O relógio da Estação da Luz batia onze horas quando senti o primeiro tremor. Não era o metrô sob nossos pés, nem o tilintar dos copos no bar do Hotel Esmeralda. Era Fabiana, minha esposa de vinte e cinco anos, estremecendo ao meu lado como uma corda de violoncelo recém-tocada.
"Carlos," ela sussurrou, seus lábios roçando minha orelha, "você já imaginou quantas aventuras cabem numa só noite?"
Observei seu reflexo no espelho art déco do saguão. O vestido de seda verde-absinto, comprado na Galeria do Rock semana passada, abraçava suas curvas como uma segunda pele.
Seus olhos, do azul profundo da Represa Guarapiranga ao entardecer, cintilavam com uma febre que eu conhecia bem. Ela era esposa e mãe. Mas ali ela estava no papel de fêmea. Queríamos nossa segunda lua de mel.
Era o mesmo brilho que via quando líamos juntos "Delta de Vênus" em nossa varanda na Rua Augusta, enquanto a cidade pulsava lá embaixo, indiferente e voraz.
"Quantas aventuras você quiser, meu amor," respondi, sentindo o peso da máquina de escrever Olivetti em minha mala. Eu a trouxera para documentar nossa cumplicidade, para transformar desejo em literatura, como Anaïs Nin fizera décadas antes.
O elevador chegou com um suspiro pneumático. Entramos, e o aroma de jasmim do perfume de Fabiana misturou-se ao óleo de peroba do painel de madeira. Enquanto subíamos, ela brincava com o pingente de fênix em seu pescoço - uma relíquia de seus dezesseis anos, quando sobreviveu ao incêndio do Edifício Joelma.
"Lembra da primeira vez que nós transamos?" ela perguntou, seus dedos traçando padrões invisíveis em meu peito.
Como poderia esquecer? Foi no carro. Após o Cine Belas Artes, uma retrospectiva surrealista. Fabiana, dezoito anos na época, cabelos presos num coque desalinhado, discutindo Buñuel com a paixão de quem descobriu um novo continente. Que paixão, que noite tórrida. Tudo dentro de um automóvel.
"Você disse que o cinema era um espelho, não uma janela," recordei.
Ela sorriu, enigmática. "E o que somos nós esta noite, Carlos? Espelho ou janela? Será que temos coragem de viver aventuras?"
O elevador parou no décimo quarto andar. Quarto 1408. Fabiana passou o cartão magnético e a porta se abriu com um clique que ecoou como o gatilho de uma arma. Nós dois queríamos mas tínhamos medo.
A janela em arco pleno enquadrava a Catedral da Sé, suas torres góticas iluminadas contra o céu de poluição dourada de São Paulo. Fabiana caminhou até a vidraça, seu corpo uma silhueta recortada contra as luzes da cidade.
"Vous êtes prêt, mon amour?" ela perguntou em francês, língua que aprendera nos verões passados em Bruxelas com a avó.
Antes que eu pudesse responder, a campainha soou. Eu criara uma situação, um defeito no chuveiro, para que chamássemos alguém para consertar. Eu desligara o disjuntor do chuveiro. Então ela deveria ficar só de toalha e provocar quem viesse. Afirmei que ela não teria coragem.
Contudo, para minha surpresa ela maliciosamente tirou a roupa, se enrolou numa toalha e ligou para o serviço de quarto. Pasmo a escutei afirmar que não conseguira fazer o chuveiro aquecer e que, sozinha, precisava de alguém para revolver aquele defeito.
Ato continuo ela veio a mim e me beijou de uma forma apaixonada. Disse que eu teria hoje uma história para registrar em minha Olivetti. Combinamos que me esconderia no armário para observá-la. Nunca vi Fabiana tão excitada.
Paulo, o carregador de malas, estava à porta. Vinte e oito anos, ombros largos sob o uniforme impecável do hotel. Ex-seminarista, como descobriríamos depois, com uma tatuagem no pulso esquerdo: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará".
"A senhora solicitou assistência com o chuveiro?" ele perguntou, olhos fixos em Fabiana enrolada em uma toalha.
Minha esposa assentiu, um sorriso enigmático nos lábios. "Sim, não consigo fazê-lo funcionar. Poderia dar uma olhada?"
Paulo entrou, seguido por Rafael, um jovem de vinte e dois anos que eu não esperava. Estudante de arquitetura da FAU-USP, como nos contaria mais tarde. Fazia bicos para se sustentar.
Fabiana os conduziu ao banheiro, sua voz uma melodia sedutora. Eu, escondido no closet, sentia meu coração martelando como os pistões da São Paulo Railway.
