O SABOR DE UMA DOCE VINGANÇA ! Cap.16

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 4415 palavras
Data: 31/03/2025 18:43:14

A manhã começou tranquila, mas havia algo no ar que parecia me deixar inquieto. O sol ainda estava baixo no horizonte, e a cidade ainda estava acordando enquanto eu colocava os tênis para mais uma corrida matinal. Uma rotina que, com o tempo, passou a me ajudar a organizar meus pensamentos, e que eu não consegui abandonar, nem quando a vida parecia estar fora de controle.

Terminei o treino, me sentindo mais leve, mas a verdade é que a cabeça estava cheia. A sorveteria me esperava, mas, antes de qualquer coisa, precisava entender um pouco mais sobre as coisas que estavam acontecendo. Especialmente sobre Flávio. Algo nele me intrigava. Ele estava sempre por perto, e eu não conseguia entender o motivo. Ele parecia ser o cara legal, o amigo atencioso, mas a questão era... o que ele queria de mim?

Cheguei à sorveteria e, como sempre, o cheiro doce de açúcar e creme estava no ar. Welington tinha aberto a sorveteria hoje! Eu entrei, deixei minhas coisas e estava prestes a me perder em meus próprios pensamentos, quando Flávio apareceu com um sorriso no rosto e um copo de café.

— Ei, seu café, como prometido! — Ele disse, com a voz alegre, enquanto se aproximava de mim.

Eu o observei por um momento. Algo em mim estava confuso, inquieto. Aquele sorriso era genuíno demais, ele estava fazendo mais do que qualquer pessoa faria, mas... por quê? Quais eram as intenções de Flávio? Eu precisava saber.

Coloquei o copo na bancada e, sem pensar duas vezes, me virei para ele.

— Flávio... — Comecei, a voz mais firme do que eu imaginava. — O que você quer de mim? Sempre está por aqui, sempre trazendo algo: café da manhã, pôster ou até me levando pra almoçar... por que você faz tudo isso? Qual é o seu jogo?

Ele parou, como se minhas palavras o tivessem atingido de repente. Ele parecia surpreso, mas não se afastou. Na verdade, ele parecia mais vulnerável do que o habitual. E isso só aumentava minha confusão.

Eu avancei um passo, sentindo a necessidade de ser direto, sem mais rodeios.

— Você tem cara de bonzinho, Flávio. Tipo o cara que vai ser sempre o bom amigo, sabe? Mas... quem garante que você não pode ser um idiota, um desses caras que finge se importar, só para fazer a gente de bobo? Não vou deixar isso acontecer, entende?

Eu senti um gelo na minha espinha enquanto as palavras saíam da minha boca. E logo depois, percebi que talvez tivesse ido longe demais. Flávio estava quieto, olhando para mim, mas seus olhos... estavam diferentes, como se algo estivesse se quebrando dentro dele. Era como se ele tivesse levado um soco, e eu não soubera a força do impacto.

Ele deu um passo atrás, mas não falou nada. Eu não sabia o que fazer. De repente, tudo parecia tão errado. Eu me senti um pouco como um idiota, como se tivesse julgado mal uma pessoa que estava apenas tentando ser boa comigo.

— Você acha que eu sou esse tipo de cara, Pedro? — Flávio perguntou, a voz agora mais suave, mas com uma tensão no ar. — Eu não sou, eu só... — Ele fez uma pausa, respirando fundo. — Eu só quero cuidar de você.

Eu não sabia o que responder. Ele parecia tão genuíno, mas algo dentro de mim ainda estava desconfiado. Eu não conseguia confiar completamente, não podia simplesmente deixar que ele se aproximasse assim, sem mais nem menos. Era demais, e eu estava com medo de me envolver.

— Você cuida de todo mundo? Ou só de quem você escolhe? — Eu perguntei, mais por impulso do que por curiosidade. Estava tentando entender, mas as palavras vinham soltas. Não sabia mais se estava sendo honesto comigo mesmo ou só me defendendo de algo que não entendia.

Flávio olhou para o chão, e sua expressão suavizou. Eu não sabia se o estava magoando ou se ele estava apenas cansado de minha desconfiança. Por um momento, parecia que ele ia sair, mas então ele levantou a cabeça e me olhou com uma sinceridade tão grande que me fez engolir em seco.

— Eu... eu só sei que, quando alguém é importante pra mim, eu cuido, Pedro. Não importa o quanto isso me machuque ou me faça parecer fraco. Eu cuido, porque é assim que as coisas são, pra mim. — Ele deu um suspiro, visivelmente tentando manter o controle. — Não vou te fazer de bobo, se é isso que está pensando. Mas não vou parar de tentar te cuidar, mesmo que você não entenda agora.

