O avião tocou o solo com um solavanco seco, e Vincent sentiu o peso do pouso vibrar através do assento. A luz alaranjada do amanhecer entrava pelas pequenas janelas da aeronave, banhando tudo com um brilho suave e incerto, um reflexo perfeito do que ele sentia naquele momento. Seria aquele um novo começo?
A voz do piloto anunciou a chegada ao Brasil. Vincent, sentado ao lado de Rudolph, manteve-se em silêncio, com olhos curiosos para além da janela.
— Chegamos — Rudolph murmurou, passando a mão pelo rosto cansado antes de se levantar.
O aeroporto era um caos de vozes, anúncios e passos apressados. Pessoas passavam para todos os lados, algumas carregando malas enormes, outras com sacolas improvisadas.
Vincent sentiu uma estranheza imediata.
Ouvia pessoas conversando ao seu redor, mas as palavras pareciam embaralhadas, o sotaque era diferente, o ritmo das frases lhe soava distante.
Ele olhou para Rudolph, que tinha a expressão fechada de sempre, o olhar percorrendo o saguão como se procurasse algo.
– Tudo bem? – O pai perguntou, mas Vincent sabia que ele não esperava uma resposta.
– Hm – Foi tudo o que ele respondeu, apenas para não deixar o silêncio preencher o espaço entre eles.
Enquanto caminhavam até a área de desembarque, Rudolph sentia um peso esmagador dentro de si. Ele queria acreditar que estava fazendo a coisa certa. Uma nova cidade. Um novo país. Uma nova vida, mas será que um oceano de distância era suficiente para afogar os fantasmas do passado? Ele olhou para Vincent ao seu lado, um garoto de sete anos que deveria ter curiosidade no olhar, mas que caminhava com os ombros tensos e os olhos fixos no chão.
Ele não perguntava nada. Não questionava para onde estavam indo, o que fariam. Apenas seguia em silêncio, como se já tivesse aceitado que a vida era assim: um fluxo de mudanças sem aviso, onde ele não tinha controle sobre nada.
Foi quando Rudolph percebeu. Ele já estava se tornando como ele. Essa constatação o incomodou profundamente. Por instinto, levou a mão até o bolso do casaco e sentiu o toque familiar do frasco de licor que havia comprado no duty-free antes de embarcarem.
Suspirou. Talvez um gole ajudasse a aliviar essa sensação de fracasso queimando em seu peito, mas, por algum motivo, não bebeu.
A estrada até Blumenau foi longa e cheia de curvas sinuosas. O táxi atravessava rodovias cercadas por montanhas cobertas de mata densa. Vincent olhava pela janela, vendo a paisagem mudar gradualmente, de áreas descampadas para pequenas casas coloridas enfileiradas à beira da estrada, varais de roupas balançando com o vento.
Ao entrarem na cidade, algo chamou sua atenção. Blumenau não se parecia com o Brasil que ele havia imaginado. Não havia arranha-céus como em Hamburgo, mas sim casarões de madeira e construções que lembravam a arquitetura da Alemanha. Placas de lojas exibiam nomes germânicos: Schmitt Pães e Confeitos, Restaurante Bauer, Weiss Bierhaus…
Vincent franziu o cenho. Por um instante, teve a sensação de que não havia viajado para tão longe assim.
— Lembra um pouco nossa terra, né? — Comentou Rudolph, percebendo a reação do filho.
Vincent apenas assentiu, ainda absorvendo tudo.
O táxi parou em frente a uma pequena casa de madeira com janelas de moldura branca. Não era grande, mas parecia bem cuidada, com um jardim simples na entrada e um quintal nos fundos.
— É aqui — Disse Rudolph, pagando o motorista.
Ao descerem do carro, um homem de meia-idade com barba farta e um sotaque forte os cumprimentou.
— Sejam bem-vindos, seu Rudolph! Como foi a viagem?
— Cansativa — Rudolph respondeu, forçando um sorriso — A casa está como combinado?
