###Fernando###
Ouço a campainha e, ao atender, para minha surpresa, era Kiara perguntando por Gil. Minha vontade era mandá-la se foder, mas mantive a educação.
— Bom dia, Kiara. Como posso te ajudar?
— Bom dia, Fernando. O Gil está aí?
— O Gil não mora mais aqui, Kiara. Ele está morando com a noiva. — Que satisfação em dizer isso.
— Tudo bem, me desculpe o incômodo.
— Por nada.
Kiara saiu com um semblante que não consegui identificar, mas eu não estava nem aí.
— Querido, quem era na porta?
— Era a Kiara atrás do Gil. Você acredita?
— E por que ela está atrás dele?
— Não perguntei, mas acredito que seja para humilhá-lo mais um pouco. É só o que ela sabe fazer.
— Mas ele traiu ela, então acho que estão quites.
— Devem estar, não sei. O que eu sei é que estou atrasado para o trabalho.
Saí, dei um beijo na Maria e, no caminho, liguei para Gil.
— Irmão, Kiara está atrás de você. Se liga, porque vem problema.
— Quero distância dela.
— Então fica esperto.
Cheguei à empresa e toda a diretoria estava na minha sala.
— Marcaram uma reunião e não me avisaram?
— Sente-se, por favor.
— O que está acontecendo?
— Recebemos uma denúncia de uma funcionária alegando que você a assediou sexualmente.
— O quê? Como? Isso é mentira!
— Pode até ser, mas será sua palavra contra a dela, e você sabe o que acontece nesses casos.
— Então estou sendo demitido por uma denúncia sem sequer saber quem a fez?
— Não, você não será demitido. Mas será rebaixado para diretor de criação, seu cargo anterior. Laila assumirá a posição de CEO no seu lugar.
Comecei a rir ironicamente.
— Foi ela, né? Fez uma falsa denúncia e, para evitar um escândalo, vocês deram meu cargo para ela.
— Infelizmente, é o que podemos te oferecer. – Os filhos da puta se quer negaram ser ela
— Façam o seguinte: enfie esse cargo no cu de vocês. Eu não vou me demitir. O mínimo que podem fazer é me dar todos os meus direitos.
— Já esperávamos essa reação e preparamos a papelada. Pode buscar no RH.
Saí puto, batendo a porta, e vi Laila rindo com outras mulheres no canto.
— Por que você fez isso?
— Fiz o quê?
— Essa falsa acusação de assédio.
— Não fui eu. Apenas aceitei seu cargo porque disseram que você estava indo embora.
— Eu não nasci ontem. Faz anos que estou nessa empresa. E anota o que estou te dizendo: eles vão te engolir e você vai pedir para eu voltar.
Ela ficou em silêncio com um sorriso no canto do rosto. Eu tive certeza de que ela era a culpada pelo que aconteceu.
Laila é morena, baixinha, de cabelos longos sempre presos. Usa saia, salto e camisa social. Sorriso de puta. Casada, mas nunca fala do marido.
Cheguei em casa arrasado, e Maria veio me consolar.
— O que aconteceu, querido?
— Fui demitido.
— Porra, Nando! A gente nem pagou a casa ainda!
— Não se preocupa com isso. Tenho meus direitos e logo arrumo outro emprego.
— E o que você fez?
— Fui acusado de assédio sexual.
— Você tentou comer alguém, seu filho da puta?
— Claro que não, caralho! Foi armação. Eu juro!
— E você não pode fazer nada?
— Não mudaria nada. Acho que fizeram isso para me foder mesmo.
— E o que fazemos agora?
— Nada vai mudar.
Soube por amigos que Maria se inteirou da acusação para saber se era verdade o que eu dizia, mas não teve sucesso. Os dias em casa eram torturantes. No início, foi bom descansar, mas logo o tédio tomou conta. Junto com ele, veio a total falta de atenção da Maria, que vivia no celular. Tudo o que ela fazia era gravado e postado. Nossas brigas sempre eram por isso.
Resolvi ignorar e focar em mim: sair com os amigos, me divertir e procurar um emprego. Maria, por outro lado, ficava cada vez mais famosa nas redes sociais. Era convidada para festas, lives, eventos… e nunca me chamava. Eu também não ligava.
