O sol da tarde dourava o gramado do quintal, onde as crianças corriam entre balões coloridos, seus risos se misturando à conversa dos adultos espalhados pela varanda. Dentro da casa, o cheiro doce do bolo recém-assado pairava no ar. Ana, vestida com um delicado vestido azul-claro que destacava suas curvas recém-descobertas, cortava fatias do bolo sob o olhar atento da mãe.
— Lembre-se, Ana — disse a mãe em tom baixo, lançando um olhar rápido pela janela. — Não fique muito perto da sua tia Mônica.
— Por quê? — perguntou Ana, sem erguer os olhos do bolo.
— Você sabe o motivo. Agora que é uma mulher e está prestes a casar, não precisa ouvir... certas coisas.
Ana suspirou, tentando disfarçar o arrepio que percorreu sua nuca. Desde menina, ouvira histórias sussurradas sobre Mônica, a irmã mais nova de seu pai. Três casamentos. Roupas curtas demais. Risadas que sempre soavam como se escondessem algo proibido. As mulheres da vizinhança falavam dela com reprovação — mas nos olhos de algumas, Ana percebia outra coisa: uma centelha de inveja mal disfarçada.
— Ana! — chamou uma voz animada da porta da cozinha.
Ela se virou e sorriu ao ver o irmão mais novo, Gustavo, entrando às pressas. Com dezesseis anos recém-completados, ele ainda tinha o rosto de menino, mas o corpo começava a ganhar os traços de um jovem homem. Vestia jeans e uma camisa azul-clara, o cabelo castanho levemente bagunçado pelo vento. Os olhos brilhavam de empolgação.
— Já tá cortando o bolo? Eu quero o primeiro pedaço! — disse ele, aproximando-se com um sorriso travesso.
— Que folgado! O aniversariante não pode escolher tudo — respondeu Ana, rindo. — Mas, já que hoje é o seu dia... vou pensar no caso.
— Eu mereço, vai! — insistiu ele, apoiando-se no balcão ao lado da irmã. — E, ó, a festa tá legal. Até a Letícia veio...
— Ah... então é por isso que você tá todo arrumado — provocou Ana, lançando-lhe um olhar malicioso.
— Para, nada a ver! — Gustavo corou levemente, desviando o olhar. — Mas... você viu a tia Mônica chegando? Todo mundo ficou olhando.
Ana hesitou por um instante, sentindo o estômago apertar.
— Vi, sim... — respondeu em tom neutro.
— Ela é... diferente, né? Tipo, nem parece se importar com o que os outros pensam. Meio... sei lá.
— Meio atrevida, você quer dizer.
— É... — Gustavo riu, sem jeito. — A mãe sempre diz pra gente não dar muita conversa pra ela. Mas eu acho que ela é legal... só meio exagerada.
Ana não respondeu de imediato. Parte dela queria concordar com a mãe. Outra parte, porém, não conseguia negar a curiosidade crescente.
— Bom, deixa isso pra lá — disse ela, voltando a cortar o bolo. — Vai lá aproveitar a festa, daqui a pouco eu levo os pedaços.
— Beleza! Mas guarda o primeiro pra mim, hein! — Gustavo piscou para a irmã antes de sair da cozinha, deixando Ana sozinha com seus pensamentos.
O som de pneus rangendo no asfalto do lado de fora interrompeu o momento. A conversa na varanda cessou por um instante. Ana não precisou olhar para saber quem havia chegado. O silêncio momentâneo, seguido pelo burburinho ansioso, dizia tudo.
— Meu Deus, ela veio mesmo! — cochichou uma das convidadas.
— E olha só o vestido dela!
Ana se aproximou da janela, o coração acelerado sem motivo aparente. Lá fora, Mônica descia do carro com a graça despreocupada de quem sabe que todos os olhares estão sobre si. O vestido vinho colado ao corpo abraçava suas curvas generosas, o decote ousado chamava atenção para os seios fartos, e a fenda lateral revelava as pernas torneadas a cada passo. Os cabelos castanhos, soltos em ondas suaves, emolduravam o rosto de traços marcantes, onde os lábios pintados de vermelho desenhavam um sorriso quase malicioso.
