Obsidian: A Primeira Escrava - Parte 15

Da série Obsidian
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 5116 palavras
Data: 21/03/2025 06:45:32

A noite de Blumenau estava fresca, o cheiro de pipoca e açúcar queimado pairando no ar conforme Wagner e Ellen caminhavam pelo parque de diversões. As luzes coloridas piscavam ao redor, refletindo-se nos olhos dela, que brilhavam com um entusiasmo quase infantil.

— Faz tempo que eu não venho num lugar assim — Ellen comentou, segurando um algodão-doce com uma das mãos enquanto puxava Wagner pela outra.

Ele sorriu, observando-a.

— Tu tá gostando?

— Muito — Ela deu uma mordida no algodão-doce e passou a língua nos lábios para limpar os fiapos de açúcar — Mas eu gosto mais da ideia do que vem depois.

Wagner sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ellen sabia provocar. Não era a primeira vez que ficavam juntos daquela forma, mas o clima daquela noite parecia diferente. Mais intenso. Mais carregado de algo indefinível, como se a promessa daquela comemoração se estendesse além do parque.

Os olhos dela se fixaram nos dele e Wagner soube.

O parque foi apenas um prelúdio. O verdadeiro presente de aniversário ainda estava por vir.

Já passava das onze quando deixaram o parque. Wagner estendeu a mão para um táxi na avenida principal, os dedos ainda um pouco sujos do açúcar do algodão-doce.

O carro parou com um leve solavanco, e Ellen entrou primeiro, deslizando para o lado oposto do banco traseiro. Wagner entrou logo atrás e olhou discretamente para o motorista, certificando-se de que ele não os reconhecia.

— Pra onde? — O taxista perguntou, ajustando o espelho retrovisor.

Wagner passou o braço ao redor dos ombros de Ellen, puxando-a mais para perto.

— Paradise Suites.

O homem ergueu ligeiramente as sobrancelhas, mas não fez perguntas.

O carro arrancou, deslizando pelas ruas iluminadas, e Ellen riu baixinho, apoiando a cabeça no ombro de Wagner.

— Um motel cinco estrelas? Quem diria que tu era tão sofisticado.

Wagner sorriu de lado.

— Tu merece.

Ela brincou com os dedos dele, entrelaçando-os sem pressa, e ele sentiu seu coração acelerar.

A cidade foi ficando para trás.

O táxi avançava em direção ao motel, mas Wagner sabia que aquela noite não se resumia apenas ao destino. Era sobre o que aconteceria quando chegassem lá.

O Paradise Suites se erguia diante deles com sua fachada iluminada, palmeiras decorando a entrada e um letreiro discreto indicando "Hospedagem Exclusiva para Maiores de Idade."

Ellen segurou a risada ao ver o aviso.

— E agora, Lucas Lima?

Wagner pegou a carteira e retirou as identidades falsas.

— Agora a gente finge que tem 22 anos.

Ela pegou o documento, observando sua própria foto sob o nome de Tatiane Fernandes.

— Como tu conseguiu isso?

— Eu tenho meus contatos.

Ela mordeu o lábio, divertida.

— Isso deveria me preocupar?

Wagner puxou-a pela cintura, roçando os lábios contra sua orelha.

— Só se tu quiser que eu te leve pra outro lugar.

Ellen sorriu, empurrando-o de leve.

— Cala a boca e vamos logo.

Na recepção, a funcionária mal olhou para os documentos.

— Desejam passar a noite?

— Sim. — Wagner entregou o dinheiro em notas miúdas.

Minutos depois, eles estavam no quarto.

O quarto era luxuoso de um jeito quase exagerado.

As luzes indiretas lançavam um brilho dourado sobre os lençois brancos impecáveis. Um espelho enorme se espalhava pelo teto, refletindo a cena de ângulos estratégicos.

Mas o que chamou a atenção de Ellen foi a bandeja sobre a mesa de centro.

— Óleos essenciais?

Ela pegou um dos pequenos frascos de vidro com a logo do motel na tampinha, cortesia da casa, abriu e cheirou.

Wagner tirou a camisa, sem dar importância aos detalhes.

— Eu não tô aqui pelos óleos.

Ellen riu, derramando algumas gotas nas mãos e esfregando os dedos lentamente.

— Tu devia experimentar.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Eu tenho outras coisas em mente.

Ela se aproximou, passando as mãos sobre o peito dele, o cheiro cítrico se espalhando entre eles.

