Obsidian: A Primeira Escrava - Parte 09

Da série Obsidian
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 5052 palavras
Data: 27/02/2025 13:34:39

A manhã transcorria como qualquer outra na clínica. O som rítmico das teclas do computador, o burburinho dos pacientes na recepção, o tilintar ocasional de instrumentos metálicos dentro dos consultórios. Clara revisava alguns prontuários na sala do Dr. Paulo quando a porta se abriu suavemente.

— Bom dia, doutor. Bom dia, Clara — A voz animada de Priscila, a recepcionista, cortou o silêncio tranquilo.

Priscila era uma jovem simpática, sempre trazendo uma energia leve para o ambiente da clínica. Com seus cabelos castanhos presos em um coque bagunçado e o uniforme bem alinhado, ela se aproximou da escrivaninha e colocou um pequeno maço de correspondências diante do Dr. Paulo.

— Aqui está a correspondência de hoje. Algumas faturas, alguns folhetos… e um envelope diferente — Ela apontou o último, com um leve brilho de curiosidade nos olhos.

Dr. Paulo sorriu e ajustou os óculos no rosto.

— Obrigado, minha querida.

Assim que a recepcionista fechou a porta, Dr. Paulo pegou a pilha de correspondências e começou a vasculhar o conteúdo. Faturas, revistas de odontologia, anúncios… até que seus dedos pararam sobre o envelope diferente.

Era um convite formal, com o selo prateado do Conselho Federal de Odontologia (CFO) no topo.

Ele abriu o envelope com cuidado, desenrolando o papel grosso e elegante. Clara se inclinou ligeiramente, curiosa.

— É algo importante?

Dr. Paulo sorriu de canto, como se já soubesse exatamente do que se tratava.

— É o convite para o evento anual do CFO — Ele ergueu os olhos para Clara — Como todos os anos.

Clara sorriu, empolgada.

— Isso é ótimo! Esse evento sempre é um grande acontecimento.

Dr. Paulo assentiu, mas sua expressão ficou ligeiramente mais séria.

— Sim… sempre foi.

Ele repousou o convite sobre a mesa e recostou-se na cadeira, um ar contemplativo o envolvendo.

Clara percebeu o tom mais grave na voz dele e franziu o cenho.

— O que foi?

Dr. Paulo tirou os óculos e passou a mão pelo rosto antes de responder:

— Talvez esse seja o último evento do qual eu poderei participar.

A frase caiu como uma pedra na sala silenciosa. Clara sentiu o peito apertar.

— Não diga isso, doutor — Ela tentou soar otimista — O senhor ainda tem muitos eventos pela frente.

Ele sorriu com gentileza, mas os olhos traziam a serenidade de quem já aceitou certas verdades.

— Clara… eu estou envelhecendo. Meu corpo já não responde como antes, e minha mente… bem, tu mesma já percebeu os lapsos de memória.

Clara desviou o olhar, evitando confirmar em voz alta o que ambos sabiam. Dr. Paulo não era mais o mesmo de anos atrás. Os esquecimentos estavam se tornando mais frequentes, os momentos de cansaço mais evidentes. Mesmo sendo um profissional respeitado, ele sabia que seu tempo na ativa estava se esgotando.

O silêncio que pairou entre os dois foi breve, até que ele ergueu o convite novamente, estudando-o com atenção.

— De qualquer forma, eu não perderia esse evento por nada. Quero estar lá, ver velhos amigos, assistir às palestras… e, claro, aproveitar a homenagem que provavelmente farão para mim.

Clara sorriu diante do tom divertido.

— Eles fariam um evento inteiro só para o senhor, se pudessem.

Dr. Paulo riu.

— Talvez. Mas, para isso, eu preciso de uma acompanhante competente.

Ele levantou o convite no ar e olhou para ela com expectativa.

— Clara, tu aceita ir comigo para São Paulo?

Ela piscou algumas vezes, surpresa pelo convite inesperado.

Mas o entusiasmo logo tomou conta dela.

— É claro que sim! Eu adoraria!

Dr. Paulo assentiu satisfeito, como se já esperasse aquela resposta.

— Ótimo. Então começaremos os preparativos. Vai ser uma viagem memorável.

Nos minutos seguintes, Clara se perdeu em pensamentos sobre a viagem.

