Aviso de Conteúdo Sensível: Este texto contém discussões sobre violência sexual, que podem ser gatilhos para algumas pessoas. Leia com cautela e cuide de seu bem-estar.
***
Tomei um banho longo, aparei os pelos visíveis e hidratei todo o meu corpo. Cada movimento era meticuloso, como se estivesse me preparando para uma cerimônia importante. E, de certa forma, era. Coloquei a roupa que escolhi com cuidado e passei um perfume que comprei especialmente para aquela ocasião. O perfume foi mais caro que a roupa, acredite. Mas valia a pena. Queria estar impecável, sentir-me confiante. Afinal, não era todo dia que eu conhecia a família do Fernando.
Ele chegou e mandou uma mensagem pedindo para eu abrir a porta. Ainda sem entender, fui atendê-lo e o encontrei segurando um buquê de flores. Um sorriso involuntário se formou na minha boca, e eu o beijei, sentindo o aroma suave das flores misturado ao seu cheiro familiar.
— Você é cheio de surpresas — falei, ainda um pouco sem palavras.
— O melhor para você — ele afirmou, me entregando o buquê com um sorriso tímido.
— Nunca ganhei flores — revelei, as segurando com cuidado, como se fossem feitas de vidro.
— Você merece o mundo, Joel. E vai conquistar esse objetivo.
Eu não tinha um vaso ou lugar adequado para colocar as flores, então enchi uma panela com água e as deixei lá temporariamente, até encontrar uma solução melhor. Enquanto isso, Fernando esperava pacientemente, observando meus movimentos com um olhar carinhoso.
Seguimos para a casa da família dele. No caminho, ele fez um breve resumo sobre sua família. O pai, também chamado Fernando, se formou cedo em direito na Universidade de São Paulo. A mãe, Joana, era dentista. Juntos, eles tiveram três filhos: Vicente, Tamara e Fernando. Ele explicou que, embora os irmãos fossem unidos durante a infância, a relação deles havia se distanciado com o tempo.
Fernando atribuía parte dessa distância a si mesmo, já que os pais sempre o comparavam com os irmãos, especialmente quando ele optou por estudar design gráfico, sendo o mais jovem do curso.
A viagem até a casa dos pais dele durou quase uma hora. Eles moravam nos Jardins, um bairro nobre de São Paulo. Nos últimos tempos, eu tenho ido a muitos lugares diferentes da cidade, e estava gostando da experiência. Até então, meu lugar favorito era a Praça do Pôr do Sol, mas algo me dizia que aquela noite poderia competir pelo título.
Quando chegamos ao condomínio, Fernando usou a digital em um totem perto da guarita, e o portão se abriu. Porém, o segurança nos parou e pediu meus documentos.
— Documento, por favor — disse o homem, com uma expressão neutra.
Fernando, sentado ao meu lado, ergueu as sobrancelhas, claramente surpreso.
— Ele tá comigo — afirmou, como se isso fosse suficiente.
O porteiro manteve a expressão de quem ouviu, mas escolheu ignorar.
— Documento.
Bufei, mas tentei manter a classe. Peguei minha identidade e entreguei, sorrindo como quem já conhece esse roteiro de cor.
— Quer que eu assine um termo também? Prometo não roubar os talheres de prata — brinquei, tentando aliviar a tensão.
Fernando pareceu um pouco constrangido.
— Desculpa, Joel. Eu deveria ter previsto isso — lamentou.
— Ei, relaxa. Segurança em primeiro lugar, né? — questionei, tentando tirar um sorriso dele.
Ele acabou cedendo e sorriu, mas eu sabia que aquela não tinha sido a melhor primeira impressão para dona Joana. Será que ela realmente achava necessário pedir meu documento? Tipo, eu não estava lá para roubar nada. Só queria comer algo gostoso e, talvez, fazer o Fernando feliz. Espera, eu quero fazer o Fernando feliz? Acho que comecei com o pé esquerdo.
Enquanto o carro avançava pelo condomínio, eu me peguei pensando no que aquela noite reservava. Flores, jantares chiques, famílias tradicionais... Tudo isso era novo para mim. Mas, no fundo, sabia que o que realmente importava era o Fernando. E, por ele, eu estava disposto a enfrentar até um porteiro desconfiado.
Caralho. O que é isso? As casas parecem ter saído de uma série de gente rica. Enquanto o carro do Fernando deslizava pelas ruas do condomínio, eu me senti como se tivesse sido transportado para outra dimensão. Cada casa era maior e mais imponente que a outra, com jardins impecáveis, fachadas que brilhavam sob a luz do entardecer e portões que pareciam guardar segredos de uma vida que eu nem sabia que existia. Era como se estivéssemos em outra cidade, ou melhor, em outro planeta. Isso estava muito, muito longe da minha realidade. O meu kitnet, aquele cubículo que eu chamava de lar, nem se comparava a isso.
