansado pra caramba, quando vi o Mauro na nossa sala, sentado no sofá com uma cerveja na mão. Minha mãe tava na cozinha, rindo de algo que ele disse, e eu entrei já puto. “Que que tá rolando aqui?” perguntei, largando a mochila no chão.
“Oi, Daniel! O Mauro veio trazer umas ferramentas que teu pai deixou com o antigo vizinho, e eu chamei ele pra tomar uma cerveja,” ela disse, toda sorridente, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
“Ferramentas? E precisa ficar aí rindo que nem boba pra isso?” Eu soltei, sem nem pensar, e o Mauro levantou uma sobrancelha, me encarando.
“Calma aí, muleque. Tua mãe só tá sendo educada. Não precisa vir com esse fogo todo,” ele disse, com aquela voz grave que parecia um trovão.
“Não sou teu muleque, cara. E tu não tem que ficar entrando aqui como se fosse dono,” retruquei, o sangue subindo. Minha mãe ficou vermelha na hora.
“Daniel, para com isso! Ele é nosso vizinho, tá sendo gentil! Tu tá passando dos limites!” Ela veio pra sala, os braços cruzados, me fuzilando com o olhar.
“Gentil? Ele tá te dando ideia, mãe, e tu tá caindo direitinho! Eu não sou cego!” Eu gritei, e o Mauro se levantou, o corpo dele enchendo o espaço da sala.
“Olha como fala, garoto. Eu não vim aqui pra confusão, mas se tu quer briga, tu acha,” ele disse, calmo, mas com um tom que me fez recuar um passo. Minha mãe se meteu na frente.
“Chega, os dois! Daniel, sobe pro teu quarto agora! E tu, Mauro, desculpa, ele tá estressado com a escola,” ela falou, tentando apagar o fogo. O Mauro deu um sorrisinho de lado, pegou a cerveja e saiu, me dando um último olhar que parecia dizer “tu tá ferrado”.
Eu subi pro quarto, joguei a mochila na parede e me larguei na cama, puto da vida. Minha mãe subiu logo depois, abriu a porta sem bater e me encarou: “Que que tá acontecendo contigo, Daniel? Tu tá virando um maluco ciumento! O Mauro é só um vizinho, para de inventar coisa!”
“Inventar? Ele te olha como se fosse te comer, mãe! E tu fica toda boba com ele! Eu não vou ficar vendo isso calado!” Eu levantei, apontando o dedo pra ela.
“Tu tá louco! Eu sou tua mãe, não tua namorada! Para de me controlar e cresce, caramba!” Ela gritou e saiu, batendo a porta. Eu fiquei ali, o coração batendo forte, sentindo um ódio que misturava ciúme com algo que eu não queria nem pensar.
Depois dessa briga, eu comecei a reparar mais ainda no Mauro. Ele aparecia na nossa casa quase todo dia, trazendo alguma desculpa: um bolo da Aline, uma conversa sobre o bairro, até ofereceu pra consertar a torneira da cozinha uma vez. Minha mãe aceitava tudo com aquele sorriso que me dava nos nervos. Eu ficava na minha, mas tava de olho, sentindo que o cara tava se aproximando demais. A Aline, por outro lado, continuava na dela, mas às vezes eu pegava ela me olhando de um jeito que me deixava sem graça.
Uma noite, eu tava no quintal, sentado na cadeira de plástico, tomando um refrigerante e pensando na vida, quando vi o Mauro saindo da casa dele com um pacote na mão. Ele veio direto pro nosso portão e chamou: “Ângela, trouxe um negócio pra ti!” Minha mãe apareceu na porta, de short e camiseta, o cabelo preso num rabo de cavalo, e sorriu pra ele: “Ai, Mauro, tu é um anjo! Entra aí!”
Eu levantei na hora, já com o sangue quente. “Que que tá rolando aqui de novo?” perguntei, indo até o portão. O Mauro me olhou, calmo, mas com aquele ar de quem não leva desaforo.
“Relaxa, Daniel. Só trouxe um bolo que a Aline fez. Tua mãe é uma vizinha legal, só tô sendo educado,” ele disse, mas eu não engoli.
“Educado? Tu tá quase morando aqui, cara! Para de dar em cima da minha mãe na minha frente!” Eu soltei, e a Ângela ficou vermelha, vindo pra perto.
“Daniel, já deu! Para de falar besteira! O Mauro é amigo, tu tá vendo coisa onde não tem!” Ela me puxou pelo braço, mas eu me soltei.
“Amigo? Ele te olha como se tu fosse um prato de comida, mãe! Eu não sou otário!” Eu gritei, e o Mauro deu um passo pra frente, o corpo dele parecendo uma muralha.
“Olha o respeito, garoto. Eu não vim pra confusão, mas tu tá pedindo,” ele disse, a voz grave ecoando no quintal. Minha mãe se meteu entre a gente.
“Para, os dois! Mauro, desculpa ele, por favor. Daniel, entra agora!” Ela me empurrou pra dentro, e eu fui, mas não antes de dar um último olhar pro Mauro, que só balançou a cabeça e voltou pra casa dele.
Dentro de casa, a briga explodiu de vez. “Tu tá louco, Daniel? Tá querendo apanhar do Mauro? Para de passar vergonha!” Minha mãe tava puta, os olhos faiscando.
“Vergonha? Vergonha é tu ficando toda boba pra um cara que mal conhece! Ele tá te usando, mãe, e tu não vê!” Eu gritei, batendo a mão na mesa.
“Me usando? Eu sou adulta, Daniel, sei me cuidar! Tu tá com ciúme, é isso? Tá com medo de perder a mamãe?” Ela riu, um riso que me cortou.
“Ciúme? Eu tô tentando te proteger, caramba! Esse cara é um predador, eu vejo nos olhos dele!” Eu disse, e ela parou, me encarando.
“Proteger? Tu não protege ninguém ficando com esse chilique! Cresce, Daniel, e me deixa viver!” Ela virou as costas e subiu pro quarto, me deixando ali, sozinho, com a raiva queimando no peito.
Aquela noite foi o começo de tudo. O Mauro tava se enfiando na nossa vida, e eu sentia que ele tinha algo guardado, tipo uma carta na manga. Minha mãe tava caindo no papo dele, e eu, com meus 18 anos, meu corpo forte e minha timidez idiota, não sabia como lidar com isso. A Aline era um mistério à parte, mas o Mauro… ele era o problema. E eu sabia que, cedo ou tarde, ia ter que encarar ele — e minha mãe — de um jeito que eu nunca imaginei.