Olá. Meu nome é Rogério, tenho 28 anos e sou casado há quatro anos com a Jéssica. Esta série conta nossas desventuras no prédio onde moramos, onde alguns vizinhos e vizinhas, às vezes, parecem querer testar nosso amor. Quem puder ler os três primeiros capítulos, só procurar pela série.
A Jéssica tem 26 anos, é médica e tem o corpo esculpido por horas de academia e uma disciplina invejável. Ela tem 1,71, pele amendoada e lindos cabelos castanho-claro. Barriga tanquinho, seios e bundinha pequenos, mas bem proporcionais ao seu corpo escultural. Não temos filhos ainda, mas isso está no nosso radar depois que os dois trintarem.
Os eventos deste capítulo no dia seguinte ao final do capítulo anterior.
Domingo era dia de churrascada. O sol já brilhava forte quando desci para a piscina levando a carne. As mulheres estavam esticadas nas espreguiçadeiras, bronzeando-se em biquínis minúsculos, enquanto os homens se reuniam ao redor da churrasqueira ou jogavam conversa fora perto das mesas.
Leandro foi o primeiro a me notar e acenou.
— Aê, Rogério! Demorou, hein? Já estava quase virando vegetariano aqui! — Ele riu, dando um gole na cerveja.
Érico, Jonas, Arnaldo, Maurício e os outros já por lá. Fui direto para a churrasqueira, cumprimentando um por um com um aperto de mão firme.
— Calma aí, Leandro — falei. — Daqui a pouco a carne tá no ponto, não precisa entrar em desespero.
O cheiro de churrasco já pairava no ar, misturado com o aroma de protetor solar e cloro da piscina. Peguei a grelha e comecei a organizar as peças de carne, enquanto escutava a conversa dos caras. Estava tudo agradável como sempre. Mas então, ele chegou.
Enéias.
O sujeito era um exagero ambulante. Moreno, musculoso, com um sorriso branco que parecia de comercial de pasta de dente. Assim que entrou, parecia que todas as mulheres na piscina, mesmo as comprometidas, deram um jeito de ajeitar os cabelos ou se sentar de forma mais sensual. Eu já sabia que o pessoal ia torcer o nariz. Enéias era do tipo que adorava se exibir, e eu tinha certeza de que em menos de cinco minutos ele seria execrado.
Ele veio andando com a confiança de quem sabe que é o cara. Troquei um olhar com Leandro, que ergueu a sobrancelha, claramente já esperando a presepada. Érico e Jonas também notaram a chegada daquele cara que estava há poucos dias no prédio, só tinha terminado a mudança ontem, mas agia como se essencial no pedaço.
— Solzão lindo, hein? Dia perfeito pra um churras e uma cervejinha — disse Enéias, abrindo um sorriso largo e passando a mão no cabelo.
Ninguém respondeu de imediato. Mas Enéias não se abalou. Ele se aproximou do grupo e começou a cumprimentar um por um, distribuindo apertos de mão e tapas amigáveis no ombro.
Para Érico fez uma expressão de respeito que o pegou de surpresa. Para Jonas, mencionou um primo que era colega dele na faculdade. Com o Leandro, trocou um aperto de mão firme. O trio, que parecia estar pronto para detestar o cara, sorriram quase involuntariamente.
E assim foi, um por um, Enéias soltando elogios, falando bem do time de futebol de um, dizendo que outro parecia mais forte do que a verdade. Em menos de dez minutos, ele já estava de papo animado com todo mundo. Quando vi, Érico, Jonas, Leandro e os demais tinham se afastado e estavam ao redor do recém-chegado, rindo das piadas dele.
Foi aí que veio o golpe final.
— Bora bater uma bolinha? — sugeriu Enéias.
Todos toparam.
E um por um, eles foram indo.
Eu fiquei parado, segurando o pegador de carne, observando que, em menos de quinze minutos, Enéias tinha se tornado o melhor amigo de todo mundo.
Sozinho na churrasqueira, suspirei e virei a carne. Foi quando ouvi uma voz ao meu lado.
— Quer uma mãozinha aí, patrão?
Olhei para o lado. Seu Zé Maria, o zelador cinquentão e magricela, estava ali com um sorriso safado no rosto.