Enquanto observava aquela ostentação toda, não pude evitar uma reflexão amarga sobre a diferença de classes no Brasil. E, claro, a cor da pele sempre entra na jogada, né? Eu, um cara preto, criado na periferia, trabalhando em posto de gasolina, ali, naquele lugar, parecia uma piada de mau gosto. Mas, ao mesmo tempo, eu me senti desafiado. Por que não poderia ser eu ali? Por que sempre temos que nos contentar com as migalhas enquanto outros nadam em piscinas de dinheiro? Esses pensamentos rodavam na minha cabeça, mas foram interrompidos pela voz do Fernando me chamando.
— Joel, estamos aqui.
E lá estava ela: a casa gigantesca. Era como se tivessem tirado aquilo de uma novela da TV Mundo. A fachada era imponente, com colunas altas, janelas enormes e um jardim que parecia ter sido desenhado por um artista. O caminho de pedras que levava até a porta principal estava iluminado por luzinhas que pareciam estrelas caídas no chão. Eu respirei fundo, tentando me preparar para o que viria a seguir.
Ao entrar, outro choque: o interior era mais belo que o exterior. Realmente, a dona Joana não estava pra brincadeira. O lugar estava todo enfeitado com decoração natalina, e havia uma árvore enorme na sala, cheia de presentes embaixo. As luzes piscavam em sincronia, e o cheiro de pinho e canela invadia o ar. Era como se eu tivesse entrado em um filme de Natal.
A dona Joana apareceu sorridente, usando um vestido vermelho que parecia ter saído de uma revista de moda. Ela abraçou o Fernando e o beijou sem se encostar no rosto dele, como se estivesse seguindo um protocolo de etiqueta. Depois, virou para mim com um sorriso largo e me cumprimentou com dois beijos no rosto.
— Que bom que você veio, Joel! — disse ela, com uma voz doce que quase me fez acreditar que eu era bem-vindo ali.
— Obrigado pelo convite, dona Joana — respondi, tentando manter a compostura.
— Todo mundo já chegou? — perguntou o Fernando, olhando ao redor.
— Claro, querido. Estão na sala de jantar — ela apontou para frente, e nós seguimos.
A sala de jantar era do tamanho do meu apartamento. Sério, dava pra caber um estúdio inteiro ali dentro. À mesa, estavam sentadas três mulheres e dois homens. O mais velho, com um ar de autoridade, deduzi ser o Fernando pai. O outro homem, mais jovem, devia ser o Vicente, o irmão mais velho. As mulheres eram a Tamara, a irmã do meio, e duas convidadas: Keila, a namorada da Tamara, e Yumi, a noiva do Vicente.
O Fernando me apresentou ao grupo como "amigo". É o que somos, certo? Eu sou amigo dele, ele é meu amigo. Ok. Todo mundo foi muito simpático, mas dava pra sentir aquele olhar de curiosidade, como se estivessem tentando decifrar o que eu estava fazendo ali. A Tamara, que estava acompanhada da namorada, Keila, me surpreendeu. Não esperava que ela fosse assumida assim, mas mantive a pose. Já o Vicente estava com Yumi, uma moça muito simpática que parecia estar ali mais por obrigação do que por vontade própria.
Sério, os pais do Fernando são máquinas de xerox humana. Ele e o Vicente são parecidos com o pai, enquanto a Tamara é a cópia da mãe. Eles estavam tomando vinho e conversando sobre política. Opa, algo que eu entendo.
A conversa fluiu de maneira agradável, com todos dando opiniões parecidas sobre os rumos do país. Uma empregada apareceu e serviu bebida para todos. Eu fiquei um pouco desconfortável, pois nunca havia ido a um lugar tão chique. Ver alguém servindo assim, como se fosse a coisa mais normal do mundo, me fez sentir deslocado.
De repente, o Vicente começou a se gabar da parceria que fez com Yuri Nakamoto, um cardiologista do Hospital Central de São Paulo. Eles estavam desenvolvendo um estudo para criar corações artificiais. Enquanto isso, a Tamara tirou onda do pai, dizendo que o escritório dela havia conseguido mais um contrato grande.
Nesse momento, percebi que os ombros do Fernando encolheram. Ele se sentia inferior aos irmãos. Aquela competição velada, aquela necessidade de provar seu valor, estava estampada no rosto dele. De alguma forma, o assunto acabou parando em mim.
— E você, Joel? O que faz da vida? — perguntou o Fernando pai, com um olhar curioso.
— Trabalho em um posto de gasolina — respondi, sem rodeios. — Mas consegui um desempenho bom no Enem este ano. O Fernando me ajudou em algumas matérias.