— Talvez tu goste.

Wagner fechou os olhos por um instante, sentindo o calor da pele dela e o toque escorregadio do óleo, mas, antes que ela continuasse, ele agarrou seus pulsos e a jogou na cama.

Ellen ofegou, rindo.

— Impaciente?

Ele subiu sobre ela, segurando seus braços acima da cabeça.

— Tu não faz ideia.

Ela mordeu o lábio, provocando.

— Então me mostra.

E foi exatamente o que ele fez. Os lençois se enrugaram sob os corpos, os óleos essenciais foram esquecidos e a noite apenas começava.

O quarto estava mergulhado em um calor febril, as luzes suaves refletindo os corpos entrelaçados sobre os lençois brancos. O cheiro cítrico do óleo essencial ainda pairava no ar, misturando-se ao aroma de pele quente, suor e desejo.

Ellen estava debaixo dele, os olhos semicerrados, a boca entreaberta em um suspiro carregado de antecipação. Wagner a olhava como se quisesse devorá-la ali mesmo.

Ele deslizou os dedos pelos contornos do corpo dela, sentindo cada curva, cada tremor sob seu toque. Sua língua deslizou pelos os pequenos seios, circulando a aréola rosada e atiçando os bicos inchados.

Ellen arqueou-se para ele, as pernas entreabertas, acolhendo-o com um gemido rouco quando ele finalmente a preencheu.

A primeira investida foi lenta, profunda, arrancando um arquejo de prazer dos lábios dela.

— Porra, Wagner… — ela suspirou, as unhas arranhando suas costas.

O som das respirações aceleradas preenchia o quarto, cada movimento dele desenhando um ritmo torturante, preciso, que a fazia gemer baixinho a cada nova investida.

Wagner segurava seus quadris, os olhos fixos no rosto dela, saboreando cada reação, cada expressão de entrega. Ele deslizou a boca pelo pescoço de Ellen, sugando sua pele, marcando-a, como se precisasse deixar um rastro ali.

— Tu gosta assim? — ele murmurou contra sua pele.

Ellen cravou as unhas nos ombros dele.

— Sim… mais…

Wagner não negaria nada a ela naquela noite. Seu ritmo se intensificou, fazendo-a ofegar, a cabeça tombando para trás enquanto o prazer subia em ondas avassaladoras. Os gemidos de Ellen se tornaram mais altos, mais desesperados e então, sem aviso, Wagner saiu de dentro dela.

Ellen arfou, perplexa, sentindo-se vazia.

— O que tu tá fazendo? — ela protestou, ofegante.

Ele sorriu de lado, os olhos escuros e cheios de malícia.

— Vira pra mim.

Ellen tremeu com a ordem, mas obedeceu.

Ficou de joelhos na cama, os braços apoiados contra o colchão, oferecendo-se para ele.

O espelho no teto refletia sua imagem lasciva, o corpo curvado, os cabelos bagunçados, os olhos ardendo de expectativa.

— Assim? — ela provocou, olhando-o pelo reflexo.

Wagner passou as mãos lentamente por suas costas nuas, descendo até seus quadris.

— Perfeita.

E então ele tomou o que já era dele.

Ellen sentiu as mãos firmes de Wagner deslizarem lentamente por suas costas, explorando cada curva antes de segurá-la pela cintura. Seu corpo reagia instintivamente ao toque, um arrepio percorrendo sua espinha quando ele se encaixou contra ela novamente. O reflexo no espelho do teto capturava cada movimento, cada toque, cada suspiro entrecortado.

O primeiro movimento foi profundo, fazendo-a arfar e se agarrar aos lençois para se manter firme. O ritmo cresceu aos poucos, Wagner guiando-a com precisão, saboreando cada reação que arrancava dela.

O quarto ecoava com os sons abafados da entrega, a respiração deles se misturando em um compasso irregular.

— Assim… — Ellen murmurou, a voz embargada.

Wagner inclinou-se sobre ela, deslizando os lábios por sua nuca, sua mão explorando-a lentamente, prolongando cada sensação. O calor se acumulava dentro deles, cada movimento os levando a um ponto sem retorno.

E então, quando o ápice se tornou inevitável, Ellen prendeu a respiração, sentindo o corpo inteiro estremecer com a intensidade da onda que a atingiu. Wagner a acompanhou pouco depois, um gemido rouco escapando de seus lábios enquanto ambos desabavam juntos sobre os lençóis, exaustos, saciados.