— Não vai jogar bola também? — perguntei.
— Eu? Nada. — Ele olhou em direção à piscina, onde as mulheres continuavam tomando sol. Por mais gente boa que o zelador fosse, eu sabia que era questão de tempo até ele aprontar alguma e tentar comer outra das condôminas. Na verdade, eu tinha certeza de que um dia ele iria dar em cima da Jéssica só para ela dizer “não” fingindo que não entendeu/percebeu para ter a negação plausível suficiente para não transformar um fora numa demissão por assédio. — E o senhor? Por que não quis ir?
— A carne já estava na grelha. Alguém tinha que ficar, senão ela ia queimar.
Nesse momento, a ficha caiu e percebi que o Enéias chamou a galera de propósito porque sabia que eu teria que ficar.
— Bom... aceita uma ajuda aí? — Seu Zé Maria nem esperou e já estava com um pegador de carne na mão. Depois de alguns instantes, olhou para a quadra onde os outros jogavam bola e sorriu. — Tenho que admitir... Esse doutor Enéias é diferente, viu? O pessoal gosta dele rápido.
— É... ele tem esse jeito.
— Já vi muita gente metida a besta por aqui, mas ele aí sabe ganhar as pessoas. Bem que ele poderia virar nosso síndico. — Ele riu. — Seria o melhor para todo mundo.
Seria curioso ver a disputa entre as procurações do atual síndico contra a mulherada votando em peso nele.
Eu não era o único que não gostava dele. Dias depois, soube que o Carlos também não gostava dele e nem precisei de muito para adivinhar o motivo.
— Esse maldito do Enéias mal chegou e já tá quase comendo a Carolina.
— E daí?
O Carlos me lançou um olhar irritado, como se eu tivesse acabado de dizer uma heresia. Cruzei os braços e continuei encarando, esperando ele desenvolver melhor a indignação.
— Porra, Rogério, você não entende? Esse cara apareceu do nada, todo bonitão, cheio de pose, e já tá cercando a Carolina. E ela tá interessada. — Ele deu um gole maior na cerveja e fez uma careta, como se o gosto tivesse ficado amargo de repente. — O cara é solteiro, tem aquele corpo de modelo da Calvin Klein, e, pelo visto, não perde tempo.
Segurei um suspiro.
— Mas, Carlos, olha só… Enéias é solteiro. Carolina tá divorciada. Se os dois quiserem transar, qual é o problema? Não é como se ele estivesse enganando ela ou forçando alguma coisa. — Dei de ombros. — Isso é basicamente o que você quer com a Carolina, não?
Ele abriu a boca para retrucar, mas hesitou. Bebeu mais um gole, franziu a testa e finalmente resmungou:
— Não é a mesma coisa.
— Não mesmo. O Enéias é solteiro, você é casado.
Carlos franziu a testa, claramente incomodado com a resposta.
— Ah, vai se foder, Rogério. Você sabe que não é disso que eu tô falando.
— Tá bom, tá bom. Eu teria problemas se a Carolina fosse compromissada ou se o Enéias estivesse iludindo ela, prometendo algo que vai cumprir. Mas se é só sexo casual, qual o problema?
Carlos ficou em silêncio por um momento. Depois, bufou de novo, largando o copo na mesa.
— Só que... Porra, Rogério… eu não quero perder a Carolina pra ele.
Fiquei olhando para o Carlos por alguns segundos, tentando entender melhor o que ele queria dizer. Mas, como amigo, eu tinha que falar a real.
— Cara, a menos que os dois virem namorados, a Carolina continua solteira. E quem não te garante que a Carolina não tem o Tinder no celular e saiu transando nesses meses de recém-solteirice sem você saber.
Ele fez uma careta, como se tivesse levado um tapa na cara.
— Ah, vá se foder, Rogério.
— Tô falando sério, Carlos. Se você quer ficar com a Carolina, por que não vai lá e fala com ela de uma vez? Está esperando que ela adivinhe?
Ele ficou quieto. Olhou pro copo. E então soltou um suspiro longo, derrotado.
