A sala do escritório de Agnaldo Seiwald era ampla, com móveis de mogno e estantes abarrotadas de livros jurídicos. O som incessante da impressora em funcionamento e o cheiro de café forte preenchia o ambiente, contrastando com a formalidade do local.
Vincent sentou-se à frente da mesa pesada, sentindo-se deslocado. Não porque duvidava do que estava fazendo, mas porque nunca se imaginara ali, aos 16 anos, tomando decisões que um adulto levaria anos para enfrentar.
Agnaldo ajeitou os óculos no rosto e passou os olhos pelos documentos sobre a mesa.
— Está tudo pronto — Sua voz era firme, profissional, mas havia um toque de respeito em seu tom. Vincent não era apenas um garoto diante dele. Era alguém que estava moldando seu próprio caminho.
Ele empurrou os papeis na direção de Vincent e estendeu uma caneta.
— Aqui está o pedido formal de emancipação. Tu já tens a posse da casa e da charcutaria, e com isso, vais ter total autonomia legal para gerir a tua vida.
Vincent pegou a caneta e olhou para o papel à sua frente.
A assinatura que colocaria ali iria mudá-lo para sempre. Não haveria mais amarras. Não haveria mais ninguém para controlá-lo. Ele pertencia a si mesmo.
Com um traço firme, assinou.
Agnaldo pegou os papeis e os organizou cuidadosamente, antes de erguer o olhar para ele.
— A partir de agora, és legalmente responsável pelo teu futuro.
Vincent soltou um leve riso nasalado.
— Como se já não fosse antes.
Agnaldo observou o garoto à sua frente e assentiu.
— Talvez. Mas agora, tens o poder de decidir. E o que vais fazer com isso?
A resposta para essa pergunta veio na mesma noite.
Vincent estava sentado no balcão da cozinha, observando Luna abrir uma cerveja enquanto mexia no rádio, tentando sintonizar alguma música decente.
— Então, senhor dono de tudo, já decidiu como vai gerenciar a tal charcutaria? — ela provocou, levando a garrafa aos lábios.
Vincent girou a garrafa de cerveja entre os dedos, pensativo.
— Na verdade, sim. Quero que você fique no comando.
Luna parou no meio do movimento, olhando para ele com a sobrancelha arqueada.
— Tá brincando, né?
— Não.
Ela soltou uma risada curta e descrente.
— E desde quando eu sei cortar carne e vender presunto?
Vincent apoiou os cotovelos no balcão, encarando-a com seriedade.
— Você me disse uma vez que não teve escolha quando decidiu trabalhar com… entretenimento adulto. Bom, agora o que me diz?
O sorriso zombeteiro desapareceu do rosto de Luna.
Por um momento, o silêncio entre eles foi carregado de algo mais profundo.
Vincent sabia o que aquilo significava para ela.
— Tu me dá um negócio pra administrar assim, de graça? — a voz dela veio mais baixa, mais cuidadosa.
— Não é de graça — Vincent sorriu de canto — Vou ficar de olho. Mas confio em você.
Luna encarou a garrafa em suas mãos por alguns segundos antes de soltá-la no balcão e abrir um sorriso.
— Sabe de uma coisa? Tu é maluco, Vincent. Mas eu gosto disso.
**********
Dias depois, a casa já parecia menos fantasmagórica.
A reforma estava quase finalizada. As paredes haviam sido pintadas, a mobília velha trocada por peças novas, e o cheiro impregnado de cigarro finalmente começava a desaparecer.
Pela primeira vez, aquele lugar parecia um lar.
E Vincent queria compartilhar isso com Clara.
Ele passou na videolocadora do bairro e escolheu um filme de comédia romântica, nada que ele normalmente assistiria, mas sabia que era o tipo de coisa que Clara gostava.
Quando ela chegou, usava um vestido azul claro, os cabelos soltos esvoaçantes.
— Uau. É aqui que tu mora? — ela disse, olhando ao redor.
Vincent deu de ombros.