Os homens, mesmo os mais discretos, não conseguiram evitar um segundo olhar. As mulheres trocavam sussurros nervosos, ajustando a postura como se a presença de Mônica as fizesse questionar sua própria feminilidade.
— Que atrevimento... — murmurou a mãe de Ana, voltando-se para a cozinha com o semblante tenso.
Ana, porém, não conseguia desviar os olhos. Havia algo em Mônica que a fascinava — uma liberdade palpável em seus movimentos, uma confiança que parecia eletrizar o ar ao redor.
A festa seguiu seu curso, mas a presença de Mônica pairava como um perfume doce e inebriante. Em algum momento, enquanto levava os pratos de bolo para a mesa, Ana ouviu a risada da tia na varanda — uma risada rouca, cheia de algo que ela não sabia nomear, mas que fez seu ventre se apertar de um jeito estranho.
Mais tarde, enquanto recolhia copos na cozinha, Ana sentiu um leve arrepio percorrer sua nuca. Não precisava se virar para saber que não estava mais sozinha.
— Já estão falando mal de mim outra vez?
A voz, baixa e divertida, veio acompanhada de um perfume adocicado. Ana se virou devagar.
— Não... não é isso... — gaguejou, sentindo as bochechas queimarem.
Mônica estava ali, encostada no batente da porta, segurando uma taça de vinho tinto. O tecido justo do vestido realçava cada curva, enquanto o sorriso nos lábios vermelhos parecia carregar um convite silencioso.
— Claro que é — retrucou a tia, avançando alguns passos com uma calma felina. — Sempre é. Afinal, sou o exemplo do que não se deve fazer... três casamentos, roupas “inadequadas”, certos prazeres que as esposas certinhas fingem nem saber que existem...
— T-tia, eu...
— Não precisa se explicar, querida. Só estou curiosa — interrompeu Mônica, apoiando-se no balcão ao lado da sobrinha. — Então... está pronta para o casamento? Imagino que seu noivo esteja contando os dias.
Ana abaixou o olhar para o pano de prato em suas mãos, sentindo o rosto corar. O ar parecia mais quente agora.
— S-sim... estamos muito felizes.
— Felizes e... controlados? — Mônica arqueou uma sobrancelha. — Ou já provaram um pouquinho do que vem por aí?
— Tia! — exclamou Ana, virando-se de súbito.
— O que foi? Só estou perguntando... sabe, eu lembro do meu primeiro casamento. Achava que sabia tudo sobre o prazer. Mas, ah... — Mônica soltou uma risada baixa. — Descobri que havia muito mais a explorar.
Ana tentou se concentrar nas louças, mas o perfume doce da tia parecia envolvê-la. Havia algo na proximidade de Mônica que fazia seu coração bater mais rápido.
— O casamento abre portas, Ana — continuou Mônica, a voz agora mais suave, quase íntima. — Algumas pessoas preferem manter tudo simples... mas outras gostam de descobrir cômodos mais... apertados.
Ana franziu o cenho. Algo naquelas palavras fez seu estômago dar um nó estranho — mas ela não soube dizer se era desconforto ou outra coisa.
— Que tipo de... cômodos? — perguntou, a voz saindo quase em um sussurro.
Mônica inclinou a cabeça, os lábios se curvando em um sorriso que parecia saber demais.
— Ah, querida... às vezes, duas portas se abrem ao mesmo tempo. E o que entra por uma pode se surpreender ao encontrar a outra já... ocupada.
O rosto de Ana ficou vermelho. Ela entendeu o suficiente para que seu ventre se apertasse em resposta. Mas não queria acreditar que a tia estivesse insinuando aquilo...
— Eu... não estou entendendo...
