O racha de sábado já é o ponto alto da minha semana, a galera é bem legal e só em poder jogar isso me tira todo o estresse, já estou pensando em como vai ser quando minhas aulas começarem e minha rotina ficar ainda mais maluca, ainda nem conversei com Tales sobre isso, afinal na faculdade não vou ter a mesma disponibilidade que tenho agora, de qualquer modo ainda tenho tempo para ver o que fazer.
O pessoal ainda está chegando quando tenho a feliz surpresa de ver o Raylan chegar, Ciço já o havia convidado, mas ele nunca tinha tempo — acredito que por causa do Guilherme, mas como eles finalmente se resolveram agora ele pode jogar com a gente também — ele abre um sorriso grande e se junta a nós.
— Nossa moleque, a última vez em que jogamos juntos foi a mil anos — digo animado em jogar com meu amigo.
— Cadê o Guigo? — Ciço o questiona.
— Sabe como ele é, não é ligado nessas coisas, mas ele veio me deixar de carro e foi encontrar com a Ana e com o Dan, eles vão estudar.
— O Dan comentou que iria estudar, mas não falou que era com o pessoal — Ciço diz pensativo.
— Pois é, ele vem me buscar quando acabar aqui.
— Eles foram estudar onde? — Pergunto.
— No shopping Benfica, é mais ou menos perto daqui e o Ciço disse que os caras sempre ficam bebendo um pouco antes de ir depois do jogo então vai dar certo ele estudar enquanto a gente joga — Raylan é amante do esporte assim como eu.
Mauro chega um pouco depois de já ter começado o primeiro jogo. Normalmente vou embora quando o jogo acaba, mas Raylan está aqui e tem tempo que não saio com ele então resolvo ficar com o pessoal depois do jogo, os moleques vão para parte do bar, Ciço é um dos que mais bebe e ele tem uma resistência grande para bebida, diferente do Raylan que fica feliz rapidinho, pedi um refrigerante para mim, pois não quero ficar bêbado.
Mauro não se aproximou muito de mim hoje e assim que o jogo acabou ele foi embora, acho que por está muito perto dos moleques hoje ele não se sentiu muito a vontade de chegar em mim, isso me faz lembrar que está com ele é mesmo que não está com meus amigos, pois, eles não podem saber de nada, as horas passam rapidamente e quando vejo já passa da meia noite e estamos sendo convidados a sair pois o bar vai fechar.
— Pra onde vamos hoje? — Ciço pergunta, ele não parece querer acabar sua bebedeira agora, mesmo estando bêbado já.
— Foi mau, mas o Guigo já está vindo me buscar — Raylan mal consegue se manter de pé sozinho, esses caras me lembram o primo Ramon, que costuma beber para perder os sentidos.
— Tá bom, então vamos para praia amanhã? — Ciço lança a ideia.
— Que horas? — Raylan pergunta.
— Assim que eu acordar mando mensagem para vocês.
— Tá, cê vai né Rick? — Raylan me pede para ir e não posso dizer não, acho que agora o Guilherme não vai mais ficar tão encantado comigo.
— Vou sim — respondo e ele me abraça comemorando, isso motiva Ciço a me abraçar também, esses dois bêbados são duas figuras.
Ficamos esperando o Guigo chegar para buscar o Raylan, Ciço não parece bem para dirigir, estou um pouco preocupado com ele, e sinto que tem algo mais incomodando ele, Ciço normalmente é todo feliz e hoje estou achando que ele está um pouco distraído. Guilherme chega e até me cumprimenta — eles estão bem mesmo — depois vão embora deixando apenas Ciço e eu, ele já trata de me oferecer uma carona.
— Ciço cara, não acho bom você dirigir bêbado não, eu posso te deixar em casa, depois volto para casa — mesmo que fique meio longe para mim, vou me sentir melhor.
— Não macho, tu vai voltar como? — Até sua forma de falar está entregando sua embriaguez.
— Não me sinto bem em te deixar dirigir nesse estado, eu sei que você se acha o motorista dos velozes e furiosos quando está bêbado, mas a realidade é que ninguém dirige bem estando embriagado, você pode se machucar ou pior machucar alguém.
— Então você dormir na minha casa, assim vai dirigindo — não acho que Dan vai se sentir confortável comigo dormindo na casa do Ciço, ainda mais que ele deve até estar lá.
— Não posso dormir fora, amanhã bem cedo vou tomar café da manhã com Tèo, já havíamos combinado — uso meu amigo como desculpa para evitar explicações que nem eu mesmo vou saber dar.
— Não vou deixar você voltar sozinho a essa hora para casa macho, cê tá maluco, olha eu posso dirigir, mas se você vai ficar preocupado então já sei vou dormir na sua casa então, assim a gente pode até beber mais um pouquinho.
