Obsidian: A Primeira Escrava - Parte 16

Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 5688 palavras
Data: 22/03/2025 06:46:39

O silêncio do quarto era espesso, preenchido apenas pelo leve zumbido do ar-condicionado. As luzes sutis e o aroma afrodisíaco deixavam o ambiente mais íntimo e proibido.

Não era mais um acidente. Não era uma escolha impulsiva, tomada no calor do momento. Era uma decisão fria, calculada e definitiva.

Clara deslizou as mãos pelo corpo quente, os dedos trêmulos, os bicos dos seios inchados, o calor crescente enquanto a respiração entrecortada pelo conflito interno que se intensificava. Ela não era mais uma mulher que havia escorregado para um erro. Agora, ela era uma mulher que havia escolhido continuar errando. Ela se virou para o espelho do quarto e se viu. O reflexo não mentia. A mulher ali não era apenas alguém consumida pelo desejo. Havia mais. O brilho nos olhos, a forma como sua pele ainda parecia vibrar com a lembrança do toque dele, o sangue quente pulsando em seu pescoço, em sua boca, em cada centímetro do seu corpo.

Otávio ainda estava no banheiro e, por um momento, Clara se perguntou se deveria fugir.

Se deveria vestir-se, pegar suas coisas e sair antes que ele voltasse, antes que esse momento se tornasse um marco irreversível, mas então a porta do banheiro se abriu e não havia mais para onde correr.

Otávio parou na porta, a toalha enrolada na cintura, a pele ainda úmida do banho, os olhos escuros e atentos. Ele não disse nada de imediato, apenas a observou.

A forma como Clara se movia diante do espelho, os dedos deslizando por sua pele. A forma como sua respiração havia se alterado apenas porque ele estava ali.

— Ainda tá em dúvida? — A voz dele veio baixa, arrastada, cheia de algo que Clara não queria nomear.

Ela deveria dizer sim. Ela deveria sair, mas não saiu.

Otávio sorriu de leve, como se já soubesse disso. Ele atravessou o quarto devagar, parando atrás dela, tão próximo que Clara pôde sentir o calor que emanava de sua pele.

Ela fechou os olhos quando ele deslizou os dedos por seu braço, de leve, como se ainda lhe desse a chance de recuar.

— Me diz que quer ir embora.

O pedido veio como uma ordem invertida.

E, quando os olhos de Clara se abriram no espelho e ela viu a expressão dele refletida atrás de si, viu o desejo, mas também viu a certeza…

Ela soube. Ela nunca mais fugiria dele.

Não havia relógios ali. Nenhum lembrete do mundo do lado de fora. Nenhuma obrigação além daquelas que ambos escolhiam naquele momento.

As mãos de Otávio exploraram cada pedaço dela, desta vez sem pressa, sem medo de serem interrompidos por portas destrancadas ou passos no corredor.

Ele a tomou como se já soubesse que ela era dele e Clara se entregou como se não houvesse nada que pudesse impedi-la.

**********

A porta do quarto se fechou atrás dela com um clique suave.

Clara ficou parada no corredor do por um segundo, sentindo a leveza das pernas, o coração batendo rápido demais, como se ainda estivesse tentando se reacomodar dentro do peito.

O que ela havia feito? O perfume de Otávio ainda impregnava sua pele.

Ela levou a mão ao pescoço, como se pudesse apagar as marcas invisíveis que ele havia deixado nela.

Era real agora. Definitivo. Clara não era mais apenas uma esposa traindo o marido. Ela era uma mulher promíscua que havia escolhido ter um amante. E o pior de tudo: Ela não conseguia se arrepender.

O táxi esperava na entrada do motel discreto, longe da cidade. Longe de sua vida real, mas o problema era que aquilo já era parte de sua vida real.

Clara entrou no carro, disse seu endereço ao motorista e se preparou para voltar à outra versão de si mesma. Aquela que precisava ser impecável. Aquela que precisava ser irretocável para que ninguém notasse as rachaduras se abrindo, mas quando chegou em casa, antes mesmo de conseguir abrir a porta… Ela percebeu. Ainda era possível sentir Otávio em sua pele.

Ela precisava apagar os vestígios antes que alguém notasse. Antes que ela mesma sucumbisse de vez ao que havia se tornado. O chuveiro seria sua salvação, mas nenhuma água poderia lavar a escolha que havia feito naquela noite.

A água escaldante escorria sobre o corpo de Clara, levando consigo os últimos vestígios do perfume de Otávio. Mas, por mais que a espuma densa do sabonete deslizasse por sua pele, ela sabia que aquele cheiro ainda estava ali. Não na pele, mas dentro dela. A lembrança do toque dele não desaparecia com a água.

Ela fechou os olhos, pressionando a testa contra os azulejos frios do banheiro. Não podia pensar nisso agora.