Quando percebi, já nem dormíamos juntos. Mal via Maria chegar em casa. Até que, em uma dessas festas, ouvi a repórter perguntar:
— Maria, e esse coração? Tem dono?
— Não, estou livre.
— Então está solteira?
— Estou solteiríssima, mas não estou procurando ninguém.
O grupo dos rapazes explodiu de mensagens e vídeos da entrevista. Eu não respondi.
Rosa, a empregada, me perguntou:
— Patrão, você e a dona Maria terminaram?
— Pelo visto, sim. Só eu não sabia.
Ela encheu um copo de whisky puro e me entregou. Rosa nos conhecia bem. Ela é de origem mexicana, pele morena, tal qual uma mulher indígena, com seus 30 anos, rosto fino e super profissional, não dando espaço para nada além disso.
— Por favor, Rosa, coloca minhas coisas em um dos quartos. Assim que puder, vejo o que faço com a casa.
Me instalei no quarto que um dia seria dos filhos que planejamos. Fiz questão de trancar a porta. Ela nem percebeu que saí do nosso quarto.
### Maria ###
Nunca imaginei que o Nando em casa seria tão chato. Vive reclamando de atenção. Ele não entende que estou crescendo, conquistando meu espaço. Agora, todo final de semana, faço presença VIP, festas, eventos. Estou vivendo. Ele não está me acompanhando.
Cheguei em casa bêbada e deitei para dormir. Não vi o Nando. Tomei café e o grupo da minha produtora estava bombando de mensagens.
Matérias e vídeos pipocavam na internet: "Maria Mendes diz estar solteira", "Qual o homem ideal para Maria?", "Quem é Fernando, ex de Maria, que ainda mora na casa dela?".
— Rosa! Rosa! Cadê o Nando?
— A última vez que o vi, ele estava no quarto.
— Eu vim de lá! Ele não está no nosso quarto!
— Não no de vocês, senhora. No de hóspedes. Ele se mudou para lá depois que soube que terminaram.
— Mas a gente não terminou!
— Mas saiu em todos os lugares nas redes sociais, patroa.
Subi correndo e abri a porta. O celular dele estava lá, mas ele não. Nando sempre usava a mesma senha.
Abri as mensagens e vi algo na área de transferência:
"Podia ter me dito que tudo terminou. Eu sofreria, mas sairia da tua boca. Não passaria como trouxa para todo mundo. Pensei que, depois de tudo que vivemos, pelo menos isso eu merecia. Quando não tínhamos nada, estávamos lá um para o outro. Eu batalhei e comprei nossa casa dos sonhos, onde nosso filho nasceria e cresceria. Mas me enganei. No meu pior momento, demitido, acusado injustamente de assédio, precisando de você, além de ser ignorado, descobri que estou solteiro um…" - Ele não terminou a mensagem.
Meu peito apertou. Comecei a ligar para Raul, Gil, Carlos, Raquel e Kiara. Ninguém sabia onde ele estava.
Entrei em crise. Me mordia, roía unhas, puxava os cabelos. Todos os amigos dele já estavam na minha casa. Acionei a polícia. Será que ele fez alguma besteira por minha causa? O repentino desaparecimento me fazia sentir uma enorme culpa.
— Gente, pelo amor de Deus, alguém precisa achar ele!
— Na verdade, Maria, temos uma ideia de onde ele possa estar — disse Gil.
— Então vamos até lá!
— Melhor você não ir. Ele não vai nos perdoar. Mas prometemos dar notícias se ele estiver lá.
Minutos depois, Raquel recebeu uma mensagem e me olhou séria.
— Acharam ele.
— Raul disse que é para não se preocupar que logo eles vão trazer ele.
Eu fui me acalmando e pensando em como consertar as coisas. Se é que tem conserto.
- Mana, pula fora, ele não tá te acompanhando.
- Você não entende, Alice, a gente viveu muita coisa, não é assim. Ele sempre me tratou como princesa, comprou essa casa, eu só entrei nessa vida de influencer graças ao luxo que ele me dava, nunca me faltou nada.