— Tem certeza, o Dan pode não gostar — tentei evitar, mas não dá para não citar o Dan nessa conversa.
— Ele não tem gostado de muita coisa esses dias mesmo — Ciço solta e então continua — se você não pode dormir na minha casa, eu não posso dirigir e não vou deixar você voltar sozinho uma hora dessas, então pronto, vamos dormir na sua casa, mas vamos comprar um negocinho antes.
— Tá bom, a gente pode comprar umas cervejas e levar lá pra casa — isso é melhor do que deixá-lo dirigir por aí alcoolizado.
— Show, vou comprar vai me esperar no carro — Ciço me entrega a chave e se dirige até o balcão no caminho, vejo ele puxar o celular do bolso e fazer uma ligação — amor, cê tá onde?
Ciço ligou para o Dan, provavelmente para avisar que não vai para casa, isso me faz pensar que existe mesmo a possibilidade do Dan está na casa do Ciço, eu realmente preciso falar com o Dan, mas não é interessante que essa conversa seja assim de forma forçada, acho que é melhor tentar marcar com ele e não aparecer do nada.
— Não grita amor, vou te buscar amanhã e a gente vai para praia — Ciço está mantendo o tom de voz normal, mas consigo ouvir o Dan do outro lado da linha quando ele se aproxima de mim com o celular na orelha — o Rick não quer que eu dirija bêbado amor, por isso vou dormir na casa dele, não posso deixar que ele me deixe em casa se depois volte sozinho, nem tem ônibus para casa dele uma hora dessas eu acho.
Depois de justificar parece que o Dan finalmente aceita, faz sentido ele não querer que o namrodo dele fique dirigindo nessas condições, até com raiva de mim ele consegue aceitar que estou certo nesse ponto. Vou guiando o carro até minha casa, acho que a discussão com Dan fez com que o Ciço perdesse a vontade de continuar bebendo, pois ele não tocou mais nas cervejas que comprou.
Em casa pego uma toalha limpa para ele tomar um banho e vou à cozinha ver o que posso fazer para comer, pois estou faminto, Ciço toma seu banho enquanto isso. Preciso mesmo fazer comprar, pois só tenho macarrão instantâneo em casa, sem opção coloco a água no fogo para esquentar, vou pelo menos colocar umas coisas que tem na geladeira no meu macarrão.
— Tá fazendo macarrão instantâneo, vou querer também — Ciço chega na cozinha enxugando o cabelo, mas o que me pega de surpresa é ele está só de cueca, tipo já tinha percebido que ele tem um corpo muito bonito, mas não sabia que era tanto assim sua definição é de dar inveja em qualquer um.
— Beleza, já imaginava que você iria está com fome — digo — e aí como está depois do banho, deu uma melhorada?
— Estou de boas, mas você tem razão, não é bom ficar dirigindo por aí assim — ele senta em uma das banquetas.
— Olha se quiser cancelar a praia tranquilo — ele me encara sem entender — o Dan não parece querer sair.
— Ele tem estado muito estressado esses dias, nem sei mais o que fazer — o álcool o deixa mais à vontade para se abrir — Ele está distante até de mim esse dias.
— Dan é assim mesmo, só precisa dar tempo a ele, mas olha ele te ama e ama muito mesmo — Ciço me encara e percebo uma tristeza nos seus olhos, ele não costuma transparecer, mas deve está sendo difícil, Ciço é completamente apaixonado pelo Dan, vê-lo se afastar é desesperador.
— Estou tentando ser paciente, mas não sei o que vou fazer se ele me deixar — uma lágrima começa a escorrer pelo seu rosto.
— Vai ficar tudo bem Ciço, você é um cara legal e ele não vai querer te perder também — me aproximo dele e tocou em seu ombro.
— Valeu por me ouvir, não tenho ninguém para conversar sobre isso — quando se cuida tanto das pessoas você acaba sem ter ninguém para cuidar de você — e você e o Mauro?
— O que tem o Mauro? — Sou pego totalmente de surpresa.
— Vocês estão juntos ou é só um lance?
— Como? — Ainda estou atônito.
— O carro dele, daquela vez que você nos pediu para sair era o carro dele parado na sua vaga.
— Você contou para alguém? — Não quero que Mauro fique bolado comigo por isso.
— Não, você disse que era segredo e também não tenho nada haver com isso — Ciço diz com um sorriso fraco — mas concordo com o pessoal, ele não é o cara certo pra você, eu nunca iria te esconder.
— Você tem razão, mas é um pouco mais complicado que isso, ele tem um filho, enfim perderia meu emprego se as pessoas soubessem do nosso lance.