— Não está? — Mônica se aproximou mais um passo, a voz baixa, quase um sussurro junto ao ouvido da sobrinha. — Dupla penetração, Ana. DP. Uma sensação... indescritível. Mas tem que saber pedir... e se entregar.
O coração de Ana martelava tão forte que ela mal conseguia respirar.
— M-mas isso é... errado... — murmurou, a voz falhando.
— Errado? — Mônica recuou apenas o suficiente para olhar a sobrinha nos olhos. — É o que dizem. Mas a verdade... — ela deslizou a ponta dos dedos pelo braço de Ana, apenas um toque leve, mas que fez a pele da jovem se arrepiar — é que muitas esposas certinhas sonham com isso... só não têm coragem de admitir.
Ana ficou imóvel, sentindo o sangue pulsar nos ouvidos. A proximidade da tia, o perfume doce, as palavras proibidas... tudo girava em sua cabeça. Um calor desconhecido se espalhava pelo ventre, uma tensão que parecia querer explodir sem aviso.
— Pense nisso, querida... — sussurrou Mônica, afastando-se com um último sorriso malicioso. — Às vezes, os prazeres mais intensos vêm quando você se atreve a abrir mais de uma porta... ao mesmo tempo.
Ela saiu da cozinha com o mesmo andar gracioso, deixando Ana sozinha — e completamente desnorteada. O coração ainda batia descompassado. As imagens que agora povoavam sua mente eram tão proibidas quanto impossíveis de afastar.
E, no fundo de si, Ana soube que algo havia mudado para sempre.
O sol da tarde invadia a cozinha de Ana através da janela, iluminando os azulejos brancos com um brilho suave. O ar estava morno, carregado com o aroma doce do bolo que assava no forno. Ana, porém, não prestava atenção em nada disso. Sentada à mesa, as mãos trêmulas seguravam o pequeno dispositivo em sua palma — um teste de gravidez.
O coração martelava no peito, tão alto que ela quase podia ouvi-lo. Desde o início da semana, sentia algo diferente: o corpo mais sensível, os seios latejando sob o tecido do vestido, uma leveza estranha na cabeça, como se flutuasse em um sonho. Mas fora naquela manhã que a suspeita se tornara real — o atraso. Não havia como ignorar.
Inspirou fundo, tentando acalmar a respiração. Os dedos apertaram o teste, como se pudessem arrancar dele a resposta antes da hora. O visor digital ainda exibia os três pontos piscando, indicando que o resultado estava a caminho. Cada segundo parecia um século.
"Será que eu...?" A pergunta ecoava em sua mente, ao mesmo tempo doce e assustadora. Ela imaginou Paulo, o sorriso dele ao saber da notícia. Sentiu o peito aquecer com a imagem dos braços fortes do marido envolvendo-a, protegendo-a. Mas logo o nervosismo voltou. E se não fosse? E se...
Um bip suave interrompeu seus pensamentos. O visor parou de piscar.
Ana prendeu a respiração antes de olhar. Quando seus olhos pousaram nas palavras, o mundo ao redor desapareceu.
"Grávida - 3+ semanas"
O ar escapou de seus lábios num suspiro trêmulo. O coração, antes descompassado, agora batia de um jeito diferente — mais forte, mais vivo. Uma onda de calor tomou conta de seu peito, subindo pela garganta até os olhos, que se encheram de lágrimas.
— Eu tô grávida... — murmurou, a voz mal saindo. — Meu Deus... tô grávida...
A frase ecoou pela cozinha, preenchendo o silêncio com um sabor novo. Ana apertou o teste contra o peito, como se segurasse o próprio futuro. As lágrimas desciam pelo rosto, mas ela sorria — um sorriso que misturava surpresa, alegria e um toque de medo. Tudo ao mesmo tempo.
Ficou ali, sozinha na cozinha banhada de sol, enquanto dentro dela, uma nova vida começava a pulsar.
E no fundo do coração, soube que nada jamais seria como antes.