- Mas vocês não estão felizes...
- Para! Não se mete na nossa vida, deixa que a gente se resolve.
As horas passavam e a agonia aumentava cada vez mais, eu não sabia o que esperar.
### Fernando ###
Era óbvio que os canalhas me encontrariam. Estava na velha casa do lago onde nos escondíamos para matar aula, aquele lugar me enchia de nostalgia e paz. Eles foram chegando um por um sem dizer uma palavra, nos sentamos de frente ao lago e o tempo parou por um instante.
- Se lembra quando a gente resolveu nadar nu no lago e roubaram nossas roupas? – Disse Raúl.
- Não tem como esquecer esse peruzinho aí não – Debochou Gil.
- Tava frio, ele fica menor – Raul respondeu.
- Vocês sabem que o maior pau é o meu, né? – Disse Carlos.
- Tão grande que a Carmem te deu um par de chifres – Falou Gil.
- A Kiara fodeu com outro para você ouvir e quer falar de mim e da Carmem? Raul nem tenta, que a Raquel também te enfeitou a cabeça.
Todos começamos a rir da situação.
- Irmão, você nem está tão mal, a Maria está preocupada contigo, e ela não te traiu, só esqueceu de avisar que terminaram – falou Raul, o mais sábio entre nós.
- Eu não estou chateado por isso, estou chateado porque ela nem percebeu que eu estava mal, parece até que somos desconhecidos.
- Conversa com ela, um papo e vocês resolvem.
- Farei isso quando eu voltar.
Carlos se levantou e falou:
- E que tal um mergulho? Todos juntos?
A gente foi para a beira do píer do lago.
- No três! – Disse Carlos animado.
Nós olhamos e já sabíamos o que fazer.
-
Ameaçamos pular, e Carlos pulou sozinho. Ficamos rindo dele.
- Bando de cornos! – Disse ele da água.
Voltamos para a minha casa, e confesso que estava nervoso, mas aprendi a nunca demonstrar isso.
Abri a porta de casa, e Maria correu pulando no meu colo, me abraçando e trancando as pernas na minha cintura. Quando desceu, ela começou a me dar socos no peito.
- Eu pensei que você tinha morrido, seu idiota!
- Eu estou bem, calma – Trouxe ela para o meu peito, e ela começou a chorar.
Ela olhou para o lado.
- E você? Por que está todo molhado?
- Longa história – respondeu Carlos.
- Bom, é hora de todos irmos – Disse Raúl.
- Eu vou ficar – Respondeu Alice.
- Você vai, depois nos falamos – Disse Maria.
Todos foram embora, e sentamos para conversar. Ela me contou tudo sobre a ideia da irmã e as redes sociais.
- Eu não fiquei chateado pelo que você falou na entrevista, estou chateado por ser deixado de lado. Você chega em casa e nem percebe se eu estou aqui. Para mim, você queria terminar, e a entrevista foi o desfecho.
- Não! Eu nunca quis terminar, eu só fiquei deslumbrada com esse universo e acabei não me dando conta do que estava acontecendo em volta. Me desculpa.
- E como vai ser daqui para frente?
- Vai ser assim.
Ela postou um vídeo nosso que eu nem sabia que existia, se beijando em passeios e etc. Na legenda, ela colocou:
“Meus seguidores, eu quero apresentar a vocês o homem da minha vida, Fernando, o misterioso que as revistas disseram. Nós tínhamos nos desentendidos, e para provocar ele, disse que estava solteira, mas a verdade é que meu coração tem dono, e eu o amo muito”.
Peguei ela no colo e levei para o quarto. Começamos a nos beijar, e eu comecei a descer.
- Espera, querido, tenho uma ideia. E se a gente gravar nossas transas?
- Não sei, Maria, isso é perigoso.
- A gente vai gravar e deixar no notebook do quarto, ninguém mexe nele além de você.
- Não estou seguro com isso.
- Por favor, a gente grava hoje para ver como é.
Concordei, e ela pegou o celular e começou a gravar eu chupando a buceta dela.