— Tudo certo, tudo certo! Já deixei até um pãozinho de milho pra vocês na cozinha!
Vincent estranhou o tom animado do homem, pouco acostumado com tanta hospitalidade. O sotaque carregado deixava as palavras com um ritmo diferente do que ele conhecia.
Ele apenas baixou a cabeça e entrou na casa atrás do pai.
O cheiro de madeira encerada e café fresco preencheu suas narinas. A casa não tinha muitos móveis, apenas o básico, uma mesa com cadeiras, um sofá antigo, uma cristaleira de madeira escura no canto.
Vincent subiu as escadas e encontrou o que seria seu quarto. Pequeno, com uma janela que dava para o quintal. Uma cama simples e um guarda-roupa encostado na parede.
Ele fechou a porta e se jogou no colchão, sentindo o peso da viagem em seus pequenos ombros.
Na semana seguinte, Vincent começou na nova escola.
Uma escola para filhos de imigrantes, onde se falava tanto português quanto alemão. Isso deveria facilitar a adaptação, mas ele ainda sentia que não pertencia àquele lugar.
As crianças pareciam se conhecer há anos. Os grupos eram formados por laços invisíveis que ele não conseguia entender.
E então vieram os apelidos.
— Alemãozinho! – Um dos garotos zombou no primeiro dia — Tá perdido? Aqui não é a Alemanha, não!
Outras risadas ecoaram.
Vincent manteve a expressão neutra, sem dar sinais de que aquilo o afetava. Mas por dentro, o ódio começava a brotar, lento e venenoso.
Enquanto Vincent lutava para se adaptar à escola, Rudolph encontrou um propósito temporário. Com suas economias, abriu uma charcutaria em um pequeno espaço no centro da cidade. A loja começou a atrair clientes rapidamente, especialmente outros imigrantes alemães que buscavam um pedaço de casa longe de casa.
Mas mesmo com o sucesso aparente, Rudolph não conseguia escapar do que o consumia. Ele trabalhava até tarde, chegava em casa exausto e silencioso. E, inevitavelmente, o álcool continuava sendo sua companhia.
Vincent ouvia o som dos copos sendo colocados na mesa, o abrir de garrafas, o murmúrio do pai sozinho na sala.
Ele não dizia nada. Afinal, ele já esperava por isso.
A cidade era nova. O país era novo. Mas as sombras do passado continuavam lá.
E ele sabia que nunca o deixariam em paz.
**********
A cidade havia mudado nos últimos anos. Ou talvez fosse Vincent quem tivesse mudado.
As ruas de paralelepípedo já não pareciam tão organizadas, nem os casarões enxaimel tão charmosos. A familiaridade do cenário contrastava com o sentimento de deslocamento que ele carregava no peito.
Aos quinze anos, Vincent Weiser já não era mais o garoto calado e observador que havia chegado à cidade anos antes. A sombra do passado havia crescido dentro dele, tornando-se algo mais feroz, mais impaciente, mais violento.
Ele não era um de "nós", como diziam os outros garotos da escola. E nunca seria.
O apelido havia começado de maneira casual, quase como uma piada. "Nazistinha".
— Olha lá o alemãozinho metido a besta! Tá achando que manda aqui?
As palavras eram cuspidas no ar sempre que Vincent passava. Ele as ignorava, até onde conseguiam ver, mas algo nelas se enraizava fundo, tornando-se um veneno silencioso em sua mente.
Foi numa tarde abafada, no final do expediente na escola de ensino técnico integrado, que Vincent finalmente parou de ignorar. A quadra de esportes da escola ainda estava cheia, alguns alunos jogando futebol, outros sentados nas arquibancadas, terminando as últimas conversas antes de irem embora.
Vincent estava sozinho, encostado no muro, mastigando um pedaço de chiclete velho.
Foi quando João Vitor, um garoto dois anos mais velho, forte e convencido de que todos deviam rir de suas piadas, veio até ele, seguido de seus amigos.