Vincent poderia chegar a qualquer momento e Wagner… Ela não deveria se preocupar com Wagner. Ele não suspeitava de nada e ainda assim, ao pensar em seu filho, um nó se formou em sua garganta.

Ela desligou o chuveiro bruscamente, como se quisesse interromper também a torrente de pensamentos que a assombrava. Pegou uma toalha e envolveu o corpo, respirando fundo antes de girar a maçaneta e sair do banheiro. Deu de cara com Wagner.

Ele estava encostado contra a porta do quarto, os braços cruzados, a expressão relaxada, mas os olhos atentos.

— Tomou banho tarde hoje, mãe.

Clara prendeu o ar por um segundo. Foi apenas um comentário casual, apenas uma observação, mas, dentro dela, soou como um alarme. Por que ele notou?

Ela forçou um sorriso.

— Sim. Quis relaxar um pouco antes de dormir.

Ele assentiu lentamente.

Clara quis que ele simplesmente saísse dali, mas Wagner permaneceu onde estava, como se a estivesse estudando. Seus olhos deslizaram de maneira sutil pelo rosto da mãe, pelos ombros ainda úmidos, pela forma como ela segurava a toalha contra o peito, como se se protegesse.

E então, ele franziu a testa levemente. Não era uma expressão de quem desconfiava. Era uma expressão de quem estava intrigado. Porque Wagner não questionava sem motivo.

Ele apenas observava.

Clara engoliu em seco.

— Boa noite, filho.

Wagner desapareceu no corredor sem responder.

Ela fechou a porta do quarto, percebeu que seu coração estava disparado. Não porque Wagner sabia algo, mas porque ele percebeu que havia algo para saber.

**********

A clínica estava silenciosa. O tipo de silêncio que convidava pecados.

Os corredores já haviam se esvaziado, o som dos passos dos últimos funcionários se dissolvendo no fim do expediente, mas Otávio ainda estava ali, Clara também.

Os dois deveriam estar indo embora. Deveriam estar pegando seus carros, seguindo suas rotinas, agindo como se fossem capazes de esperar até a noite, até chegarem a um lugar seguro, mas não conseguiam.

A cada dia, a paciência se desgastava mais rápido. O desejo crescia mais rápido.

Foi um olhar. Só isso. Um segundo a mais quando os olhos de Otávio cruzaram com os dela no final do turno. Fome e certeza. Nenhuma palavra dita.

E então, Clara estava ali.

A porta da sala de esterilização se fechou atrás de si. O cheiro característico de álcool e limpeza impregnava o ar, mas ela sabia que em breve aquele cheiro se misturaria ao deles.

As mãos dele estavam sobre ela antes mesmo que conseguisse dar o primeiro passo para trás. O corpo de Otávio veio como uma muralha quente, prensando-a contra a bancada fria de inox. Choque térmico. Os lábios dele vieram primeiro, sem aviso, sem piedade.

Um beijo faminto, exigente, que não deixava espaço para dúvidas. Os dedos dele enterraram-se em sua cintura, puxando-a mais para si, enquanto Clara segurava o jaleco dele com força, como se precisasse de algo para ancorá-la naquela tempestade.

O aço frio da bancada mordia a pele exposta da parte de trás de suas coxas, mas isso não importava. Nada mais importava.

Exceto o risco.

— O que a gente tá fazendo? — Ela sussurrou contra os lábios dele, a respiração já entrecortada.

Otávio roçou a boca pela linha do maxilar dela, descendo pelo pescoço, o tom carregado de ironia quando respondeu:

— Algo que a gente devia ter feito mais cedo.

Clara fechou os olhos, mordendo o lábio para conter um gemido quando sentiu os dedos dele subindo pela sua perna sob o tecido da saia.

O que estavam fazendo era insano, mas ela já estava sentada na bancada. Já estava se desfazendo sob os toques dele. Já não queria parar.

As bocas se encontraram outra vez, as mãos dele explorando cada centímetro de pele que conseguia tocar. A tensão acumulada ao longo do dia, das semanas, de todas as tentativas frustradas de manter a sanidade, explodindo de uma vez.

E quando Otávio empurrou sua saia para cima e a segurou firme pelos quadris, Clara soube que aquele erro, naquele momento, era inevitável.

O aço da bancada estava gelado sob sua pele. Otávio, por outro lado, era puro fogo.

Encaixando devagar, incendiando sua umidade que se derretia enquanto todo o membro dele abria caminho dentro dela, duro e delicioso. Cada toque queimava, cada estocada era uma onda de prazer. Clara não sabia se queria afastá-lo ou puxá-lo para ainda mais perto, mas já não tinha controle algum sobre seu próprio corpo.