O silêncio veio logo depois, preenchido apenas pelas batidas aceleradas de seus corações.

Ellen virou-se lentamente, ainda deitada, seus olhos encontrando os de Wagner. Um sorriso satisfeito brincava em seus lábios.

— Feliz aniversário pra mim, né?

Wagner riu baixinho, puxando-a para si.

**********

O aroma do jantar preenchia a cozinha de maneira acolhedora, misturando-se ao suave perfume floral de Clara. O calor do forno aquecia o ambiente, refletindo-se nos vidros das taças já posicionadas sobre a mesa, o vinho tinto respirando dentro delas.

Clara ajeitou os talheres, deslizando os dedos pelo tecido da toalha impecavelmente esticada. O jantar estava perfeito. Ela precisava que estivesse. Precisava que aquela noite fosse simples, que seguisse o curso natural das coisas, que trouxesse normalidade àquilo que, dentro dela, já não parecia tão normal.

Vincent entrou na cozinha e o ar ao redor dela mudou. Ele usava uma camisa social branca dobrada nos antebraços, os primeiros botões abertos, o perfume amadeirado familiar e envolvente.

Clara não precisou se virar para saber que ele se aproximava.

Ela sentiu.

O calor do corpo dele crescendo atrás de si, a presença sólida e imponente, sugando todo o espaço ao redor.

Sem aviso, ele a envolveu. Seus braços deslizaram ao redor da cintura dela, o corpo pressionando-se lentamente contra o dela, sua respiração quente roçando sua nuca exposta. Clara mordeu o lábio inferior.

— Hmm… — Vincent murmurou, os lábios roçando suavemente a curva de seu pescoço — Isso me parece mais interessante do que qualquer jantar.

A boca dele tocou sua pele com um beijo lento, deliberado, seguido por outro. E outro.

Clara sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela riu baixinho, tentando manter o controle.

— Vincent…

Ele deslizou uma das mãos suavemente pelo ventre dela, subindo em um toque preguiçoso, enquanto os lábios continuavam explorando sua nuca, sua clavícula, sua mandíbula.

— O jantar pode esperar.

Clara mordeu o lábio, inclinando a cabeça levemente para o lado, cedendo por um segundo ao prazer do momento, mas então, tentou resistir.

Ela segurou de leve o braço dele, os dedos tremendo mais do que deveria.

— Se a gente demorar muito, a comida esfria…

Vincent sorriu contra sua pele.

— O que mais importa pra mim… — ele murmurou, a voz baixa e rouca contra seu ouvido, mordiscando o lóbulo suavemente — É você.

E então, antes que Clara pudesse protestar, ele a virou de frente para ele e ela soube que não adiantava resistir.

A mesa posta, o vinho esperando, o jantar cuidadosamente preparado. Nada disso parecia importar mais, porque, naquele instante, ela só conseguia pensar no olhar de Vincent sobre ela. Fome, desejo, posse.

A boca dele colidiu contra a dela em um beijo intenso, quando sentiu as mãos firmes dele a erguerem pela cintura, a colocando sobre a bancada fria da cozinha…

Vincent deslizou os dedos pela coxa exposta de Clara, sua mão firme traçando um caminho lento e calculado, um toque que fez sua respiração acelerar involuntariamente.

— Vincent…

Ela tentou protestar, mas a voz saiu baixa demais, rouca demais, denunciando que sua resistência não era verdadeira. Ele sorriu contra a pele do seu pescoço, os lábios roçando suavemente antes de descê-los ainda mais até a umidade dela.

O mundo ao redor desapareceu. Apenas a sensação da língua serpenteando ao redor, o som abafado da respiração de Clara, a forma como ela se arqueava levemente, o corpo respondendo antes da mente processar.

Vincent tomava seu tempo. Os minutos se desenrolavam lentamente, as sensações intensificando-se até que Clara não pudesse mais conter o tremor que percorreu seu corpo. Um suspiro escapou de seus lábios, seu corpo reagindo de maneira incontrolável. Vincent sabia exatamente o que estava fazendo.

Quando ele se afastou, Clara abriu os olhos lentamente, o peito subindo e descendo, a pele sensível onde os lábios dele haviam estado, mas Vincent não terminou ali. Ele a puxou para si, segurando-a firme contra seu corpo, os olhos intensos segurando os dela antes de beijá-la novamente.