— Porque eu não tô na minha melhor forma, porra. — A voz dele saiu mais baixa, mais carregada. — Eu tô parecendo um saco de batata envelhecido. Flácido, barrigudo, careca… um porra de um professor que passou tempo demais corrigindo prova e tempo de menos na academia. — Ele deu um sorriso torto, sem humor. — Se eu chegar na Carolina assim, vou tomar um toco que vai ecoar pelo prédio inteiro.
Dei um gole na cerveja e encarei ele. Sabia que não adiantava dizer “imagina, Carlos, você tá bem”. Ele não ia acreditar. Queria poder ajudar ele mais, mas além da academia o que eu poderia fazer? Convencer ele a largar a cervejinha e mudar a alimentação?
— Então a ideia é melhorar a aparência primeiro, é isso?
— Eu só consigo levar ela para a cama se a conquistar. O Enéias não tem esse problema. Ele só precisa chamar ela pra cama. Mas e se ela transar com o Enéias e subir demais a linha.
— Subir a linha?
— É, porra! Se ela pegar um gosto por aquilo e só quiser cara assim? Eu não vou ter chance nenhuma. Vai me olhar e pensar “ah, não, prefiro esperar outro Enéias da vida”.
Eu não consegui segurar a risada. Não foi por mal, mas a forma como ele falou soou ridícula. Carlos me olhou feio.
— Cara, escuta… — falei. — Se a Carolina realmente gostar do Enéias, beleza, não tem o que fazer. Mas, em vez de ficar pirando com isso, faz alguma coisa. Você está trabalhando em melhorar a forma. Continua! Mas, acima de tudo, para de ficar só secando ela e toma uma atitude.
Carlos ficou em silêncio. Ele pegou o copo, tomou o resto da cerveja e colocou na mesa devagar. Por um momento, achei que ele ia me ignorar e seguir reclamando. Mas então ele soltou outro suspiro pesado e balançou a cabeça.
— A crise da meia-idade transforma a gente em idiotas inseguras, mas você tem razão. Mas se aquele filho da puta do Enéias continuar se metendo no meu caminho, eu vou dar um jeito nele.
Não que eu fosse reclamar do Carlos se livrar desse problema para mim...
Naquela noite, eu e Jéssica fizemos amor gostoso como sempre. O quarto ainda estava impregnado com o cheiro do nosso sexo. O lençol revirado e o corpo da Jéssica estava jogado sobre ele, a pele reluzindo com uma fina camada de suor. O cabelo castanho-claro se espalhava sobre o travesseiro, bagunçado, algumas mechas grudando na pele do rosto e no pescoço. O peito subia e descia devagar enquanto a respiração dela voltava ao normal. Meus olhos se demoraram ali, na curva deliciosa dos seios pequenos, firmes, que ainda estavam marcados pelos meus dedos e pela minha boca. Os mamilos, que minutos atrás estavam rijos entre meus lábios, agora repousavam relaxados, mas ainda levemente sensíveis, do jeito que eu sabia que ficavam depois que eu os chupava com vontade.
Meu olhar desceu pelo ventre liso e macio, onde minha língua tinha passeado antes de descer ainda mais, até aquela bundinha perfeita, que encaixava nas minhas mãos como se tivesse sido feita sob medida para mim. As coxas levemente afastadas...
— Você tá me olhando desse jeito porque quer mais, né? — Jéssica abriu um sorriso preguiçoso.
Eu ri e deslizei uma mão pelo corpo dela, sentindo a pele quente sob meus dedos.
— Sempre quero mais. Você sabe disso.
— Pois eu quero conversar. — Ela se virou de lado, apoiando a cabeça na mão, ainda me olhando com aquele sorriso que sempre me desarmava. — Meu aniversário tá chegando. Já decidiu o que vai me dar?
Sorri de canto e deslizei os dedos pelo contorno do quadril dela, apreciando cada curva.
— Um dia inteiro de prazer. Que tal?
Jéssica riu e empurrou meu peito de leve.
— Isso eu já tenho todo dia. Tenta de novo.
— O que você quer? — Segurei pulso dela, beijando a ponta dos seus dedos.
Ela mordeu o lábio, pensativa.
— Queria algo diferente, sem ser aqui no prédio ou num restaurante qualquer.
Um pensamento me ocorreu, e eu levantei ligeiramente a cabeça.
— A gente pode fazer no sítio. — Ela sabia que eu estava me referindo ao sítio da minha família. — O que acha?