O risco estava ali, pairando entre os dois. Podiam ser flagrados. O simples pensamento fez seu estômago se contrair em expectativa, os sentidos ainda mais aguçados.

Otávio a olhava como se enxergasse algo que ninguém mais tinha o direito de ver. Os olhos escuros carregavam um brilho de posse, de certeza absoluta de que ela era dele.

— Tu tá tremendo… — Ele murmurou, os lábios roçando a pele sensível de seu pescoço, a respiração quente contrastando com o frio do metal sob seu corpo.

Clara mordeu o lábio com força, tentando conter um gemido.

— Eu devia estar em casa agora… — Sua voz saiu falha, quase um sussurro.

Otávio sorriu contra sua pele. Um sorriso carregado de provocação.

— Mas tá aqui. Comigo.

E ele não precisava dizer mais nada. Porque ambos sabiam que Clara nunca escolheria estar em outro lugar.

As bocas se encontraram de novo, dessa vez num beijo mais profundo, mais lento, como se quisessem se perder ali. Era errado, mas era bom.

A cada toque, a cada suspiro, o desejo subia mais. O ar ficava mais pesado, o sangue pulsava mais forte. A sanidade desmoronava junto com as últimas barreiras.

E quando Otávio segurou seus quadris e finalmente descarregou todo seu prazer, Clara esqueceu completamente de onde estava. Não existia mais clínica, não existia mais perigo.

Só existia eles dois e a inevitável queda livre até o êxtase.

**********

O tempo passava, mas Clara e Otávio pareciam viver fora dele. O mundo lá fora continuava girando, mas dentro daquele relacionamento clandestino, tudo era febril, intenso, urgente.

Semanas se tornaram meses, e a culpa que um dia pesara sobre Clara foi dando lugar a algo ainda mais perigoso: A falsa sensação de controle.

O perigo já não parecia mais tão arriscado.

Os olhares cúmplices durante o expediente se tornaram menos furtivos. Os encontros improvisados nos cantos vazios da clínica se tornaram rotina e, com o tempo, Clara e Otávio começaram a se convencer de que eram intocáveis. De que ninguém suspeitava. De que podiam continuar vivendo naquele equilíbrio precário sem serem descobertos.

Mas estavam errados.

Muito errados.

Porque, mesmo sem que percebessem, olhos atentos os observavam.

E, naquela noite, a mentira começaria a ruir.

Era o fim do expediente, e a clínica estava quase vazia.

O relógio marcava 17h57. Priscila havia se despedido, encerrando seu expediente. A última paciente já havia ido embora, e os poucos funcionários que restavam estavam ocupados guardando os materiais e trancando os consultórios.

Clara e Otávio sabiam que aquele era o momento perfeito. Já haviam feito aquilo tantas vezes antes. Desculpas perfeitamente elaboradas. Toques sutis ao passarem um pelo outro no corredor. Trocas de mensagens disfarçadas durante o expediente.

Um convite silencioso que apenas os dois entendiam. E, agora, ali estavam sozinhos, livres.

Clara sabia que deveria simplesmente terminar sua rotina e ir para casa. Vincent estaria esperando. Wagner também, mas ela não conseguia.

Quando Otávio encostou-se casualmente ao batente da porta da sala de cirurgia e a olhou daquela maneira… Ela já sabia o que aconteceria.

Otávio sorriu de canto, o olhar queimando sobre ela.

— Ainda tá com pressa pra ir embora?

Clara sabia a resposta, mas, ao invés de dizê-la, fechou a porta atrás de si. Eles se moviam com a urgência de quem já não se importava em conter nada. O cheiro dos desinfetantes frios no ar contrastava com o calor que se acumulava entre eles, com o contato de pele contra pele, com a maneira como Otávio segurava Clara, como se a posse fosse um direito que ele já não estava disposto a abrir mão.

Os encontros antes furtivos se tornaram cada vez mais ousados. A adrenalina do risco os alimentava. A sensação de saber que estavam ali, no mesmo local onde trabalhavam, sem que ninguém soubesse…

Ou pelo menos era o que pensavam.

Do lado de fora da clínica, Priscila olhou para o relógio em seu celular. 18h25.

Ela deveria estar a caminho de casa, mas, em vez disso, estava ali. Escondida na escuridão do estacionamento, esperando. Algo não estava certo. Há semanas, ela vinha notando coisas. Os sumiços de Clara e Otávio durante o expediente. O jeito como o doutor olhava para ela, como se houvesse algo ali que ninguém mais pudesse ver. As desculpas apressadas, os olhares rápidos quando achavam que ninguém estava vendo. Priscila não era ingênua. Ela conhecia Otávio há tempo suficiente para saber quando ele estava escondendo algo e Clara… Clara havia se tornado um mistério que Priscila precisava desvendar. Então, naquela noite, ela resolveu testar sua suspeita.