- Ahh, isso, meu gostoso, chupa a buceta da tua mulher, chupa.
Ela nunca disse aquelas coisas, mas entrei no clima. Botei um dedo na buceta enquanto chupava, e ela se contorceu de tesão.
- Nossa, eu vou gozar na sua boca... Ahhh – Ela começou a ter espasmos.
- Agora é minha vez, deixa eu ver essa pica, me mostra.
Ela deu o celular na minha mão e colocou minha pica para fora.
- Nossa, é muito grande, será que cabe na minha boca? – Disse como se fosse o primeiro boquete que me fazia.
- Cabe, safada. Se não, você vai ter que lamber ele todo.
- Aiii, que delícia.
Ela abocanhava, engasgando e babando meu pau todo. Não era a primeira vez que fazia isso, mas com as provocações, me deixou maluco.
- Vai comer minha bucetinha?
- Vou te deixar toda arregaçada.
- Vai, querido? Me foder com vontade?
- Vou te foder tanto que vai sair daqui assada.
- Então vem, mete na sua mulher, vem.
Peguei nos calcanhares dela, deixando toda arreganhada, e enfiei a pica enquanto ela gravava entrando.
- Aiii, que pica grande, vai me deixar toda abertinha.
- Toma, sua cachorra – Nunca tinha dito isso, mas no calor do momento saiu.
Me entregou o celular para gravar, e eu filmava ela gemer em cada estocada minha, e dava cada vez mais tesão.
- Fica de quatro, cachorra.
Ela se virou, e eu filmava a buceta e o cu dela. Pincilei a pica, enfiei deslizando pela bucetinha encharcada dela.
- Nossa, que delícia, me come. - Eu metia, e ela pedia mais.
- Vai, mete mais forte. Ahh... ah... Ahhh.
Coloquei o celular de lado para segurar a cintura dela e afundar mais a pica. Ela pegou e ficou gravando o rosto enquanto levava pica.
- Eu vou gozar.
- Goza na minha cara.
Ela se virou, me dando o celular, e eu atendi, sujando a cara dela de porra. Ela passou a limpar com o dedo e lambendo toda porra para a boca.
Tomamos banho juntos e deitamos para dormir.
- Foi gostoso, não foi, querido?
- Tenho que admitir que sim e pretendo repetir.
Desse dia em diante, ela passou a me levar para as festas, mas ficava com ciúmes. Eu acabei tendo alguma atenção que não desejava, e minhas redes sociais passaram a ter os mesmos seguidores que os dela, além de perfis de casal nosso e fã clube.
Nosso quarto ficou cheio de câmeras para gravar nossas transas sem precisar segurar o celular, mas fora isso, sempre gravava uma putaria ou outra por fora. Um boquete no carro, uma rapidinha em local público, fantasias. Tudo indo muito bem.
Recebi um convite de emprego em uma multinacional. Os dias estavam perfeitos, até novamente eu ser chamado em uma sala para me explicar.
- Que porra é essa? – Falou, apontando para um vídeo do perfil da Maria.
“Eu não sabia que ele era capaz disso, um homem baixo que eu confiei minha vida. Mulheres, precisamos nos juntar para que mais nenhuma de nós passe por isso novamente”.
- Eu não sei do que se trata.
- Ela está te acusando de vazar vídeos íntimos de vocês.
- Como assim? Eu não fiz nada, preciso ir para casa.
- Espera, se sair por essa porta, está demitido. Precisamos conter danos.
- Me demite.
Corri para casa e peguei Maria indo embora.
- Espera, não fui eu. Você precisa acreditar em mim.
- Eu confiei em você, e olha o que fez, seu canalha!
- Eu não fiz nada! Não fui eu!
- Então quem foi? A Rosa? Só nós dois tínhamos acesso aos vídeos. Só não entendo por que fazer isso?
- Exatamente, não tem motivos. Eu não fiz isso.
Maria não me deu ouvidos e foi embora. Eu tive que me explicar na delegacia e entreguei todos os aparelhos. Foi comprovado que os vídeos de fato saíram do notebook do quarto. Maria não quis levar o processo adiante, mas também não quis me ver novamente.