Ela nunca havia participado do evento do CFO de forma tão próxima. Já ouvira falar das grandes palestras, dos debates inovadores e, claro, dos jantares elegantes que reuniam os maiores nomes da odontologia no país. Seria uma experiência única.

**********

O som das rodinhas da mala de Clara ecoava pelo piso brilhante do Aeroporto Internacional de Navegantes. O aeroporto estava movimentado, como era de se esperar para uma manhã de sexta-feira. Pessoas iam e vinham, algumas apressadas, outras esperando pacientemente nos assentos próximos aos portões de embarque.

O cheiro de brunch das cafeterias se misturava ao perfume discreto de Clara, um aroma floral suave que sempre fazia Vincent associá-la à sensação de lar.

— Primeira vez viajando de avião — Ele comentou, desviando o olhar para a esposa com um meio sorriso — Me lembro vagamente do dia que eu cheguei ao Brasil.

Clara assentiu, animada.

— Sim! É estranho, não é? Sempre quis viajar, mas nunca tive motivo ou oportunidade.

Vincent notou o brilho nos olhos dela. Havia uma Clara mais leve diante dele. Não era apenas o evento. Não era apenas a viagem. Havia algo naquela experiência que a fazia se sentir viva. E, apesar de ser um homem seguro, ele não pôde deixar de se perguntar se esse tipo de excitação fazia falta na vida dela ao lado dele.

Ao chegarem ao saguão principal, Clara avistou Dr. Paulo próximo ao balcão de check-in. Ele estava elegantemente vestido, com um casaco de linho bege sobre os ombros e uma clássica pasta de couro em mãos.

Apesar da idade avançada, sua postura ainda exalava autoridade e respeito.

Assim que os viu, ele abriu um sorriso caloroso.

— Vincent! Clara! Que bom vê-los.

Clara acelerou os passos, abraçando o mentor com carinho.

— Doutor! Está pronto para o grande evento?

Paulo soltou uma risada suave.

— Ah, minha querida, pronto eu sempre estou. O problema é se a minha idade me acompanhará no ritmo.

Ele então estendeu a mão para Vincent, que a apertou firmemente.

— Cuide bem da minha esposa, doutor. — Vincent disse, em tom respeitoso.

Dr. Paulo sorriu, inclinando levemente a cabeça.

— Com certeza. Embora eu tenha certeza de que será ela quem cuidará de mim.

Todos riram, e então o silêncio confortável se instalou por um breve momento. O voo partiria em menos de uma hora. Era hora da despedida.

Vincent voltou o olhar para Clara, avaliando-a por um instante. Ela estava radiante. Seus olhos brilhavam com a expectativa da viagem, da experiência, da mudança. Apesar de sua personalidade contida, ele sentiu o peito inchar de orgulho.

Ele segurou a cintura dela e a puxou levemente para perto.

— Aproveita cada segundo dessa viagem, Clara.

Ela sorriu, os olhos suaves sobre ele.

— Vou aproveitar.

— E saiba que estou orgulhoso de você.

As palavras o pegaram de surpresa tanto quanto a ela. Vincent não era de expressar emoções facilmente, mas Clara sentiu a sinceridade na voz dele.

— Obrigada, meu amor.

Ela ficou na ponta dos pés e o beijou suavemente. Era um beijo carregado de carinho e sem urgência. Sorriu mais uma vez antes de pegar sua bagagem e seguir para o check-in desaparecendo na multidão. Vincent permaneceu ali por mais alguns minutos, olhando para o local onde sua esposa estivera e, sem entender exatamente o motivo, sentiu uma leve inquietação dentro de si.

**********

O pouso do avião foi suave, mas, mesmo assim, Clara sentiu o estômago revirar com a sensação de descida. Ela segurou o braço da poltrona instintivamente, sentindo o coração acelerar enquanto as rodas tocavam a pista do Aeroporto Internacional de Guarulhos.

— Primeira vez pousando em São Paulo, minha querida? — Dr. Paulo perguntou com um sorriso divertido.

Clara respirou fundo e riu, ainda se acostumando com a sensação.

— Primeira vez pousando em qualquer lugar. E espero que a última em que eu sinta esse frio na barriga.

Dr. Paulo deu um tapinha reconfortante na mão dela antes de se levantar para pegar sua bagagem de mão.