Escutei ela pronunciar que eles eram muito simpáticos e bonitos. Eles por sua vez a elogiaram também.
Bom, logo descobriram que o disjuntor estava desligado. Desta forma, ficara claro a motivação daquela casadinha quase nua. Quando retornaram para o quarto, ainda existia um certo embaraço em todos. Conversaram um pouco sobre assuntos aleatórios. O clima de desejo foi se instaurando.
Pude notar o volume em suas calças. Não tinha como Fabiana não reparar naqueles cacetes quase pulando em cima dela. Foi quando propositadamente deixou a toalha cair no chão.
O que se seguiu foi algo inacreditável para um casal monogâmico. Através da fresta da porta, como uma janela para a vida, vi cenas que me atordoam até hoje.
Vi nitidamente Paulo pondo-a sentada na cama. Minha esposinha abriu o zíper dele e tirou seu pau enorme para fora. Mal pude acreditar no que via. Minha amada com um cacete enorme na mão, numa gostosa punhetinha. Logo depois começou a lamber aquele mastro com volúpia. Ato contínuo enfiou todo na boca, chupava e lambia igual a uma vadia.
Minha Olivetti pesava em minhas mãos. Cada gemido, cada suspiro, cada palavra sussurrada era tinta para minha narrativa ainda não escrita. Sentia agonia, mas ao mesmo tempo excitação.
Rafael por sua vez esperava o momento certo. Nu, massageava seu cacete. Fabiana então largou Paulo e caiu de boca no pau descomunal do segundo macho. Nunca pensei que minha mulherzinha linda, mãe de meu único filho, fosse tão tarada e safada, mais isso me deixava muito excitado. Queria dois. Insaciável.
Após muita felação Paulo puxou Fabiana, abriu suas pernas e atolou aquele cacete enorme na bucetinha de minha mulher. Vi minha mulher de pernas abertas e Paulo ajoelhado no chão metendo uma pica gigantesca naquela fenda que só eu conhecia.
Iniciou bem devagarzinho e depois foi acelerando. Fabiana gemia muito. A cena diante de mim transcendia o carnal. Era uma performance ritualística, uma celebração pagã do corpo e da cidade. Fabiana, minha Vênus paulistana, entregava-se não apenas ao prazer, mas a uma busca metafísica por transcendência.
Ele a fodia com força. Ela delirava, mexia sua cintura para entrar mais e mais. Ela não parava de olhar para mim no armário. Ele gozou na bucetinha dela.
Era a vez de Rafael. Ele a mandou cavalgar. O pau entrou rasgando sua xaninha. Ela foi cavalgando lentamente, pegou os braços dele e levou até seus seios. Foi então que Paulo veio até minha esposinha inclinou para frente e começo a estocar o cuzinho dela.
Ela a princípio negou afirmando que não costumava fazer anal com seu marido. Ignorando tais lamúrias, ele lubrificou o pau e começou a penetra-la.
Nítido que no início ela sentiu dor. Contudo com o passar do tempo o tesão aflorou nela. Eram dois machos, na bucetinha e no cuzinho. Foi uma cena deliciosa vê-la ser devorada.
Horas se passaram como minutos. O cheiro de café coado no filtro de pano invadiu o quarto, misturando-se ao aroma de suor e desejo. Lá fora, os primeiros acordes de um samba-enredo da Vai-Vai flutuavam pela janela entreaberta.
Os machos gozaram juntos dentro dela largando-a inerte e suja na cama. Paulo e Rafael se foram deixando para trás apenas o eco de seus passos no corredor e o perfume de suas peles nos lençóis.
Saí do closet para encontrar Fabiana nua na cama. Ao mirá-la pelo espelho, seu corpo era uma tela de Modigliani banhada pela luz dourada do amanhecer paulistano.
"Ce soir, j'ai compris que le désir est une langue que Carlos et moi parlons avec des accents différents," ela murmurou.
Abracei-a por trás, nossos olhares se encontrando no espelho. Fabiana me beijou ternamente e disse que me amava muito por deixa-la realizar suas fantasias, e que faria tudo que eu quisesse se eu deixasse ela ter outras aventuras iguais a essa.
Disse-lhe que a amava também e que faria qualquer coisa para vê-la feliz, apenas não queria que ela fizesse isso sem eu estar junto.
"A noite acabou, meu amor," ela disse, "mas nossa história está apenas começando."
E assim, entre o aroma de café fresco e o murmúrio crescente da cidade despertando, compreendi que nossa aventura no Hotel Esmeralda era apenas o primeiro capítulo de uma saga que prometia desvendar não apenas nossos desejos mais profundos, mas também os segredos sombrios que São Paulo guardava em suas entranhas de concreto e aço.