Meu nome é Valéria, tenho 31 anos, mas o sol e o lixo do aterro me envelheceram antes do tempo. Sou morena, o cabelo curto e sujo cortado com uma tesoura velha que achei num monte de entulho, o corpo cheinho mas endurecido pelo trabalho — braços fortes de carregar papelão, pernas grossas de andar o dia inteiro, uma barriga que não me preocupo mais em esconder. Trabalho no aterro sanitário de Itaquera, na zona leste de São Paulo, um campo imenso de lixo que fede a podridão e queima os olhos, onde catamos o que dá pra vender pros atravessadores por uns trocados. Não vim pra cá por querer — a vida me jogou aqui depois que perdi o emprego de faxineira num escritório na Liberdade, o aluguel do barraco na favela atrasou, e a rua virou minha única opção. Uso uma calça jeans rasgada nas coxas, uma camiseta velha que já foi branca e agora tá cinza de sujeira, e botas furadas que peguei no meio do lixo, o cheiro de suor e restos podres grudado na pele como uma tatuagem que não sai.
O aterro é um pesadelo que não tem fim. O sol de fevereiro torra o chão, o calor sobe em ondas que fazem o ar tremer, e o fedor de comida estragada, plástico queimado e esgoto humano enche o nariz até virar normal. Passo os dias catando papelão, latinha, qualquer coisa que o atravessador pague — uns 30 reais num dia bom, 10 num ruim, o suficiente pra um pão com mortadela e um café amargo num boteco da Cohab. O trabalho é sem carteira, sem direitos, só o peso nas costas e as mãos cortadas pelos cacos de vidro escondidos nos sacos pretos. Somos dezenas aqui, vultos curvados entre os montes de lixo, os urubus voando baixo, o ronco dos caminhões que despejam mais entulho pra gente revirar. Ninguém troca nome, ninguém olha no olho — somos só mãos que mexem no que a cidade jogou fora.
Hoje, o calor tá de rachar, o suor escorrendo pelo rosto e pingando na camiseta enquanto separo um monte de papelão amassado, o carrinho de madeira que uso pra carregar quase cheio. O ronco de um caminhão corta o ar, os pneus levantando poeira enquanto estaciona a uns metros, o motor tossindo antes de morrer. É o Sérgio, 39 anos, motorista que aparece toda semana pra descarregar entulho — branco, barrigudo, o cabelo ralo colado na testa pelo suor, uma camiseta cinza manchada de graxa e uma calça jeans surrada que mal segura o cinto. Ele desce da cabine, o cigarro pendurado na boca, os olhos pequenos me encarando enquanto solta uma baforada, o “tá quente demais hoje, Valéria” saindo rouco, a voz grave carregada de cansaço e outra coisa que eu não quero nomear.
“É sempre assim aqui”, respondo, a voz seca, voltando pro papelão, os dedos pretos de sujeira mexendo nos sacos enquanto ele se aproxima, o cheiro de cigarro e gasolina se misturando ao fedor do aterro. Ele para a uns passos, o cigarro balançando na boca enquanto me olha de cima, o sol batendo nas costas largas dele. “Tá precisando de um dinheiro extra, não tá?”, ele diz, o tom baixo, quase casual, mas com um peso que me faz parar, o coração batendo um pouco mais rápido, o estômago dando um nó de fome e desconfiança. “Quem não tá?”, retruco, os olhos subindo pra ele, o calor queimando a nuca enquanto jogo o papelão no carrinho, tentando manter as mãos ocupadas pra não pensar no que ele quer dizer.
Ele riu, um som curto e seco, o cigarro caindo na poeira enquanto pisa em cima, a fumaça subindo no ar quente. “Eu te ajudo, então. Tenho 50 reais aqui pra você, mas tem que ser agora”, ele fala, a voz firme, tirando a nota amassada do bolso da calça, o papel verde sujo de graxa balançando na mão gorda dele. Eu fico quieta, o cérebro girando, o calor pesando nos ombros enquanto olho pra nota, o vazio no bolso gritando mais alto que o orgulho. “Fazer o quê?”, pergunto, a voz saindo baixa, quase um sussurro, os olhos fixos na mão dele, o suor escorrendo pela testa enquanto o vento quente bate no rosto.
“Você sabe o quê”, ele responde, o tom caindo mais grave, os olhos pequenos me cortando enquanto dá um passo pra frente, a sombra dele caindo sobre mim. “Um servicinho rápido, ali no canto. Ninguém vai ver, eu garanto.” O coração dispara, o estômago revirando enquanto olho pro monte de sacos pretos atrás da cerca enferrujada, o lugar isolado que ele aponta com o queixo. “Não sei, Sérgio. Isso não é pra mim”, murmuro, a voz tremendo um pouco, os dedos apertando o carrinho de madeira, o fedor do lixo subindo mais forte enquanto tento me convencer que posso dizer não.