— Ainda precisa de alguns ajustes. Mas acho que dá pra receber uma visita especial.
Clara sorriu e ergueu a sacola que carregava.
— Trouxe sobremesa.
Eles jantaram na mesa nova da cozinha, conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo. O peso das responsabilidades de Vincent parecia menor quando Clara estava por perto.
Depois, sentaram-se no sofá para assistir ao filme. Clara se aconchegou ao lado dele, a cabeça encostada no ombro de Vincent. E pela primeira vez, ele sentiu o que era estar em paz.
A sala estava iluminada apenas pela luz suave da televisão, onde o filme continuava em um fluxo de cenas que agora pareciam apenas um pano de fundo.
Clara se aconchegou mais nos braços de Vincent, sentindo o calor dele contra seu corpo. O cheiro dele, um misto de sabonete e algo puramente masculino, era reconfortante. Ela nunca havia se sentido tão segura e tão viva ao mesmo tempo.
Seu coração batia acelerado, mas não de incerteza, e sim de antecipação. Ela ergueu os olhos, encontrando os de Vincent. E ali, naquela troca silenciosa, tudo ficou claro.
Seria esse o momento que ela tanto esperava?
Vincent percebeu a maneira como Clara se encaixava nele, os movimentos mais suaves, mais fluídos, como se seu corpo estivesse buscando mais contato, como se quisesse sentir mais da presença dele. Seus dedos deslizaram levemente pelo braço de Clara, sentindo a pele quente e macia sob seu toque.
Ela fechou os olhos por um segundo, suspirando baixinho.
A respiração de Vincent pesou. O coração batia forte no peito, e ele sabia que o dela também. A tensão entre os dois era densa, carregada de algo que nem o tempo nem as sombras do passado poderiam apagar.
Ele ergueu a mão e afastou uma mecha de cabelo do rosto de Clara, os olhos dela brilhando sob a luz azulada da tela.
— O que foi? — ele perguntou, a voz rouca, baixa.
Clara levou a ponta dos dedos ao rosto dele, traçando o contorno de sua mandíbula, a pele áspera da barba por fazer.
— Nada — ela sussurrou — Só estou olhando para ti.
Vincent sentiu algo quente e intenso crescer dentro dele. O filme continuava na televisão, mas já não havia espectadores.
Clara não desviou o olhar. Ela queria esse momento. Ela queria ele e Vincent estava ali para ela. As barreiras que ele sempre ergueu pareciam não existir quando Clara estava por perto.
Ele deslizou uma mão pela cintura dela, puxando-a um pouco mais para perto. O vestido leve que ela usava subiu levemente, expondo mais de suas pernas sobre o sofá. Os lábios dela estavam tão próximos. Vincent se inclinou. O beijo veio suave, mas carregado de sentimentos.
E a partir dali, nenhum dos dois queria parar.
Os corpos se moldavam ao ritmo do desejo que crescia entre eles, como se finalmente tivessem encontrado a sintonia perfeita.
Vincent se inclinou sobre Clara, seu peso um lembrete silencioso de sua presença dominante, mas seu toque era cuidadoso, como se temesse quebrá-la.
A pele de Clara se aquecia sob os dedos de Vincent, que traçavam um caminho lento e deliberado ao longo de seu corpo, mapeando-a como um território desconhecido e precioso.
Os beijos desciam pelo pescoço dela, explorando cada centímetro enquanto a respiração se tornava mais entrecortada, os dedos se fechando ao redor do tecido da camisa, e puxando-a pela cabeça dele. As mãos de Vincent deslizavam, a ponta dos dedos provocando arrepios, despertando cada centímetro de pele sob seu toque.
Os lábios dele seguiram seu caminho por entre os pequenos seios, descendo quente e úmidos através do ventre que subia e descia a cada respiração, até o vale de sua intimidade, sua respiração quente contra a pele dela enviando ondas de eletricidade que percorriam seu corpo, arrancando suspiros involuntários. Em torno deles havia apenas o calor, a conexão, a descoberta.
