Saí do hospital no dia seguinte ao atropelamento, ainda sentindo o corpo pesado. Não era só pela dor física, mas pelo peso dos últimos acontecimentos. Gabriel estava morto. Assassinado no posto.
Eu não sabia quem tinha feito aquilo, mas parte de mim sentia que isso encerrava um ciclo. Só que outra parte… outra parte queria respostas.
Fui direto para o ponto de encontro com Jéssica. Ela estava sentada em um banco da praça, mexendo no celular, as pernas cruzadas e a expressão despreocupada. Mas quando me viu, arqueou uma sobrancelha.
— Achei que ia demorar mais pra sair do hospital — disse ela, guardando o celular. — Tá inteirão até.
— Já passei por coisa pior.
Sentei ao lado dela e fui direto ao ponto.
— Gabriel tá morto.
Jéssica não pareceu surpresa. Ela soltou um suspiro e balançou a cabeça.
— Eu vi na internet. Foi no posto, né?
Assenti.
— Quero saber se ele te falou algo estranho antes disso.
Ela olhou para os lados, como se quisesse garantir que ninguém estivesse ouvindo, e então se inclinou um pouco na minha direção.
— Ele tava caindo no meu papo direitinho. Me chamava pra sair, mandava mensagem toda hora, bancava o pegador… até que, do nada, começou a me ignorar.
— Ignorar como?
— Parou de me responder. Até pessoalmente, quando eu tentava puxar assunto, ele parecia nervoso, fugia. No começo achei que tava me testando, mas depois percebi que era outra coisa.
Franzi a testa.
— O que mais ele disse?
— Que tinha algo errado. Que sentia que alguém tava atrás dele. Pedro, ele tava com medo. E não era de mim.
Cruzei os braços, refletindo. Gabriel era burro, mas não o suficiente para se assustar do nada. Ele tinha sentido que alguma coisa estava acontecendo. Mas quem mais poderia estar de olho nele?
— Você acha que ele sabia que ia morrer? — perguntei, analisando a reação dela.
Jéssica hesitou por um momento e então respondeu:
— Eu acho que ele sentia que tinha alguém jogando contra ele, mas não sabia quem.
Fiquei em silêncio, absorvendo aquilo. Eu queria destruir Gabriel, mas não assim. Alguém tinha chegado antes. Alguém que ele temia mais do que a mim.
Jéssica me olhou séria.
— O que você vai fazer agora?
Respirei fundo, olhando para o céu nublado acima de nós.
— Descobrir quem matou Gabriel.
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No meu primeiro dia de volta à sorveteria depois do hospital, percebi que as coisas estavam em ordem. O movimento era bom, os funcionários trabalhavam direitinho e nada parecia fora do lugar.
Eu sabia que isso tinha um motivo: Sofia.
No final do expediente, chamei ela para conversar no balcão. Ela estava contando o caixa e, quando me aproximei, ergueu os olhos e sorriu.
— Já quer saber quanto faturou hoje? — brincou.
Dei uma risada leve.
— Isso eu vejo depois. Só queria te agradecer. Sei que segurou as pontas aqui enquanto eu tava no hospital.
Sofia deu de ombros.
— Alguém tinha que fazer isso, né? Além do mais, você tava precisando de um tempo pra se recuperar.
Cruzei os braços, analisando ela.
— Mas mesmo assim… valeu.
Ela sorriu de canto.
— Então, se eu pedir um aumento, você vai considerar?
Revirei os olhos e dei uma risada.
— Você nem trabalha aqui mulher - Ela riu - espero que não esteja atrapalhando seu trabalho no hospital!
- Não está amigo! - Eu respirei aliviado!
Ficamos conversando mais um pouco, até que percebi que alguém tinha sumido da sorveteria. Mateus. E olhando melhor percebi que Welington tinha ido pegar suas coisas pra ir embora, mas ainda não tinha aparecido! Estranhei então resolvi dar uma olhada nos fundos.
Caminhei pelo corredor até a porta dos fundos e, assim que abri, me deparei com uma cena que me fez congelar por um segundo.
Mateus estava encostado na parede, e Wellington, um dos funcionários, estava colado nele, os dois se beijando como se não houvesse amanhã.