Passaram dias, e fiquei sabendo que ela tinha um novo amor, um influencer qualquer aí. Só me restava seguir a vida.
Minha antiga empresa me ligou, pedindo para ir até lá. Eu apareci. As coisas não iam bem desde que eu saí, e me ofereceram o cargo inventado de Co-CEO. Eu aceitei, precisava da grana.
Mas Laila me odiava e sempre que podia me diminuía, me desprezava. Mas não me demitia porque eu dava retorno. Em uma grande apresentação, ela tirou meu nome do projeto.
- Que porra foi essa, Laila?
- Vai ser melhor assim, já que seu nome está manchado. Ia pegar mal para a empresa.
- Eu quero meu nome amanhã no projeto.
- Ou vai fazer o que? Vazar vídeo íntimo meu?
-Bem que te faria bem ser fodida de verdade, para ver se melhora esse humor?
- E quem seria esse homem, você? – Falou tocando o dedo no meu peito.
- Se for eu, te deixo de perna bamba.
- Você não me aguentaria.
- Quer apostar?
Agarrei ela e comecei a beijá-la, e ela se entregou. Levantei a saia e apertei a bunda dela, levantei e a coloquei na mesa, coloquei a calcinha de lado e soquei com vontade e ódio.
- Filho da puta pauzudo, está me rasgando!
Virei ela com a bunda virada para mim e dei um tapa na bunda que deixei marca. Soquei forte enquanto ela gemia, puxei os cabelos com uma mão e com a outra eu socava nela. Puxei ela pelos cabelos para olhar para mim e vi seus olhos revirarem de tesão, e ela gozar no meu pau. Meti até gozar dentro, tirei o pau e coloquei a calcinha no lugar. Saí deixando ela suada e descabelada na sala.
Chegando em casa, Maria estava na sala me esperando.
- Desculpa aparecer assim do nada, mas Rosa me deixou entrar.
- Aconteceu alguma coisa?
- Sim – ela estava visivelmente nervosa com as unhas ruídas.
- Então diz logo, o que foi?
- Estou grávida, e é seu.
- Meu? Mas eu fiz vasectomia, como pode ser meu?
- É seu, estou grávida desde a época que estávamos juntos.
- Não é daquele cara que você está ficando?
- É seu, já disse!
- Eu vou assumir, ué. O que eu faço?
- Primeiro, quero deixar claro que não voltaremos, mas não vou te afastar da criança.
- Essa semana tem consulta, se quiser ir, te passo o endereço.
E no dia marcado, lá estava eu no consultório, ouvindo a médica dar todas as orientações. Em um momento de descuido, eu perguntei:
- Depois de quanto tempo dá para fazer exame de DNA?
- A partir da nona semana, se ela estiver apta.
Olhei para o lado e vi o olhar de ódio da Maria, que saiu batendo o pé.
- Espera, por favor.
- Está pensando que estou te enganando?
- Você tem que admitir que não é fácil para mim. Eu fiz vasectomia, e você está com outro.
Ela pensou por um instante.
- Você está certo. Agora eu faço questão de fazer o DNA.
- Não precisa – Menti, eu precisava saber sim.
- Eu vou fazer.
Quando estávamos saindo, o atual dela esperava do lado de fora.
- Fernando, esse é o Enzo. Enzo, esse é o Fernando. - confesso que nessa hora meu personagem de homem decidido caiu por terra e fiquei com enorme ciúmes.
- Parece que nos veremos muito, então é melhor sermos amigos – Disse ele, estendendo a mão para eu apertar, que ignorei.
- Maria, podemos tomar um café rapidinho?
- Espera aqui que eu já volto – Disse ela para o Enzo.
- Porra, Maria, não vai dar certo com esse moleque.
- Você tem duas escolhas: somar comigo e ajudar a criar seu filho ou sermos inimigos, e eu não te chamar para nada. O que vai ser?
- Tá bom, mas evita trazer ele, por favor.
- Ele é meu namorado, Fernando. Vai estar comigo. Lide com isso.