Ele olhou para mim, seus olhos estavam cheios de algo que eu não conseguia identificar. Eu não sabia o que ele queria, mas parecia que a resposta estava ali, bem na minha frente, e eu estava apenas me fazendo de cego.

Flávio ficou em silêncio por um momento, até que falou, baixinho, quase para si mesmo:

— Eu sei que você está confuso. E eu... também estou. Eu só não sei mais o que fazer. Eu gosto de você, Pedro. Gosto muito, e não estou tentando ser um idiota.

Eu olhei para ele, sentindo um nó na garganta. Eu queria dizer algo, mas as palavras não saíam. O que eu podia dizer depois de tudo isso? Ele estava ali, tentando se explicar, e eu não sabia como reagir.

Então, sem mais, Flávio se afastou um pouco, e sua voz soou mais fraca, como se ele estivesse lidando com algo maior do que ele mesmo podia carregar.

— Eu não vou embora. Eu vou ficar, Pedro. Mesmo que você não queira. Porque quem gosta, cuida. E eu só sei fazer isso.

Eu não sabia o que responder. Tudo parecia um jogo de palavras que eu não estava pronto para jogar. Só sabia que, quando ele disse isso, eu não pude evitar o peso das palavras dele.

Flávio virou-se para sair, mas antes de sair pela porta, ele olhou para mim uma última vez e disse:

— Cuide de você, Pedro. Só não me deixe ir embora sem saber o que você quer.

E, com isso, ele saiu. Eu fiquei ali, parado, os pensamentos correndo a mil. O que ele queria de mim? Por que ele estava me dizendo tudo isso? Eu não tinha as respostas, e talvez nunca tivesse.

Enquanto eu estava perdido em meus pensamentos, Wellington entrou com aquele sorriso característico, como se nada estivesse acontecendo. Eu me virei, sem muita animação, e ele se aproximou de mim, aparentemente num humor bom.

— E aí, Pedro! Como está? — Ele perguntou, empurrando as portas de vidro para dentro.

— Tudo certo... Só processando umas coisas aqui. — Respondi, tentando não parecer tão distraído.

Wellington reparou no meu semblante e logo percebeu que algo estava diferente.

— Algo errado? — Ele perguntou, levantando uma sobrancelha, como se estivesse percebendo que algo mais estava em jogo.

Eu não sabia se deveria falar, mas o clima na sorveteria estava tranquilo, então acabei soltando:

— Não sei, cara. Só... tive uma conversa com o Flávio agora há pouco. E, sinceramente, não sei como lidar com as coisas que ele disse. Não sei se ele está só sendo legal ou se está tentando alguma coisa mais.

Wellington se recostou na bancada e ficou em silêncio por um tempo. Ele parecia estar processando as minhas palavras, mas algo me dizia que ele tinha algo a dizer. E não demorou muito para que ele abrisse a boca.

— Olha, Pedro... — Começou Wellington, com um tom sério. — Eu não queria te incomodar, mas... Eu ouvi, sem querer, a conversa de vocês dois. Estava indo para a parte de trás, e... bem, acabei ouvindo o que rolou entre vocês. Não é algo que eu queria, mas não pude evitar.

Eu congelei, a surpresa me fazendo prender a respiração. Eu não sabia como reagir a isso. Wellington ouviu? Não era algo que eu imaginava que ele faria. Mas ele parecia calmo, não estava me acusando, só observando. Isso me deixou curioso.

— E aí? O que você achou? — Perguntei, a voz mais baixa do que eu gostaria.

Wellington respirou fundo e me olhou nos olhos.

— Pedro, eu posso até estar errado, mas ninguém que não tivesse algum tipo de interesse faria o que o Flávio está fazendo por você. O cara está sempre por aqui, sempre se preocupando, te trazendo coisas, fazendo tudo o que pode para te agradar. Pode até parecer que ele só é um bom amigo, mas você ouviu o que ele disse, não é? Ele não está tentando fazer você de bobo, não... Acho que ele realmente gosta de você.

As palavras dele me atingiram como um soco no estômago. A minha mente girava enquanto eu tentava processar o que ele estava dizendo. Era isso? Flávio gostava de mim? Eu ainda não tinha certeza de nada, mas tudo o que ele tinha feito parecia apontar para isso. E isso me deixava ainda mais confuso.

