O SABOR DE UMA DOCE VINGANÇA ! Cap.12

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 3417 palavras
Data: 28/03/2025 02:04:49

A sorveteria estava começando a ficar mais calma, já que a maioria dos clientes tinha ido embora depois do movimento da tarde. Eu já tinha passado boa parte do dia atendendo e fazendo os preparativos, e, depois da entrevista com Mateus, sabia que precisava contratar alguém para dar uma mão.

Não era só por questão de volume de trabalho, mas também porque eu sabia que o jogo estava começando a tomar forma, e, para cada jogada, eu precisava de peças controladas. Mateus era apenas uma delas. Eu precisava de mais. Então, quando o novo candidato chegou, eu não estava com muita paciência.

Ele se apresentou como Wellington, um cara aparentemente sem muita personalidade. O cabelo desalinhado e o olhar vago me fizeram questionar como ele conseguiria dar conta do trabalho. Quando ele entrou pela porta, eu mal o encarei, apontando para a cadeira sem nenhum entusiasmo.

— Senta. Vamos logo com isso. — Eu disse, com um tom de impaciência.

Ele obedeceu sem dizer uma palavra. O cara tinha uma postura tão sem graça que me fez quase me perguntar como ele ainda conseguia se manter com emprego. Não que eu me importasse muito com isso, mas estava começando a achar que tudo ali era só uma perda de tempo. Ele não tinha nada de especial.

— Me conta um pouco sobre você, Wellington — eu comecei, sem mostrar muito interesse.

Ele hesitou por um momento, como se procurasse as palavras certas para justificar sua existência.

— Bem... eu trabalhei em alguns lugares... já fui caixa, ajudante de garçom. Acho que posso me virar com qualquer coisa... — Ele respondeu, sua voz trêmula, mais uma tentativa desesperada de se mostrar útil.

Eu arqueei uma sobrancelha, claramente cético.

— Pode? — Minha voz carregava deboche, quase como se eu estivesse duvidando de suas palavras. — O que você sabe fazer que me faria querer te contratar? Sabe lidar com clientes difíceis?

Ele fez uma cara de quem queria parecer mais experiente do que realmente era.

— Claro... já lidei com vários tipos de clientes. Eu sei como manter a calma. — Ele parecia tentar se convencer mais do que convencer a mim.

Eu respirei fundo, quase exausto de tanta mediocridade.

— Sabe, eu estava esperando um pouco mais. Algo mais impressionante. — Eu disse, sem disfarçar meu desapontamento. — Mas tudo bem. Vamos ver como você se sai. Comece amanhã.

O rosto de Wellington se iluminou de forma exagerada, como se tivesse ganhado na loteria. Ele se levantou rapidamente, mais aliviado do que satisfeito.

— Obrigado, obrigado mesmo! — Ele disse, quase tropeçando nas palavras, antes de sair pela porta.

Quando ele se foi, a porta se fechou com um estrondo silencioso. Eu fiquei ali por alguns segundos, me perguntando se alguma coisa daquilo realmente valia a pena. Mas então, comecei a me distrair, pensando no que estava por vir. Eu já tinha a maioria das peças no lugar e, agora, tudo o que eu precisava era dar o passo final.

Eu estava quase no meio dos meus próprios pensamentos, enquanto arrumava o caixa e olhava as contas, quando a porta da frente se abriu de repente, interrompendo a quietude da noite.

Foi quando tudo aconteceu.

Três homens entraram, sem avisar, com capuzes que cobriam boa parte dos rostos. Eu ainda estava tão perdido em meus próprios pensamentos que não percebi imediatamente o que estava acontecendo. Um dos bandidos apontou uma arma para mim, e, por um segundo, o mundo ao meu redor parou.

— Fica quieto, seu filho da puta! — O homem gritou, enquanto o outro se aproximava rapidamente do caixa.

Eu não soube o que fazer no primeiro momento. O que mais me incomodava, porém, não era o fato de estar sendo assaltado, mas a forma como o pânico se espalhou dentro de mim. Eu não queria mostrar fraqueza, não queria deixar que eles vissem que eu estava abalado, então continuei parado, com os olhos fixos na arma que agora estava apontada diretamente para o meu rosto.