— Daqui a pouco tu nem vai lembrar desse desconforto. Quando perceber, já estará encantada pela cidade.

Clara sorriu, tentando absorver a empolgação dele enquanto saíam do avião e seguiam pelo terminal. A movimentação frenética de Guarulhos era muito diferente do aeroporto tranquilo de Navegantes. Pessoas apressadas puxavam malas por todos os lados, os anúncios ecoavam pelos corredores, e o cheiro de café forte misturava-se ao ar levemente frio do saguão climatizado.

Ela nunca estivera em um lugar tão grande. Enquanto tentava absorver tudo ao redor, ouviu Dr. Paulo soltar uma exclamação animada.

— Mas vejam só quem está aqui!

Clara seguiu o olhar dele e parou ao ver um homem alto, de postura impecável e um sorriso contagiante. Ele vestia uma camisa social azul clara dobrada até os cotovelos e calça preta, o que destacava o físico esguio e atlético. Os cabelos castanhos estavam levemente bagunçados, mas de uma forma propositalmente charmosa. Os olhos, escuros, intensos. O tipo de olhar que prendia a atenção antes mesmo de se perceber o porquê. Ele abriu um sorriso e ergueu a mão em um aceno casual.

— Pai! Clara! Que bom vê-los.

Dr. Paulo abriu os braços para o filho, e Otávio não hesitou em abraçá-lo com força.

— Filho, faz tempo que não nos vemos — O tom do pai carregava um orgulho visível.

— Muito tempo, meu pai. E eu não podia perder a oportunidade de ser o primeiro a recebê-los.

Quando o abraço entre pai e filho terminou, os olhos de Otávio pousaram em Clara. E, por um instante, ele a analisou. Não com o olhar clínico de um dentista. mas com a curiosidade genuína de alguém que observa um quadro interessante.

Clara tentou não se sentir afetada.

Ela sorriu e estendeu a mão, mantendo a compostura.

— É um prazer finalmente te conhecer, Otávio. Ouvi muito sobre ti.

Ele pegou a mão dela de maneira firme, mas gentil.

— O prazer é todo meu. E posso dizer o mesmo. Meu pai não para de falar sobre o quanto tu é talentosa.

Clara sentiu as bochechas aquecerem levemente. Ela não sabia se era pelo elogio ou pelo olhar intenso que ele mantinha sobre ela por um segundo a mais do que o necessário. Mas então, ele recuou.

— Vamos? Trouxe o carro para levá-los ao hotel.

Otávio dirigia com facilidade pelas ruas movimentadas da cidade, desviando-se do tráfego intenso com a habilidade de quem já conhecia São Paulo como a palma da mão.

Dr. Paulo ocupava o banco do passageiro, enquanto Clara estava atrás, observando a cidade pela janela. O brilho dos letreiros, os prédios imponentes, as ruas sempre vivas… Tudo era novo. Tudo era imenso.

— E então, como foi o voo? — Otávio perguntou, lançando um olhar rápido pelo retrovisor, diretamente para Clara.

Ela fingiu não perceber o contato visual e respondeu casualmente:

— Foi tranquilo, apesar de eu estar um pouco nervosa.

Ele sorriu.

— Primeira vez?

— Sim.

— Então espero que a experiência na cidade compense a tensão do voo.

Ela sorriu de volta, tentando manter o tom leve.

Dr. Paulo mudou o foco da conversa, ansioso para saber mais sobre o filho.

— E tu, Otávio? Como foi o tempo na Nigéria?

Otávio inspirou fundo, como se estivesse relembrando cada detalhe.

— Foi intenso. Vi coisas que me marcaram para o resto da vida. Mas também fiz parte de histórias incríveis.

Sua voz tinha um tom de paixão genuína. Clara se pegou ouvindo com atenção. Ele falava de maneira envolvente, como alguém que realmente viveu o que dizia, e não apenas como um médico contando casos clínicos.

— Muitas pessoas imaginam que trabalhar no Médicos Sem Fronteiras seja só sobre tratar doenças, mas, na verdade, é sobre estar presente. Sobre conhecer culturas, entender as dores de um povo e fazer o possível para ajudá-los a ter um dia melhor.

Havia algo profundo na forma como ele falava e Clara sentiu uma pontada de admiração. Ele não era apenas um homem carismático. Era um homem com uma ampla bagagem cultural.