Clara arqueou levemente, o corpo reagindo instintivamente, sentindo a língua ativando todas as suas terminações nervosas, levando-a à beira do abismo. Era inevitável.
A respiração de Vincent estava pesada quando ele subiu novamente, buscando os lábios de Clara em um beijo intenso, como se quisesse fundir-se a ela.
O toque dele queimava contra sua pele, e seus corpos se uniram finalmente, movendo-se em perfeita harmonia. A dor inicial, tornava-se irrelevante diante do calor que ardia dentro dela. Clara envolveu Vincent com as pernas, puxando-o para mais perto, convidando-o sem palavras.
As mãos de Vincent seguravam a cintura de Clara, guiando-a suavemente, enquanto os corpos se chocavam em um ritmo que se intensificava a cada segundo. Os suspiros dela se misturavam à respiração dele, um crescendo de emoções que aumentava, como ondas quebrando na praia antes de se dissiparem.
Os olhos de Clara encontraram os de Vincent, e por um momento, não houve apenas desejo, mas algo mais profundo, uma compreensão silenciosa de que aquele instante marcaria ambos para sempre.
E então, o ápice veio como uma explosão de sensações, arrebatando-os, deixando-os sem fôlego, os corpos estremecendo em sintonia até que tudo se dissolvesse em um torpor quente e absoluto.
O silêncio veio depois, mas não era vazio.
Era o silêncio de quem tinha vivido algo transformador.
Vincent permaneceu ali, os dedos entrelaçados aos dela, o peito subindo e descendo enquanto seus corações ainda batiam acelerados.
E, naquele instante, Clara teve certeza.
Vincent era o homem que ela queria.
**********
A Charcutaria Weiser tinha um cheiro distinto de especiarias e carne defumada. O som dos refrigeradores zumbia ao fundo, misturando-se ao tilintar de facas afiadas cortando pedaços de carne sobre tábuas robustas.
Luna estava atrás do balcão, com um avental amarrado à cintura e os cabelos presos em um coque despretensioso. Uma cena improvável, considerando quem ela era semanas atrás.
Ela segurava uma prancheta, os olhos percorrendo as notas fiscais enquanto Vincent coordenava os carregadores, indicando onde deveriam armazenar as caixas de carne fresca.
O chão de azulejo ecoava os passos dos trabalhadores que transitavam a todo instante. As prateleiras de ferro estavam organizadas, e os ganchos pendiam com cortes selecionados, prontos para serem vendidos. Era um ambiente muito diferente daquele que Luna conhecia, mas, surpreendentemente, ela se adaptava bem.
Luna soltou um suspiro, satisfeita ao terminar a conferência.
— Tudo certo aqui — disse, fechando a prancheta com um estalo e olhando para Vincent com um sorriso travesso — Olha só, quem diria que eu ficaria tão boa nisso.
Vincent encostou-se ao balcão, cruzando os braços, um meio sorriso nos lábios.
— E você achava que não daria conta?
Ela riu, jogando a prancheta sobre o balcão.
— Olha, eu nunca pensei que um dia estaria aqui — disse, passando a mão na bancada limpa — Trocar boates escuras e cigarros por carnes e planilhas... isso nunca fez parte dos meus planos.
Ela olhou ao redor, e por um instante, Vincent percebeu algo diferente em seu olhar. Havia orgulho, uma satisfação genuína.
— Mas, sabe? Eu tô gostando.
Vincent observou-a por um momento. Vê-la ali, firme, reconstruindo-se, fazia valer sua decisão de confiar nela.
— Você se acostuma — disse simplesmente, mas Luna percebeu a verdade oculta naquelas palavras.
Ele estava satisfeito com ela e isso a fazia se sentir viva.
O movimento do dia havia diminuído. Os trabalhadores já haviam terminado de organizar o novo estoque, e Luna ficou encarregada de fechar o caixa.
Vincent se aproximou, apoiando-se no balcão ao lado dela.