O outro bandido começou a pegar o dinheiro do caixa, empurrando as notas de forma desordenada, como se estivesse num frenesi. Eu vi a grana sendo levada, e o que mais me incomodou foi a facilidade com que eles estavam fazendo isso. Como se fosse a coisa mais simples do mundo.

Meu estômago se revirava, e a raiva começou a se acumular. Eu queria gritar, queria avançar. Mas algo dentro de mim me impediu. Talvez fosse o medo de que tudo fosse sair de controle. Ou talvez fosse a sensação de impotência, uma coisa que eu não sentia há anos.

Eles pegaram o dinheiro, olharam para mim e se prepararam para sair. Eu respirei fundo, sentindo a raiva crescendo a cada segundo. Eu sabia que precisava agir. Não podia ficar ali, assistindo a tudo sem fazer nada. Mas eu também sabia que devia ser inteligente.

— Vou chamar a polícia. — Eu disse, a voz mais calma do que eu imaginava.

O homem da arma me olhou por um segundo, com uma expressão que parecia questionar se eu tinha coragem de realmente fazer isso.

— Vai lá, então. Só não tente fazer nada engraçado. — Ele fez um sinal com a arma, e eu aproveitei a chance para me afastar lentamente.

Assim que eles saíram, eu corri até o telefone, ainda com o coração disparado. Eu sabia que a situação não tinha acabado, e que eu não poderia simplesmente deixar isso pra lá. Eu liguei para a polícia, e quando a ligação terminou, minha mente estava acelerada. A raiva ainda borbulhava dentro de mim, mas agora, eu tinha que manter a calma. O controle era a única coisa que eu poderia ter naquele momento.

Eu só não sabia que Arthur apareceria.

Minutos depois, a sirene da polícia ecoou pela rua, e o carro estacionou na frente da sorveteria. Quando vi Arthur sair do carro, um nó se formou na minha garganta. Ele estava ali. O policial da cidade, o cara que eu jamais quis ver. O homem que fez parte da minha vida em momentos que eu preferia esquecer. Aquele que nunca entendeu o que eu realmente sentia.

Ele se aproximou de mim com a expressão impassível de sempre, mas eu podia ver algo no olhar dele — uma mistura de preocupação e talvez até de curiosidade.

— Senhor... — Ele disse, tentando ser amigável, mas sua voz era pura formalidade. — O que aconteceu aqui?

Eu não sabia se o ódio que eu sentia por ele era mais forte do que o ódio pelos bandidos, mas eu sabia que uma coisa era certa. Eu queria explodir. A raiva que estava reprimida dentro de mim há anos, a sensação de impotência que sempre me acompanhou quando ele estava ao meu redor, tudo isso estava vindo à tona.

Eu olhei para ele, e, pela primeira vez em muito tempo, pensei em avançar. A raiva estava crescendo, dominando meu corpo. Eu queria gritar, queria socá-lo, mas, ao mesmo tempo, sabia que isso não faria diferença. Eu estava sendo usado por ele o tempo todo, e eu não podia deixar isso acontecer de novo.

Mas o que eu fiz? Eu simplesmente olhei para ele com desprezo e dei as costas.

— Não importa... Só faz seu trabalho e me deixa em paz. - Ele me encarou sem entender!

E foi com essa raiva acumulada que eu vi ele começar a se aproximar dos outros policiais. Eles estavam investigando a cena, enquanto eu fiquei ali, me perguntando por quanto tempo ainda iria carregar essa sensação de impotência.

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O despertador tocou às cinco e meia da manhã, mas eu já estava acordado. Coloquei um short leve, uma camiseta seca e os fones de ouvido. Assim que pisei na rua, dei play na minha playlist favorita—Adele, como sempre. As batidas ritmadas me ajudavam a manter o passo constante enquanto eu atravessava as ruas ainda vazias da cidade.

O ar fresco da manhã batia no meu rosto, e a sensação de liberdade tomava conta de mim. Cada passada era um lembrete de que eu não era mais aquele garoto frágil do passado. Agora, eu era alguém que podia correr para onde quisesse—e que, no momento certo, faria os outros correrem também.

Depois de quase uma hora, fiz meu caminho de volta, suado, mas satisfeito. Antes de ir para casa, resolvi parar na padaria do centro para um café.

A padaria já estava movimentada. Trabalhadores pegavam seus pães para viagem, senhores aposentados tomavam café calmamente, e o cheiro de pão na chapa se misturava ao aroma do café recém-passado.