Fingiu que foi embora. Deu meia-volta e voltou para dentro da clínica minutos depois. E foi aí que ouviu. Um som abafado. Baixo no começo, mas, quando se aproximou do corredor da sala de cirurgia… Ficou claro demais. Priscila sentiu o estômago revirar.

A porta da sala não estava totalmente fechada. Uma fresta estreita permitia que um olhar mais atento visse através dela. E foi por essa fresta que ela viu. Que tudo se revelou. Que não restou mais dúvida alguma. Ali, diante de seus olhos, estava a traição que Clara escondia de todos. A traição que, até então, havia sido apenas uma suspeita.

Agora, era um fato.

**********

Priscila não conseguia esquecer.

Nos primeiros dias após o flagra, ela tentou agir normalmente. Tentou ignorar as imagens que voltavam à sua mente sempre que olhava para Clara ou para Otávio, mas a inquietação crescia dentro dela como um fogo difícil de apagar.

Ela não conseguia parar de pensar no que tinha visto.

Clara. A mulher que ela respeitava. A amiga que sempre a aconselhou a fazer o certo, agora, presa em uma mentira tão grande que mal conseguia esconder.

Priscila observava Clara com outros olhos.

Tudo nela parecia calculado. Uma mulher dividida em duas. Era insuportável assistir sem dizer nada. Por isso, quando a oportunidade surgiu, Priscila não hesitou. Ela confrontaria Clara e não aceitaria desculpas.

Era final de expediente quando Priscila fechou a porta da recepção e se virou para Clara. Elas estavam sozinhas. Não havia mais como evitar.

Clara percebeu imediatamente o peso no olhar da amiga.

— O que foi?

Priscila cruzou os braços. O silêncio entre elas era sufocante.

— Eu sei.

Clara sentiu o chão desaparecer sob seus pés, torcendo para estar enganada.

— Sabe o quê? — tentou disfarçar, a voz um pouco mais aguda do que deveria.

Mas Priscila não piscou.

— Eu vi.

Clara sentiu o coração disparar dentro do peito. O rosto ficou quente, as mãos começaram a suar. Ela não precisava perguntar o que Priscila tinha visto, mas suspeitava que havia deixado transparece seus olhares e cochichos com Otávio, não imaginando que havia sido o ato sexual.

— Priscila — a voz dela saiu quase como um sussurro — Isso não é o que tu tá pensando.

Priscila soltou um riso incrédulo.

— Não? Então o que era? Uma reunião médica? Um treinamento especial onde ele te fode na maca?

Clara arregalou os olhos por um segundo, o pânico crescendo dentro dela.

— Tu não pode contar pra ninguém — Clara finalmente disse, a voz embargada.

Priscila bufou, cruzando os braços ainda mais forte.

— Tu acha que eu sou esse tipo de pessoa?

Clara não sabia o que responder, mas estava apavorada, porque, se Priscila achava que estava fazendo algo errado… Talvez ela realmente estivesse.

Mas… por que não conseguia parar? Por que, mesmo naquele momento de puro desespero, ela ainda queria Otávio?

Priscila continuou olhando para ela, esperando por algo. Uma explicação, uma justificativa, mas Clara não tinha nenhuma.

— Amiga, por favor…

Priscila fechou os olhos, respirando fundo, como se tentasse encontrar paciência dentro de si.

— Eu não vou contar a ninguém.

Clara soltou o ar em alívio, mas foi um alívio temporário. Ela não tinha terminado.

— Mas tu precisa parar.

Clara congelou.

Seu estômago se revirou violentamente.

— Eu…

— Clara — Priscila cortou — Isso vai dar errado.

Clara sabia que ela estava certa. Sabia que Priscila era a voz da razão naquela história toda. Mas como se dizia "não" para algo que já havia se tornado parte de si mesma? Como se voltava atrás depois de ter cruzado tantas linhas?

Clara não tinha respostas e Priscila percebeu isso.

Ela balançou a cabeça lentamente, desapontada.

— Eu espero que tu saiba o que tá fazendo.

E então, ela saiu.

Deixando Clara sozinha com sua mentira. E pela primeira vez, Clara se perguntou se ainda tinha controle sobre si. Clara sabia que Priscila não contaria nada, mas isso não a fazia se sentir mais segura, na verdade, fazia o contrário.

Desde que Priscila a confrontara, um peso novo se instalara em seu peito, um lembrete constante de que seu segredo já não era apenas seu. Por mais que tentasse ignorar, a verdade estava ali, pulsando em sua mente, latejando como um aviso silencioso de que tudo poderia ruir a qualquer momento e, quanto mais pensava nisso, mais irritadiça ficava.