Os olhos da Jéssica se iluminaram.
— Boa! Faz tempo que não vamos lá.
— Então tá decidido. A gente convida o pessoal e faz um final de semana inteiro lá. Comida, piscina, bebida e…
— Sexo?
Eu ri, deslizando a mão para a coxa dela e apertando de leve.
— Escapadas estratégicas.
— Isso soa bem tentador. — Jéssica se esticou sobre mim, mordiscando minha orelha.
Um arrepio subiu pela minha espinha e minha mão apertou sua coxa com mais firmeza.
— Então já temos um plano. Sítio no sábado. Eu quero uma festa boa, hein? Nada de cerveja quente e churrasco malpassado.
— Jéssica, você acha que eu deixaria alguma coisa ser menos que perfeita no seu aniversário?
Ela sorriu e me beijou de leve.
— Você sempre acerta, Rogério.
E, naquele momento, enquanto eu sentia o gosto dela nos meus lábios, soube que faria qualquer coisa para manter aquele brilho nos olhos dela.
Escolher os convidados deveria ser uma tarefa simples, mas, como toda decisão social envolvendo a Jéssica, acabava se tornando uma missão diplomática. Estávamos sentados no sofá da sala, ela com um bloquinho de notas no celular.
— Carlos e Odete são óbvios, né? — disse ela, digitando os nomes na lista.
— Claro. Eles são praticamente da família.
— Também quero chamar a Andréia e o marido... Só que o Leonardo está viajando de novo. Você lembra da última vez que vimos ele?
Eu ri. Leonardo, o marido da Andréia, era uma espécie de lenda urbana no prédio. Existia, alguns diziam ter visto alguma vez, mas ninguém conseguia provar.
— No elevador. Eu acho.
— Também quero chamar o pessoal do hospital. Mas tem os plantões e pode ser complicado para eles. Mas quem estiver livre, vai.
Assenti, mas antes que pudesse perguntar quem exatamente, ela mesma respondeu:
— O Enéias já disse que tá livre.
Me segurei para não fazer uma careta. Claro que o maldito estaria livre. Tinha certeza de que ele se desmarcaria de qualquer coisa só para aparecer.
— Ah, que bom... — murmurei, sem muita empolgação.
Jéssica notou meu tom e sorriu, me dando um empurrãozinho no ombro.
— Para, Rogério. O Enéias é meu amigo.
— É, claro, amigo... — resmunguei, mas mudei de assunto antes que ela começasse a me chamar de ciumento. — Quem mais?
— As garotas da academia: Eliana, Rebecca, Carolina e Letícia.
— Então, posso chamar o pessoal do churrasco? Até porque a maioria deles é casado com elas.
— O Arnaldo e a Ângela também.
Peguei o celular e comecei a ver os contatos. A lista estava crescendo mais do que eu tinha imaginado. Era sempre assim: começávamos com uma ideia modesta, mas íamos incluindo pessoas, e, quando víamos, tinha uma festança acontecendo.
— E a Lisandra? — ela perguntou de repente, mencionando nossa diarista.
Suspirei. Eu não tinha nada contra a Lisandra, só sabia que ela estava louquinha para dar para mim e tinha medo de que aquela loirinha de 22/23 anos decidisse partir para o tudo ou nada bêbada na frente da Jéssica e do pessoal.
— Sim. Ela é legal e está namorando.
Essa informação era nova. E aliviante.
— Ela conhece um monte de gente daqui.
— Tá, tá bom. Se ela quiser ir, tudo bem.
Jéssica sorriu vitoriosa e anotou mais um nome na lista.
— Nem todo mundo vai poder vir no sábado, então pensei em deixar os parabéns pro domingo, quando a maioria estiver disponível.
Era um plano razoável.
— Beleza. Então agora só falta decidir a comida.
— Churrasco, né? — Jéssica respondeu, como se fosse óbvio.
Eu ri.
— Achei que você fosse sugerir um jantar chique.
— E perder a chance de ver você na churrasqueira? Jamais.
Depois disso, acho que podemos pular para o final de semana do aniversário da Jéssica. Algumas pessoas não puderam ir, outras disseram que iriam já no sábado. Quando o dia, nós dois saímos bem cedo, quase com o nascer do sol.