O gosto que ele trazia aos lábios a fez estremecer ainda mais. Ele a tomou por completo. O tempo perdeu o sentido. O calor deles se misturava à brisa leve que entrava pela janela aberta. Os movimentos ritmados, o som abafado dos corpos se encontrando, o aperto de seus dedos contra os ombros dele… Era uma entrega sem palavras. Uma reafirmação de algo que nunca havia se apagado.

Quando finalmente atingiram o ápice juntos, o silêncio veio logo depois, preenchido apenas pelas batidas aceleradas de seus corações.

Clara mal conseguia manter-se de pé quando Vincent a ajudou a descer da bancada.

Seus joelhos ainda tremiam. Ele segurou sua cintura antes que ela fraquejasse, um sorriso satisfeito curvando seus lábios.

— Ainda acha que o jantar era a melhor parte da noite?

Clara riu baixinho, exausta, satisfeita.

— Pergunta de novo depois que eu conseguir andar.

Vincent beijou seu ombro suavemente, murmurando contra sua pele:

— Eu espero que você tenha apetite.

E não era apenas da comida que ele falava.

**********

A luz suave das velas tremeluzia sobre a mesa, refletindo no vinho tinto que repousava em suas taças. A cozinha ainda carregava o aroma do jantar recém-finalizado, mas agora, o único tempero no ar era a intimidade que pairava entre Vincent e Clara.

Ele serviu mais um pouco de vinho na taça dela, os dedos roçando levemente os seus antes de recostar-se na cadeira, os olhos azul-acinzentados fixos nela com uma intensidade calculada.

— O jantar foi perfeito — ele murmurou, levando a taça aos lábios.

Clara sorriu, deslizando os dedos pela borda do próprio copo, mas havia um peso em sua mente que nem o sabor do vinho poderia dissipar.

Ela deveria estar entregue completamente àquele momento, mas a memória a assaltava sem piedade.

Outro jantar, outra mesa, o restaurante em São Paulo, as conversas elegantes e despreocupadas. O Dr. Paulo ao seu lado, e Otávio de frente para ela. O modo como os olhos de Otávio prendiam os dela, como se enxergassem muito além do que ela dizia. O jeito sutil, mas avassalador, com que ele a fazia se sentir exposta.

Vincent lhe dava segurança.

Otávio lhe tirava o controle.

A lembrança do quarto de hotel veio como um relâmpago, e Clara apertou um pouco mais forte o pé contra o chão, como se precisasse de algo para ancorá-la no presente.

O toque de Otávio. A boca quente explorando sua pele, as palavras sujas ao pé do ouvido. Seu corpo se lembrou antes que sua mente pudesse deter a onda avassaladora que subiu por sua pele.

— Você tá quieta.

A voz de Vincent a trouxe de volta ao agora.

Clara piscou, o sorriso retornando ao seu rosto antes que ele percebesse algo.

— Só estou aproveitando — ela murmurou, levando a taça aos lábios.

Vincent inclinou-se levemente para frente, os olhos escaneando cada detalhe de sua expressão.

— Eu gosto de te ver assim.

Ela sorriu, mantendo o olhar firme.

— Assim como?

Ele deslizou os dedos suavemente pelo dorso da própria mão, os olhos ainda fixos nos dela.

— Entregue.

A palavra a fez estremecer.

Porque ela sabia que não estava. Não completamente. A culpa voltou a queimar em seu peito, adormecida antes, mas agora reativada por cada pensamento que sua mente insistia em trazer, mas, por fora, nada mudou.

Ela manteve o sorriso, o olhar, a mentira.

Quando Vincent se levantou e estendeu a mão para ela, Clara não hesitou.

— Vamos para o nosso quarto.

A sobremesa seria servida entre os lençois.

O quarto estava envolto na penumbra confortável das luzes amenas e a cama perfeitamente arrumada. Clara sentiu um arrepio ao ser puxada para mais perto.

Os dedos dele deslizaram por sua cintura, traçando o contorno da curva de seu corpo, os lábios descendo devagar, capturando seus suspiros antes mesmo que ela pudesse soltá-los.

Vincent era certeiro.

Sabia exatamente como explorá-la, mas, por mais que seu corpo reagisse a cada toque, seu coração ainda pulsava com a lembrança de outro homem.