O peso da mentira, da culpa e da constante tensão se acumulava dentro dela de forma insuportável e, sem perceber, ela começou a descontar em casa.

Era noite, e a cozinha estava tomada pelo cheiro do jantar.

Vincent se servia de uma taça de vinho enquanto Clara arrumava os pratos sobre a mesa.

O dia fora longo. Exaustivo, mas Clara queria silêncio.

— Wagner pediu dinheiro de novo hoje — ele comentou, casualmente.

Clara parou por um segundo.

— E tu deu?

— Não dessa vez. Ele precisa aprender que dinheiro não aparece do nada.

Clara bufou, revirando os olhos.

— Ah, Vincent, tu sempre faz isso.

Ele arqueou a sobrancelha.

— Faço o quê?

Ela jogou os talheres sobre a mesa com um pouco mais de força do que deveria.

— Tu sempre nega primeiro pra depois acabar cedendo!

Vincent estreitou os olhos.

— Clara, do que você tá falando? Isso nem é um problema.

Ela cruzou os braços.

— Não, claro que não. Tu sempre acha que tá certo.

A risada dele veio carregada de ironia.

— Ah, entendi. Então você quer brigar?

Clara se calou porque sim, ela queria. Não por causa de Wagner, não por causa do dinheiro, mas porque havia algo dentro dela queimando, crescendo, precisando ser exposto de alguma forma e Vincent era a vítima mais fácil naquele momento.

Vincent respirou fundo, esfregando a têmpora como se tentasse conter a própria frustração.

— Eu não vou discutir sobre uma coisa sem sentido, Clara.

Ela sentiu o peito apertar. Ele sempre fazia isso, sempre se afastava, sempre escolhia a lógica fria ao invés da emoção e, no fundo, era isso que a feria.

Otávio nunca faria isso. Ele nunca a olharia como Vincent olhava agora, tentando encontrar racionalidade onde só havia sentimentos reprimidos.

Clara pegou um prato e virou-se de costas para Vincent, ignorando-o.

— Ótimo.

Vincent soltou um suspiro longo.

— Eu vou pro escritório — disse saindo da cozinha.

Mas, para Clara, não havia fim aquela discussão, havia apenas o ressentimento latente, a irritação, o nó na garganta que não desatava e foi por isso que, quando seu telefone vibrou minutos depois, ela não hesitou.

🗨OTÁVIO: Te pego em 10 minutos.

O carro deslizou pelas ruas silenciosas, os faróis iluminando a estrada estreita que levava a um bairro afastado da cidade. Otávio dirigia com uma mão no volante, a outra descansando no câmbio, os olhos alternando entre a estrada e Clara. Desde o momento em que entrara no carro, ela não dissera uma palavra.

— O que houve? — ele perguntou, depois de um tempo.

Clara suspirou, apoiando a testa contra o vidro frio da janela.

— Nada.

Ele arqueou a sobrancelha.

— Não parece nada.

Ela fechou os olhos.

— Só um dia ruim.

Otávio não insistiu, mas, ao invés de continuar dirigindo, encostou o carro em uma rua isolada, longe de tudo e todos. O motor roncou baixo antes de ser desligado. O silêncio foi imediato.

— Fala comigo — disse virando-se para ela.

Clara respirou fundo, ainda olhando para fora.

— Eu briguei com Vincent.

Otávio não reagiu de imediato, simplesmente a estudou.

— Sobre o quê?

Ela soltou uma risada sem humor.

— Nada. Coisa boba.

Mas não era sobre isso.

Ele se inclinou levemente para frente, tocando a mão dela.

— Tu tá carregando isso há dias, Clara.

A voz dele era baixa, rouca, envolvente. Ela não podia negar. Ela estava carregando muito mais do que deveria. Ali, no silêncio daquela rua deserta, no calor reconfortante da presença dele, algo dentro dela cedeu. Ela se virou para ele, que não hesitou. Aproximou-se lentamente, os olhos cravados nos dela, esperando um único sinal.

Quando ela fechou os olhos, foi o suficiente. O primeiro beijo foi lento, carregado de uma doçura que ela não esperava.

Os dedos dele deslizaram suavemente por sua nuca, puxando-a mais para perto.

E, conforme os beijos se intensificavam, conforme os toques se aprofundavam, Clara percebeu algo. Ali, nos braços de Otávio, a irritação que sentia desaparecia. O peso se dissipava. Não havia tensão, nem culpa. Havia apenas o desejo crescente, o calor tomando conta do espaço estreito do carro, os suspiros abafados que se misturavam entre eles.

O carro estava parado. O mundo lá fora também.

O silêncio daquela rua esquecida envolvia Clara e Otávio como um segredo, como um pacto secreto. A tensão dos últimos dias, da briga com Vincent, da culpa latente, tudo se dissolvia sob o toque de Otávio. Ele não pedia. Ele tomava.