O sítio da minha família ficava a cerca de duas horas e meia do prédio. Estava cheio de mangueiras e jabuticabeiras carregadas. O casarão de dois andares era grande, mas sem ostentação exagerada, com varanda ampla cheia de redes coloridas e janelas de madeira escura. O chão de terra batida na entrada levava até o gramado bem cuidado. Tinham duas piscinas: uma maior, de azulejos azuis, e outra menor, mais afastada. Além de um ofurô com hidromassagem em outra parte. Um campinho de futebol dividia espaço com uma quadra de cimento onde a gente jogava vôlei e futsal. Mais ao fundo, a churrasqueira de tijolinhos.
Guardamos o Corolla na garagem e começamos a pegar as malas e sacolas do porta-malas. O ar fresco e o cheiro de mato preenchiam meus pulmões.
Quase uma hora depois, vimos um BMW X3 entrar na propriedade. Enéias. Ele se espreguiçou ao sair do carro e olhou ao redor antes de soltar um assobio.
— Rapaz… que lugarzão, hein? — Ele passou a mão pelo cabelo e me olhou com um sorriso enviesado. — Bem que eu desconfiava que a sua verdadeira profissão era “herdeiro”?
Eu resolvi ignorar e manter a educação, porque já tinha sacado que ele queria me tirar do sério na frente da Jéssica e pagar de vítima.
— Espero que aproveite o fim de semana.
Ele sorriu mais, fingindo empolgação, mas o tom da sua voz continuava impregnado de sarcasmo.
— Claro, claro. É sempre bom conhecer como vive o pessoal que teve tudo de mão beijada.
Antes que eu pudesse responder à altura, Jéssica interveio com a voz tranquila, mas firme.
— Acho que você deve estar confundindo ele com outra pessoa, Enéias, porque o Rogério trabalha duro todos os dias.
— Todo nepobaby diz isso.
A Jéssica estava para dar um basta quando ele riu, erguendo as mãos em falsa rendição.
— Calma, Jéssica. Só estou dizendo que quem nasce em berço de ouro tem um caminho mais fácil. Digo, imagina só eu crescendo num lugar desses? Eu já estaria aposentado.
— Por isso, você nunca vai ser ele — disse Jéssica com um sorriso leve.
Tossi discretamente para segurar um riso. Se ele era assim no hospital, então a Jéssica era uma amiga MUITO paciente com o recalque dele...
Antes que Enéias respondesse, outro carro chegou. Um Honda Civic parou perto de nós, e as portas se abriram quase simultaneamente. Carlos e Odete saíram dele. Ela olhou ao redor e sorriu.
— Rogério, isso aqui parece coisa de novela — exclamou Odete, colocando os óculos escuros no rosto.
— Que bom que gostaram. A ideia é todo mundo aproveitar.
Enéias se virou para Carlos e Odete com aquele mesmo sorriso afetado de antes.
— Pois é, né? Uns batalham a vida inteira e outros já nascem herdeiros — disse, gesticulando com as mãos.
Carlos e Odete apenas deram de ombros. Ele porque queria evitar a fadiga, ela porque queria dar para ele. Jéssica suspirou e balançou a cabeça.
— Sinceramente, isso já tá ficando cansativo.
Acho que todos ficaram surpresos com o tom dela. Enéias preferiu se render de vez. Essa abordagem não deu certo. Eu preferi deixar passar desta vez. O final de semana estava só começando, e eu não queria estragar o clima logo de cara. E, bem, se o Enéias gostava de provocar, a Jéssica não estava na vibe de deixar nada passar.
Aos poucos foram chegando mais pessoas. Érico e Sarah. Lisandra veio com seu namorado Cleber no carro dele. Para minha surpresa, também vieram no sábado, Letícia e Antônio. Eu só sabia que esses dois eram universitários, alunos do Carlos e do Jonas. Depois, eu soube que o Carlos tinha convencido a Letícia a entrar na academia e a Jéssica colocou ela no grupo da academia depois de duas noites.
Por fim, apareceu um SUV branco, de onde desceram o Leandro e a Eliana. O Leandro era um cara alto, de barba bem-feita e porte atlético. A Eliana estava radiante. O vestido curto de alças finas ressaltava suas coxas bem torneadas, enquanto o decote ousado valorizava seus seios fartos. Seus cabelos escuros estavam soltos, levemente ondulados, e o bronzeado da pele realçava sua beleza natural. Um verdadeiro monumento.