Por um instante, tudo ficou em silêncio na minha mente. Era como se eu tivesse visto algo impossível. Mateus… beijando outro cara? E bem ali!
Eu poderia ter feito um escândalo, poderia ter debochado, poderia ter falado um milhão de coisas… mas me controlei.
Respirei fundo, recuperei minha postura e pigarreei.
Os dois se afastaram na hora, arregalando os olhos ao me ver. Mateus ficou pálido. Wellington também parecia sem jeito.
Cruzei os braços e apenas disse, com a voz firme:
— Aqui não é lugar pra tá se beijando.
Mateus abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. Ele parecia perdido, como se não soubesse se justificava ou apenas fingia que nada aconteceu.
Wellington foi o primeiro a se mexer, saindo apressado dali. Mateus ficou parado, me encarando.
— Pedro, eu…
Levantei a mão.
— Não quero saber. Só tenta não transformar isso num problema pro trabalho, entendeu?
Ele assentiu devagar.
— Entendi.
Virei as costas e saí dali, sentindo meu coração batendo rápido. Não era raiva. Não era nojo. Era outra coisa. Algo que eu ainda não sabia explicar.
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No caminho de volta para casa, meu celular vibrou algumas vezes. Quando peguei para olhar, vi que eram mensagens do Flávio. Muitas mensagens.
**Flávio:** *"Como você tá, gatinho? Tá melhor?"*
**Flávio:** *"Tava pensando em você agora há pouco..."*
**Flávio:** *"Se cuida, viu? Se precisar de alguma coisa, é só falar comigo!"*
**Flávio:** *"Manda foto da sua carinha, quero ver se tá bem."*
Revirei os olhos e soltei um riso fraco. Flávio tinha esse jeito grudento, mas de um jeito estranho, eu não odiava. Não respondi na hora, só deixei o celular de lado e segui para o meu apartamento.
O prédio onde eu morava era o mais chique da cidade. Quando decidi voltar para cá, fiz questão de comprar o melhor lugar possível. Se eu ia passar um tempo nesse fim de mundo, pelo menos seria com conforto.
Subi pelo elevador panorâmico, apreciando a vista da cidade lá de cima. Quando entrei no apartamento, tirei os sapatos, larguei as chaves na mesa e fui direto para a sala.
Acendi as luzes e liguei a TV. E coloquei A Múmia com Brendan Fraser. Fazia tempo que eu não assistia. Joguei-me no sofá e deixei o filme rodar, enquanto pegava meu celular de novo.
Passei os olhos pelas mensagens de Flávio, mas o que realmente estava na minha cabeça era outra coisa.
Gabriel.
Quem matou Gabriel?
Isso não fazia parte do meu plano. Eu queria destruir ele, mas de um jeito que ele sofresse, que ele perdesse tudo antes de morrer. Só que alguém chegou antes e fez o serviço.
Mateus já sabia? Arthur, que agora era policial, já sabia? Provavelmente sim. Eu poderia ter perguntado a Mateus hoje na sorveteria, mas não quis tocar no assunto. Melhor ficar na minha e observar por enquanto.
No filme, Brendan Fraser enfrentava uma múmia, mas minha cabeça já estava longe.
Fui para a cozinha enquanto respondia as mensagens de Flávio. Peguei um copo de água e encostei no balcão, digitando com calma.
**Eu:** *"Tô bem, só cansado. Dia cheio."*
**Flávio:** *"Imagina... Se quiser relaxar, posso te ajudar, viu?"*
Revirei os olhos, rindo de leve.
**Eu:** *"Ah é? E como?"*
**Flávio:** *"Quer que eu mostre?"*
Levantei a sobrancelha, já sentindo o tom da conversa mudar. Antes que eu pudesse responder, uma nova mensagem chegou. Não era só texto.
Abri a foto.
Arregalei os olhos.
— Puta merda... — murmurei.
O tamanho... bom, não era pequeno. Nem perto disso.
Bloqueei a tela do celular na mesma hora e passei a mão no rosto, respirando fundo. Flávio era completamente sem freios.
Deixei o celular de lado, terminei minha água e voltei para a sala. A Múmia ainda estava passando, mas eu já não estava prestando tanta atenção no filme. Minha mente estava trabalhando em outra coisa.