O cheiro dela era diferente agora, não mais a mistura de perfume intenso e bebida, mas algo mais leve, mais natural. Talvez fossem as salsichas. Mas a essência de Luna ainda estava ali.
O olhar dela encontrou o dele por um instante e algo passou entre os dois, algo familiar, algo que nunca desaparecera, apenas adormecera sob as novas responsabilidades.
Ela inclinou ligeiramente a cabeça, o sorriso brincando nos lábios.
— Ficou me encarando por quê?
Vincent não desviou o olhar.
— Só tava pensando.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Pensando no quê?
Vincent aproximou-se alguns centímetros a mais, a tensão entre eles crescendo como uma brasa prestes a se transformar em fogo.
— Que, por mais que você tenha mudado, tem coisas que continuam as mesmas.
Luna mordeu o lábio inferior, um brilho conhecido dançando em seus olhos. O jogo entre eles nunca havia terminado, apenas entrado em pausa e agora, estava despertando novamente. Ela encostou-se no balcão, os dedos brincando distraidamente com a fita do avental.
— Tu achas que eu mudei tanto assim?
Vincent se inclinou levemente, a voz baixa e carregada de intenção.
— Acho que você ainda tem a mesma essência.
Ela sorriu, um sorriso que desafiava e provocava ao mesmo tempo.
— E tu? Ainda tem aquele instinto de sempre?
A eletricidade entre os dois era palpável. Luna sempre fora um convite à tentação, e Vincent sempre fora o tipo de homem que aceitava desafios. Ele ergueu a mão e, com um toque leve, deslizou os dedos pela lateral do pescoço dela, sentindo-a prender a respiração.
Luna virou o rosto ligeiramente para sentir mais do toque dele.
— Se a gente continuar assim, eu não vou conseguir focar no trabalho — ela murmurou, a voz carregada de malícia.
Vincent sorriu de lado.
— Então faz seu trabalho, Luna.
E, com isso, afastou-se lentamente, deixando a tensão entre os dois no ar.
Luna soltou um suspiro longo, como se estivesse se recompondo.
— Tu é cruel, Vincent.
Ele apenas sorriu, satisfeito.
**********
Vincent terminava de organizar as prateleiras, enquanto Luna conferia o caixa, anotando os lucros do dia em um caderno. O clima era de trabalho bem feito, de satisfação pelo progresso.
Naquele momento a voz suave veio da porta da frente..
— Oi, Vincent.
Clara. Vincent sorriu imediatamente, o tipo de sorriso genuíno que não aparecia com frequência.
— Que surpresa boa.
Luna sentiu o peito apertar. Era um detalhe sutil, mas impossível de ignorar.
Clara caminhou até Vincent, os cabelos levemente úmidos, como se tivesse saído do banho há pouco.
— Eu tava passando por aqui e pensei em ver como tu tava.
Vincent relaxou contra o balcão, os olhos correndo por ela de maneira natural, como se gostasse da presença dela ali.
— E agora que já me viu? Aprovado? — ele provocou.
Clara riu, um riso leve, fácil.
— Aprovado. Mas eu não vim só por isso.
Ela puxou um pequeno pacote da mochila e o estendeu para ele.
— Comprei pra ti.
Vincent pegou o embrulho, os olhos brilhando com curiosidade. Não era o presente que importava, e sim o gesto.
Ele abriu lentamente, e lá dentro havia um chaveiro com uma pequena lâmina de açougueiro pendurada em um pingente de couro. Um detalhe simples, mas Vincent sentiu algo quente no peito.
— Isso é…
— Eu vi e lembrei de ti — Clara deu de ombros — Agora que tu é dono do negócio e tal, achei que combinava.
Vincent passou os dedos sobre o metal frio, sentindo a textura. Ele não era um homem de sentimentalismos, mas isso… isso significava algo.
— Gostei. Obrigado.
Clara sorriu.