Dr. Paulo soltou um suspiro orgulhoso.

— Tenho certeza de que tu deixou uma marca por onde passou.

Otávio sorriu de lado, mas não disse nada.

No silêncio que se seguiu, Clara sentiu os olhos dele voltarem ao retrovisor.

Ele não disfarçava, mas ela fingia não perceber. Seu coração, no entanto, parecia mais consciente do que sua mente estava disposta a admitir.

O carro de Otávio deslizou suavemente até a entrada do Grand Metropolitan Hotel, um edifício imponente com uma fachada de vidro que refletia as luzes vibrantes da cidade. Clara sentiu um arrepio de empolgação percorrer sua espinha ao observar o movimento intenso do saguão. Homens e mulheres elegantemente vestidos passavam apressados. Era um ambiente de sofisticação que ela não estava acostumada a frequentar.

Otávio parou o carro na área de desembarque, onde um funcionário do hotel rapidamente se aproximou para ajudá-los com as malas.

— Sejam bem-vindos ao Grand Metropolitan — O homem disse com um sorriso formal, pegando a bagagem com eficiência.

Otávio girou a chave do carro entre os dedos antes de entregá-la ao manobrista e olhou para Clara com um sorriso descontraído.

— Preparada para viver uns dias de luxo?

Ela riu, ajeitando a alça da bolsa no ombro.

— Definitivamente.

Dr. Paulo, ao lado deles, suspirou com um ar nostálgico.

— Estive em tantos eventos aqui ao longo dos anos… Parece que cada vez que volto, tudo está mais grandioso.

— E mais caro — Otávio brincou.

Os três seguiram para dentro do hotel, e assim que entraram no saguão, Clara percebeu que Otávio chamava atenção por onde passava. Algumas mulheres sentadas no lounge do bar desviaram olhares discretos para ele, algumas sorrindo entre si quando ele passou. Até mesmo uma das recepcionistas do hotel se endireitou na cadeira, jogando os cabelos para o lado enquanto os atendia.

Clara não pôde evitar notar.

Otávio era o tipo de homem que atraía olhares naturalmente. Sua postura, sua confiança, o jeito como se movia no ambiente como se já fosse dono dele. E, embora Clara tentasse ignorar, seu subconsciente registrava tudo.

A recepcionista conferiu as reservas rapidamente e entregou os cartões de acesso.

— Os senhores ficarão em quartos no décimo andar. O Dr. Paulo e o Sr. Otávio compartilharão uma suíte dupla, enquanto a Sra. Clara terá um quarto individual ao lado.

— Ótimo — Dr. Paulo disse, pegando a chave do seu quarto.

Clara pegou o próprio cartão de acesso e sentiu um misto de empolgação e nervosismo. Ela nunca havia se hospedado sozinha em um hotel tão luxuoso.

— Nos encontramos no saguão em uma hora? — Otávio sugeriu.

Dr. Paulo assentiu.

— Perfeito. Quero jantar em um restaurante clássico que conheço há anos. Vocês vão adorar.

Eles pegaram o elevador e seguiram para seus quartos.

Assim que Clara entrou no seu, parou por um instante apenas para absorver tudo. O espaço era amplo e sofisticado, com uma enorme cama king size coberta por lençois impecavelmente brancos. As cortinas de veludo estavam parcialmente abertas, revelando uma vista impressionante da cidade, com as luzes noturnas criando um espetáculo à parte.

Ela soltou um suspiro longo, sentindo-se imensamente grata por estar ali. Antes de desfazer a mala, Clara pegou o celular e discou o número de Vincent.

O telefone tocou algumas vezes antes de ele atender.

— Oi, minha linda — A voz dele veio firme, mas acolhedora do outro lado da linha.

Clara sorriu automaticamente.

— Oi, meu amor. Cheguei faz pouco tempo. O voo foi tranquilo, e a cidade é simplesmente… deslumbrante.

Vincent riu baixinho.

— Imagino que esteja se sentindo uma rainha.

— Exatamente isso.

Houve um pequeno silêncio confortável entre eles antes de Vincent falar novamente, sua voz carregada de carinho.

— Estou orgulhoso de ti, sabia? Por tudo. Por essa viagem, por essa oportunidade. Você merece cada momento disso.