— E aí, nazistinha — João sorriu, segurando a bola debaixo do braço — Por que sempre tá sozinho? Teu povo não gosta de misturar?
Vincent não respondeu.
— Deve ser isso, né? Teu pai te ensinou que é melhor que a gente?
— O que foi? Tá mudo? — Outro garoto riu, cutucando Vincent no ombro.
Foi um toque simples. Um toque que poderia ter sido apenas mais uma provocação, mas Vincent já estava farto. Num movimento rápido, ele agarrou o pulso do garoto, torcendo-o sem aviso. O grito ecoou pela quadra. A bola caiu no chão. Antes que João Vitor pudesse reagir, o punho de Vincent encontrou seu rosto com força. O som do impacto foi seco, e o garoto cambaleou para trás com sangue escorrendo do nariz.
Por um instante, ninguém disse nada. E então, o caos se instalou.
Alunos correram para trás, professores gritaram para separá-los. João Vitor tentou se recompor, mas Vincent já estava pronto para outro golpe. Dessa vez, não havia raiva em seus olhos. Havia prazer.
Porque, pela primeira vez, ele sentiu que podia reagir. Que podia machucar de volta.
Rudolph já não percebia a mudança do filho, ou talvez percebesse, mas estivesse afundado demais em sua própria decadência para se importar. A charcutaria, que no início parecia uma esperança, se tornara apenas uma desculpa para passar os dias no trabalho e as noites bebendo.
O cheiro de álcool na casa tornou-se constante.
Vincent sabia que o pai não se importava realmente onde ele ia ou com quem andava.
Nos primeiros anos, quando ainda tentava algum tipo de controle, Rudolph fazia perguntas, mas sempre que Vincent respondia com silêncio ou desafio, a conversa terminava em gritos, portas batendo e semanas de indiferença mútua.
Agora, nem isso acontecia mais. Os dois eram fantasmas vivendo sob o mesmo teto. E foi por isso que, quando Vincent encontrou um grupo disposto a aceitá-lo, ou pelo menos a compartilhar com ele as noites de fúria e insatisfação, ele se entregou sem hesitar.
O cheiro de piche das paredes do beco se misturava ao perfume barato de alguma mulher que passara por ali minutos antes. Vincent encostou-se no muro úmido, acendendo um cigarro de maconha.
— Diz aí, alemão. Vai ficar de frescura agora? — A voz veio de Léo, um dos garotos mais velhos do grupo, jogando um braço ao redor dos ombros de Vincent.
— Acha que não tenho coragem? — Vincent soprou a fumaça lentamente, o olhar frio como a obsidiana pendurada em seu pescoço.
O grupo explodiu em risadas. Gostavam dele por isso. Pela forma como não se deixava intimidar, pelo jeito como olhava nos olhos de qualquer um sem piscar.
— Então vamos. Hoje tem festa.
"Festa" era uma palavra que podia significar muitas coisas.
Podia ser uma briga organizada num terreno baldio. Podia ser uma invasão a uma propriedade abandonada. Podia ser um jogo de desafios que ninguém ousava recusar.
Naquela noite, festa significava uma casa noturna no centro da cidade.
Vincent não sabia exatamente onde estava indo, mas seguiu os outros sem questionar. A cidade à noite pertencia a eles.
A casa noturna não tinha placas, apenas uma porta de metal com um pequeno olho mágico. O segurança lançou um olhar breve para Léo antes de abrir a passagem.
Vincent entrou no local e foi engolido por um mundo novo.
O som da música baixa e pulsante ressoava no peito. A fumaça de cigarros e incensos enchia o ar, misturada ao cheiro de bebida, suor e perfume adocicado. Luzes vermelhas iluminavam os cantos com um brilho quente e provocante.
Mulheres dançavam sobre pequenas plataformas, movendo-se ao ritmo da música lenta. Algumas usavam vestidos curtos, outras apenas lingeries de renda. Seus corpos se moviam de maneira hipnótica, conscientes do olhar dos homens ao redor.