Eu precisava descobrir quem matou Gabriel. Alguém fez o serviço por mim, mas isso não significava que eu podia simplesmente ignorar. Se essa pessoa tinha algo contra Gabriel, poderia ter contra mim também.
Talvez contratar um detetive fosse uma boa ideia. Alguém discreto, que pudesse investigar sem chamar atenção.
E, além disso, estava na hora de começar a planejar o próximo passo. Arthur.
Ele me fez sofrer por anos. Me humilhou, me fez sentir pequeno. Agora era minha vez de fazer ele pagar.
O jogo estava só começando..
Meu celular vibrou de novo. Eu sabia que era o Flávio antes mesmo de olhar.
**Flávio:** *"E aí, gostou da foto?"*
Dei uma risada baixa, balançando a cabeça. Peguei o celular e respondi.
**Eu:** *"Gostei. Mas não vou retribuir."*
A resposta veio rápido.
**Flávio:** *"Nem precisa, gatinho. Sei que sou privilegiado só de ter sua atenção."*
Revirei os olhos, mas não pude evitar um sorriso. Flávio tinha esse jeito exagerado que, de algum jeito, funcionava.
A conversa seguiu, até que ele soltou:
**Flávio:** *"Que tal sair um pouco? Bora comer um cachorro-quente na pracinha?"*
Pensei em recusar. Meu plano era ficar em casa, talvez terminar de assistir *A Múmia*, mas por alguma razão, acabei respondendo:
**Eu:** *"Beleza. Passa aqui."*
Poucos minutos depois, ouvi o barulho de moto lá embaixo. Peguei as chaves e desci.
Flávio estava encostado na moto, me esperando com aquele sorriso convencido de sempre.
— Sabia que ia aceitar — disse ele.
— Convencido.
Ele me entregou um capacete, e eu subi na garupa.
A cidade estava tranquila àquela hora. O vento batia no rosto enquanto seguíamos até a pracinha, e por um momento, me permiti apenas aproveitar o passeio.
Quando chegamos, Flávio desceu primeiro e tirou o capacete, bagunçando os cabelos. Eu fiz o mesmo, e fomos direto para a barraca de cachorro-quente.
— Quero um grande, com tudo dentro — disse ele para o vendedor.
— O meu também — falei, encostando no balcão.
Enquanto esperávamos, Flávio ficou me olhando, com um sorriso de canto.
— O quê? — perguntei.
— Nada. Só acho engraçado como você tenta bancar o durão o tempo todo.
— Eu *sou* durão.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Sei. Mas tem um lado seu que eu tô começando a ver… e tô achando interessante.
Franzi a testa.
— Que lado?
— Um lado que gosta de atenção. Que gosta quando eu te mimo.
Abri a boca para responder, mas o vendedor chamou nossa atenção. Pegamos os cachorros-quentes e sentamos em um banco próximo.
Flávio começou a comer e, a cada mordida, soltava um som satisfeito, como se fosse a melhor coisa do mundo.
— Isso aqui é perfeito, na moral — disse ele, a boca ainda cheia.
Não consegui evitar uma risada. Ele tinha esse jeito espontâneo, meio bobo, que era difícil de ignorar.
Conforme a conversa fluía, percebi que estava gostando da companhia dele mais do que esperava. Flávio não era só pegador e piadinhas ousadas. Ele era… fofo.
E isso estava começando a me afetar.
Depois de terminarmos os cachorros-quentes, Flávio jogou a embalagem no lixo e olhou para mim com aquele sorriso convencido.
— Vem cá, vou te levar num lugar.
— Que lugar? — perguntei, desconfiado.
— Confia em mim. Você vai gostar.
Revirei os olhos, mas acabei subindo na moto de novo. Flávio acelerou pelas ruas da cidade, e logo percebi que estávamos subindo uma estrada que levava para um dos pontos mais altos dali.
Quando chegamos, ele estacionou e desceu, me chamando com um gesto de cabeça.
— Vem ver isso.
Andei até a beira do mirante e encarei a vista. Lá de cima, dava para ver toda a cidade iluminada. As luzes brilhavam contra a escuridão da noite, criando um cenário quase hipnotizante.