Suas mãos deslizaram até a nuca dela, os dedos firmes, mas cuidadosos, segurando-a como se quisesse mantê-la ali, presa naquele momento, sem volta. O aperto não era sufocante, mas era inegável. Como tudo entre eles.

Clara suspirou contra os lábios dele, cedendo antes mesmo de perceber que estava cedendo. Era sempre assim.

Otávio a puxou mais para perto, o banco do carro rangendo com o movimento. Seu corpo agora estava inclinado sobre o dela, o volante esquecido, os faróis apagados. Ali, na escuridão, só existiam eles dois.

Seus dedos deslizaram pela pele dela, os toques firmes, sem hesitação. Clara prendeu a respiração quando sentiu a mão dele subindo lentamente por sua coxa, empurrando o tecido da saia com uma paciência cruel.

— Aqui? — A voz dela saiu baixa, trêmula, entre um suspiro e um gemido contido.

Otávio sorriu contra seus lábios, um sorriso carregado de algo perigoso. De algo inevitável.

— Por que não? — Ele murmurou.

E então, com um movimento ágil, puxou-a para o colo dele. Clara já não tinha como fugir.

Não que ela quisesse.

O desejo crescia no espaço apertado do carro, nos toques que ficavam cada vez mais intensos.

Otávio segurava seus quadris com firmeza, guiando os movimentos dela contra si, sem pressa, sem piedade. A penetração foi suave e deliciosa como se seus corpos tivessem sido feitos para aquilo. A vagina úmida e quente abraçando o membro duro e pulsante que deslizava inteiramente até as virilhas de tocarem.

Os suspiros abafados, os gemidos contidos, a tensão insuportável.

O desejo crescia no espaço apertado do carro, sufocante como o ar quente que preenchia o ambiente. O vidro já começava a embaçar, marcas difusas se formando conforme o calor dos corpos aumentava. O cheiro do couro dos bancos se misturava ao perfume dele e à eletricidade que pairava entre os dois.

Otávio segurava seus quadris com firmeza, os dedos enterrados na pele dela, guiando os movimentos sem pressa, mas sem permitir hesitação. Ele sabia o que queria. Sabia como queria.

Clara afundou as unhas nos ombros dele, um gemido preso na garganta quando sentiu a pressão no colo do seu útero. Era quente, era crua, era exatamente o que ela precisava.

O espaço apertado tornava tudo ainda mais caótico, os movimentos restritos pelo próprio ambiente. O banco rangia sob o peso dos corpos que se buscavam, se encaixavam, se reconheciam. O ritmo era lento no início, um jogo de provocação, até que o controle começou a se despedaçar.

A respiração de Otávio estava pesada contra sua pele, o calor da boca dele traçando um caminho pelo pescoço dela enquanto as mãos apertavam com mais força, puxando-a contra ele a cada impulso.

— Assim… — A voz dele saiu baixa, abafada pelo espaço reduzido, carregada de algo quase bruto.

Clara mordeu os lábios, tentando conter os sons que queriam escapar, mas era impossível. Cada movimento intensificava a necessidade, cada toque incendiava algo dentro dela que já estava em chamas.

O vidro do carro agora estava completamente opaco, as marcas das mãos ali testemunhando a pressa, a necessidade desenfreada. Tudo o que importava era Clara, ali, totalmente entregue.

Os movimentos ficaram mais rápidos, mais urgentes. A tensão insuportável se acumulava como uma tempestade prestes a explodir.

E então, o ápice veio como um choque elétrico percorrendo os dois, atravessando cada músculo, cada nervo, cada célula.

Clara sentiu o corpo se arquear, as unhas cravando-se na pele dele, enquanto Otávio segurava sua cintura com força, enterrando seu membro inteiro dentro dela enquanto pulsava e despejava em jatos o seu gozo, o som abafado, o mundo inteiro reduzido àquele instante.

O carro permaneceu em silêncio depois, exceto pelas respirações entrecortadas, pelo tamborilar dos dedos de Otávio contra a pele suada das costas dela.

Não importava quantas vezes tentassem se afastar. Eles sempre acabariam ali. No escuro. No risco. Um no outro.

**********

A manhã transcorreu com a habitual normalidade que Clara tanto se esforçava para manter.

O cheiro de café fresco se espalhava pela cozinha enquanto ela preparava torradas e frutas, os gestos automáticos, quase mecânicos, como se fosse qualquer outro dia.

Vincent desceu primeiro, ajeitando a gravata no espelho do aparador, pegando uma xícara de café sem dizer muito. Ele sempre saía cedo.

Wagner desceu logo depois, a mochila jogada no ombro, o cabelo ainda desgrenhado do sono, os olhos focados na tela do celular.

— Mãe, tu viu meu carregador?