Vincent nunca tinha estado em um lugar assim.
Ele viu homens sentados em poltronas escuras, com copos de uísque na mão, observando as mulheres com olhos famintos. Alguns conversavam com elas, murmurando palavras que Vincent não conseguia ouvir, mas que provocavam risos sussurrados e olhares maliciosos.
Uma mulher passou por ele, e o roçar de sua pele contra seu braço fez com que ele sentisse um arrepio.
Vincent engoliu em seco, sem saber se o que sentia era curiosidade ou desconforto.
— Que cara é essa, Vincent? Nunca viu uma mulher de perto? — Léo riu, empurrando-o levemente em direção ao bar.
Vincent se forçou a parecer indiferente, mas algo dentro dele estava desperto.
Foi quando ela apareceu.
Ela se movia com uma confiança que nenhuma outra mulher ali parecia ter.
Não era apenas o corpo perfeito ou o vestido negro que abraçava suas curvas como um segredo íntimo. Era o olhar. Havia algo em seus olhos escuros e felinos, algo que parecia enxergar mais do que qualquer outra pessoa ali. Ela se aproximou devagar, um sorriso brincando nos lábios vermelhos.
— Esse menino não parece pertencer a este lugar — Sua voz tinha um tom provocador, como se quisesse testar sua reação.
Vincent não recuou.
— E quem disse que sou um menino? — Sua voz saiu mais firme do que ele esperava.
O sorriso dela se alargou. Ela deslizou um dedo sobre a borda do copo de uísque que segurava, os olhos nunca deixando os dele.
— Então prove.
A provocação pairou entre eles. Vincent sentiu o coração acelerar de um jeito que nenhuma briga conseguira fazer antes. Luana percebeu. E gostou. Ela se inclinou para perto, sussurrando junto ao seu ouvido.
— Me chame de Luna.
A risada de Léo ecoou pelo ambiente carregado de desejo e promessas ocultas. Os outros garotos acompanharam, brindando à cena com copos de cerveja meio vazios e cigarros que queimavam lentos entre os dedos.
— O piá tá com sorte hoje! — Léo gargalhou, dando um tapa no ombro de Vincent — A Luna nunca faz joguinho assim com ninguém.
Vincent, no entanto, não desviou o olhar de Luna. O sorriso malicioso dela permanecia ali, como se estivesse esperando para ver o que ele faria a seguir.
O cheiro do perfume dela, uma mistura inebriante de jasmim e algo amadeirado, era uma presença quase tangível no ar. Ele podia ver o brilho sutil da pele dela sob a iluminação vermelha da boate, o reflexo dourado dos brincos balançando suavemente com cada movimento calculado.
Ela era diferente.
Não era apenas a beleza ou a sensualidade crua que emanava de cada gesto. Era a confiança. Luna não parecia uma mulher que se deixava levar, mas que levava. E isso despertou algo novo em Vincent, algo que ele ainda não conseguia nomear, mas que queimava como uma centelha prestes a se tornar incêndio. Ele umedeceu os lábios, ignorando a presença dos amigos ao redor. Se fosse um jogo, ele jogaria até o fim.
— Qual é o seu preço? — Ele perguntou, a voz baixa, sem hesitação.
Os risos cessaram.
Léo arregalou os olhos e assobiou baixo.
— Parece que o piá quer brincar de gente grande.
Mas Luna não riu.
Os olhos escuros dela brilharam de um jeito diferente, não de diversão, mas de algo mais afiado, mais curioso. Ela inclinou a cabeça de leve, analisando Vincent como um predador avalia uma presa, mas havia algo mais ali, uma ponta de respeito pelo atrevimento dele.
— O preço? — Ela repetiu, como se saboreasse as palavras. Então deu de ombros, um sorriso quase desafiador brincando nos lábios — Acho que depende do que você é capaz de me fazer sentir.