— Impressionado? — Flávio perguntou, encostando-se na mureta ao meu lado.
— É bonito — admiti.
Ficamos um tempo em silêncio, apenas observando. O vento fresco batia no rosto, e por um instante, parecia que o mundo inteiro tinha desacelerado.
Então, do nada, senti a mão de Flávio no meu braço, puxando-me de leve para mais perto.
Quando virei o rosto para encará-lo, ele já estava ali, perto demais.
E então ele me beijou.
Por um momento, hesitei. Mas depois me permiti corresponder. O beijo era quente, intenso, como tudo nele.
Só que então, enquanto nos beijávamos, senti algo.
A ereção dele pressionando contra mim.
Isso me trouxe de volta à realidade na hora.
Afastei-me um pouco, respirando fundo.
— Calma aí — falei, colocando uma mão no peito dele.
Flávio me olhou, os lábios ainda entreabertos, como se tentasse recuperar o fôlego.
— Foi mal — disse ele, passando a mão pelos cabelos. — É que… com você, é difícil segurar.
Eu ri de leve, balançando a cabeça.
— Vamos com calma, tá?
Ele suspirou, mas sorriu.
— Tá bom. Mas só porque você pediu bonitinho.
Revirei os olhos, mas não pude evitar um sorriso também.
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Acordei cedo, como de costume. A madrugada ainda não havia se dissipado completamente, mas as primeiras luzes do dia começavam a pintar o céu de um azul claro. Me espreguicei na cama, sentindo a leve dor nos músculos do corpo, resultado da corrida do dia anterior. Mas não ligava, o exercício me fazia bem, ainda mais com tantas coisas na cabeça.
Me levantei com certa pressa, vestindo a roupa de corrida com movimentos automáticos. Eu não sabia bem o que estava acontecendo comigo, mas a corrida me ajudava a clarear os pensamentos. Eu precisava de algo para me distrair. Afinal, tinha a morte de Gabriel que ainda me assombrava, o beijo de Flávio que me deixava perdido e, claro, a tensão em torno da sorveteria. A necessidade de um desfecho para essas questões estava me consumindo.
Fui até a janela do meu quarto e fiquei olhando por um momento, observando a cidade se mexendo lá embaixo, lenta e gradualmente acordando. A tranquilidade daquele instante fez meu coração bater mais devagar. Ainda pensei em Gabriel e no mistério que rodeava sua morte, mas logo desisti disso. Eu precisava colocar tudo isso para o lado por um tempo.
Suspirei e fui para a cozinha preparar um café rápido, antes de colocar meus tênis e sair para a corrida. Quando a cafeteira terminou de fazer o café, tomei uma xícara rápida e fui para a porta, respirando fundo.
O ar da manhã estava fresco e revigorante. Caminhei por algumas ruas vazias, observando as primeiras pessoas começando o dia. As casas estavam silenciosas, apenas o som das folhas sendo movidas pelo vento quebrava o ambiente quieto. Eu já estava começando a entrar no meu ritmo, quando percebi que alguém estava correndo ao meu lado.
Era o Maiconsuel.
Ele parecia bem determinado, mantendo o passo rápido. A princípio, tentei ignorá-lo, mas ele logo me cumprimentou com um sorriso exagerado, como se tivesse uma missão a cumprir.
— E aí, Pedro! Bom dia, irmão!
— Oi — respondi, tentando manter o foco.
Eu tentei continuar correndo no meu ritmo, mas não demorou muito para Maiconsuel começar a corresponder minha velocidade. Ele estava me acompanhando. O problema é que ele não parecia entender muito bem os limites, e em pouco tempo, ele já estava ao meu lado, se mostrando ainda mais insistente.
— Você já reparou como as ruas estão mais vazias de manhã? — ele comentou, enquanto corria tranquilamente.
Fiquei quieto, não queria fazer muita conversa. Meu objetivo era simples: correr, não conversar. Mas ele continuava, tentando puxar papo como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— Por que você fica tão quieto, cara? Vamos bater um papo!
Suspirei e diminui o ritmo, finalmente parando de vez. Ele me seguiu, também parando ao meu lado.