“Não é pra você?”, ele retruca, o tom subindo com um toque de deboche, o “então continua catando papelão por 10 reais o dia inteiro” saindo seco enquanto balança os 50 reais na minha frente, a nota quase me chamando. “Olha só, Valéria, eu não vou te forçar. Mas 50 reais é gás, é comida, é o que você quiser. Só uns minutos, e pronto. Ninguém fica sabendo.” Ele para, os olhos pequenos me encarando, o silêncio pesado entre nós enquanto o ronco de outro caminhão ecoa ao fundo, os urubus gritando no céu. Eu respiro fundo, o calor sufocando, a fome apertando o peito, o vazio me empurrando pra um lugar que eu não quero ir.
“E se alguém vê?”, pergunto, a voz fraca, os olhos caindo pro chão empoeirado enquanto o peso da decisão me esmaga. “Não vai ver. Eu tenho a chave do banheiro ali no barraco do vigia. Você toma um banho rápido, se limpa, e a gente vai pra um canto que ninguém chega perto”, ele diz, o tom mais suave agora, quase convincente, a mão gorda mexendo no bolso pra tirar uma chave enferrujada, o metal balançando na luz do sol. “Banho?”, repito, os olhos subindo pra ele, o calor e a sujeira do dia grudados na pele me fazendo hesitar menos. “É. Tá fedendo aí, né? Toma um banho, fica mais à vontade, e a gente resolve isso rápido”, ele completa, a chave pendurada no dedo como uma isca que eu não consigo ignorar.
Eu fico quieta, o cérebro gritando pra dizer não, o corpo dizendo sim, os 50 reais dançando na minha frente enquanto o calor queima as costas. “Tá bom, então. Mas tem que ser rápido mesmo”, murmuro, a voz quase sumindo, os pés arrastando na poeira enquanto pego o carrinho e sigo ele, o coração batendo tão forte que parece que vai explodir, o suspense me comendo viva enquanto caminho pro barraco do vigia, a chave na mão dele abrindo a porta de zinco com um rangido que ecoa no aterro.
O banheiro é um cubículo fedido, as paredes de concreto rachado cobertas de mofo, o chão molhado de água suja que escorre de um chuveiro torto. Um sabonete usado tá jogado num canto, o cheiro de cloro misturado com o fedor do lixo que entra pela janela quebrada. “Eu espero aqui fora. Se apressa”, Sérgio diz, a voz grave do outro lado da porta enquanto fecho o trinco, o som da chave girando me dando um segundo de alívio. Tiro a roupa devagar, a calça jeans rasgada caindo no chão, a camiseta grudenta de suor, as botas largadas num canto enquanto a água fria bate na pele morena, o sabonete raspando a sujeira dos braços, das coxas, da barriga cheinha. Não é um banho de verdade — é rápido, funcional, o suficiente pra tirar o grosso do fedor e da poeira, o coração ainda disparado enquanto me enxugo com a camiseta velha, o pano úmido esfregando a pele antes de vestir a calça de novo, a calcinha surrada subindo pelas coxas, a decisão pesando mais agora que tô limpa.
“Pronto?”, ele pergunta quando saio, a voz rouca cortando o ar quente, os olhos pequenos me encarando enquanto acende outro cigarro, a fumaça subindo no rosto vermelho dele. “Pronto”, respondo, a voz baixa, os pés descalços nas botas furadas enquanto sigo ele pro canto isolado, um monte de sacos pretos e entulho amontoados contra a cerca enferrujada, o lugar mais afastado do aterro, onde o ronco dos caminhões é só um eco distante, os urubus voando baixo mas fora de vista. Ele para ali, o cigarro caindo na poeira enquanto pisa em cima, as mãos gordas abrindo o cinto da calça, o jeans caindo até os joelhos enquanto me encara, o “deita aí” saindo firme, o tom sem espaço pra hesitação.
Eu deito devagar, o chão empoeirado arranhando as costas, a calça rasgada descendo pelas coxas grossas, a calcinha surrada aparecendo por baixo enquanto ele se abaixa, o rosto vermelho de suor na altura das minhas pernas. Ele respira pesado, o ar quente da boca batendo na minha buceta antes de chupar, a língua grossa lambendo a carne limpa agora, o cheiro de sabonete misturado com o fedor do lixo que não sai do ar. Eu gemo baixo, o som engolido pelo vento quente, o calor dele me pegando desprevenida, os lábios sugando o grelo enquanto o corpo cheinho treme no chão empoeirado, as mãos gordas abrindo minhas coxas, os dedos cravando na carne enquanto o tesão sobe, sujo e inevitável. “Isso, Sérgio, vai fundo”, murmuro, a voz falhando, os olhos fechando por um instante enquanto ele chupa mais forte, a barba rala arranhando a pele, o som molhado ecoando no canto isolado, o risco de alguém aparecer ainda me apertando o peito.