As palavras pairaram no ar, carregadas de duplo sentido. Vincent sentiu o peso do desafio. Luna queria ver até onde ele iria, se ele manteria a pose ou se recuaria como um garotinho brincando de homem.
Mas ele não recuou.
Ele deu um passo à frente, aproximando-se dela sem pressa. Léo e os outros se afastaram sutilmente, percebendo que algo estava acontecendo ali, algo que não era apenas uma brincadeira. A tensão entre eles era palpável.
Luna permaneceu imóvel, mas os olhos dela o acompanharam a cada movimento. A pouca distância entre eles era intencional. Vincent sentia o calor do corpo dela, a eletricidade pulsando no ar. Mas não era ele quem estava sendo testado naquele momento. Ele também a testava.
— E o que faria você revirar os olhos? — Ele perguntou, o tom rouco e preciso.
Ela sorriu de canto. Um sorriso perigoso. Ele estava indo longe demais e ela gostou disso.
— Tu quer mesmo saber? — A voz dela era um sussurro carregado de promessas e segredos.
Ela deslizou os dedos suavemente pelo peito de Vincent, sobre o tecido de sua camisa, traçando um caminho preguiçoso até a gola. O toque era leve, quase imperceptível, mas carregado de intenções. Vincent não se moveu. Se tivesse engolido em seco, ela teria vencido. Se tivesse desviado o olhar, ela teria vencido, mas ele não fez nenhum dos dois. Ele apenas sorriu. Um sorriso discreto, quase arrogante, que não passou despercebido.
Ela não o desestabilizou. Os olhos dela estreitaram um pouco, como se analisasse o que estava diante de si. Então, inesperadamente, ela riu.
O som foi baixo e rouco, carregado de algo que Vincent não conseguiu definir. Ela pegou a mão dele e, sem hesitar, colocou-a sobre sua própria cintura, guiando os dedos dele para sentirem a pele quente sob o vestido de seda.
— Vamos descobrir se você vale alguma coisa, garoto.
Léo e os outros não disseram nada.
Não havia zombarias agora, apenas olhares de curiosidade e respeito silencioso.
Vincent seguiu Luna para o andar de cima da boate, onde os corredores eram estreitos e a iluminação era ainda mais baixa. Cada passo era um convite para cruzar um limite do qual ele jamais voltaria. Ele não hesitou.
O cheiro dela preenchia seus sentidos, o toque de sua pele contra a dele ainda queimava como uma marca. Ao chegarem a uma porta, Luna abriu sem cerimônia, segurando Vincent pelo pulso enquanto o puxava para dentro.
O quarto era pequeno, mas aconchegante. A luz amarelada das lâmpadas criava um ambiente intimista, e um perfume doce pairava no ar.
Luna soltou o pulso dele e se virou, encarando-o. Por um momento, apenas o silêncio existiu entre eles. Então, ela ergueu a sobrancelha, um brilho de expectativa nos olhos.
— E agora, Vincent? O que você vai fazer?
Ele sabia que não poderia recuar. E não queria.
O quarto estava envolto em uma penumbra dourada, iluminado apenas pelo brilho suave das lâmpadas de canto. As sombras brincavam nas paredes, moldando silhuetas fluídas e misteriosas, criando um espaço isolado do mundo lá fora. O som abafado da música da boate ainda vibrava levemente sob os pés de Vincent, como um lembrete de que ali dentro, tudo era diferente. E Luna estava diante dele, um convite silencioso para um jogo que ele mal começara a compreender.
Ela o observava com um misto de diversão e curiosidade, como quem avalia uma peça rara, um diamante bruto que precisava ser lapidado.
Vincent não era um homem ainda, mas também não era um garoto qualquer. O que ele não tinha em experiência, compensava em ousadia. Ele se recusava a recuar, e Luna gostava disso.
Ela se afastou um pouco, cruzando os braços sob o peito, realçando as curvas generosas moldadas pelo tecido escuro de seu vestido.