Eles se aproximaram e cumprimentaram a mim e a Jéssica.
— Feliz aniversário, Jéssica! — Eliana sorriu e a abraçou.
O Leandro estendeu a mão para mim.
— E aí, Rogério. Valeu pelo convite, cara.
— Claro! Bem-vindos! Fiquem à vontade — respondi, sorrindo.
Depois dos cumprimentos, antes que entrassem na casa, o Carlos apareceu e deu um abraço nos dois. Ele tinha sido professor dos dois quase dez anos antes, quando eles ainda eram universitários, e era parceiro de academia da Eliana.
Como a Eliana continuou conversando com Carlos e Jéssica, o Leandro logo entrou. Quando vi o Carlos passando a mão nos cabelos das duas, como um cafuné, pensei imediatamente na ideia do ménage com Jéssica e Eliana, as duas mulheres mais gostosas do condomínio, e o caralho levantou de vez dentro da calça. Era óbvio que até eu e o Leandro já tínhamos pensado nisso em algum momento.
As horas passaram e a tarde chegou. A festa já estava divertida, com o pessoal batendo papo, dançando, comendo ou jogando bola. Eu aproveitava para conhecer o pessoal de quem não sabia quase nada: Letícia, Antônio e Cleber. O Antônio me parecia bem mais maduro que o aluno que o Carlos descrevera para mim. A Letícia parecia meio dispersa.
Mas a grande surpresa da tarde foi a ligação que o Enéias recebeu. Chamaram ele para ajudar numa cirurgia no hospital. Se tinha ficado de penas recolhidas desde a discussão com a Jéssica, agora estava em modo profissional sério. Nem discutiu, nem nada. Se despediu de todos na pressa e correu para o carro prometendo que voltaria no dia seguinte.
Mal deu tempo da Jéssica gritar para ele não correr demais na estrada.
— Relaxa, vou me cuidar — disse ele, no volante, já no modo meio cafajeste. — Preciso ficar vivo para fazer essa cirurgia e para voltar para cá amanhã.
Assim, mesmo prometendo voltar, eu me livrei desse traste por quase 24 horas. Me pergunto se ele soubesse o que aconteceu durante a noite e a madrugada, se ele teria escolhido ir para a cirurgia mesmo assim ou inventado uma razão para ficar e aproveitar a ideia da Odete.
O jantar foi agradável. Todos entre garfadas e vinhos, quando Odete soltou, casualmente:
— E vocês? Já pensaram em sexo a três?
Eu quase engasguei com a carne. Jéssica, ao meu lado, ficou rígida por um instante, mas disfarçou bem, bebendo um gole do suco. Do outro lado da mesa, Leandro e Eliana se entreolharam com um sorriso discreto. Cleber olhou de canto para Lisandra, que deu uma risada baixa. O casal novo do grupo, Érico e Sarah, se limitaram a observar, enquanto Letícia e Antônio pareciam à vontade.
— Você é muita direta — Leandro riu, pegando a mão da Eliana sobre a mesa.
— Não tem por que não ser — respondeu Odete, com confiança. — Eu e Carlos vivemos um relacionamento aberto há anos. Sexo a três, troca de casais...
Fiquei em silêncio. O Carlos também. O relacionamento aberto entre o Carlos e Odete não era algo que todo mundo soubesse. No prédio, talvez apenas eu, Jéssica, Lisandra, Andréia e seu marido tínhamos ciência disso. E, agora, a Odete jogava na roda para muitas pessoas. Olhei para Jéssica e sabíamos onde a Odete queria chegar. Meu instinto foi segurar sua mão debaixo da mesa, um gesto de apoio.
— Eu acho que cada um tem sua forma de viver a relação, para mim e para a Jéssica, acho que isso não faz muito sentido.
— E por quê? — perguntou Letícia, curiosa. — Nunca tiveram vontade de experimentar algo diferente?
— O que temos já é suficiente — Jéssica respondeu.
