— Veja, foi mal... — Eduardo esfrega a cabeça cinicamente.
— Isso foi tão embaraçoso! — o fixo.
— O que houve?
— Dá pra você cobrir essa... coisa?! — enrubesço desviando o rosto daquilo.
— Como se ‘cê nunca tivesse visto uma dessas... Além disso, eu tô de cueca.
— Acho melhor você começar a dormir de bermuda. — sigo pro banheiro — Aliás, o Feh vai dar uma passada aqui hoje.
— Quem é “Feh”?
— Um parceiro da universidade.
— Hum... — ele murmura cruzando as pernas e pondo as mãos sobre suas partes baixas apertando-as.
****
Após realizar minhas tarefas, que incluíam o bolo de cacau do Eduardo, fui até o quintal; aquele espaço de certo modo me fascinou desde o instante em que o vi. Deito sobre a relva e fico observando o firmamento, de repente tudo parece um devaneio, pois jamais imaginei que estaria casado tão cedo e muito menos quase abastado.
A única parte ruim, se eu for refletir, é o fato de tudo ser um trato. Eu daria qualquer coisa pra ter me casado com alguém que eu amasse de verdade e fosse rico, mas a vida não age assim e, pensando bem, não sei se sou capaz de me apaixonar de novo agora, ao menos não depois que eu terminei com o Luigi... Eu amava aquele canalha. Era incrível imaginar que alguém me queria, mas tudo não passou de uma ilusão.
[Recordação]
Estou exausto, atuei da aurora até o entardecer e depois fui pra faculdade, nem deu tempo de me banhar. Me sinto imundo, uma sensação muito incômoda, não vejo a hora de chegar em casa, preciso aproveitar meu namorado e, de bônus, sua massagem.
O coletivo para e eu desço tropeçando nos próprios pés de tão fatigado que me sinto, seguindo depressa rumo ao apartamento do Luigi. Eu aluguei uma quitinete pra mim, onde guardo a maior parte das minhas coisas, mas ultimamente estou praticamente vivendo com ele.
Uso minha cópia da chave, destranco a porta e entro; jogo a mochila no sofá e vou beber um copo d’água me sentindo desgastado, porém aliviado por ter chegado.
— Amor?! — chamo enquanto coloco o copo na pia; o lar está estranhamente quieto e não o vejo em nenhum canto, então sigo até o quarto e começo a escutar ruídos suspeitos; enrugo a testa empurrando a porta — Am...?!
O que vejo à minha frente é como um tapa na cara. Luigi está na cama com o vizinho, segurando-o firme pela cintura enquanto o outro se agarra a ele gemendo como uma vadia.
Sinto meu peito falhar uma batida e uma dor ardente se instalar próxima ao coração, minha garganta repentinamente parece se fechar, estou paralisado e os dois nem sequer me notam enquanto transam despudoradamente na minha frente. Finalmente desperto do choque, limpo a garganta, que está tão seca que dói, e falo com um fio de voz que nem parece minha.
— Luigi... — murmuro já sentindo as lágrimas ameaçarem cair.
— André?! — ele se sobressalta ao ouvir minha voz, mas não se move um centímetro de onde está; o vizinho tenta se erguer, parece totalmente sem jeito, mas Luigi o mantém no lugar — O que você tá fazendo aqui, André?
— O QUE EU TÔ FAZENDO AQUI?! EU QUE DEVERIA FAZER ESSA PERGUNTA! — minha voz falha e embarga — Não acredito que você me enganou... e ainda mais com ele, no seu lar! Poderia ao menos ter tentado esconder, seu cretino.
— Quê?! Eu não te enganei, a gente só tava ficando, não era?! Por que eu precisaria ocultar algo?!
— Você tá falando sério?! A gente tava praticamente morando junto!
— Bom, isso é porque você simplesmente começou a vir, e já que ‘cê já tava aqui mesmo, melhor pra mim... Facilitava a transa, não era?! — ele acaricia o rosto do vizinho sorrindo cinicamente pra mim — Eu nunca disse que não ficaria com mais ninguém, achei que você também pensava assim! Além do mais, você também curtia o sexo... Mas sabe, o tempo passa e nossas vontades mudam, eu precisei de novidade e testar coisas diferentes e olha só... Agora tenho carne fresca, por que eu ficaria com a velha se posso ter uma novinha?!
— Pois eu espero que você seja muito feliz com sua “nova carne”. — dou as costas e saio batendo a porta do cômodo.
— Tranca a porta ao sair... e deixa sua chave sobre a mesa de centro. — ele grita de dentro do quarto.
— Canalha! — digo entre lágrimas de raiva e mágoa — Isso não vai ficar assim, mas não vai mesmo!
Sigo até a cozinha, pego o pilão de tempero e atinjo com toda força a tela da TV de quarenta polegadas, pego uma faca, rasgo o sofá, viro os dois e volto para a cozinha, então arremesso todos os pratos e copos de vidro no chão e saio disparado porta afora sem fechá-la, como ele pediu.
[Fim da recordação]
— Que inferno! — falo enxugando as lágrimas.
— O que houve? — me levantei sobressaltado com a voz grave que rompe o silêncio — Por que ‘cê ‘tá chorando?! — Eduardo me encara intrigado com um prato repleto de bolo de cacau nas mãos.