Clara olhou ao redor.

— Não faço ideia. Tu olhou na sala?

— Já olhei.

Ele bufou, frustrado, e foi até o balcão onde Clara deixava seus pertences. A bolsa dela estava ali, entreaberta. Wagner enfiou a mão rapidamente para procurar o carregador, mas o que encontrou foi algo completamente diferente. Pequeno, cilíndrico, de vidro escuro com tampa dourada e uma logo na tampa. Um frasco de óleo essencial que Wagner sabia exatamente de onde vinha.

Seu estômago revirou na mesma hora.

Ele já tinha visto aquele mesmo frasco antes. No Paradise Suites, o motel de luxo que visitara no aniversário de Ellen. O mesmo que oferecia aos clientes aqueles frascos como "cortesia exclusiva" nos quartos.

Seu corpo ficou frio.

Sua mãe tinha estado lá.

Ele largou a bolsa de Clara como se tivesse levado um choque e fingiu que nada tinha acontecido. Pegou o carregador em outro canto da cozinha e murmurou uma despedida antes de sair, mas, por dentro, seu mundo havia desmoronado.

Wagner passou o dia inteiro tentando afastar o pensamento, mas era impossível. A imagem do frasco de óleo essencial se repetia em sua mente como um aviso cruel. O que sua mãe estava fazendo num motel? E, pior ainda… com quem? Seu pai? Não.

Ele não frequentaria esse tipo de ambiente e Wagner sabia que seus pais já não tinham a mesma cumplicidade de antes. O jantar era sempre silencioso e Clara estava sempre distraída. Tentou afastar a suspeita, mas não conseguiu.

Quando chegou a noite, ele não aguentou mais. Ele precisava perguntar. Precisava ouvir da própria boca dela o que estava acontecendo.

O barulho do chuveiro preenchia o banheiro. Clara fechou os olhos, deixando a água quente escorrer sobre seu corpo. Precisava relaxar. O dia fora exaustivo.

As responsabilidades pesavam sobre seus ombros. E, por um breve instante, permitiu-se esquecer de tudo, mas então, ouviu a porta do banheiro se abrir.

“Vincent”, pensou. Não era incomum que ele entrasse quando precisava de algo.

— Amor, o que foi? — ela perguntou sem olhar.

Mas a resposta não veio na voz de Vincent.

— Mãe.

Clara congelou. O som da voz de Wagner fez seu coração parar por um segundo. Ela abriu os olhos imediatamente, o corpo enrijecendo. Wagner não entrava no banheiro. Não sem bater. Não assim. E, pelo tom da voz dele… Algo estava errado.

Clara desligou o chuveiro rapidamente, pegando uma toalha e se enrolando nela antes de abrir a porta do box. Wagner estava parado ali, as mãos cerradas ao lado do corpo. Os olhos brilhavam com algo que Clara não conseguiu decifrar de imediato. Raiva, confusão, dor.

— Wagner? O que houve?

Ele respirou fundo, como se estivesse se segurando.

— Tu tava no Paradise Suites.

Clara sentiu o chão desaparecer. Seu estômago revirou violentamente. Ela abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada e Wagner percebeu.

— Fala — A voz dele tremeu — Diz que eu tô errado.

Clara engoliu em seco. Seus pensamentos se embaralharam, a mente tentando desesperadamente encontrar uma desculpa. Uma explicação, qualquer coisa, mas não havia saída. Porque ele já sabia. Ela podia ver nos olhos dele. Wagner não suspeitava, ele tinha certeza.

Ele cravou a última pergunta.

— Tu foi lá com o pai?

O silêncio de Clara foi alto demais. Wagner deu um passo para trás. A compreensão se instalou em seu rosto como um golpe.

E então veio a raiva.

— Meu Deus, mãe… — ele sussurrou, descrente.

Clara sentiu o desespero subir por sua garganta como um grito preso.

— Filho, me escuta…

— Com quem, mãe?!

O grito dele ecoou pelo banheiro. Clara nunca havia visto Wagner tão furioso.

— Wagner, por favor…

Ele passou as mãos pelos cabelos, a respiração descompassada.

— Me diz que eu tô entendendo errado.

Mas ela não disse e isso foi resposta suficiente. Ele soltou um riso amargo.

— Tu tá traindo o pai.

Clara sentiu a vergonha como um tapa. Seu próprio filho a via como aquilo. Como uma mulher infiel. Seu peito apertou. Seus olhos arderam.

— Não é assim…

Wagner não queria ouvir. Ele se afastou, os olhos brilhando de mágoa e repulsa.

— Eu nunca pensei que tu fosse esse tipo de pessoa.

E então, ele saiu.

Clara ficou ali, paralisada.