Luna observava tudo. O nó na garganta se apertava mais. Ela manteve o sorriso nos lábios, mas por dentro, o desconforto crescia. Ela sempre soube que Vincent nunca foi só dela. Na verdade, ele não era de ninguém. Mas ver a forma como ele olhava para Clara… isso era novo.
Ela nunca tinha visto Vincent tratar alguém com tanto cuidado, com tanto interesse além do físico e aquilo lhe doía de um jeito que ela não estava preparada para sentir. Porque, no fundo, Luna sabia que não importava quantas noites tivesse passado ao lado dele, quantos momentos íntimos compartilhassem, ele nunca olhara para ela assim. Com um tipo de ternura que não se pede, não se exige. Apenas acontece.
Clara não precisava conquistá-lo. Ela já o tinha.
Luna precisou desviar o olhar. Não deixaria aquilo transparecer. Não para Vincent. E, principalmente, não para Clara.
Respirou fundo e soltou uma risada leve, cruzando os braços.
— Bonitinho isso — disse, encarando o chaveiro nas mãos de Vincent — Clara te mima mesmo, hein?
Clara sorriu, sem perceber a tensão oculta nas palavras de Luna.
— Ele merece.
E aquilo foi a última gota. Luna virou-se sem dizer nada, pegou as chaves sobre o balcão e seguiu até a porta dos fundos.
— Vou fechar a loja.
Sua voz era neutra, mas Vincent sentiu algo diferente nela. Clara olhou para ele com leve curiosidade, mas Vincent apenas assentiu.
— A gente se vê depois, Luna.
Luna apenas ergueu a mão em um aceno vago e desapareceu pelos fundos. Mas enquanto caminhava sozinha, longe do olhar dos dois, ela fechou os olhos e soltou um suspiro longo. Por que diabos ela estava sentindo isso? Por que, de repente, parecia estar perdendo algo que nunca foi dela? Luna não era dona de Vincent.
Ele era seu dono.
E isso doía ainda mais.
**********
A rua estava silenciosa, exceto pelo som distante de um cachorro latindo e pelo murmúrio abafado de uma televisão ligada em alguma casa vizinha. A noite avançava, e a cidade dormia, mas Luna, não. Encostada no tronco de uma árvore na calçada, ela observava à distância.
Viu Clara sair da casa de Vincent, ajeitando a alça da mochila no ombro. Ela sorria, como quem acabara de passar horas em um mundo onde tudo parecia certo. Vincent a acompanhou até a porta, segurando a mão dela.
Luna prendeu a respiração. Não houve beijos longos ou juras de amor em voz alta, mas aquilo que acontecia entre eles era evidente. Clara não precisou da permissão de Vincent para estar ali. Ela não precisava pedir para ser parte da vida dele. Ela já era.
Quando Clara desapareceu na esquina, Luna soube que não poderia mais ignorar o que sentia. Seu estômago revirava. Mas não era raiva. Era medo e talvez, pela primeira vez, ela estivesse prestes a perder algo que realmente importava.
Sem hesitar, atravessou a rua e entrou na casa de Vincent sem bater.
Vincent estava na cozinha, lavando dois copos na pia. Ao ouvir a porta bater, ele ergueu o olhar, surpreso. Luna estava ali, parada no meio da sala, como se tivesse atravessado uma tempestade para chegar até ele. Ela estava linda e desarmada ao mesmo tempo, mas algo em seu olhar não era familiar.
— Você vai começar a bater na porta um dia ou sempre vai se achar no direito de entrar na minha casa assim? — Vincent provocou, secando as mãos com um pano.
Luna não sorriu. Não dessa vez.
Ela avançou um passo, os braços cruzados como uma armadura invisível ao redor do próprio corpo.
— Tu ama ela, né?
A pergunta veio como um soco direto no peito de Vincent. Sem rodeios. Sem espaço para mentiras. A verdade precisava ser dita.
Ele não hesitou.
— Sim.
Luna piscou, como se esperasse uma pausa, uma dúvida, qualquer coisa que indicasse que ele não estava tão certo disso, mas ele estava e isso a aterrorizava.