— Nada... só eu que sou um imbecil!
— Como assim? — ele indaga mastigando um pedaço do bolo enquanto enruga a testa.
— Deixa pra lá! — volto a me deitar na relva e fecho os olhos, ignorando-o. Não quero responder mais nenhuma questão, pois só servem para reabrir a ferida.
****
— Bicha, que palácio é esse?! — Feh fala adentrando admirado.
— Eu sei... É um deslumbre, não é?!
— É extraordinário!
— Tem doze dormitórios, oito lavabos, duas salas, uma cozinha enoooorme, uma biblioteca, uma mini academia... fora o que eu ainda não descobri.
— Tem piscina?
— Lógico que tem!
— Então vamos nos trocar, porque hoje eu vou me esbaldar.
— Eita... kkkk
— Cadê seu esposo?
— Deve tá lá na piscina. — seguimos para o aposento onde Feh ficará.
— E como tá sendo isso tudo? — ele pergunta adentrando o quarto.
— Olha, eu vou te contar tudo, mas não conta isso pra ninguém, entendeu, Felipe?! — ele assente e começa a remexer a mala.
****
— Nossa, amigo, deve tá sendo complicado.
— Demais! Ele é um ogro... super grosseiro.
— Como é ter que ficar beijando ele? — Feh me pergunta parecendo mais animado do que devia com aquilo, enquanto descemos rumo à piscina.
— Normal...
— Ele beija bem?
— Sim, mas ontem eu passei mal, porque ele ficou arrotando no jantar, aí lembrei na hora do beijo e deu ruim.
— Oxe, e o que tem demais num arroto?
— Você sabe que eu sou fresco pra essas coisas. — Chegamos à piscina.
— Caraca, que piscina é essa, meu querido?! — Eduardo, que está do outro lado, tomando um banho de sol, nos encara quando chegamos, mas eu o ignoro o quanto posso.
— É aquele ali?!
— Tsk, vem, vou te apresentar a ele. — digo porque sei que ele não vai me deixar em paz enquanto não o fizer; ele sorri entusiasmado — Eduardo, esse é o Feh, Feh, esse é o Eduardo! — Eduardo se ergue e aperta a mão do Feh rapidamente.
— Satisfação!
— Igualmente! — diz voltando a se deitar para continuar o banho de sol logo depois.
— Aaaah, isso que é vida! — Feh mergulha na água radiante — Vem, André.
— Não, acho que não! Tô sossegado aqui. — falo sentando na borda da piscina.
— Tira logo esse bermudão e entra aqui... antes que eu vá aí te arrastar.
— Tá! — tiro o short ficando apenas de sunga, viro de costas pro Feh e arremesso o short em direção às espreguiçadeiras.
— Amigo, que traseirão é esse?! — ele ri — Tá maior ou é só impressão minha?
— Para com isso... É só impressão sua! Tá do mesmo tamanho de sempre.
— Caramba, fiquei até com calor aqui embaixo agora, não é à toa que seu marido não tira os olhos dela. — sinto meu rosto esquentar.
— Eu não tô olhando pra canto nenhum. — me assusto com a voz do Eduardo atrás de nós, ele parece irritado.
— Ah, vai... não precisa mentir! — pulo dentro da piscina.
— Vamos parar de bobagens! — me recosto na borda da piscina e Feh faz o mesmo.
— Cara, ele é um gato e não tira os olhos do seu bumbum. — Feh sorri malicioso e arqueia as sobrancelhas com um duplo sentido no gesto, eu simplesmente o ignoro.
— Eu tô ouvindo isso, sabiam?! — Eduardo fala novamente e eu me sinto cada vez mais constrangido; vou acabar matando o Felipe depois.
— Sabe o que eu tô recordando? — mudo de assunto — Da última vez que estivemos numa piscina... Você arrancou minha sunga e saiu fugindo! — Feh começa a rir.
— Foi uma brincadeira, afinal, era seu aniversário.
— Amei o presente! — reviro os olhos e mergulho, agarro a sunga dele e a abaixo.
— Me devolve, imbecil! — ele grita quando eu consigo pegar a sunga por inteiro.
— Vem pegar! — saio da piscina e começo a andar de costas, mas acabo tropeçando nos próprios pés e caindo sentado no colo do Eduardo.
— Droga, que ‘cê tá fazendo?! — ele me empurra e eu acabo caindo de mau jeito — Para de ficar se esfregando em mim, inferno, eu já falei que não sou gay! — eu o encaro com os olhos lacrimejantes, me sinto péssimo e irritado também, pra piorar meu pulso está latejando como o diabo.
— Feh, me ajuda aqui, por favor... acho que machuquei o pulso.
— Calma! — ele fala saindo da água, pega a sunga, veste e segura meu braço me ajudando a levantar — Seu estúpido! — ele encara Eduardo furioso.
— Deixa, Feh... só me leva pro hospital. — começamos a ir em direção à garagem — Você sabe dirigir? — ele acena com a cabeça.
— Bem que você falou que aquele cara é um ogro! — ele dá partida no carro com raiva.
— Nunca mais vou dirigir uma palavra a ele!
— Mas, e o acordo?
— Posso beijá-lo e dividir a mesma cama, mas vou ser frio e mudo... Vai ser como se ele não existisse.
— É uma excelente estratégia!
Continua...
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