Olhei em volta e comecei a perceber algo curioso. Havia trocas de olhares acontecendo. Pequenos gestos, sutis demais para alguém distraído notar. Odete trocava olhares longos com Lisandra, como se compartilhassem um segredo. Letícia lançava olhares furtivos para Érico. Carlos, por sua vez, parecia interessado na reação da Eliana, mas havia uma fadiga velada em seu olhar. Sarah olhava para Antônio, e eu podia jurar que vi Lisandra mordendo o lábio enquanto olhava para mim.
— Nunca sentiu nem curiosidade? — perguntou Lisandra, inclinando-se levemente para a minha esposa.
Jéssica segurou o copo de vinho, girando o líquido lentamente, ponderando. Pela primeira vez, percebi que ela não rejeitava a ideia imediatamente. Finalmente, ela sorriu, mas foi um sorriso incerto.
— Não nego que já tive certos pensamentos e curiosidades. Mas acho que sempre fui conservadora com a ideia de envolver uma terceira ou quarta pessoa na relação, seja homem ou mulher.
— Se vocês estão curiosos, por que não aproveitam e tiram suas dúvidas conosco? — sugeriu Odete, chamando a atenção de todos. — Eu e o Carlos temos uns 30 anos de experiência nesse quesito. Sabemos tudo que vocês queiram saber.
Todos se entreolharam por um momento, hesitante. Odete insistiu, dizendo que todos poderiam perguntar o que quisessem. Com ela, não havia tabus ou temas proibidos. Perguntar e esclarecer tudo era o primeiro passo para o mundo do sexo liberal.
Aos poucos, os presentes na mesa tomaram coragem. Letícia começou com as perguntas mais usuais: como os dois tinha entrado no mundo de troca de casais. Ela contou calmamente a história deles.
— E os ciúmes? — perguntou Leandro.
— O ciúme pode atrapalhar — admitiu Odete —, mas a chave de tudo é confiança. Com confiança um do outro para diferenciarmos isso.
— Amor é amor. Sexo é sexo. O sexo não precisa interferir no amor.
— Vocês ainda se amam? — perguntou Eliana.
Odete olhou para Carlos em silêncio como se tivesse sido pega numa armadilha. Carlos tinha permanecido em silêncio todo esse tempo, respirou fundo e respondeu.
— Nossa relação é muito sólida. São décadas de companheirismo. Nós sempre adoramos fazer sexo com outros parceiros, experimentar sensações novas, mas não misturamos sexo com amor.
— E se alguém se sentir inseguro? — perguntei, sem esconder minha incredulidade. — Não é perigoso abrir espaço para sentimentos ruins?
— Claro que é — Odete concordou. — Não adianta um querer muito e o outro aceitar só para agradar. Cada um sabe o que lhe dá prazer. Para mim, liberdade é prazer.
— E se o parceiro começar a se cansar? E se ele estiver só tentando agradar o outro? — perguntou Jéssica, lembrando que o Carlos ia para os clubes de swing só para Odete entrar.
— Aí a gente conversa, ajusta. Mas, no fim, o que importa é que todo mundo esteja feliz... — Seu tom tinha um quê de conformismo.
Logo as perguntas foram sobre o sexo bissexual. Odete admitiu que adorava transar com homens e mulheres, mesmo sendo estilos diferentes, ela tinha um tipo de tesão diferente em ambas.
— E eu tenho um fraco por iniciar as minhas amiga no lesbianismo — concluiu, olhando diretamente para Lisandra.
— E você, Carlos? — perguntou Leandro. — Já transou com um homem nessas experiências aí?
— Sim, algumas vezes só. Já comi e já fui comido por completo. Mas já faz uns oito, dez anos. E você?
— Nunca — respondeu Leandro.
— Mas você preferiu ser passivo ou ativo? — perguntou Eliana, já soltinha pelo vinho.
— Ativo. — Carlos suspirou antes de continuar. — Nessas horas, eu meio que gostava da ideia de enrabar um outro hétero. Como se eu o tivesse subjugado, sido o alfa da matilha. Meio idiota, eu sei.
— Então, se vocês dois iniciarem a gente, você vai comer o cu de todos os homens aqui da mesa? — perguntou Letícia, com malícia.