Pedi um pão com manteiga na chapa e um café puro. Me sentei no balcão, aproveitando o momento.

— Ô coisa boa — murmurei para mim mesmo, tomando um gole do café forte.

— Melhor coisa da manhã, né? — uma voz bem-humorada surgiu ao meu lado.

Revirei os olhos antes mesmo de virar a cabeça. Eu já sabia quem era.

Maiconsuel.

Ele estava ali, de sorriso fácil, me olhando como se o universo tivesse conspirado para nos colocar juntos mais uma vez.

— E aí, bonitão? — ele soltou, se encostando no balcão. — Já virou rotina eu te encontrar por aí, hein? Tá querendo dizer alguma coisa?

Segurei uma risada. Ele era insistente, eu tinha que admitir.

— Quer dizer que a cidade é pequena, só isso — respondi, mordendo meu pão.

Maiconsuel riu e pegou um café para si.

— Sei, sei. Mas se quiser aproveitar que a gente vive se cruzando pra, sei lá, marcar um encontro de verdade, eu topo.

Olhei para ele com uma sobrancelha arqueada.

— Você fala isso pra todo mundo ou só pra quem não tá interessado?

Ele fez uma cara dramática, como se tivesse sido atingido no peito.

— Ai, que grosso!

Dei uma risada curta, terminei meu café e me levantei.

— Valeu pela tentativa, Maiconsuel, mas tenta outra vítima.

Ele segurou o queixo, me analisando enquanto eu saía.

— Um dia você ainda cai, Pedro!

Olhei por cima do ombro e dei um sorriso debochado.

— Continua sonhando.

Saí da padaria sem pressa, ainda sentindo o gosto do café forte na boca. Maiconsuel podia tentar quantas vezes quisesse. Mas eu não era um cara fácil de convencer.

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O movimento na sorveteria estava melhor do que eu esperava. Desde cedo, os clientes entravam e saíam, e o cheiro doce de sorvete misturado com calda quente de chocolate tomava conta do ambiente. Eu observava tudo de perto, atento ao desempenho dos funcionários. Mateus até que estava se saindo bem, mas quem realmente me surpreendia era Wellington.

Quando o contratei, confesso que não esperava grande coisa. Achei que fosse mais um que só queria o emprego, sem muita habilidade. Mas eu estava errado.

Wellington trabalhava rápido, pegava os pedidos com precisão e ainda interagia com os clientes de um jeito natural, como se estivesse ali há anos. Ele era ágil, educado e, para completar, tinha um sorriso que cativava até as senhoras mais rabugentas.

— Ei, chefe — ele me chamou, enquanto servia um casal com crianças.

Fiquei ali, observando. Ele sabia exatamente como lidar com o fluxo, sem se atrapalhar.

— Tá se garantindo, hein? — comentei, cruzando os braços.

— Ué, achou que eu ia ser ruim? — ele riu, sem nem parar de trabalhar.

— Só esperava que demorasse mais pra pegar o jeito.

— Eu aprendo rápido. Gosto de trabalhar com movimento.

Dei um sorriso de canto, satisfeito. Não era sempre que eu contratava alguém realmente bom.

Enquanto isso, Mateus limpava uma mesa próxima e olhava discretamente para mim e para Wellington, como se analisasse nossa conversa. Fingi que não percebi.

Depois do almoço, decidi que era hora de ir até a delegacia. O assalto da noite anterior ainda me incomodava, e eu sabia que precisava registrar a queixa. Tranquei a sorveteria, deixando Mateus e Wellington no comando, e segui para lá.

Assim que entrei, me aproximei do balcão e…

Merda.

Arthur.

Meu corpo ficou tenso no mesmo instante. Ele estava ali, fardado, preenchendo um relatório. Quando levantou o olhar para mim, seu semblante permaneceu neutro.

— Pois não? — perguntou, profissional.

Ele ainda não tinha me reconhecido!

Fiquei parado por um momento, esperando algum sinal de reconhecimento, alguma mudança no olhar dele. Mas nada. Eu estava diante do cara que infernizou minha vida, e ele simplesmente não fazia ideia de quem eu era.

Uma parte de mim queria jogar isso na cara dele. Perguntar se ele tinha esquecido de propósito ou se apenas não se importava com as pessoas que humilhava no passado. Mas me segurei.