Ele para de repente, a boca saindo com um estalo, o rosto vermelho subindo enquanto abre a calça inteira, o pau duro saltando pra fora — grosso, veias saltadas, o cheiro forte de suor me batendo enquanto se posiciona entre minhas pernas. “Monta aqui”, ele diz, o tom grave, o corpo barrigudo caindo no chão empoeirado enquanto me puxa pra cima dele. Eu subo devagar, as coxas grossas tremendo enquanto monto, o pau dele alinhando na entrada da buceta, o calor do corpo dele contra o meu, o chão sujo arranhando os joelhos enquanto empurro pra baixo, a cabeça grossa forçando entrada, o gemido subindo pela garganta, o “nossa, tá apertado” saindo baixo enquanto ele desliza fundo, o pau inteiro me enchendo enquanto o Sérgio geme, o “vai, mexe essa bunda” saindo rouco, as mãos gordas agarrando minha carne cheinha.
Eu mexo os quadris, o ritmo bruto, rápido, o calor subindo no peito apesar do fedor do lixo, o sexo como moeda pra aqueles 50 reais que eu já sinto no bolso, os sacos pretos ao redor balançando com o vento enquanto monto, o suor escorrendo pelo rosto moreno, o tesão misturado com o vazio que nunca me larga. “Tá gostando, hein?”, ele diz, a voz grave entre os gemidos, os olhos pequenos fechados enquanto empurra os quadris pra cima, o pau socando fundo, a buceta apertando enquanto eu tremo, o chão empoeirado arranhando os joelhos, o calor explodindo num lugar que eu não queria sentir. Ele goza primeiro, o “toma tudo” saindo baixo enquanto explode na camisinha, o pau pulsando dentro de mim enquanto eu acelero, o gemido rouco saindo antes de gozar também, o líquido quente escorrendo pelas coxas enquanto caio em cima dele, o corpo cheinho suado contra o peito barrigudo dele, o fedor do lixo voltando devagar, pesado como sempre.
Ele me empurra pra sair de baixo, o “foi bom, Valéria” saindo seco enquanto joga os 50 reais amassados no chão empoeirado, a nota caindo ao lado dos sacos de lixo enquanto puxa a calça, o cigarro voltando pra boca como se nada tivesse mudado. Eu pego o dinheiro, os dedos pretos de sujeira tremendo enquanto guardo no bolso da calça rasgada, o calor do sexo sumindo no vento quente, o vazio me batendo de novo enquanto ele volta pro caminhão, o motor ligando com um ronco que ecoa no aterro. Eu levanto, ajeito a roupa, o carrinho de papelão me esperando no monte principal, o dia seguindo como se aqueles 50 reais fossem só mais um peso pra carregar.
Mas a notícia voa rápido no aterro. No dia seguinte, um motorista magrelo de barba rala me chama pro canto isolado, os 50 reais na mão, o “ouvi falar que você faz por esse preço” saindo com um sorriso torto enquanto abro a calça de novo, o sexo virando rotina. Em uma semana, são três, depois cinco, os caminhoneiros trocando a história como quem passa um cigarro, o apelido “a puta do aterro” nascendo entre os catadores, os olhos deles me seguindo enquanto empurro o carrinho, o julgamento cortando mais que o sol. Uma tarde, são seis de uma vez — o Sérgio, o magrelo, um negro alto de boné, dois brancos suados e um moreno tatuado —, me cercando atrás da cerca, os paus pra fora enquanto eu deito no chão empoeirado, um me chupando, outro na buceta, um no cu, os outros esperando a vez, os gemidos misturados com o ronco dos caminhões, o fedor do lixo me sufocando enquanto gozam em mim, os 300 reais jogados na poeira, o dinheiro que eu pego com as mãos trêmulas, o corpo cheinho sujo e quebrado, o sexo como moeda que me mantém viva, mas me afunda mais no aterro.
O sol desce devagar, o céu laranja queimando o horizonte enquanto os urubus voam baixo, o carrinho de papelão cheio ao meu lado, o peso do dia nas costas. Os 50 reais do Sérgio viraram 300 hoje, mas o vazio não explica — sou a puta do aterro agora, a notícia espalhada como o lixo que catamos, os olhares dos outros me marcando enquanto arrasto os pés pro barraco na favela, o silêncio me esperando com um peso que eu não aguento mais. O sexo foi bruto, sujo, real — como as histórias que os jornais ignoram, os gritos que o aterro engole, a sobrevivência que me custa tudo que eu ainda era.