Clara sentiu o coração aquecer. Mesmo com os pensamentos confusos dos últimos dias, aquela era a certeza que ela sempre carregava consigo: Vincent sempre a apoiava.

— Obrigada, amor. Isso significa muito para mim.

— E você já está no hotel?

— Sim. O filho do Dr. Paulo foi nos buscar no aeroporto. Parece ser uma pessoa muito… interessante.

Vincent riu do outro lado da linha.

— Interessante? Isso é jeito de dizer que ele é um daqueles doutorzinhos charmosos?

Clara hesitou por um breve instante antes de responder.

— Ah, Vincent. Não começa.

— Estou brincando, amor — Ele fez uma pausa antes de completar. — Eu confio em você. Só quero que aproveite ao máximo essa viagem.

Clara sentiu algo dentro de si apertar levemente. Vincent realmente confiava nela e ela não queria dar nenhum motivo para que ele não confiasse.

— Eu vou.

Eles trocaram mais algumas palavras antes de se despedirem, e quando Clara desligou o telefone, sentiu uma onda de emoção. Era bom ouvir Vincent dizer que estava orgulhoso dela. Era bom saber que tinha alguém a esperando em casa. Mas então, ao largar o celular na cama e olhar seu reflexo no espelho do quarto luxuoso, sentiu aquela inquietação silenciosa crescer dentro de si mais uma vez sem saber exatamente o que seria.

Clara respirou fundo antes de dar os últimos passos até o saguão do hotel. O salto discreto de seus sapatos ecoava no piso de mármore, mas não era o som que lhe incomodava, e sim o contraste gritante entre sua aparência e a das pessoas ao redor.

Ela vestia um vestido rosa claro simples, de tecido leve e sem grandes adornos. Havia caprichado na maquiagem, mas manteve a sutileza. Mesmo assim, ao avistar Otávio e Dr. Paulo, sentiu-se completamente deslocada. Ambos estavam impecáveis.

Dr. Paulo usava um terno clássico cinza e gravata alinhada. Otávio, por outro lado, exalava um charme quase cinematográfico. Sua camisa branca, ligeiramente aberta no colarinho, combinava perfeitamente com o blazer escuro bem ajustado ao corpo.

A postura descontraída e a maneira como segurava o celular em uma mão enquanto passava a outra pelos cabelos faziam dele o centro das atenções sem esforço algum. Ao notar sua presença, ele levantou o olhar e sorriu. E, como se tivesse captado seu desconforto em um único segundo, agiu antes que ela pudesse se sentir ainda menor diante deles.

— Ora, ora… e não é que temos uma verdadeira dama esta noite? — Otávio disse, guardando o celular no bolso do blazer.

O tom era casual, mas o brilho nos olhos dele denunciava a sinceridade da admiração.

Clara não sabia se ria ou se desviava o olhar.

— Não exagera… — murmurou, tentando esconder o rubor que ameaçava subir às bochechas.

Mas Otávio não recuou.

Ele inclinou-se levemente para frente, como se compartilhasse um segredo.

— Não estou exagerando. Esse vestido simples e essa elegância natural te destacam mais do que qualquer brilho.

Clara sentiu um pequeno arrepio percorrer sua espinha. Era um elogio completamente inocente, mas a forma como ele a olhava não era.

Dr. Paulo, alheio à tensão sutil no ar, bateu palmas levemente.

— Agora que já deixamos Clara envergonhada, podemos jantar? Estou morrendo de fome.

Eles riram, e, por um momento, o clima voltou ao normal.

Otávio gesticulou com o braço, indicando a saída.

— O restaurante é perto. Podemos ir caminhando.

Clara sentiu-se grata pela distração e seguiu os dois para fora do hotel.

As ruas de São Paulo eram um espetáculo à parte.

O movimento constante de carros e pedestres, as luzes vibrantes das vitrines luxuosas, o ar fresco da noite… Clara olhava ao redor com um misto de admiração e nervosismo. Ela não pertencia àquele mundo e a ideia de entrar em um restaurante tão sofisticado fazia seu estômago se revirar.

Otávio percebeu antes mesmo que ela dissesse algo.

— Relaxa — Ele disse, caminhando ao lado dela — A sofisticação desse lugar está na comida, não nas pessoas.

Clara soltou um riso baixo.

— Isso foi uma tentativa de me tranquilizar?