— Então vocês estão juntos?
— Não, tipo entendo os motivos dele querer guardar segredo, mas não quero ser o segredo de ninguém — digo.
— Você gosta dele né? — Ciço e eu estamos em um ambiente seguro então vou me abrir com ele assim como ele fez comigo.
— Pra caramba, ele é mais do que um gostoso, ele é engraçado do jeito dele, é responsável, é um ótimo pai, enfim não lhe faltam qualidades.
— Só uma — Ciço completa — coragem.
Nunca pensei que iria ter um amigo com Ciço, um cara bem parecido comigo e muito gente boa, assim como ele sempre tive dificuldade para aceitar ser cuidado, mas tive mais sorte do que ele nesse ponto, pois tenho minha família e até mesmo o Téo que acabou virando um tio meu, esse moleque pode ter um corpo de homem feito, mas por dentro ainda é um criança precisando de um pouco de cuidado.
Servi nosso jantar e mudamos de assunto, voltamos a falar sobre o futebol e também sobre as expectativas para o próximo jogo, no fim ele está bem mais tranquilo e aliviado, acho que era isso que ele precisava, por pra fora seus medos e angústias e ter um momento leve e descontraído, consigo entender porque Dan é tão apaixonado, o cara além de bonito tem uma personalidade diferenciada, fora o sorriso que é possivelmente o mais bonito que já vi.
Meu sofá não é nada confortável então temos que dividir a cama, estou usando uma bermuda de futebol e ele sua cueca box preta, ligo o ar pois está fazendo calor, ele parece estar acostumado a dormir no frio já que nem se cobre. Ciço apaga no momento em que deita a cabeça no travesseiro, estou muito cansado também, mas vejo uma mensagem do Mauro me dando boa noite, respondo sua mensagem e adormeço também.
Acordo com o ronco do Ciço, já são oito da manhã, levanto me espreguiçando, mas tomando cuidado para não acordá-lo, vou até a cozinha e tomo um baita susto ao ver o Téo passando um café, tinha esquecido que ele tem a chave — pelo menos ele trouxe o pão da padaria que adoro — ele me lança um sorriso cheio de malícia e até sei o que está se passando na cabeça dele.
— Não é o que parece — digo coçando a cabeça e pegando um copo de água na geladeira.
— Olha parece muito, tem um macho muito gostoso na sua cama só de cueca e quando cheguei vocês estavam até abraçados.
— Para com isso sério, Ciço é namorado do Dan — digo.
— Parece que se o PM não acordar a fila vai andar bem rápido — Téo continua me provocando, mas para quando Vê Ciço vindo para cozinha só de cueca com a rola marcando na cueca, meu amigo só falta babar no corpo do Ciço.
— Que horas são? — ele pergunta sonolento.
— Oito e meia — respondo — Téo você já conhece né?
— Sim, vocês moravam juntos né — Ciço diz enquanto se estica inteiro deixando Téo ainda mais hipnotizado em seu corpo.
— E aí vamos mesmo à praia — pergunto.
— Vamos sim,. Vou só comer e aí vamos em casa pegar umas coisas e também buscar o Dan.
— Praia, que massa, posso ir junto? — Téo se convida.
— Claro — Ciço responde enquanto veste sua bermuda.
— Chama o Tales amigo — aproveito para lembrar ao Téo que ele namora.
— Verdade — ele puxa o celular do bolso para mandar uma mensagem pro namorado.
— Ciço eu vou com Téo e o Tales, assim você consegue conversar melhor com Dan — sugiro.
— Você que sabe.
Depois de comer Ciço se despede e vai buscar seu namorado e nossos amigos, ficamos de nos falar por mensagens para acertar qual praia vamos e o horário, Tales aceitou o convite e já está nos esperando no seu apartamento, assim pego minhas coisas e sigo com Téo para o apartamento dele para que ele troque de roupa e coloquei uma sunga. Meu mentor consegue ser um pé no saco quando quer, pelo amor de deus, Téo está me enchendo o caminhão inteiro sobre ter dormido com Ciço, ele não quer acreditar que não aconteceu nada.
— Vai dizer que ele não te deixou nem um pouco excitado?
— Não posso ter nada com ele, o Ciço tem namorado e por acaso é um amigo meu de infância.
— Então se não fosse por isso teria rolado? — Téo não vai sossegar até que eu admita o que ele quer.
— Olha Téo, em outra vida onde não tivesse o Mauro e nem ele tivesse o Dan sim, mas eu gosto daquele PM filho da mãe mais do que gosto de admitir e o Ciço tem o Daniel que já me odeia e tudo que menos preciso agora é que ele tenha um motivo para me detestar mais ainda.
— Se você gosta tanto assim do PM, por que não fica com ele de uma vez?