A seda negra deslizava suavemente sobre seu corpo, abraçando-lhe a cintura com perfeição, os ombros expostos em um decote que revelava pele dourada pelo calor das luzes suaves. O vestido era longo, mas uma fenda lateral se abria a cada passo, revelando pernas esguias e torneadas, envoltas por meias finas de renda.
Luna era uma mulher que sabia o poder que tinha.
Seus cabelos longos e negros caíam como um rio sobre os ombros, algumas mechas deslizando para a frente enquanto ela inclinava a cabeça, avaliando Vincent. Os lábios carnudos estavam pintados de vermelho escuro, um tom que combinava com o brilho ardiloso nos olhos dela.
E Vincent a observava, absorvendo cada detalhe. Ele queria entendê-la. Queria decifrar o que a fazia se mover daquela maneira, como se fosse feita de puro magnetismo. Mas Luna também o analisava. A postura firme, a forma como ele sustentava o olhar, o ar de desafio que se misturava a uma intensidade silenciosa.
Os cabelos castanhos de Vincent estavam um pouco desalinhados, a franja caindo levemente sobre os olhos azul-acinzentados. O rosto era jovem, mas já carregava marcas de endurecimento precoce, um traço típico de quem cresceu rápido demais.
Ele era magro, mas não franzino. O corpo estava começando a se definir, os músculos discretos sob a camisa escura que se ajustava ao peito. As mangas dobradas até os cotovelos revelavam antebraços firmes, e os dedos longos seguravam seu queixo com um controle calculado.
Não tremiam.
Luna percebeu o brilho frio que oscilava no pescoço dele. Um colar.
A corrente de prata sustentava uma pequena pedra de obsidiana em forma de coração.
O pingente escuro balançava levemente enquanto Vincent pairava sobre ela, criando um contraste marcante contra sua pele clara.
Luna sentiu um arrepio inesperado. Aquele era o símbolo dele. Algo que ele guardava como parte de quem era.
O que aquilo significava para ele? Ela quase quis perguntar, mas não o fez pois havia algo mais interessante acontecendo naquele momento.
Vincent se aproximou mais, e Luna não se moveu. Ela queria ver o que ele faria a seguir.
— Você gosta de desafios, não é? — Vincent murmurou, a voz baixa, carregada de um peso que não combinava com sua idade.
Luna sorriu.
— E tu? — Ela deslizou um dedo leve pelo pescoço dele, descendo devagar até a pedra de obsidiana — Sabe lidar com um desafio?
Ele a puxou pela cintura, sem hesitação, sem medo. O corpo dela encontrou o dele, e Luna arfou com o movimento brusco e sorriu. Ele era bruto. Cru. Mas tinha algo em si que a instigava.
— Vou descobrir — Ele respondeu, sem desviar os olhos dos dela.
Seu olhar desceu para os lábios dela, depois voltou para seus olhos. Ele queria que ela soubesse que não estava intimidado.
E quando ele segurou o rosto dela com uma das mãos, os lábios pairando sobre os dela, sentiu a respiração de Luna vacilar por uma fração de segundo. A boca de Vincent saboreava, sem pressa, o hálito quente dela. Luna sentiu a respiração quente contra seus lábios, mas ele não a beijou de imediato.
Ele estava aprendendo. Ela gostou disso.
O que começou como uma aproximação despretensiosa se tornou uma disputa silenciosa. Quem cederia primeiro? Vincent se recusava a se apressar.
Luna, pela primeira vez em muito tempo, se viu à espera. A boca dele, jovem e faminta, finalmente a encontrou. O beijo não foi delicado. Não havia hesitação, apenas um desejo firme, uma fome de descoberta.
E Luna o guiou. As mãos dele exploravam sua cintura, deslizando sobre o tecido do vestido como se tentassem memorizá-lo, mas ela não queria que ele aprendesse fácil demais. Ela segurou seus pulsos e o empurrou levemente contra a parede.
O impacto foi suave, mas o suficiente para surpreendê-lo. Vincent ergueu a sobrancelha, mas não protestou. Ele estava aprendendo, mas ela era a professora.