O Carlos engasgou na mesma hora. Claramente, ele NÃO queria fazer aquilo. Enquanto desconversava, algumas mulheres olharam para seus parceiros. Pelo visto, algumas delas tinham a fantasia de ver dois homens transando. Por outro lado, nenhum dos caras tinha essa fantasia e nenhum parecia a fim de arriscar seu cu como preço para ver sua amada fazendo tesoura com alguma vizinha gostosa.
Percebendo que corria o risco de perder o controle da narrativa, Odete continuou contando suas histórias e tentando aguçar a curiosidade de todos. Aos poucos, alguns pediam mais detalhes, o que já tinham feito, etc.
— O ideal para um casal que não está nesse meio é ser iniciado por um casal mais experiente, de preferência alguém próximo e que já os conheça bem — concluiu Odete, claramente legislando em causa própria.
As trocas de olhares continuaram em silêncio. Ela aproveitou para continuar o gancho.
— Acredito que falo por mim e pelo Carlos que nós dois nos voluntariamos para ajudar a iniciar qualquer um de vocês no mundo do sexo liberal, swing e troca de casais — disse, safada como sempre. — Com toda a discrição posterior que desejarem.
Carlos olhou para a esposa com os olhos arregalados como se claramente não quisesse dizer para todos os presentes que ela não estava falando por ele e que estava há duas frases de pedir desculpas a todos e alegar que ela estava bêbada. No instante seguinte, ele olhou para a mesa, vendo Eliana e Letícia e sua expressão aparentemente mudou para expectativa. Ele estava querendo comer aquelas duas e ir na aba da esposa parecia uma oportunidade para se dar bem sem precisar se esforçar. Isso sem mencionar que a Sarah era prima e bem parecida com a Carolina.
— Temos a noite toda pela frente. — Odete tomou mais um gole de vinho. — Não há necessidade de pressa para se decidirem.
Estava na cara que aquilo iria terminar em sexo, só não sabíamos quem com quem. Eu já estava pensando como eu e a Jéssica iríamos sair de fininho antes que víssemos que iam topar. Foi quando a Odete decidiu soltar a bomba que pegou todo mundo de surpresa, incluindo eu, Jéssica e o Carlos.
— Minha querida Jéssica, eu sei que você é a única que só conheceu um pau na vida, coitada. Como hoje é o seu aniversário, você e o Rogério poderiam ser o primeiros da noite — disse Odete, fazendo eu e a minha esposa cuspirmos o vinho no copo. — Acredito que falo por mim e pelo Carlos que nós dois adoraríamos iniciá-los como nosso presente de aniversário.
Aí, foi a vez do Carlos cuspir no copo de surpresa. Eu e a Jéssica trocamos olhares enquanto Lisandra, Leandro, Eliana, Cleber, Antônio, Letícia, Sarah e Érico nos encaravam querendo saber o que responderíamos.
PRAZO PARA O FINAL DA APOSTA ENTRE JÉSSICA E LUCÉRIO: 5 meses.
Pois bem, leitor. No próximo capítulo, vamos ter a continuação do aniversário da Jéssica, muitas cenas de sexo e uma suruba (que não necessariamente terá nossa presença). Antes de concluir, gostaria que me respondesse nos comentários:
Qual resposta vocês preferem para a oferta da Odete? E por quê?
A) Todos devem recusar, afinal a Odete só estava sendo brincalhona e provocadora.
B) Todos devem aceitar e rolar uma grande suruba.
C) Todos devem aceitar, EXCETO eu e Jéssica.
D) APENAS eu e Jéssica deveríamos aceitar.
E) Alguns casais deveriam aceitar e outros recusar, mas eu e Jéssica estando no lado que recusa.
F) Eu ou a Jéssica espertamente inventamos uma dor de barriga/diarreia para o casal sair de lá.
Uma outra pergunta para vocês. Quais desses personagens, vocês torcem que NÃO comam a Jéssica de jeito nenhum?
I) Odete
II) Enéias
III) Leandro, marido da Eliana
IV) Érico
V) Carlos
VI) Cleber, namorado da Lisandra
VII) Antônio, namorado da Letícia
VIII) Todos eles. A Jéssica deve permanecer fiel.
Coloquem nos comentários o que vocês torcem ou preferem que venha a acontecer nos próximos capítulos. Daqui a uma semana, teremos a continuação.