Eu lidei da pior maneiro possível, saber que Maria tinha outro e criaria nosso filho com ele me tirava do eixo. Os dias passaram, o DNA veio, e eu era de fato o pai. Descobri que a vasectomia pode falhar em 0,2% a 5,3% dos casos, devido a falha técnica ou recanalização. A gravidez após a vasectomia é possível, mas extremamente improvável.
O Enzo estava em tudo: consultas, ultrassom. Parecia que éramos dois pais, o que me tirava do sério. Passei a não ir mais, e pelo visto não fiz falta, porque Maria não me ligou também. Quem me ligou foi Alice, dizendo que ela terminou e onde ela estava era um lugar péssimo.
### Maria ###
O início com Enzo foi tudo lindo. Transávamos, saíamos, éramos capa de revista e tudo mais. Porém, veio a gravidez, e foi nossa primeira briga. Ele queria dizer para a imprensa que o filho era dele. Eu não podia mentir para o Fernando, não tinha esse direito.
- Eu vou amar essa criança, Má.
- Não é essa a questão. Eu sei que vai amar, mas eu preciso contar para ele. Não é justo afastar o pai da criança.
Mesmo com ele insistindo muito para não contar, eu fiz o que achava certo. Ele, desde esse dia, passou a ficar possessivo. E estava disputando com o Fernando o lugar de pai. Até no ultrassom, ele ficou fazendo perguntas como se fosse o pai da criança, e brigamos mais uma vez.
- Está vendo? É isso que ele quer: colocar você contra mim. Ele vai nos separar, Má. Só você não vê.
Era sempre esse discurso, e fui levando. Um dos canais de uma amiga nos convidou para uma espécie de podcast.
- Estou aqui com o casal mais badalado da internet, Maria e Enzo. Sejam bem-vindos.
- Obrigada pelo convite. Estamos muito felizes de estar aqui.
- Recebemos com muita alegria o convite – Disse Enzo.
Ela fez várias perguntas sobre nosso dia a dia, mas tinha uma que era inevitável.
- Então, Maria, como está sendo a gravidez? O Enzo será um bom pai?
- Tenho certeza que ele será um bom pai para essa criança.
- Mas esse filho não é dele, né? Fizemos as contas, e você tá grávida antes de assumirem o namoro. Supondo que não houve traição, quem é o pai?
- O pai sou eu – Respondeu Enzo.
- Ele vai me ajudar a criar, mas o filho é do meu ex.
- O que vazou os vídeos?
- Sim, ele mesmo.
- E como está essa relação?
- Ele é o pai e vai assumir. Estamos bem, e ele quer que eu seja feliz. Vamos esperar nascer para saber como será compartilhada a guarda da criança.
- Isso se ele quiser a criança – Disse Enzo.
- E por que ele não iria querer, Enzo? Conta para a gente.
- Ele deixou ela sozinha, não vai mais em nada. Está na cara que ele abandonou as duas, e eu que vou segurar a bronca.
- Bom, nós recebemos uma ligação do Fernando. Vamos ver o que ele tem a dizer.
- Fala para esse merda que o pai sou eu. Ele é o namorado, marido, ou seja, lá o que for da Maria, mas esse filho é meu. E eu não fui porque esse bosta fica fazendo escândalo.
Enzo começou a xingar e gritar, e a gravação parou. A gente foi para casa com ele bufando.
- Está vendo o que você me faz passar – disse Enzo.
- Eu não sabia que ele ligaria, mas você também não colabora, fica provocando.
- Você está dando para ele, né? – Falou, segurando meu rosto.
- Não! Eu nem vejo ele.
- Não mente para mim, caralho.
- Eu não estou mentindo. – Falei perdendo o ar
- Se eu descobrir, vai ser pior.
- Pior? Vai fazer o que? Me bater? Hein, seu merda, vai me bater?
Ele me deu um tapa na cara que me fez cair no chão e um chute que acertou minha boca. Eu só protegi minha barriga e corri para o banheiro, me tranquei e liguei para minha irmã, contando o que aconteceu.
- Está vendo o que você me fez fazer? Isso é culpa sua. Você me tirou do sério.
- Abre, Má, por favor. Vamos conversar. Eu te amo. Eu não queria fazer isso. Me perdoa.