— Eu sei que você deve estar confuso, Pedro. Eu vi na sua cara. Mas, olha, você pegou pesado demais com ele. O cara está se entregando, tentando ser alguém que você pode confiar, e você foi duro com ele, pediu explicações que, no fundo, nem precisava. Eu entendo que você não quer cair em nenhuma cilada, mas, talvez, se você fosse mais honesto com ele, as coisas ficassem mais claras.

Eu fiquei em silêncio, refletindo sobre as palavras de Wellington. Ele tinha razão. Eu fui duro com Flávio, sem nem saber direito o que estava fazendo. Eu estava me protegendo, tentando evitar que alguém me machucasse de novo, mas, ao fazer isso, eu podia ter machucado alguém que só queria estar perto de mim.

Wellington deu um sorriso, quase compreensivo.

— Eu sei que não é fácil, Pedro, mas... Às vezes, você tem que abrir um pouco a guarda, porque, se você não fizer isso, vai perder algo importante. E parece que o Flávio é algo importante. Se eu fosse você, tentaria não ser tão cabeça dura. — Ele fez uma pausa e me deu um tapinha no ombro. — Só um conselho de amigo, ok?

Eu não sabia o que dizer. Estava sem palavras. O que Wellington estava falando fazia sentido. Talvez eu estivesse jogando tudo para o alto sem nem perceber. E Flávio? Ele merecia algo mais de mim. Eu sabia disso, mas ainda assim estava com medo. Medo de me entregar, de confiar em alguém de novo.

Wellington me deu uma última olhada e sorriu novamente, como se soubesse que ele tinha deixado algo para eu pensar.

— Bem, eu vou ali fazer umas entregas. Quando precisar, sabe onde me encontrar. Só não faça mais essa cara de confuso, porque, se continuar assim, vai acabar virando uma estátua. — Ele deu uma risada baixa, saindo da sorveteria enquanto me deixava ali, perdido em meus pensamentos.

Eu olhei para a porta por onde ele saiu e fiquei ali, processando tudo o que ele me disse. Ele estava certo. Eu tinha sido duro demais com Flávio, e ele só estava tentando se aproximar de mim. O pior é que eu não sabia o que fazer agora. O que aconteceria com nós dois, com tudo isso? Eu não tinha as respostas. E, talvez, isso fosse o mais difícil de aceitar. Eu estava com medo de me entregar a algo que, talvez, fosse real demais para lidar.

Respirei fundo e dei um passo em direção à bancada. O dia ainda estava começando, e a vida continuava. Mas, no fundo, algo estava mudando em mim. Eu só não sabia se estava pronto para lidar com isso.

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O dia tinha ficado nublado, o tipo de clima que me fazia ficar com a cabeça mais pesada do que já estava. Eu estava andando pela cidade, sem saber exatamente o que estava fazendo, mas sabia que tinha algo que precisava fazer. Algo que eu havia adiado a manhã toda e metade da tarde!

Eu sabia que tinha que ir até Flávio. Eu precisava me desculpar. Aquele peso no meu peito estava me consumindo, e eu não podia mais viver com a culpa de ter sido tão duro com ele. Ele estava apenas tentando ser gentil, tentar me ajudar, e eu tinha sido rude, afastando-o de forma quase cruel. Mas a verdade é que eu não sabia como lidar com tudo aquilo, com ele, com o que ele queria de mim. Ele me fazia sentir coisas que eu não estava preparado para enfrentar, e, no fundo, eu sabia que estava fugindo disso.

Cheguei até a loja de suplementos dele, um lugar pequeno, mas bem arrumado, com prateleiras cheias de garrafas e pacotes de pó que eu nem entendia direito para que serviam. Era o tipo de lugar em que você sabia que era um ambiente dedicado ao esforço físico e à disciplina, e o cheiro de proteína e frutas secas me fazia sentir ainda mais ansioso. O local estava vazio, exceto por ele, que estava atrás do balcão, organizando algumas coisas.

Quando ele me viu entrar, parou por um momento, como se soubesse que eu estava ali com algo importante para dizer. Eu tentei respirar fundo, mas a sensação de estar naquele momento, com ele ali, me deixou ainda mais nervoso.

— Flávio... — Falei, hesitando, mas decidindo que não podia adiar mais.

Ele me olhou, ainda em silêncio, como se me aguardasse. Seus olhos eram tão profundos, e havia uma suavidade neles que eu não tinha notado antes, talvez por estar tão focado em meus próprios medos. Eu sabia que tinha feito a coisa errada, e isso me corroía.