Ela umedeceu os lábios, os dedos se apertando contra os braços.
— E tu vai ficar com ela?
A resposta veio rápida, firme, inquestionável.
— Vou.
Simples. Definitivo. Sem espaço para negociação.
Luna sentiu o estômago afundar. Ela nunca soube o que era perder alguém, porque nunca teve ninguém de verdade. Mas agora, pela primeira vez, entendia o que era ter algo arrancado de dentro de si.
O silêncio entre eles se alongou.
Luna olhou para o chão, para as prateleiras, para qualquer coisa que não fosse o rosto dele. Precisava de tempo para respirar, para encontrar uma saída dessa conversa sem se despedaçar ali mesmo, mas não havia saída. E Vincent, como se pudesse sentir a confusão dentro dela, deu um passo à frente.
Antes que ela pudesse recuar, ele a abraçou. Não um abraço de desejo, não um abraço de posse, mas um abraço de verdade.
Por um momento, Luna ficou tensa, mas então desmoronou.
Ela fechou os olhos e segurou a camisa dele com força, os dedos se cravando no tecido como se quisesse se agarrar a algo antes de cair.
Vincent não disse nada.
Ele apenas a segurou ali, firme, deixando-a sentir que, por um último momento, ainda estava segura nos braços dele. E Luna, que sempre soube seguir em frente sem olhar para trás, não queria que aquilo terminasse. Ela precisava de mais um momento. Apenas mais um.
Ela se afastou só o suficiente para olhar para ele.
Seus olhos estavam brilhando não por lágrimas, mas por algo muito mais profundo.
— Me deixa ficar.
Vincent a encarou sem desviar o olhar.
Luna passou a ponta dos dedos pela gola da camisa dele, um toque leve, quase suplicante.
— Me deixa te ter uma última vez.
Vincent sentiu o peso daquelas palavras. Ele sabia o que significava aceitar aquilo. Sabia o que ela estava pedindo, mas, acima de tudo, sabia que não conseguiria dizer não, porque, de certa forma, Luna sempre faria parte dele, mesmo que depois daquela noite, as coisas nunca mais fossem as mesmas.
E então, ele tomou sua decisão.
Vincent deslizou os dedos pelo rosto de Luna, os polegares traçando lentamente o contorno de seus lábios entreabertos. A pele dela estava quente sob seu toque, como se ardesse em expectativa.
Os olhos de Luna brilhavam, um misto de desejo e dor silenciosa. Ela sabia que aquele momento não era apenas sobre prazer. Era sobre pertencer a ele uma última vez.
Vincent segurou seu queixo com firmeza, elevando levemente seu rosto até que seus olhares se cruzassem.
— Ajoelhe-se.
A voz dele era baixa, firme, definitiva.
E Luna obedeceu.
Seus joelhos tocaram o chão com suavidade, como se aquele fosse o único lugar onde deveria estar.
Ela fechou os olhos por um segundo, inspirando fundo, absorvendo cada detalhe da situação. O calor do corpo dele tão próximo.
O domínio absoluto que Vincent exercia sobre ela, sem precisar de mais palavras.
Suas mãos subiram lentamente pelas pernas dele, traçando um caminho reverente, como se memorizasse cada centímetro antes de deixá-lo partir.
Vincent a observava de cima, sentindo o poder pulsar entre os dois. Ela o queria assim, comandando, guiando, possuindo. E ele lhe daria exatamente isso.
A mão dele deslizou por seus cabelos, enredando os dedos com firmeza, guiando-a com gestos lentos e deliberados.
Luna estremeceu sob o toque, seu corpo inteiro reagindo ao domínio dele.
Ela sabia o que deveria fazer.
Sabia que aquele momento seria a despedida de tudo o que haviam sido juntos.