Ele sorriu.

— Foi uma promessa de que tu vai gostar.

Antes que ela pudesse responder, chegaram ao restaurante.

E, como esperado, o ambiente era impressionante. As paredes tinham detalhes em mármore, o teto era alto e decorado com lustres reluzentes. O aroma refinado de ervas e especiarias pairava no ar, misturado ao suave toque do vinho que era servido nas mesas. Dr. Paulo cumprimentou um dos garçons pelo nome, indicando que era um frequentador ilustre do lugar. Eles foram levados a uma mesa perto de uma janela ampla, de onde se via o reflexo das luzes da cidade dançando sobre o vidro.

Após os pedidos serem feitos, a conversa tomou um rumo natural.

Dr. Paulo queria saber tudo sobre a experiência de Otávio na Nigéria. Clara ouviu atentamente, intrigada pelo brilho nos olhos de Otávio ao falar de suas jornadas.

— Foi um dos períodos mais intensos da minha vida — Ele começou, girando levemente a taça de vinho entre os dedos.

— Não éramos apenas médicos. Éramos professores, conselheiros… e, muitas vezes, a última esperança de vida para aquelas pessoas.

Houve um momento de silêncio respeitoso antes de ele continuar.

— Mas também vimos o outro lado da moeda. O lado cruel. O lado onde a medicina não pode fazer nada contra a violência.

Dr. Paulo assentiu, sombrio.

— Os ataques do Boko Haram?

Otávio parou por um instante.

Seu maxilar ficou tenso.

Seus olhos, que antes brilhavam com empolgação, ficaram escuros, carregados de lembranças difíceis.

— Sim.

Ele respirou fundo antes de prosseguir.

— Estávamos em uma vila ao norte, onde montamos um pequeno hospital de campanha. Era um local pacato, cheio de crianças correndo descalças, mulheres cuidando de suas famílias.

Ele fez uma pausa, como se precisasse escolher as palavras com cautela.

— E então, uma noite… Eles vieram.

Clara prendeu a respiração. Dr. Paulo franziu o cenho.

— Vocês foram atacados?

Otávio assentiu.

— Conseguimos escapar por pouco. Mas muitos dos pacientes e moradores não tiveram a mesma sorte.

Seu tom era carregado de dor. Aquele não era um relato qualquer e sim uma ferida aberta. Clara nunca conhecera alguém que tivesse vivido algo assim e, naquele momento, percebeu que havia muito mais em Otávio do que seu charme e carisma. Havia um peso que ele carregava sem demonstrar.

O silêncio que seguiu foi denso.

Nenhum dos três parecia saber como continuar a conversa.

Até que Otávio, com um sorriso cansado, pegou sua taça de vinho e a ergueu.

— Mas sabem o que aprendi?

Dr. Paulo e Clara o olharam com atenção.

— Que a vida deve ser celebrada. Que cada segundo importa.

Ele olhou para Clara, e, naquele instante, uma brisa de tranquilidade passou entre os dois.

— Então vamos brindar.

Dr. Paulo pegou sua taça imediatamente.

— Ao quê?

Otávio sorriu.

— À vida. Às segundas chances. E às pessoas que ainda podemos salvar.

Clara pegou sua taça por último, sentindo-se estranhamente afetada pelas palavras dele. As taças se tocaram suavemente, ecoando pelo ambiente elegante.

A brisa noturna soprava suavemente pelas ruas iluminadas de São Paulo, carregando um frescor revigorante que contrastava com o calor do vinho ainda pulsando nas veias de cada um. A volta para o hotel era pontuada por risadas e conversas mais soltas, resultado do jantar agradável e das taças bem servidas que acompanharam a noite.

Dr. Paulo, de passos um pouco mais lentos, apoiava-se no braço de Otávio, que o guiava com paciência.

— E eu que achei que só tu ia exagerar no vinho, pai — Otávio brincou, segurando o riso ao perceber que o efeito do álcool deixava o doutor mais falante do que o normal.

Dr. Paulo riu, soltando um suspiro satisfeito.

— Ora, meu filho, eu mereço um pouco de prazer nessa vida também!

Clara riu junto, sentindo-se mais relaxada do que imaginava ser possível.