— Vim prestar queixa do assalto de ontem, não quis vim naquele horário, porque como já tinha falado, estava extremamente cansado!— respondi, tentando manter a voz firme.

Arthur pegou um bloco de notas.

— Nome?

Hesitei por um segundo.

— Pedro.

Ele anotou, sem qualquer reação.

— Sobrenome?

Dei um sorriso irônico.

— Pedro Lima.

Ele continuou escrevendo, sem nem levantar o olhar.

— Certo, Pedro. O que aconteceu? Faltou os detalhes ontem! Poderia ser mais detalhista... Qualquer coisa fora do comum ... Ou até algo simples... Como uma tatuagem ou piercing...

Então era isso. Eu passei anos carregando as lembranças do inferno que ele me fez passar, e para ele, eu não passava de mais um cidadão registrando uma ocorrência.

Respirei fundo, engoli a raiva e contei o que aconteceu.

Arthur me ouviu, fez algumas perguntas e seguiu anotando. Ele estava completamente profissional, sem qualquer indício de que já tinha me conhecido antes.

Quando terminei, ele fechou o bloco de notas.

— Vamos investigar. Se tiver alguma novidade, entramos em contato.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Obrigado, policial.

Arthur apenas assentiu e voltou ao que estava fazendo.

Saí da delegacia sentindo um misto de alívio e frustração. Parte de mim achava melhor assim—quanto menos ele lembrasse de mim, melhor. Mas outra parte odiava o fato de que ele tinha seguido com a vida sem nem lembrar de quem ele destruiu pelo caminho.

Mas tudo bem. Ele ia lembrar de mim em breve. Isso eu tinha certeza.

Cheguei na sorveteria direto da delegacia, ainda com a mente cheia de pensamentos sobre o encontro nada agradável com Arthur. Mas assim que entrei pelos fundos, fui recebido por um silêncio estranho.

Antes que pudesse perguntar por alguém, ouvi o barulho de água do banheiro. A porta se abriu, e meu cérebro simplesmente deu um curto-circuito.

Mateus saiu só de cueca, o cabelo ainda pingando, gotas escorrendo pelo peito definido. Mas o que realmente me pegou foi… bom, o volume evidente no meio das pernas dele.

Por um segundo, eu congelei.

Mateus me viu e soltou um sorriso de canto, claramente se divertindo com a situação.

— E aí, chefe? Como foi lá na delegacia?

Demorei um momento para entender que ele estava falando do boletim de ocorrência.

— Foi… normal. — Engoli em seco, forçando meu olhar para cima. — O policial que me atendeu parece ser um incompetente! Mas bora ver...

— O Arthur ? - Assenti - Ele é um ótimo policial!

— Então espero que ele trabalhe direito - Mateus arqueou a sobrancelha

— Bom, espero que peguem os desgraçados do assalto. — Ele se esticou preguiçosamente, o que só piorou minha situação.

Tentei focar em qualquer coisa que não fosse aquele maldito volume chamativo.

— Que diabos você tá fazendo andando assim pela sorveteria?

— Uma criança jogou sorvete em mim. Tomei um banho pra não ficar todo melecado.

Ele estava completamente relaxado, como se não estivesse ali, quase nu, me deixando sem reação.

— Tá incomodado? — provocou, com um sorrisinho.

Cruzei os braços e dei uma olhada nele, da cabeça aos pés, com um sorriso sarcástico no rosto. Aquele maldito sorriso de confiança ainda estava lá, e eu não ia deixar passar em branco.

— Mateus, faz um favor, vai? Se veste. Além de respeitar o lugar onde você trabalha, seria bom você começar a se dar o mínimo de respeito também.

Ele deu aquele sorriso de canto, tentando disfarçar, mas não adiantava. Eu já estava farto de toda aquela confiança barata.

— Relaxa, chefe. Só fui pego desprevenido.

Eu arqueei uma sobrancelha, a ironia transbordando na voz.

— Ah, claro, deve ser difícil manter a classe com essas cenas... inusitadas. Agora, se é pra continuar trabalhando por aqui, é melhor botar a roupa, porque não tô pagando pra desfile de cueca, e muito menos pra ficar vendo isso.

Me virei, sem dar chance para mais desculpas. Não precisava mais ouvir o que ele tinha a dizer.

