Angela era uma mulher de pele clara, cabelos negros como a noite e olhos castanhos profundos, que carregavam um misto de determinação e cansaço. Seu corpo curvilíneo, que um dia já fora motivo de orgulho, agora parecia apenas um peso a mais para carregar em meio às batalhas diárias. Mãe solteira, ela enfrentava a vida sozinha desde que seu marido a abandonara, logo após o nascimento de seu filho. Aquele dia, quando ele pegou suas coisas e saiu sem olhar para trás, marcou o início de uma luta que já durava quatro anos. Quatro anos de noites mal dormidas, de contas empilhadas sobre a mesa da cozinha, de lágrimas escondidas do pequeno que dependia dela.
Ela trabalhava como enfermeira em um asilo, um emprego que escolhera por necessidade, mas que também a conectava a algo maior: cuidar de quem já não tinha mais ninguém. O cheiro de desinfetante, os corredores silenciosos e os gemidos baixos dos idosos eram sua rotina. Mas, ultimamente, até esse refúgio estava se tornando insuportável. As dívidas cresciam como uma sombra que engolia tudo ao seu redor. A inflação havia destruído as poucas economias que ela conseguira juntar com tanto sacrifício, e o aluguel, esse monstro implacável, estava prestes a vencê-la. Ela sabia que, se não fizesse algo, logo estaria na rua, com seu filho nos braços, sem um teto para protegê-los.
Numa tarde quente e abafada, Angela estava sentada em um banco de madeira perto da área recreativa do asilo. O sol queimava o topo de sua cabeça, mas ela mal notava. Seus pensamentos giravam em círculos: as contas atrasadas, o olhar faminto de seu filho, a voz fria do senhorio ao telefone. Ela segurava um copo d’água vazio nas mãos trêmulas, perdida em sua angústia, quando ele apareceu. Um homem negro, alto e forte, mas visivelmente marcado pelo tempo, sentou-se ao seu lado sem cerimônia. Ele devia ter uns 60 anos, talvez mais, com rugas profundas sulcando o rosto e mãos calejadas que contavam histórias de uma vida dura. Sua roupa estava desgastada, mas havia uma energia nele, algo astuto e implacável, que a fez erguer os olhos.
— O que tá te incomodando, moça? — perguntou ele, a voz rouca, mas firme, como se já soubesse a resposta.
Angela hesitou. Não queria falar, não com um estranho, não com alguém que parecia carregar seus próprios fardos. Mas ele insistiu, com um olhar que parecia enxergar através dela, e algo dentro dela cedeu. As palavras começaram a escapar, primeiro tímidas, depois torrenciais. Ela contou sobre o abandono, sobre o filho que precisava dela, sobre as dívidas que a sufocavam. E então, as lágrimas vieram, quentes e incontroláveis, escorrendo pelo rosto enquanto ela tentava esconder o choro com as mãos.
Ele ouviu tudo em silêncio, sem julgá-la, apenas observando. Quando ela terminou, exausta, ele se inclinou um pouco mais perto e disse, com uma calma desconcertante:
— Eu posso te ajudar. Mas é por um favor.
Angela franziu o cenho, confusa.
— Como assim? — perguntou, a voz ainda trêmula.
Ele a encarou por um instante, como se pesasse as palavras, e então fez a proposta:
— Se você me chupar, eu te dou 150 reais.
Por um segundo, o mundo parou. Angela soltou uma risada seca, nervosa, quase histérica. Era um absurdo, uma ofensa. Ela olhou para ele, incrédula, e viu que ele não estava brincando. Mesmo assim, respondeu:
— O senhor tá louco? Eu não posso desrespeitar alguém da sua idade, ainda mais aqui, onde eu trabalho. Isso me custaria o emprego, tudo o que eu tenho.
Ela balançou a cabeça, tentando afastar a ideia ridícula da mente. Mas ele não recuou. Apenas deu de ombros e disse, com um tom calmo e insistente:
— Pense na proposta, moça. Só pense.
Naquela noite, em casa, Angela não conseguia esquecer aquelas palavras. Ela estava na sala apertada, o silêncio cortado apenas pelo som da TV ligada no volume baixo. Seu filho dormia no quarto ao lado, mas ela sabia que ele acordaria pedindo leite — leite que ela não tinha. As roupas dele estavam pequenas, os sapatos gastos, e o dinheiro que ela ganhava mal dava para o básico. Sentada no sofá, com as mãos no rosto, ela sentiu o peso do desespero apertar seu peito. Foi então que a proposta daquele homem voltou à sua mente, como um eco que ela queria ignorar, mas que se recusava a desaparecer. Ela fechou os olhos, dividida entre a vergonha e a necessidade, e, pela primeira vez, pensou em aceitá-la.