— Porque não quero que seja segredo, não é que eu queria no jornal, mas como posso namorar alguém que não pode sentar à mesa com a gente para tomar café? — Depois desse argumento até o Téo se vê obrigado a concordar comigo.
Mauro é pai de um aluno, nem sei se o Junior sabe que o pai é bisexual — acredito que não — e tem o Tales, não acho que ele me manteria no trabalho se soubesse, ainda mais que fui a pessoa que mais defendeu a posição do Júnior no time, como poderia convencer a todos que não fiz isso por ele ser filho do meu namorado? Não temos como dar certo, Mauro é meio ciumento também. No fim acredito que fico listando seus defeitos e os contras a nosso envolvimento para não me atirar em seus braço Tales está muito animado com a ideia da praia, ainda mais que vai ser o primeiro evento deles como casal, depois disso Téo e ele estão namorando oficialmente, afinal serão apresentados assim, como um casal.
Ciço me mandou uma mensagem com os detalhes do local, como Tales mora perto do Raylan e do Guilherme nos oferecemos para buscá-los, assim ele não iria precisar fazer um caminho contramão para isso. Chegando em frente ao prédio dos meninos pego o celular para avisar que chegamos e me Mauro me mandou uma mensagem no mesmo segundo me perguntando o que vou fazer hoje.
— Estou indo para praia com meus amigos — respondi sua mensagem depois de avisar ao Raylan que já estamos aqui.
— Quero te ver — ele manda outra mensagem.
— Pode ir lá em casa à noite — digo, pois também quero vê-lo.
— Me avisa quando tu chegar da praia — ele pede.
— Pode deixar — também quero vê-lo.
— Esse sorriso aí só pode ser o PM — Téo volta a me provocar.
— Que PM? — Tales perguntou curioso enquanto sinto minha espinha arrepiar.
— O Ricardo está pegando um PM no sigilo — Téo quase falou demais.
— Ele é casado? — Tales pergunta querendo saber mais sobre meu caso.
— Ele diz que não, mas PM né, quem é que confia? — Diz Téo adorando me ver em completo desespero do Tales ligar os pontos.
Sou salvo pelos moleques que chegam finalmente, Raylan e Guilherme parecem está em lua de mel, Raylan até abriu a porta pro namorado, gosto de ver meu amigo assim completamente apaixonado e bobo, Guilherme está está com uma cara de sono, mas parece feliz pelo menos, depois de uma rápida apresentação — onde faço questão de apresentar o Tales como namorado do Téo — pegamos o caminho da praia, Ciço me mandou sua localização em tempo real e assim seguimos para o nosso destino, eles escolheram uma praia que fica em uma cidade vizinha chamada de Cumbuco, lá tem umas barracas bem bonitas e essa que Ciço me falou só pelo insta parece ser cara.
— O Guigo quase não acordou acredita, depois eu que não ia conseguir — Raylan diz contando vantagem.
— Acontece que você chegou ontem com todo fogo e não me deixou dormir cedo — Guilherme entrega o motivo de ter dormido pouco, deixando Raylan sem jeito.
— Não lembro de você reclamar — Raylan devolve.
— Nunca, aqui não tem essa de negar fogo não — Guilherme beija o namorado sem se importar com nossa presença no carro.
— Saudades dessa idade onde o fogo não apaga nunca, hoje em dia se eu beber só quero dormir — Tales diz rindo.
— Até parece, você esqueceu daquele dia que você bebeu todas e foi dormir lá em casa? — Téo diz com um sorriso safado no rosto.
— Melhor a gente parar para não deixar o Rick triste por ser o único no carro que não está transando — diz Raylan me zoando.
— Ai não posso falar nada, ele tem tido muito movimento na cama dele esses dias — Téo ainda não se convenceu que não transei com Ciço.
— Não está movimentada coisa alguma e estou bem assim — digo.
— Então você finalmente parou de sair com aquele policial? — Guilherme me pergunta.
— A gente não tem nada, mas ainda estamos ficando de vez em quando — vejo o olhar de repreensão do Raylan para o meu lado.
— Rick, esse cara não é confiável.
— Gente já disse que sei me cuidar, o cara é de boas e a gente não está namorando — falo com um pouco de rispidez para ver se param de falar sobre meu rolo com Mauro, o que funciona pelo menos por um tempo.
Tales coloca uma playlist e assim o assunto muda para outra coisa, Mauro me envia mas uma mensagem com um foto de visualização única, mas não posso abrir agora dentro do carro sem que Raylan que está do meu lado veja, tenho que esperar chegar na praia para ver o que ele me mandou, esse cara mexe com meu juízo até de longe, mau posso esperar para vê-lo a noite.