Ela apertou os olhos, tentando afastar as imagens. Tentar não pensar era o que fazia pensar ainda mais. Vincent a empurrou suavemente sobre a cama, inclinando-se sobre ela como se reclamasse o que era seu.

— Quero sentir cada parte tua.

Clara arqueou-se levemente, a respiração entrecortada quando os lábios dele exploraram sua pele, seus dedos provocando reações involuntárias e, quando finalmente foi penetrada, tudo o que restava era a conexão que sempre esteve ali.

Um lembrete de que Vincent ainda era seu e que ela ainda era dele. Mesmo que, em algum lugar de sua mente, o rosto de outro homem tentasse invadir aquele momento. Quando o clímax os atingiu, Clara fechou os olhos, entregando-se ao que restava de sua verdade, mas sabendo que a mentira estava cada vez mais difícil de esconder.

**********

O sol matinal banhava a clínica com uma luz suave, mas dentro de Clara, não havia nada de leve ou tranquilo. Ela ajustou o jaleco sobre os ombros, respirando fundo antes de sair do vestiário e encarar mais um dia de trabalho, mas não era apenas mais um dia.

Clara havia tomado uma decisão. Não podia mais continuar assim. Não podia mais viver entre dois mundos. Otávio precisava ficar no passado.

Por mais que sua pele ainda lembrasse o toque dele, por mais que sua mente teimasse em recriar cada momento que haviam compartilhado, ela não cederia. Não dessa vez. Não poderia. E, com essa determinação, ela fez algo que nunca havia feito antes. Ignorou Otávio.

Pela manhã, ele cruzou o corredor ao mesmo tempo que ela.

Normalmente, ele a olharia com aquele sorriso confiante, pronto para um comentário sugestivo, mas, dessa vez, Clara simplesmente desviou o olhar e seguiu em frente.

Quando um paciente saiu do consultório dele e ela foi até a recepção para pegar uma ficha, Otávio parou ao seu lado.

— Clara.

A voz dele sempre tivera um peso sobre ela, mas hoje não teria. Ela se limitou a um aceno breve, sem erguer os olhos da ficha que segurava. Ele franziu o cenho, percebendo o que ela estava fazendo. No horário do café, Otávio foi até a copa, onde Clara normalmente ficava nos poucos minutos de pausa.

Ela não estava lá.

Procurou-a com o olhar pelos corredores e a encontrou na recepção, falando com Priscila, mas, quando os olhos deles se cruzaram, Clara desviou rápido demais.

Otávio não era burro. Algo estava acontecendo e ela estava deixando isso bem claro.

No fim da manhã, Clara tentava concentrar-se nos registros dos pacientes quando Priscila puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado, observando-a de canto de olho.

— Quer me contar o que tá rolando?

Clara piscou, tentando disfarçar o frio na espinha.

— Como assim?

Priscila arqueou uma sobrancelha.

— Tu e o doutor Otávio.

Clara travou a mandíbula.

— O que tem?

— Vocês brigaram?

Ela soltou um riso breve, falso, ensaiado.

— Claro que não.

Priscila continuou olhando para ela, como se avaliasse cada mínimo detalhe de sua expressão.

— Certeza? Porque ele tá te olhando como se tu tivesse sumido com o cachorro dele.

Clara forçou um sorriso despreocupado.

— Ele deve estar ocupado com outras coisas.

Priscila estreitou os olhos, mas não insistiu e Clara ficou grata por isso, mas, quando Priscila voltou à recepção, Clara sentiu um novo tipo de pavor crescendo dentro dela.

Se até Priscila tinha notado… Se estava tão óbvio assim… O que aconteceria quando Otávio finalmente a confrontasse?

Ela nunca havia pensado nisso.

Tinha decidido que precisava acabar, mas não avaliou os desdobramentos.

E se ele não aceitasse?

E se ele fosse possessivo?

E se ele se tornasse vingativo?

Se ele resolvesse expô-la?

Clara sentiu a boca secar.

O ar na clínica pareceu mais pesado à medida que a tarde avançava.

E então, quando o relógio marcou 17h58, Priscila pegou sua bolsa e se despediu.

— Até amanhã, Clara!

Clara sorriu com um aceno.

Mas Priscila não sabia que talvez não haveria amanhã. Não ali. Porque agora era a hora. Agora ela teria que encarar Otávio e romper aquilo de uma vez por todas.