— Ah, sim! — interveio o Fernando, animado. — O Joel é muito dedicado.
— E já sabe o que quer cursar? — questionou Fernando, o pai.
— Estou entre design ou pedagogia. Afinal, a área de design é o futuro — continuei, tentando puxar a sardinha para o lado dele. — Muitas empresas precisam de profissionais que se dediquem a criar logotipos ou design especificos.
— Entendi. É uma boa opção. — ele se limitou a dizer.
— Fora que o Fernando é concursado, né? Isso é um feito muito grande — acrescentei, tentando elevar o moral dele. — Espero conquistar algo tão grandioso assim.
— Verdade — afirmou o Fernando pai, com um sorriso de aprovação. — Pensei que esse negócio de desenho ia ser passageiro, mas o Fernandinho realmente está me surpreendendo.
Peguei no joelho do Fernando por baixo da mesa, e ele me devolveu um sorriso tímido. A dona Joana agradeceu a presença de todos e anunciou o jantar.
A mesa foi posta com pratos que pareciam obras de arte. Salmão grelhado, risoto de cogumelos, legumes assados... Tudo com uma apresentação impecável. Enquanto comíamos, eu me senti um pouco mais à vontade, mas ainda assim aquela sensação de não pertencer ali não me abandonava.
No fundo, eu sabia que aquela noite era importante para o Fernando. E, por ele, eu estava disposto a enfrentar até jantares chiques e conversas sobre corações artificiais. Afinal, ele merecia o mundo. E, quem sabe, eu também mereça.
— E o que os seus pais fazem? — o pai do Fernando questionou.
Droga. Tudo o que eu não queria era contar a minha história triste, mas vamos lá. A conversa na mesa de jantar acabou tomando um rumo que eu não esperava. Alguém perguntou sobre minha família, e eu senti aquele nó na garganta, aquele frio na espinha que sempre vem quando o assunto surge. Tentei ser breve, falar sem dramatizar, afinal, o abandono já faz parte da minha vida.
Contei sobre a instituição de acolhimento "Um Lugar ao Sol", onde passei a maior parte da minha infância e adolescência. Falei sobre as noites frias, os dias sem saber se alguém viria me visitar, e como eu aprendi a me virar sozinho.
A família do Fernando absorveu cada palavra em silêncio. Dava pra ver nos olhos deles uma mistura de pena e curiosidade, mas eu juro que não quis pesar o clima. Felizmente, dona Joana logo trouxe outro assunto à mesa, e a noite seguiu sem mais transtornos.
Após a sobremesa, todos foram para a sala. O Fernando aproveitou para me levar ao seu quarto. Era outro espaço que refletia a personalidade dele: action figures, videogames e muitas fotos espalhadas pelo ambiente. Sério, o Fernando era muito fotogênico. Peguei uma foto em que ele estava mais novo, vestido de Homem-Aranha, e não pude evitar de rir.
— Cosplay desde cedo, hein? — brinquei, mostrando a foto pra ele.
Ele riu, mas logo se aproximou por trás, beijando minha nuca. Fechei os olhos, sentindo o calor do seu corpo se aproximando. Deixei a foto sobre a mesa e virei pra ele, nossos lábios se encontrando em um beijo que rapidamente se tornou mais intenso. De repente, as coisas foram ficando quentes, e o Fernando colocou o pau pra fora.
Eu me ajoelhei, sentindo aquele misto de desejo e submissão que sempre me dominava quando estávamos assim. Ele segurou minha cabeça e começou a foder minha boca sem pena, como se quisesse marcar cada centímetro de mim. Eu deixei, porque era isso que eu queria. Depois, ele foi até o guarda-roupa e pegou um preservativo. Enquanto isso, eu fui até a porta e a tranquei. Não queria ser pego desprevenido.
O Fernando deitou na cama, apenas com o pau pra fora, e colocou o preservativo. Eu tirei a calça com cuidado, para não amassar, ficando apenas de meia. Sentei nele, controlando o ritmo, sentindo o pênis dele ganhando espaço dentro de mim. O Fernando deve ter uns 23 cm e é grosso. O pau dele é um dos mais lindos que já vi — rosa e cheio de veias.
Às vezes, quando ele me come, dá vontade de chorar, porque me sinto desejado e cheio de prazer. Ele pediu para eu ficar na posição de frango assado, e eu obedeci. Foi um sexo forte e silencioso, afinal, a família dele continuava na sala. Tudo bem, a casa era enorme, mas ainda assim, cada gemido abafado parecia ecoar na minha cabeça.
Ele gozou, e ficamos deitados na cama, ofegantes.