A conversa seguia leve, saltando entre memórias, observações sobre a cidade e algumas histórias divertidas de eventos passados. Porém, em alguns momentos, Clara sentia o olhar de Otávio sobre ela. Um olhar que a fazia sentir um calor diferente.

Assim que entraram no saguão do Grand Metropolitan, Clara percebeu que Dr. Paulo começava a demonstrar cansaço real. O vinho, a longa viagem, as emoções do dia… tudo parecia pesar sobre ele.

— Acho que estou precisando de um bom banho e de uma noite longa de sono — Ele admitiu, esfregando a testa.

Clara e Otávio se entreolharam e, sem precisar de palavras, souberam que seria melhor acompanhá-lo até o quarto.

Subiram juntos pelo elevador até o décimo andar, Dr. Paulo murmurando baixinho sobre como “os jovens de hoje não aguentavam nada” enquanto tentava disfarçar o próprio cansaço. Ao chegarem ao quarto, Otávio abriu a porta e ajudou o pai a se acomodar na cama.

Clara, por instinto, ajeitou o travesseiro e puxou um cobertor para cobri-lo.

— Agora sim — Ela disse suavemente.

Dr. Paulo, já com os olhos pesados, sorriu para ela com ternura.

— Tu tem um coração enorme, Clara. Vincent é um homem de sorte.

O elogio a pegou de surpresa. Ela sorriu, mas sentiu um leve aperto no peito.

Vincent… Por um momento, ela quase esquecera do marido e isso a assustou.

Otávio percebeu a expressão dela e interveio.

— Vamos deixá-lo descansar. Amanhã será um dia cheio.

Clara assentiu, afastando-se da cama e seguindo Otávio para fora. A porta do quarto se fechou com um clique suave. E então, os dois estavam sozinhos no corredor.

A iluminação do hotel era suave àquela hora, os longos corredores iluminados apenas por pequenas luzes laterais.

Clara sentiu uma leve tontura, não do vinho, mas da atmosfera carregada ao seu redor. Otávio caminhava ao seu lado, calado pela primeira vez naquela noite. Não havia mais as risadas do jantar, nem o conforto da companhia de Dr. Paulo.

Havia apenas eles dois e o silêncio parecia mais alto do que qualquer conversa. A cada passo, Clara sentia o peso da consciência e do desejo se chocando dentro dela. Ela sabia que havia algo ali. Algo perigoso, que não deveria existir, mas, ao mesmo tempo, não conseguia ignorar.

Finalmente, pararam diante da porta do quarto de Clara.

Ela engoliu em seco, sentindo a pulsação acelerada sem motivo aparente. Otávio não se moveu imediatamente. Ele ficou ali, olhando para ela e quando Clara ergueu os olhos para retribuir o olhar, sentiu algo dentro dela se revirar. Os olhos dele tinham um brilho diferente. Não era só o efeito do vinho. Não era só um gesto educado de despedida. Era algo mais denso, mais quente. Era um olhar de um homem que sabia exatamente o que estava acontecendo ali.

Otávio aproximou-se um pouco mais, mantendo a voz baixa, quase um sussurro.

— A noite foi incrível.

Clara umedeceu os lábios, sentindo-se ridiculamente vulnerável.

— Foi sim.

O silêncio caiu entre eles novamente, mas, dessa vez, não era desconfortável. Era elétrico. Clara podia sentir a respiração de Otávio, tão próxima… Ele não avançou. Não a tocou, mas a intenção estava ali, nítida como fogo.

Ele sorriu, um sorriso preguiçoso, provocativo, que dizia mais do que qualquer palavra poderia dizer.

— Boa noite, Clara.

E com isso, deu um passo para trás. Clara sentiu o ar voltar aos pulmões. Ela mal conseguiu responder, apenas virou-se e abriu a porta do quarto com dedos trêmulos, entrando rapidamente antes que seu próprio corpo a traísse.

Quando fechou a porta atrás de si, encostou-se nela, tentando acalmar a respiração. Seu coração batia como um tambor. O que diabos acabou de acontecer?

Após o clique suave da porta do quarto se fechando atrás de Clara, ela encostou-se, fechando os olhos por um momento, tentando acalmar o coração acelerado.

O silêncio do quarto contrastava brutalmente com a tensão eletrizante que ainda pulsava dentro dela. Ela inspirou fundo, caminhando até a cama e deixando-se cair sobre o colchão macio, mas seu corpo estava inquieto.