— Eu... Eu sinto muito pelo que aconteceu. Eu fui um idiota, Flávio. Eu sei disso agora. Quando você tentou se aproximar de mim, eu... Eu não soube lidar com isso. Eu estava com medo. E isso tem a ver com coisas que aconteceram no passado, coisas que me fizeram me fechar tanto. Quando me abri antes, eu acabei me arrependendo profundamente. Não queria que isso acontecesse de novo. — Eu respirei fundo, tentando não me perder na explicação. — Mas isso não é uma desculpa, tá? Só quero que você saiba que eu percebi que fui errado com você.

Ele não falou nada imediatamente. Ficamos em silêncio por um tempo, e eu senti a tensão na sala crescer. Eu sabia que ele tinha todos os motivos para não me perdoar, e, no fundo, não sabia se o que eu estava dizendo seria suficiente. Mas, então, Flávio fez algo que me pegou de surpresa. Ele sorriu de forma suave, como se estivesse apenas esperando eu chegar à conclusão de tudo aquilo, como se soubesse que eu precisava dizer aquilo.

— Eu entendo, Pedro. — Ele disse com um tom tranquilo. — Eu sei que a gente tem o nosso passado, e, se eu fosse você, provavelmente também teria medo de se abrir. Mas eu nunca quis te fazer mal. Só queria estar aqui pra você. Eu entendo, de verdade. — Ele deu um passo em direção a mim, e a distância entre nós parecia menor do que nunca. — E eu aceito suas desculpas.

Eu o olhei, e algo dentro de mim se quebrou. Eu sabia que ele estava certo. Ele estava ali, tentando me dar o que eu precisava, e eu estava afastando ele com meus próprios medos.

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, Flávio deu um passo à frente e me puxou para um abraço. Foi tão natural, tão suave, que me senti imediatamente à vontade em seus braços. Ele colocou uma das mãos na minha nuca e, com um gesto carinhoso, me deu um selinho. O gesto foi simples, mas me fez perceber o quanto eu havia errado.

— Eu só quero que você saiba que está tudo bem. E eu tô aqui, se você quiser... Se você conseguir. — Ele falou em um tom baixo, sua voz suave, mas cheia de compreensão.

Eu respirei fundo, absorvendo tudo o que ele estava dizendo. Não sabia o que mais dizer, então me entreguei ao momento, ao carinho que ele estava me oferecendo. Eu sabia que a nossa relação ainda tinha muito a ser desenrolada, mas naquele momento, eu só queria acreditar que, talvez, as coisas poderiam ser diferentes. Eu só precisava confiar em alguém novamente.

— Obrigado, Flávio... de verdade. — Eu disse, sem saber se essas palavras eram o suficiente para expressar o que eu estava sentindo.

Ele sorriu novamente, e dessa vez, o sorriso dele era diferente, mais sincero, mais seguro. Ele se afastou um pouco, mas seus olhos não saíam dos meus. Algo estava ali, algo que não precisava ser dito em palavras. Eu sabia que, de alguma forma, estávamos começando de novo.

— Então, que tal um café depois de tudo isso? — Flávio perguntou, quebrando o silêncio com leveza.

Eu assenti, e, pela primeira vez em muito tempo, me senti como se as coisas pudessem, finalmente, dar certo.

Eu estava pronto para abrir meu coração de novoEu estava perdido em meus pensamentos quando Flávio entrou na sorveteria, como sempre, com aquele sorriso fácil, a expressão tranquila, e aquele olhar que parecia me entender sem precisar de palavras. Ele se aproximou e, antes mesmo que eu percebesse o que estava fazendo, já estava de pé, caminhando até ele. A verdade é que, enquanto ele estava ali, algo dentro de mim explodiu. Eu não conseguia mais me segurar.

De repente, estava de frente para ele, e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, eu avancei, tomando seus lábios com os meus. Foi um beijo intenso, impulsivo, um beijo que parecia ser a resposta para tudo o que eu não sabia expressar até aquele momento. Foi como se tudo tivesse se alinhado de repente, como se não fosse mais possível segurar aquilo. Cada parte de mim parecia estar em sintonia com ele, e a necessidade de sentir a sua presença foi maior do que qualquer receio que eu pudesse ter.

Quando finalmente nos separamos, nossos rostos ainda tão próximos, eu pude ver a surpresa nos olhos de Flávio. Eu também estava surpreso, mas não queria me arrepender. Queria que ele soubesse o que eu estava sentindo. Não dava mais para esconder isso.