Como eu não abria, ele começou a chutar e socar a porta. Eu fiquei encolhida com medo, com medo de ligar para a polícia e ele matar meu bebê de alguma forma. Fiquei em posição fetal, chorando. Eu rezava, pedindo a Deus para aquilo acabar e salvar meu bebê. Era desesperador saber que a qualquer momento ele poderia entrar.
A cada som da porta – “tum-tum”, “pá-pá” – me deixava mais tensa. Até um silêncio ensurdecedor. “Pá” – a porta quebrou. Meus olhos se arregalaram, e o tempo parecia que tinha parado. Meu peito apertou, uma angústia sem fim, até ouvi aquela voz... Maria!
### Fernando ###
- Fernando, é a Alice. Você precisa ir buscar a Maria. Eu não entendi bem o que aconteceu, mas acho que ela e o Enzo brigaram, e ela precisa sair de lá.
- Me dá o endereço, Alice.
Peguei o carro e fui até lá. Era uma casa em um bom bairro. Não entendi sobre o lugar péssimo. Fui me aproximando e escutei gritos e alguém batendo em alguma coisa. Sem pensar duas vezes, eu invadi a casa, que a porta da frente estava aberta.
Enzo socava uma porta com uma faca na mão e xingava a Maria de tudo quanto é nome. Sem ele perceber, acertei um soco na cara dele que fez ele voar longe e ficar meio desacordado. Segurei ele pelo pescoço.
- Cadê a Maria, e o que você fez com ela, seu filho da puta?
- Eu vou chamar a polícia!
- Você vai dizer onde ela está, ou vou te arrebentar aqui mesmo.
- Socorro! Polícia! – Enzo gritou.
Eu dei outro soco na cara dele.
- Para, por favor, para! Eu falo. Ela está trancada no banheiro.
- Se ela estiver machucada, eu vou te matar, seu verme. Ela está carregando um filho meu.
Bati a porta e chamei, e ela não me atendeu. Enzo saiu correndo para chamar a polícia. Pensei que Maria podia estar desacordada ali dentro. Chutei a porta até abrir.
A cena era Maria com a boca sangrando, em posição fetal. Parecia estar em choque.
- Maria...
Ela me olhou assustada, e me deu um nó na garganta ver ela daquele jeito. Quase que minha voz não saiu.
- Sou eu. Você está segura. Vamos para casa.
Ela começou a chorar alto até a voz dela sumir. Peguei ela no colo, coloquei no carro e levei para o hospital. Ela quebrou três dentes, o rosto estava inchado, mas o bebê estava bem. Os funcionários chamaram a polícia para mim, acreditando que eu era o agressor.
Maria contou a situação, eu também expliquei tudo, e ela foi na DEAM fazer um B.O. contra ele. O corpo de delito estava feito, e pediu medida protetiva. Ele fez um B.O. contra mim, mas não deu em nada. Alguém da delegacia vazou a história, e de babaca que vaza vídeos da ex, eu virei herói que salvou a vida dela. Enzo sumiu e apagou as redes sociais, cheguei a combinar com os meus amigos de dar uma surra nele, mas não o achamos. Kiara nos ajudou em todo o processo que podia colocar ele na cadeia de 2 a 5 anos. Mas como ele tem muito dinheiro o processo está se arrastando.
Em casa, eu cuidei dela. Deixei ela na cama principal e fui para o quarto de hóspedes. Mas ela me pediu para ficar com ela aquela noite, porque estava com medo. Deitamos de conchinha, e eu com as mãos na barriga dela.
Durante meses, Maria teve pesadelos e nunca transamos. Nossa filha nasceu, e ela deu o nome de Eva Maria. Meus amigos estavam no hospital, comemoramos muito.
- Agora você vai saber o que é ter uma filha! – Disse Carlos, que é pai da Paula, com 18 anos.
- Você foi pai muito cedo. Eu já sou maduro – respondi.
- Maduro até tua filha levar alguém para tua casa, calcar tuas havaianas. Aí você vai ver.
- Paula faz isso?
- Nem conto para vocês!
### Carlos ###
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