Clara caminhou pelo corredor com passos controlados, mas dentro dela, o coração batia em um ritmo frenético.

Ela parou em frente à sala de Otávio. A porta estava entreaberta e ele já estava esperando. Sentado na beirada da mesa, os braços cruzados, a expressão indecifrável. Os olhos escuros prenderam os dela no instante em que ela entrou.

Clara fechou a porta atrás de si, respirou fundo e disse:

— Eu tô me demitindo.

Otávio não reagiu de imediato. Não se moveu nem piscou. Não pareceu surpreso, o que foi pior do que se ele tivesse ficado furioso. Ele apenas inclinou a cabeça ligeiramente, estudando-a.

— E por quê?

Clara engoliu em seco. Tinha mil respostas possíveis, mas apenas uma que poderia ser dita em voz alta.

— Porque eu quero.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Essa é a melhor desculpa que tu consegue me dar?

A sala estava silenciosa demais. O ar parecia pesado demais. Clara cruzou os braços, tentando parecer firme.

— Isso não é uma desculpa.

Otávio afastou-se da mesa devagar, aproximando-se com uma calma meticulosa.

— Então me diz a verdade.

Ela mordeu o lábio, desviando o olhar, mas ele não aceitaria meias palavras.

Otávio segurou seu queixo delicadamente, forçando-a a encará-lo. Os olhos dele não estavam irritados. Eles estavam frios. Avaliadores.

— Tu vai mesmo fingir que o que aconteceu entre nós não existiu?

Ela tentou ignorar o arrepio que percorreu sua pele.

— Foi um erro.

Otávio sorriu, mas não era um sorriso de humor. Era um sorriso de alguém que não acreditava em nada do que ela estava dizendo.

— Um erro?

A voz dele era baixa, controlada mas dentro dela, algo gritou em alerta. Clara sentiu o perigo naquele momento. Não porque Otávio levantaria a voz, ou porque ele faria algo agressivo, mas porque ele não aceitaria um "não" tão facilmente e ela não sabia até onde ele estava disposto a ir.

O escritório de repente pareceu pequeno demais. A porta atrás dela pareceu mais distante do que deveria e Clara soube que aquele não seria um rompimento simples.

Ela tinha entrado ali determinada. Segura da decisão, mas agora, diante de Otávio, tudo parecia se desmanchar. Ele a olhava com um misto de incredulidade e algo mais profundo, algo que a puxava, que a prendia.

Clara queria ser firme, queria dizer que aquele era o único caminho, mas quando abriu a boca, as palavras não saíram.

Porque havia uma parte dela que não queria ir embora.

Não completamente.

E Otávio percebeu.

Ele soltou um suspiro lento, passando a mão pelo cabelo como se tentasse organizar os próprios pensamentos.

— Eu já sabia que isso ia acontecer, sabia? — Ele riu baixinho, mas havia um peso em sua voz.

Clara fechou os olhos por um breve instante.

— Eu não podia continuar…

— Porque tu ainda me quer — A voz dele era baixa, mas certeira.

O coração de Clara deu um salto.

Ela abriu os olhos, negando com a cabeça, mas não conseguiu dizer nada.

Otávio a observou por um momento antes de continuar, mais calmo agora, mais contido.

— Eu te empurrei pra isso, né?

Clara franziu o cenho, confusa.

Ele suspirou, recuando um passo.

— Eu fiz as coisas do meu jeito. O que eu queria, eu pegava. Eu nunca te dei espaço pra pensar… e agora tu tá fugindo porque é a única forma que encontrou de resistir.

Clara prendeu a respiração.

Porque ele estava certo.

E aquilo a assustava mais do que qualquer outra coisa.

Otávio deu um riso breve, mas sem humor.

— Sabe o que é engraçado? Eu nunca imaginei que tu fosse significar tanto pra mim.

Clara sentiu o peito apertar.

— Otávio…

Ele ergueu a mão, interrompendo-a.

— Não, deixa eu terminar. Pelo menos isso.

Ele caminhou até a mesa, apoiando as mãos sobre a madeira polida antes de encará-la de novo.

— Eu não sou o cara certo pra ti. Nunca fui. Mas isso não muda o que eu sinto.

Clara engoliu em seco. Otávio nunca tinha falado daquela forma. Nunca tinha se permitido ser tão vulnerável.

Isso a quebrou por dentro.

— Se tu quer ir, eu não vou te impedir.