— Flávio, eu… — Eu falei, ainda sem saber muito bem como expressar o que eu queria dizer. — Eu quero namorar com você. Mas, acredite, vai ser com calma. Eu não sei direito como lidar com isso, com tudo que você representa, mas não quero mais fugir.

Flávio ficou em silêncio por um momento, olhando nos meus olhos, e foi só quando ele sorriu que meu coração pareceu acalmar. Ele me deu um leve aperto no ombro e se afastou um pouco, mas ainda assim continuou perto o suficiente para eu sentir sua presença. Era como se ele estivesse esperando por essas palavras, como se soubesse que era o que eu precisava dizer, mas que eu não sabia quando.

— Eu entendo, Pedro. Eu também quero que isso aconteça com calma, porque eu sei que você tem as suas próprias inseguranças. E eu vou estar aqui, sem pressa, para você.

Aquelas palavras me aliviaram de uma forma que eu não esperava. Eu estava aliviado, mas também tinha algo mais dentro de mim, algo que me fez lembrar de outra coisa importante. Eu já estava me sentindo mais calmo, mas as responsabilidades da vida continuavam ali, batendo à porta.

— Ei, Flávio, tem uma coisa… — Falei, tentando organizar os pensamentos. — A Camila não apareceu na entrevista ontem. Você acabou se esquecendo de avisar a ela, né?

Flávio deu uma risada nervosa, com uma expressão de culpa, e passou a mão pelos cabelos, como se estivesse se culpando por algo simples.

— Ah, poxa, você tem razão. Eu realmente acabei deixando passar, Pedro. Fui tão distraído com outras coisas que esqueci de avisar a Camila. Eu deveria ter sido mais organizado com isso, mas vou falar com ela e marcar outro horário, pode deixar.

Eu dei um sorriso leve, aliviado por ele ter reconhecido isso sem qualquer resistência. Era simples, mas o fato de ele ser honesto comigo fazia tudo parecer mais tranquilo. Eu sabia que tinha escolhido confiar nele por uma razão, e ver como ele estava lidando com as coisas me dava confiança de que estava tomando o rumo certo.

— Tudo bem, Flávio, só não deixe isso acontecer de novo. Afinal, você está começando a subir na vida, não pode se dar ao luxo de deixar essas coisas passarem batido, né? — Brinquei, tentando aliviar a situação.

Ele riu e balançou a cabeça, como se realmente estivesse se sentindo um pouco culpado, mas ao mesmo tempo aliviado por eu estar sendo compreensivo. Algo que antes me parecia tão complicado estava começando a fazer sentido.

— Pode deixar, Pedro. Eu vou dar um jeito nisso. Agora, quanto a gente, vamos com calma, um passo de cada vez. Eu tô aqui, e vou continuar aqui, esperando por você, no seu tempo.

Eu sorri, e por um momento, pareceu que o tempo parou. Nada mais importava além do fato de que, de algum jeito, eu havia dado um passo importante e agora podia caminhar com ele. Devagar, mas com segurança. E, de algum modo, isso me fazia sentir que tudo ficaria bem.

A noite começava a cair e, com isso, uma sensação de cansaço e tranquilidade se instalava em mim. Eu gostava dessa rotina. Mesmo com as incertezas, o trabalho na sorveteria me dava uma sensação de propósito. Olhei mais uma vez para o local, assegurando que tudo estava em ordem, e então virei para o balcão onde Flávio estava. Ele já estava preparando os últimos pedidos e eu me senti grato por ele estar sempre por perto, ajudando, sem hesitar.

— Acho que está tudo certo para hoje, né? — Falei, tentando parecer mais animado do que realmente estava.

Flávio sorriu, com aquele sorriso descontraído que sempre conseguia me acalmar.

— Claro, tudo pronto. Agora, é só você ir para casa e descansar, Pedro. Você parece que está precisando disso.

Eu assenti. Estava mesmo precisando de uma boa noite de sono, mas antes de fechar tudo, me aproximei de Flávio para agradecer mais uma vez por tudo que ele fazia.

— Sério, Flávio, você tem me ajudado tanto né . E não sei o que teria feito sem a sua ajuda. — Eu estava falando do fundo do coração, e isso parecia ficar claro na forma como ele me olhou.

Ele deu de ombros, como se o que estivesse fazendo não fosse nada demais.

— Não tem de que, Pedro. Eu gosto de ajudar, é só isso.

Olhei para ele por um instante, antes de virar para dar a última olhada na loja. Já estava quase tudo pronto para ir embora, mas então, algo inesperado aconteceu.