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Fechei a sorveteria e, com o peso do dia nos meus ombros, comecei a trancar a porta. O silêncio do lugar parecia envolver tudo, mas algo ainda mexia dentro de mim, uma sensação estranha que não conseguia dissipar. Quando finalmente virei para olhar o que estava ao meu redor, foi como se o mundo tivesse parado. Lá, do outro lado da rua, ele estava. Meu pai. Eu o vi de longe, parado na calçada, com aquele olhar distante, como se o tempo tivesse simplesmente congelado entre nós. Mas, para mim, tudo se movia a uma velocidade que eu não podia acompanhar.

Fazia 16 anos desde a última vez que o vi, desde que ele me expulsou de casa, sem um olhar para trás. E ali ele estava, mais velho, talvez mais cansado, mas ainda sendo o homem que me abandonou sem piedade, sem se importar com o vazio que deixou na minha vida. Ele estava tão perto, tão real, mas parecia uma sombra distante, uma lembrança que eu nunca soube como apagar. Não sabia o que fazer, o que pensar. O que dizer, se tudo o que eu sentia por ele era um turbilhão de raiva, mágoa e uma saudade insuportável que eu nunca imaginei que carregava.

Fiquei parado, observando-o, e senti um nó tão forte na garganta que mal conseguia respirar. As palavras simplesmente não vinham. O ódio e a dor estavam entalados ali, mas também havia algo mais. Algo que eu não sabia como explicar, algo que eu não queria sentir. No fundo, eu ainda queria que ele tivesse sido o pai que eu precisava. No fundo, eu queria que ele tivesse sido o homem que me mostrasse como a vida poderia ser diferente. Mas não, ele não foi.

E então, sem que eu pudesse impedir, as lágrimas começaram a cair. Não de uma forma suave, não com um simples soluço. Foi uma chuva de emoções. Chorei como nunca antes, com a sensação de que todo o peso de uma vida sem ele desabava sobre mim naquele momento. Eu não conseguia controlar, as lágrimas simplesmente desceram sem aviso, levando comigo cada pedaço da dor acumulada ao longo dos anos. Não eram só lágrimas de tristeza, mas de raiva, de um lamento profundo por tudo o que eu não vivi, por tudo o que ele tirou de mim. Chorei por um amor que nunca foi correspondido, por um abandono que ainda ecoava dentro de mim.

Eu sabia que não podia ficar ali. Eu precisava sair, fugir. Não queria que ele visse o quanto ele ainda me afetava, o quanto eu ainda desejava que as coisas tivessem sido diferentes. Não queria mostrar a ele o quanto ele ainda mexia comigo, como ele ainda me fazia sentir um buraco dentro de mim. Então, me afastei, tentando esconder a dor, tentando controlar o que restava de mim.

Mas foi aí que ouvi os passos. Não eram os meus, eram passos mais próximos. Olhei de relance e vi Mateus. Ele estava ali, parado a uma distância, me observando. Eu sabia o que ele estava vendo. Ele sabia o que eu estava sentindo, e isso só piorou tudo. Mateus se aproximou, hesitante, talvez querendo fazer algo, talvez querendo me ajudar, mas, naquele momento, eu não queria ajuda. Eu não podia aceitar. Não com ele ali. Não quando eu ainda me sentia tão fraco, tão quebrado, tão perdido.

Ele tentou me consolar, e eu podia ver a preocupação no rosto dele. Mas eu não conseguia aceitar. Não agora. Não quando tudo o que eu sentia estava tão misturado, tão confuso, tão intenso. Eu não queria que ele me visse assim, não queria que ninguém visse a dor que eu estava carregando. Não queria que ninguém visse o quanto ainda doía, o quanto eu ainda queria que ele tivesse sido meu pai.

Ignorei a tentativa de Mateus. Ignorei a mão estendida, ignorei o gesto que parecia genuíno. Saí dali, rapidamente, sem olhar para trás, com as lágrimas ainda escorrendo, sentindo o peso de cada passo que eu dava, sentindo que, ao me afastar de tudo, estava também me afastando de uma parte de mim que eu não sabia mais como recuperar. Eu sabia que ele estava tentando me ajudar, mas, naquela hora, eu só precisava estar sozinho. Sozinho para entender a dor. Sozinho para entender o que aquele homem, meu pai, ainda significava para mim.

Continua...

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