— Você é o primeiro homem que eu trago pro meu quarto — ele confessou, antes de pegar minha mão e beijá-la.
— Você também foi o primeiro que levei para a minha casa — confessei, o que era verdade.
— Obrigado por me defender hoje. Faz tempo que o meu pai não me elogia.
— Relaxa, você não tem noção de quanto foi importante para o meu crescimento — afirmei, o beijando novamente.
— Vamos voltar?
Descemos, e a família dele estava jogando UNO. Acabamos jogando também, e eu consegui derrotar todos os médicos e advogados no recinto. Ok, eu achei que a noite seria pior, mas foi tranquila. Ainda saí na foto oficial de Natal da família.
Infelizmente, eu tinha apenas uma folga por semana. Naquele domingo, tive que ir trabalhar, e para piorar, o posto estava todo enfeitado para o Natal. Inclusive, a gente ganhou gorros nas cores do posto. Aproveitei um momento de folga para descansar no quartinho, já que não estava mais atendendo clientes.
Deitei e acabei adormecendo. Acordei com um ardor dentro de mim. Tentei levantar, mas havia um peso em cima de mim. Foi então que percebi que estava sendo penetrado. Lutei para sair, mas a pessoa em questão não parava. Senti o maior medo da vida e, num momento de desespero, implorei para a pessoa parar. Ele me segurava com violência, deu um tapa na minha cabeça e não teve pena. O pau dele era fora do normal, certeza que estava todo arreganhado.
— Para! — tentei gritar.
Ele não parou. Pelo contrário, começou a penetrar com mais força, cada movimento uma facada que me fazia querer gritar, mas eu não conseguia. De repente, suas mãos apertaram meu pescoço com uma força desumana. Eu não conseguia respirar. O ar sumiu, e o mundo começou a girar. Tentei me mexer, lutar, mas ele era muito mais forte.
Usei toda a força que tinha para tentar me levantar, mas ele me empurrou de volta na cama, e eu acabei de quatro, com o rosto enterrado no travesseiro. Ele aproveitou a posição para meter mais forte, cada movimento uma violência que parecia querer me destruir por dentro. O pau dele me rasgava, e eu sentia cada centímetro, como se ele estivesse tentando chegar até o meu estômago.
— Para, por favor... — tentei falar de novo, mas as palavras saíram engasgadas, quase inaudíveis.
Em vez disso, deu dois socos na minha costa, tão fortes que eu senti o impacto ecoar pelos meus ossos. A dor foi tão intensa que eu caí de volta na cama, imóvel, sem forças para lutar. O medo tomou conta de mim, um medo que eu nunca tinha sentido antes. Medo de morrer. Medo de que aquilo não acabasse nunca.
Isso não podia ser real. Não podia estar acontecendo comigo. Eu fechei os olhos e tentei me desconectar, como se fosse uma forma de me proteger, de sobreviver. Mas o corpo dele continuava em cima de mim, cada movimento uma lembrança de que eu não tinha controle sobre nada.
Quando ele finalmente acabou, eu fiquei deitado, imóvel, sentindo o peso do mundo esmagando meu peito. Ele se levantou, vestiu as roupas e jogou algumas notas na cama, como se eu fosse um objeto, uma coisa que ele podia usar e descartar.
— Viado de bosta! — disse a pessoa. Ele gozou, vestiu a roupa e jogou algumas notas na cama.
Fiquei deitado em choque, chorando. O que tinha acontecido? De repente, o Lucas chegou todo fodido, o resto do corpo cheio de hematomas. Perguntei o que havia acontecido, e ele explicou que um grupo de caminhoneiros tinha chegado e pedido uma "festa" com os frentistas. Lucas foi arrastado para o banheiro e violentado, e a Paloma para um caminhão.
— Temos que ajudar a Paloma — falei, levantando com dificuldade e pegando um pedaço de madeira que achei jogado no chão.
Descrever essa cena é difícil, mas vamos lá. Lucas e eu fomos até o caminhão onde a Paloma estava sendo violentada. O caminhoneiro, um homem grande e brutal, estava em cima dela, e ela gritava por ajuda. Não teve outro jeito, entramos em ação. Eu dei uma paulada no homem, que caiu desmaiado no chão. Enquanto isso, Lucas levou a Paloma para longe.
De repente, vários curiosos apareceram, e o caminhoneiro, ainda atordoado, começou a gritar que a Paloma estava se vendendo, que todos no posto se vendiam. Vi vários celulares apontados para mim, as pessoas comentando, filmando. Isso só pode ser um pesadelo. Quem disse que as coisas iam sair bem para mim? Quem estou enganando? Eu não sou ninguém, eu não sou nada.
No dia seguinte, o caso estava em todas as notícias, mas você acha que era a violência que sofremos? Não.
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