Os dedos delicados dela deslizaram até o cinto de Vincent, trabalhando com precisão enquanto a respiração dela se tornava mais pesada. A tensão no ar era palpável, carregada de um significado que ia além da atração física. Era o encerramento de um ciclo. A despedida de um vínculo forjado entre desejo, entrega e algo que, no fundo, talvez fosse amor, mas nunca poderia ser chamado assim.
Quando finalmente se entregou completamente ao controle de Vincent, Luna fechou os olhos, entreabrindo a boca e envolvendo com os lábios todo o comprimento dele, saboreando a maciez rígida, a textura, o calor, cada centímetro,.
Luna se entregava ao momento, cada fibra do seu corpo reconhecendo o domínio de Vincent, absorvendo cada toque, cada comando silencioso. Ele a guiava com precisão, como sempre fizera, mas dessa vez havia algo diferente.
Vincent sentiu a respiração de Luna acelerar, a língua serpenteando por toda extensão de seu membro. Seu corpo reagia ao toque dele, à presença dele, ao domínio que sempre a moldara, mas ele não deixaria que terminasse assim, tão simples.
Antes do ápice, Vincent a interrompeu. Luna arfou, surpresa com a interrupção abrupta, com o vazio deixado pela ausência do toque dele.
Por um instante, ela sentiu que enlouqueceria, mas então, Vincent pegou um pedaço de tecido e o deslizou suavemente sobre o rosto dela.
— Fique parada.
A voz dele era baixa, firme, carregada de autoridade.
Luna se entregou completamente, sentindo o tecido macio ser amarrado sobre seus olhos, mergulhando-a na escuridão. Seu corpo arrepiou inteiro, o calor da expectativa consumindo cada parte dela. Vincent pegou seus pulsos e os amarrou com força, prendendo-os às suas costas. Luna mordeu o lábio, sentindo-se mais vulnerável do que nunca, e amando isso.
Ela esperava pelo próximo movimento dele, pelo toque, pela próxima provocação. Mas Vincent a deixou ali, aguardando. E o tempo passou lentamente, se arrastando, carregado de tensão e expectativa.
A cada segundo sem contato, o corpo de Luna se tornava mais sensível, mais faminto pelo toque dele. Ela não sabia onde ele estava, o que faria, qual seria seu próximo gesto. E então, o primeiro impacto veio. Não agressivo, apenas uma provocação, um estímulo que despertou cada terminação nervosa de sua pele.
O cinto de Vincent, dobrado como um improvisado instrumento de dominação, desceu contra sua pele com um toque calculado.
Luna ofegou, sentindo uma onda de calor percorrer seu corpo inteiro. A cada novo movimento, a expectativa dentro dela aumentava. Os toques de Vincent eram meticulosamente cronometrados, instigando, provocando, elevando a tensão ao limite.
Luna se contorcia sob cada estímulo, sua pele reagindo, seu corpo ansiando por mais. Mas Vincent não tinha pressa. Ele prolongava o jogo, guiando-a exatamente onde queria que ela estivesse.
Até que, quando a necessidade se tornou insuportável, Luna gemeu, o corpo tremendo de desejo.
— Por favor… — a voz dela veio carregada de súplica.
Vincent sorriu de canto, satisfeito.
A tensão chegava ao limite, e ela não conseguia mais suportar.
— Me fode, alemão… uma última vez.
Vincent passou os dedos por sua pele, sentindo-a arrepiar sob seu toque. A venda sobre seus olhos apagava o mundo ao seu redor, e seus pulsos atados lembravam que ela não tinha controle. Mas ela nunca quis controle. Nunca quis nada além do domínio de Vincent.
Ele passou o cinto ao redor de seu pescoço, ajustando-o com firmeza. Não para machucá-la, mas para lembrá-la de quem sempre esteve no comando.
Um arrepio percorreu o corpo de Luna ao sentir o couro contra sua pele quente, e um suspiro escapou de seus lábios.
— Você ainda sabe a quem pertence, Luna? — a voz de Vincent era grave, firme, mas carregada de algo mais.
Luna engoliu em seco, seu coração martelando no peito.
— A ti.
— E sempre soube disso, não é?