— Maiconsuel, vou ser direto com você — comecei, tentando ser o mais honesto possível. Eu sabia que ele era insistente, mas estava na hora de deixar as coisas claras. — Não vai rolar nada entre a gente, tá?
Ele me olhou, aparentemente surpreso, e então sorriu com uma sinceridade que me pegou de surpresa.
— Ah, claro, eu sei. Só queria tentar mesmo. Mas tudo bem. Eu entendo, Pedro. A vida é assim. E, se você não quiser, eu respeito.
Parei por um segundo para processar as palavras dele. Eu esperava que ele ficasse chateado, mas ele estava apenas... aceitando. Aquilo me pegou desprevenido, e, de alguma forma, me fez perceber que ele era mais maduro do que eu imaginava.
— Então a gente pode ser amigo, né? — falei, tentando suavizar a situação.
— Claro, amigão! — respondeu, estendendo a mão de forma amigável, como se fosse um acordo formal.
Sorri, sentindo uma leveza no ar entre nós dois. Apertei sua mão e, sem mais palavras, começamos a correr novamente, dessa vez sem o peso da expectativa. O ritmo estava mais tranquilo, como se ambos estivéssemos aproveitando o momento. Não demorou muito para a corrida chegar ao fim, mas o que eu mais percebi durante todo o percurso foi como meu coração estava mais leve. Não era só o exercício, era como se a tensão tivesse diminuído. Talvez a amizade com Maiconsuel fosse o que eu precisava.
***
Cheguei de volta à minha casa e, com um sorriso ainda no rosto pela boa corrida, entrei no banho. A água quente caía sobre mim e eu ficava ali, de olhos fechados, tentando entender tudo o que estava acontecendo na minha vida. O beijo de Flávio ainda estava na minha mente, mas eu sabia que precisava de mais tempo para pensar no que aquilo significava.
Me vesti rapidamente e fui direto para a sorveteria. As portas estavam abertas e o lugar já estava preparado para mais um dia de trabalho. Ao entrar, o cheiro doce das frutas e cremes gelados tomou conta de mim. Aquela sorveteria ainda era uma parte importante da minha vida, mesmo com todos os problemas que surgiram. Eu queria focar nisso, queria que a rotina fosse normal, mas parecia que o destino estava me empurrando para uma direção diferente.
Assim que entrei, o celular vibrou no meu bolso. Tirei ele rapidamente e, para minha surpresa, era uma ligação da delegacia.
“Delegacia? Que porra é essa?” pensei, meio em pânico.
Atendi com o coração acelerado.
— Alô?
— Senhor Pedro? Aqui é da delegacia da cidade. O senhor poderia comparecer o mais rápido possível?
— Aconteceu alguma coisa? — a tensão na minha voz era inevitável.
— Sim, senhor. Pegamos os assaltantes da sua sorveteria. Precisamos que o senhor venha para prestar esclarecimentos.
Fiquei em choque por alguns segundos. O quê? Eles pegaram os caras? Eles pegaram os assaltantes? Minha mente foi tomada por um turbilhão de perguntas. Quem eram eles? O que estavam fazendo ali? Como é que pegavam os caras tão rápido?
— Pegaram? Como assim, pegaram? — minha voz estava quase imperceptível, um fio de incredulidade em cada palavra.
— Sim, senhor. Eles foram reconhecidos em uma outra ocorrência e confessaram o roubo à sua sorveteria. Precisamos que o senhor compareça para que possamos concluir os trâmites.
Eu estava sem palavras. Minha respiração estava mais pesada agora.
— Eu tô indo agora — consegui dizer, já começando a andar para fora da sorveteria, com a cabeça a mil.
Desliguei e fiquei parado na calçada por alguns segundos. Eu não conseguia processar tudo o que estava acontecendo. Pegaram os assaltantes... Mas o que isso significava? Por que tinham roubado a minha sorveteria?
O silêncio ao meu redor parecia insuportável enquanto minha mente começava a formular possíveis respostas. O caminho até a delegacia parecia distante, como se cada passo me separasse ainda mais daquilo que eu queria descobrir.
Eu precisava de respostas. E, quem sabe, mais do que respostas, eu precisava entender quem realmente estava por trás de tudo aquilo.
Continua...