Eu ouvi uma voz que não estava ali antes. Quando olhei para a porta, vi um cara parado na entrada, com um sorriso aberto, observando Flávio com um olhar que eu não soube como interpretar imediatamente. Ele se aproximou de Flávio com uma atitude descontraída, como se já se conhecessem. Eu me preparei para seguir meu caminho, quando ouvi a frase que me fez parar no lugar:

— E aí, gatinho. Que tal um café depois disso? — O cara falou, com um sorriso confiante e um olhar que parecia… intencional.

Eu congelei por um segundo. Não sabia o que dizer, nem como reagir. O cara estava claramente dando em cima do Flávio na minha frente, e a última coisa que eu esperava naquele momento era ver Flávio sendo abordado por alguém desse jeito.

Flávio, por sua vez, parecia visivelmente desconfortável, mas manteve a postura tranquila, sem demonstrar muita surpresa. Ele deu uma olhada rápida em mim, antes de responder ao cara, tentando se afastar discretamente da situação.

— Obrigado pela oferta, mas já tenho meus compromissos. — Ele respondeu educadamente, mas ainda assim parecia desconfortável.

O cara não parecia desanimado, pelo contrário, ele continuou sorrindo e tentava se aproximar mais, o que fez meu estômago se revirar. Eu senti algo estranho dentro de mim, algo que eu não sabia exatamente o que era. Eu não queria ficar ali vendo aquela cena, mas também não sabia se deveria me afastar ou ficar e lidar com aquilo de algum jeito. Eu só observava, sem saber o que fazer.

— Poxa, tudo bem, eu não ia te fazer mal nenhum. — O cara continuou insistindo, dando um passo à frente.

Flávio olhou rapidamente para mim novamente, e foi aí que percebi que ele estava mais desconfortável ainda, provavelmente percebendo que a situação estava ficando um pouco demais.

— Já falei, amigo, não estou interessado. — Flávio respondeu, mais firme desta vez, afastando-se do cara e, consequentemente, me afastando também.

O cara parecia surpreso, mas, de algum modo, também respeitou a resposta de Flávio e deu alguns passos para trás, murmurando algo sobre "perder a chance", e saindo rapidamente da loja.

Eu ainda estava parado, sem reação. Não conseguia parar de pensar no que acabara de acontecer. Flávio não parecia incomodado, mas eu, por algum motivo, me senti… estranho. Eu sabia que Flávio era um cara atraente, não precisava de muito para perceber isso, mas vê-lo sendo abordado daquele jeito, ali na minha frente, me fez sentir algo que eu não soube definir. Talvez fosse ciúmes, talvez uma sensação de insegurança. Mas, o mais estranho de tudo era que eu não sabia se deveria ficar com raiva, ou se deveria tentar entender o que isso realmente significava.

Flávio percebeu meu silêncio e, com um sorriso gentil, se aproximou de mim.

— Ei, Pedro, está tudo bem. Eu te avisei, não é? Eu tenho essas situações de vez em quando, mas nada que me afete.

Eu não sabia o que dizer. Eu só assenti com a cabeça, tentando manter a calma, mas ainda sentindo um nó na garganta. Eu estava começando a entender algumas coisas dentro de mim, coisas que eu não sabia que eram tão intensas.

— Tá tudo bem, eu só… não esperava ver isso. — Eu falei, tentando evitar que a irritação transparecesse.

Flávio deu uma leve risada, como se estivesse tentando aliviar o clima tenso.

— Não se preocupe, Pedro. Esse tipo de coisa não me afeta. Mas, se quiser, podemos ir embora agora. O dia já foi longo o suficiente, né?

Eu assenti novamente, pegando minhas coisas e saindo da sorveteria com Flávio, mas não conseguia deixar de pensar sobre o que acabara de acontecer. Eu sabia que havia algo mais acontecendo dentro de mim, algo que talvez eu ainda não estivesse pronto para lidar. O que exatamente eu sentia por Flávio? Eu não sabia, mas aquela cena com o cara havia mexido comigo de um jeito que eu não esperava.

Ainda assim, eu estava disposto a entender. E talvez, com o tempo, eu conseguisse descobrir o que significava tudo aquilo.

Continua...

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Comentários

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Muito bom quando posta varios capítulos de uma vez, a historia está otima

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Não sei se o Pedro vai ter coragem de se vingar do Mateus, me parece que ele realmente gostava do pedro na adolescência e riu com medo de sofrer

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