Otávio imprimiu o encerramento de contrato sem dizer mais nada. O som da impressora preenchendo o espaço entre eles pareceu uma triste sinfonia de despedida. Clara tentou se convencer de que era melhor assim. Tentou lembrar-se de Vincent, da segurança que sentia em sua casa.

Mas era o cheiro de Otávio que impregnava o ar, o olhar dele que segurava o dela.

O papel deslizou para frente dela, junto com uma caneta.

— Assina — ele disse, simplesmente.

Clara pegou a caneta, sentindo os dedos tremerem levemente. Seus olhos correram pelas palavras. Se assinasse, acabaria ali. Seria o fim.

Ela respirou fundo. A ponta da caneta tocou o papel, mas não se moveu.

Otávio não disse nada, apenas observou. E então, Clara largou a caneta.

Os olhos dele se estreitaram.

— Clara…

Ela se afastou um passo, o coração descompassado.

— Eu… não posso.

O silêncio que se seguiu foi avassalador. Otávio ainda segurava seu olhar, e dentro dele não havia mais surpresa. Apenas certeza, porque ele sempre soube. E agora, Clara sabia também.

A caneta jazia sobre o papel, um testemunho mudo do que Clara não conseguiu fazer.

O silêncio entre eles era denso, carregado de tudo o que não podia ser dito.

Clara ainda sentia a textura fria da caneta entre os dedos, mas sua mão já estava vazia. A assinatura que deveria pôr fim a tudo não aconteceu. Sua respiração estava curta, e cada segundo que passava apenas aumentava a tensão insuportável dentro daquela sala.

Otávio não fez nenhum movimento brusco. Ele não precisava.

Os olhos dele eram um abismo, um desafio, um campo de batalha onde ela nunca soube se vencer significava resistir ou se entregar. Ele descruzou os braços lentamente, caminhando ao redor da mesa como um predador que sabia que a presa já estava encurralada.

— Tu não pode… ou tu não quer?

A pergunta veio baixa, quase gentil. Mas Clara sabia que não havia nada de gentil naquilo. Ele estava testando.

Ela fechou os olhos por um instante. Vincent. Seu marido, o homem com quem dividia uma casa, uma história, uma promessa. Mas ali, naquele momento, era Otávio que possuía cada centímetro do seu corpo.

— Fala, Clara — A voz dele veio mais perto, quente contra sua pele, uma tentação perversa — Porque se tu não disser nada eu…

Ela sentiu. O calor do corpo dele, a proximidade sufocante. O perfume que sempre a enfraquecia.

Clara abriu os olhos, mas antes que pudesse pensar, antes que pudesse colocar qualquer barreira entre eles, Otávio agiu.

Seus dedos roçaram o lado do rosto dela, um toque leve, mas cheio de posse. E então, com uma lentidão torturante, ele correu a ponta dos dedos até o queixo, segurando-a com a mesma delicadeza perigosa de antes.

— Se tu não disser nada, Clara… eu vou assumir que tu ainda é minha.

Ela não se afastou. Não conseguiu.

O erro não estava em ceder. O erro foi acreditar que um dia conseguiria resistir.

Otávio inclinou-se ligeiramente, a boca pairando próxima demais, esperando, mas Clara já estava perdida. Ela avançou primeiro, fechando o espaço entre eles num beijo que não era terno, nem vacilante. Era uma explosão de tudo o que ela tentou reprimir.

Os braços dele a envolveram em um movimento firme, puxando-a contra si. Clara sentiu a mesa contra seus quadris antes mesmo de perceber que ele a tinha colocado ali.

— Eu sabia… — Ele murmurou contra seus lábios, as mãos deslizando pela lateral de seu corpo, apertando, exigindo — Eu sabia que tu não ia conseguir.

Clara não queria responder. Não queria racionalizar. Queria sentir.

Otávio a ergueu com facilidade, fazendo-a sentar na borda da mesa. Suas pernas instintivamente se abriram para acomodá-lo entre elas, e o sorriso dele foi puro triunfo.

Ela arfou quando sentiu as mãos dele empurrando o tecido de sua blusa para cima, as pontas dos dedos traçando um caminho incandescente pelos seus seios expostos. Seu corpo reagia a cada toque como se já estivesse acostumado àquela dança. Como se já pertencesse a ele.

— Otávio… — A voz dela saiu trêmula, entrecortada pelo desejo e pela culpa que tentava sufocar.