— Devagar — Ela sussurrou, a voz como um feitiço — O segredo tá em controlar o tempo.
Ele respirou fundo. Ela pegou sua mão e a colocou sobre sua coxa, guiando os dedos dele pela fenda do vestido.
A pele macia sob a palma dele enviou um choque elétrico por seu corpo.
— Sinta. Não corra — Os lábios dela roçaram o lóbulo de sua orelha, a respiração quente.
Vincent fechou os olhos por um breve momento, absorvendo aquilo. Isso não era apenas desejo, era controle, e ele queria aprender.
Luna inclinou-se sobre Vincent, os olhos escuros cheios de uma curiosidade ardente. Ela podia sentir a hesitação mascarada por ousadia, a vontade de provar-se, o desejo de aprender e dominar ao mesmo tempo.
— Senta — A voz dela veio suave, mas firme, um comando velado por um sussurro sedutor.
Vincent hesitou por uma fração de segundo antes de obedecer. Sentou-se à beira da cama, os pés firmes no chão, as mãos apoiadas sobre as coxas, olhando para ela com um misto de expectativa e desafio.
Luna sorriu. Ele não era do tipo que baixava a cabeça. Isso o tornava ainda mais fascinante.
Ela se ajoelhou sem desviar o olhar, puxando a calça de Vincent como quem desembrulhar um presente novo, intocado, virgem.
— Tu tem uma bela ferramenta aqui — sussurrou, envolvendo a ereção entre os dedos e iniciando os movimentos cadenciados.
Cada vez que ela subia e descia, Vincent sentia seu corpo ser tomado por ondas de prazer inéditas. Era como se uma corrente elétrica percorre seu dorso terminando em uma população que poderia fazer seu pau explodir. Mas nada se comparou ao momento em que ele sentiu os lábios quentes envolvendo seu membro e a sucção magistral de que fez seus pelos se eriçarem, a língua macia serpenteando todo seu comprimento.
Vincente enterrando seus dedos nos cabelos dela, acompanhava o movimento que se seguiu por longos minutos, regados por uma expectativa de orgasmo que Luna não permitiu que acontecesse.
— Ah,... caralho! — gemeu — Sua boca… é uma delícia.
Com um movimento fluido, ela subiu sobre ele, montando-o com a destreza e o controle de quem conhecia cada detalhe desse jogo. Seu vestido escorregou um pouco mais pelas curvas, revelando pedaços de pele quente sob a luz dourada do quarto.
Ela se ajeitou sobre seu colo, pressionando-se contra ele, fazendo-o se encaixar com suavidade dentro dela, em um ritmo lento e provocativo.
— Sinta isso — Ela sussurrou, deslizando as mãos sobre os ombros dele, guiando sua postura — Não é só sobre ti. Não é só sobre mim. É sobre os dois.
Vincent prendeu a respiração por um segundo, absorvendo a sensação do corpo dela movendo-se contra o seu. Não se tratava apenas do toque, mas da forma como ela o fazia sentir. Havia ritmo, provocação, um jogo silencioso que envolvia mais do que apenas desejo.
Luna segurou o rosto dele entre as mãos, fazendo com que seus olhos se encontrassem.
— Nunca te apresse — Ela instruiu, seus lábios roçando os dele sem um beijo completo — Aprenda a esperar. A antecipação é uma arma poderosa.
Vincent entendeu o recado. Ele não avançou. Apenas sentiu. Mas Vincent não queria apenas aprender, ele queria assumir o controle. E Luna via isso em seus olhos. Era só uma questão de tempo até que ele tomasse a iniciativa.
E ele tomou.
Com um movimento firme, Vincent segurou Luna pela cintura, sentindo a pele quente sob seus dedos. A tensão em seus músculos denunciava sua crescente confiança.
Luna ergueu uma sobrancelha, avaliando-o com aprovação.