A noite havia sido agradável, o jantar, sofisticado, e Otávio, uma presença carismática e envolvente, mas não era apenas isso. O que mais a perturbava não era o que ele dissera, mas o que não dissera. A forma como a olhava. O jeito como o silêncio entre eles falava mais alto que qualquer palavra. Aquela despedida…

Ela fechou os olhos, relembrando a intensidade daquele breve momento. Seu corpo reagia antes mesmo que sua mente tentasse ignorar. O vinho, a atmosfera luxuosa, o magnetismo dele… Tudo se misturava em um perigo sedutor.

Ela se mexeu sobre a cama, tentando afastar o calor crescente que parecia tomá-la por completo.

Seus dedos deslizaram pelo seu corpo, abrindo com sutileza o vestido. Ela inclinou a cabeça, os olhos semicerrados, como se quisesse se perder completamente no momento. Os gemidos que escapavam de seus lábios, era uma melodia íntima que ecoava pelo quarto e penetrava por sua pele como um arrepio. Sua respiração tornou-se irregular, um ritmo entrecortado que aumentava conforme o movimento de seus dedos em seu sexo molhado.

Clara virou-se de bruços, com o rosto no travesseiro, empinando o quadril sem interromper os movimentos, que apesar de intensos e acelerados pareciam insuficientes para apagar o incêndio que a tomava. Mesmo assim, o calor surgiu na base de seu abdômen, como uma onda que subia devagar, espalhando-se pelo corpo. Seu coração acelerava, lutando para manter o tesão dentro dela. Os gemidos suaves e agudos deram lugar aos sussurros proibidos.

— Me fode… me fode gostoso… hummm.

Por alguns instantes, Clara não era a esposa exemplar, nem a mãe dedicada. Ela era apenas uma mulher buscando desesperadamente um pouco de prazer.

— Enfia seu pau em mim… Otávio.

A tensão cresceu até o clímax, um instante de liberação que a deixou tonta. Suas costas arquearam e ela permaneceu imóvel por alguns segundos, a respiração ofegante e o corpo em espasmos.

Enquanto o prazer dissipava, o arrependimento a atingiu como um golpe. Clara sentiu uma escuridão a engolir, uma onda fria que a fez estremecer. Seu corpo ainda tremia levemente, mas sua mente já estava tomada por um furacão de pensamentos.

A consciência gritava, lembrando-a de Vincent, do marido que confiava nela de olhos fechados. Saber disso deveria ser suficiente para afastar qualquer tentação, mas então, por que Otávio continuava rondando sua mente? Por que seu corpo reagia de forma tão traiçoeira?

Ela pressionou os olhos fechados, tentando dissipar as imagens que teimavam em voltar. Ela não deveria sentir aquilo. Não podia, mas, no fundo, uma parte dela que queria sentir. Esse pensamento a assustou. Era como se estivesse brincando com fogo, mas sem forças para se afastar das chamas.

Com um suspiro exasperado, Clara se levantou rapidamente.

Ela precisava de algo que a trouxesse de volta à realidade.

Atravessou o quarto em passos firmes, entrou no banheiro e abriu a torneira da ducha.

A água fria caiu como um choque sobre sua pele quente, arrepiando cada centímetro do seu corpo.

Ela apoiou as mãos contra os azulejos, sentindo a respiração pesada se estabilizar aos poucos. A frieza da água era o contraste perfeito para a intensidade do que sentia.

Ela queria esquecer aquela noite. Queria apagar o olhar de Otávio, o sorriso carregado de segredos, a tensão insuportável daquele instante no corredor. Mas, mesmo quando fechava os olhos, ele ainda estava lá. A realidade e o desejo travavam uma batalha dentro dela.

Pela primeira vez em muitos anos, Clara via seus princípios sendo abalados.

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Foto de perfil de Fabio N.MFabio N.MContos: 124Seguidores: 155Seguindo: 50Mensagem Segredos para uma boa história: 1) Personagens bem construídos com papéis e personalidades bem definidas qualidades e defeitos (ninguém gosta de Mary Sue ou Gary Stu); 2) Conflitos: "A quer B, mas C o impede" sendo aplicado a conflitos internos e externos; 3) Ambientação sensorial, descrevendo onde estão seus personagens, o que estão vendo ou sentindo.

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