— Sempre.
Vincent puxou levemente a ponta do cinto, apenas o suficiente para fazê-la sentir. Ela arqueou, o corpo tremendo em resposta.
Cada fibra dela se rendia completamente ao domínio dele. Vincent a conduziu até o quarto, sua postura firme e inabalável. Ela o seguiu sem hesitar, de joelhos, até subir na cama, sentindo-o logo atrás dela.
Seus sentidos estavam aguçados, cada nervo despertando sob a incerteza do que viria a seguir. O calor das mãos dele envolvia sua cintura, limitando seus movimentos. O som de sua respiração era quase torturante. E então, finalmente, a penetração. Preenchendo seu interior enquanto seu corpo tencionava para recebê-lo.
As mãos de Vincent deslizaram pela curva da cintura dela, subindo com lentidão calculada, como se estivesse esculpindo cada contorno de sua pele em sua memória. O corpo de Luna reagiu instantaneamente, arqueando-se sob o contato. Ele não apressava nada. Cada provocação era um lembrete do poder que ele tinha sobre ela.
E Luna se desfazia sob esse domínio.
— Você gosta de ser fodida por seu mestre, gosta?
Seus lábios entreabertos deixavam escapar súplicas involuntárias, e Vincent apenas sorriu contra sua pele, sabendo que a tensão dentro dela chegava ao limite.
— Ah… adoro, adoro dar pro meu mestre…
O sorriso de Vincent cresceu enquanto ele puxava a “coleira” enquanto suas mãos mantinham-se firmes em seus quadris. A cada estocada, ela sentia o calor aumentar, o tesão crescendo de forma quase insuportável. Ele deixou que uma de suas mãos subisse pelas costas dela, dando uma volta em seu longo cabelo e usando-o como rédea. Se movimentava com mais intensidade, bufando enquanto empurrava toda sua extensão para dentro.
Luna soltou um suspiro prolongado. Seu corpo respondendo instantaneamente ao toque e movimento dele, arqueou ainda mais as costas, os dedos se agarrando aos lençois enquanto gemidos baixos escapavam de seus lábios.
— Quero você por completo, Luna.
— Meu corpo é teu — ela respondeu com a voz embargada.
Ele deslizou para fora, e entrou nela novamente, desta vez uma invasão agressiva em seu cu. Um gemido gutural escapou da garganta dela. O ritmo que eles estabeleceram era mais selvagem, mais intenso, e cada movimento os levava mais perto do abismo.
Vincent aumentou o ritmo, tornando seus movimentos mais intensos e firmes. O som de seus corpos se encontrando, acompanhado pelos gemidos de ambos e suas respirações misturava-se com o farfalhar dos lençois e o leve ranger da cama, criando uma sinfonia que preenchia o quarto. Luna empurrava-se contra ele, a troca de energia entre eles tornou o momento ainda mais visceral. O calor no quarto parecia atingir o ápice, e nenhum dos dois segurava mais os sons que vinham de suas bocas.
— Goza no pau do seu mestre… — ele sussurrou contra sua nuca.
Palavras que a fizeram estremecer. A explosão veio como uma tempestade que se acumulava há tempo demais. Uma onda avassaladora que os envolveu ao mesmo tempo, cada sensação amplificada pelo significado daquela noite.
Os corpos tremiam, entrelaçados, suas respirações misturando-se enquanto o mundo se desfazia ao redor.
Quando o silêncio finalmente caiu sobre eles, Luna entendeu. Nunca mais seria daquela forma. Vincent a soltou devagar, desatando os nós com o mesmo cuidado que os fez.
A venda deslizou de seus olhos, e quando ela finalmente o encarou, soube que havia sido a última vez. Havia uma doçura silenciosa no olhar de Vincent, algo que ele nunca precisaria dizer em voz alta. Luna se aconchegou contra ele, sabendo que quando a manhã chegasse, tudo estaria diferente. Mas por aquela noite… Ela ainda era dele. E ele ainda era seu.