Completamente quebrada, porque, pela primeira vez, percebeu que sua mentira tinha alcançado alguém que realmente importava e isso era insuportável.

Clara não podia deixar que ele saísse. Se Wagner fosse embora daquele quarto, ele nunca mais olharia para ela do mesmo jeito. Seu coração batia tão forte que parecia que iria saltar da garganta.

Ela se jogou para frente, alcançando o braço do filho antes que ele cruzasse a porta.

— Wagner, por favor!

O rapaz se virou tão rápido que Clara sentiu o corpo enrijecer. Os olhos dele não eram mais os mesmos. O olhar que antes era de carinho, de respeito… agora era um olhar de quem via um estranho na sua frente. De quem via uma mentira viva.

— O que tu quer que eu faça, mãe?! — ele explodiu.

Clara soltou um ofego trêmulo.

— Eu quero que tu me escute.

Mas Wagner não queria. Ele tentou puxar o braço, mas Clara segurou mais forte. Ele a segurou também, como se medissem forças. As mãos grandes fecharam-se ao redor dos pulsos dela, firmes, quase ríspidas.

Por um momento, os dois ficaram assim. Um segurando o outro. Um tentando conter o caos do outro. A respiração de ambos estava pesada. Ela viu quando os olhos dele se encheram de lágrimas que ele não deixaria cair.

Wagner soltou os pulsos da mãe e passou as mãos pelos cabelos, exasperado. Ele não sabia o que fazer e Clara soube que estava prestes a perdê-lo para sempre.

Ela deslizou para a frente, ajoelhando-se no chão diante dele.

— Meu filho…

A voz dela veio um sussurro quebrado. Ela precisava dele. Ele não podia ir embora. Wagner segurou o rosto entre as mãos, respirando fundo várias vezes antes de falar.

— Mãe… o pai te ama.

Clara fechou os olhos com força.

Ela sabia e era isso que tornava tudo pior. Quando abriu os olhos, Wagner a olhava de novo, mas não como antes.

— Eu sempre te admirei, mãe — ele murmurou, a voz embargada — Sempre achei que tu fosse diferente.

Diferente. A palavra caiu como uma lâmina afiada no peito de Clara. Ela engoliu em seco. Seus olhos estavam vermelhos, sua voz fraca.

— Não conta pra ninguém — implorou.

Wagner apertou o maxilar.

— Como tu espera que eu durma sabendo disso? Como tu espera que eu olhe pro pai e finja que nada tá acontecendo?

Clara soluçou baixinho, segurando os braços do filho como se ele fosse a última coisa que ainda restava intacta em sua vida.

— Porque eu sou tua mãe.

Wagner estremeceu.

Clara deslizou as mãos pelo rosto dele, como fazia quando ele era pequeno, como fazia quando ele tinha medo do escuro.

— Eu sempre te amei mais do que qualquer coisa nesse mundo. Mais do que a mim mesma.

Os olhos de Wagner brilharam com algo novo. Dúvida, conflito, dor. Clara sabia que, no fundo, ele ainda era seu menino. O menino que nunca suportou vê-la triste e, naquela noite, ele não suportou. Com um longo suspiro, Wagner passou as mãos pelo rosto e desviou o olhar.

— Eu não vou contar.

Clara sentiu os joelhos cederem. Ela ofegou de alívio, segurando-se na cama para não desmoronar, mas Wagner não olhou para ela e, quando falou de novo, sua voz já não tinha o calor de antes.

— Mas eu também não consigo mais te ver como antes.

Clara sentiu o coração se partir vendo Wagner se levantar e sair deixando-a sozinha com o peso de sua própria mentira.

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Foto de perfil de Fabio N.MFabio N.MContos: 131Seguidores: 159Seguindo: 51Mensagem Segredos para uma boa história: 1) Personagens bem construídos com papéis e personalidades bem definidas qualidades e defeitos (ninguém gosta de Mary Sue ou Gary Stu); 2) Conflitos: "A quer B, mas C o impede" sendo aplicado a conflitos internos e externos; 3) Ambientação sensorial, descrevendo onde estão seus personagens, o que estão vendo ou sentindo.

Comentários

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Excelente capitulo.

A maneira como Clara esta destruindo sua vida com a inconsequencia de seu caso levando a fazer seu proprio filho ter que viver o dilema de nao contar a Vincent sobre o caso usando a maternidade contra Wagner para obter seu silencio

Aguardando ansioso proximo capitulo

Curioso para saber o que vai ser para Otavio qdo tudo explodir

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Eu to acompanhando a série desde o início, e eu tenho quase certeza que o Vicent sabe que a Clara ta traindo ele, mas eu acredito que ele ainda não sabe como tratar desse assunto. Em relação ao Wagner, o que custava pedir pra mãe parar de trair o pai?? Ele só confrontou.

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