Ele deslizou os lábios pelo pescoço dela, mordiscando a pele sensível.

— Shh… — Ele respirou contra sua pele, a mão apertando sua cintura com força — Se tu fosse mesmo embora… tu já teria assinado aquele papel.

Aquela verdade doeu, mas o que doía mais era saber que, naquele momento, ela não queria sair dali.

As mãos dele desceram para a saia dela, os dedos ágeis subindo pelo tecido até encontrar a borda da renda que cobria o que ele realmente queria. A penetração foi leve, provocadora. Clara jogou a cabeça para trás, ofegante, agarrando os ombros dele para manter algum tipo de controle, como se isso fosse possível.

Otávio riu baixinho, satisfeito.

— Olha só pra ti… toda entregue — Ele roçou os lábios na mandíbula dela — Diz que eu tô errado, Clara. Diz.

Ela não disse. Ela só arqueou o corpo contra o dele, incapaz de lutar contra aquilo que já tinha consumido tudo dentro dela. A mesa de seu chefe, que deveria ter sido apenas um móvel frio e impessoal, agora era cúmplice silenciosa do crime que eles cometiam. Pecado sobre madeira polida. E Clara, entre sussurros e respirações ofegantes, sabia. Sabia que aquele seria o erro mais imperdoável de todos.

O escritório já não era um lugar de trabalho. Não era um ambiente de despedidas formais ou de decisões racionais. Era um campo de batalha onde desejo e culpa colidiam, e a única coisa que restava era o fogo consumindo os dois.

Otávio puxou Clara para a beirada da mesa, seus corpos colidindo com força. O calor dele era sufocante, seus movimentos firmes, exigentes, sem paciência para hesitações. Não havia mais espaço para arrependimento.

As mãos dele seguraram suas coxas, puxando-a para mais perto, encaixando-a contra si. O olhar intenso, carregado de posse, fez Clara prender a respiração.

— Confesse, Clara… Tu ama isso — A voz dele era um desafio, rouca, carregada de provocação.

Ela segurou seu rosto com ambas as mãos, puxando-o para um beijo desesperado, faminto, suas unhas arranhando levemente a nuca dele. Parar nunca foi uma opção.

Otávio soltou um gemido baixo contra seus lábios antes de tomar completamente o controle. Seus movimentos se tornaram mais urgentes, mais intensos, guiados por algo primitivo e feroz. Ele a queria sem reservas. Sem medos. Sem volta.

Clara arqueou o corpo contra o dele, os dedos cravando-se nos ombros fortes enquanto ele avançava, levando-a ao limite, tirando-lhe o ar, levando-a ao ápice com movimentos precisos e inescapáveis.

O som dos corpos se chocando ecoava pelo escritório, o ranger da madeira da mesa misturando-se ao ritmo acelerado das respirações. Clara jogou a cabeça para trás, os olhos semicerrados, sentindo-se completamente entregue.

Otávio sussurrou algo contra sua pele, palavras roucas, possessivas, antes de afundar o rosto na curva de seu pescoço, se perdendo com ela.

E então veio o clímax, avassalador, arrastando os dois como uma tempestade inevitável.

O nome dele escapou dos lábios de Clara num gemido ofegante, enquanto Otávio segurava seu corpo firme contra o dele, como se quisesse gravar aquele momento na própria pele.

Quando tudo se acalmou, os dois ficaram ali, os corações ainda descompassados, o escritório carregando a lembrança do erro mais imperdoável de todos.

Mas nenhum deles pensou em parar.

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Foto de perfil de Fabio N.MFabio N.MContos: 131Seguidores: 159Seguindo: 51Mensagem Segredos para uma boa história: 1) Personagens bem construídos com papéis e personalidades bem definidas qualidades e defeitos (ninguém gosta de Mary Sue ou Gary Stu); 2) Conflitos: "A quer B, mas C o impede" sendo aplicado a conflitos internos e externos; 3) Ambientação sensorial, descrevendo onde estão seus personagens, o que estão vendo ou sentindo.

Comentários

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Não está na hora, de pegar fogo 🔥 no parquinho, ainda por cima tudo no escritório no local de trabalho alguém ver e se tornar drama ou chantagens sei lá, mas tá no hora de entrar drama nós amantes?

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Não gostava da Clara mas agora não gosto ainda mais.

Obviamente ⭐️ ⭐️ ⭐️

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