— Então tu quer conduzir agora? — Ela provocou, os lábios curvando-se em um sorriso malicioso.
Vincent não respondeu. Ele apenas agiu. Virou-a de costas sobre a cama, colocando-a de joelhos sobre o colchão. A respiração de Luna se tornou mais pesada, e um brilho de prazer preencheu seu olhar.
— Bom — Ela murmurou, apoiando-se sobre os cotovelos — Muito bom.
Vincent posicionou-se atrás dela, suas mãos explorando cada curva, aprendendo a linguagem silenciosa do corpo de uma mulher.
Luna arqueou-se levemente ao sentir o membro rijo e puro, incentivando-o.
— Não basta apenas te mover — Ela instruiu, a voz levemente entrecortada — Sinta o ritmo. Leia o corpo.
Vincent fechou os olhos por um breve instante, absorvendo cada detalhe. A forma como a respiração dela acelerava conforme ele encontrava o movimento certo. O jeito que seus músculos se tensionavam e relaxavam ao comando de seus toques. A forma como seu corpo respondia não apenas ao contato, mas à intenção por trás dele.
Era uma dança sem música, uma troca sem palavras. E pela primeira vez, Vincent compreendeu o poder disso.
Luna sorriu entre um suspiro.
— Isso… Agora tu está entendendo.
Ele abriu os olhos e encontrou o reflexo deles no espelho ao lado da cama.
Luna estava entregue, mas não submissa. Ela se permitia ser guiada porque queria, não porque precisava.
Era isso que Vincent queria. Queria que uma mulher escolhesse ceder a ele. Queria que fosse uma decisão, não uma imposição. Isso era controle. Isso era poder.
O ar denso, carregado de desejo e expectativa, marcava o cheiro da pele quente de Luna misturando-se ao suor e fluidos. Vincent se movia com intensidade crescente, absorvendo cada ensinamento de Luna, mas imprimindo a sua própria assinatura a cada toque, a cada comando silencioso que passava através dos dedos firmes.
Os músculos do seu abdômen retesavam-se com cada estocada, e o calor crescente entre os dois parecia sufocar qualquer pensamento externo, reduzindo o mundo a um único instante carregado de pulsação e desejo.
Luna sentia a mudança nele. Sentia quando o controle começava a fluir naturalmente, quando ele já não era mais um aprendiz hesitante, mas um homem que compreendia o impacto de seus movimentos, o peso de sua presença. Ela arqueava-se em resposta ao domínio dele, os dedos agarrando-se com força aos travesseiros.
Os suspiros que escapavam de seus lábios eram convites para que ele fosse além, para que ele testasse os próprios limites.
E Vincent aceitou o desafio.
Ele segurou Luna com mais firmeza, guiando seus movimentos como se tivesse feito aquilo a vida toda. A forma como seus corpos se chocavam, como seus músculos tensionavam em resposta ao fluxo intenso de sensações, era um reflexo do poder que ele começava a entender.
O ritmo entre os dois aumentava como uma tsunami prestes a quebrar.
Vincent sentia o corpo de Luna estremecer sob ele, os gemidos mais agudos e prolongados. Os músculos dele se contraíram, cada fibra de seu corpo tomada por uma tensão insuportável.
Os olhos dela encontraram os dele, e naquele instante, não havia mais palavras, apenas a entrega total ao ápice inevitável.
O quarto se dissolveu ao redor deles. Havia apenas o calor, o frenesi, os corpos em completa harmonia, atingindo o auge do controle e da vulnerabilidade ao mesmo tempo.
Vincent prendeu a respiração por um momento, sentindo o mundo explodir ao redor deles, sentindo a onda de prazer rasgar cada pensamento, cada limite, cada incerteza.
E então veio o silêncio.
O silêncio absoluto que segue o furacão da entrega.
O único som que restou foi a respiração descompassada dos dois, o pulsar ainda vibrante de um desejo saciado, mas longe de extinto.
Luna sorriu. Vincent havia aprendido rápido.