Antônio
Ainda tive que atender dois retornos até ficar livre, mas foi rápido, ainda bem que Rubens demorou um pouco para aparecer, não quero deixa-lo esperando por muito tempo, ou até mesmo fazê-lo gastar uma pequena fortuna com táxi lá pra casa — é sério, essa é uma corrida nada barata. Normalmente faço as consultas pré operatórias e os retornos pelas manhãs e as cirurgias pelo horário da tarde, só que nem sempre tenho cirurgias marcadas e quando isso acontece ou uso esse horário para atender os pets que estão mais urgentemente precisando ou uso para resolver alguma coisa minha mesmo, tipo hoje que tenho até fazer as compras e também levar o Rubens de volta para casa.
Vou aproveitar pra descansar um pouco já que hoje a noite vou dormir tarde, pelo menos esse é o plano, essa noite Luana me prometeu que dormiríamos juntos, tem um motel que é bem confortável e que costumamos ficar quando queremos dormir juntos, estou morrendo de saudades da minha morena já, tem uns dias que não conseguimos ficar sozinhos por muito tempo e consequentemente uns dias que não transamos.
Não me considero um cara viciado em sexo, mas olha eu gosto bastante de fazer, até tenho na minha casa um brinquedinho pra me masturbar, tenho tanto tesão na minha namorada que ela ocupa meus pensamentos até quando estou me aliviando, porém parando para pensar nisso agora, falei para o Rubens pegar a senha do wi-fi na minha gaveta, não sei se ele viu o lubrificante e o brinquedo que uso pada me masturbar — não deve ter visto até porque não comentou nada sobre e depois a caderneta com a senha está na segunda gaveta.
Minha cara dar esses vacilos, mas também não é nada de mais, só um bagulho que uso pra bater uma, ele mesmo deve ter algo do tipo nas coisas dele também — pelo menos eu acho até sim — o cara não sai com ninguém e só trabalha, ele deve pelo menos bater umas também, mas tipo porque diabos estou pensando se o Rubens bate ou não punheta? Tipo isso não é do meu interesse, se ele tem ou não um brinquedo pra se divertir sozinho, se bem que pensando bem ele não parece o tipo de cara que se diverte sozinho com muita frequência — olha eu de novo pensando sobre o que meu primo faz ou não sozinho, pronto parei.
Rubens está sentado na recepção, tomando café e mexendo no celular, aposto que está trabalhando, pensei, do seu lado tem uma caixa de uma cadeira gamer e umas sacolas, agora né sinto meio mau de ter deixado ele na por mais de três horas carregando esse peso todo, devia ter dado um jeito, de sair mais cedo, remarcado minhas consultas, mas enfim agora não posso fazer muita coisa, então vou pelo menos levá-lo pra almoçar em um lugar legal, é o mínimo que posso fazer para me desculpar né?
— Opa, vamos? — Ele tira os olhos do celular e me encara, Rubens tem um meio sorriso no rosto, mas seus olhos me passam outra vibe, tipo como se estivesse segurando o choro sei lá, é bem estranho, agora me sinto pior por tê-lo feito esperar por tanto tempo.
— Vamos — ele responde levantando, mas antes que pegue suas coisas me adianto pegado a caixa que parece ser mais pesada — eu levo isso.
— Não precisa — ele fica tímido, mas já peguei e estou levando para fora.
— Doutor Vilela, o senhor ainda volta hoje à tarde? — Gabriel, o estagiário da recepção me pergunta.
— Não, hoje não, se tiver algum agendamento pode remarcar.
— Sim senhor.
Rubens me encara com um pesar e posso apostar até ele pensa que é por sua causa, mas não é, realmente preciso ir no mercado e ainda vou encontrar com Luana no final da tarde então de uma forma ou de outra há iria precisar remarcar qualquer eventual consulta da tarde, ainda sim quando chegamos ao Fuscão preto conto a ele sobre como funciona minha agenda na clínica e também sobre meus compromissos.
— No fim de semana prometo que te trago pra uma volta na cidade é que hoje marquei com minha namorada pra ser só nos dois — explico.
— Tudo bem, tenho muito trabalho mesmo, não precisa se incomodar.
— Você está bem? — Não consigo evitar de perguntar, ele realmente não parece muito bem.
— Só uma coisa de trabalho nada de mais, hoje a tarde eu vou resolver isso — sua resposta é enigmática, mas por hora não tenho intimidade para insistir em uma melhor.
— Estava pensando de almoçarmos, depois no caminho de casa passamos no supermercado o que me diz, se você tiver até já voltar para o trabalho eu posso te deixar e depois vou no mercado.
— Pode ser, tecnicamente eu estou de folga ontem e hoje — ele diz.
— Mas você está trabalhando desde ontem — digo sem entender qual a lógica de estar de folga se ele ainda sim trabalha.
— É que não quero deixar meu trabalho acumular, tenho muitas responsabilidades.
— Mas você não tem tipo um banco de horas ou algo assim?
— Na verdade não tenho escala, eu tenho demandas e prazos para que elas sejam entregues, enquanto folga pra mim é mais como um acréscimo ao prazo.
— Quer dizer que você faz seu próprio horário?
— Sim, mas preciso respeitar os prazos, tem coisas que eles me dão uma a duas semanas pra resolver, mas existem algumas emergências que precisam ser resolvidas de forma mais rápida, por isso estou constantemente trabalhando, fico disponível para eles o dia inteiro todos os dias.
— Entendi — o trabalho dele parece ser bem puxado — eu meio que tenho até ficar a disposição da clínica para cirurgias de emergência também, além de mim só tem mais dois cirurgiões veterinárias na cidade e redondeza e modéstia parte sou o melhor — mas tipo, não tem outra pessoa a quem eles possam chamar?
— Eu sou responsável pelo meu setor, tenhos dois programadores junior na minha equipe, o problema é que um só faz merda mais tem uma boa peixada então meu chefe tá segurando ele e o outro não trabalha direito, mas não faz tudo que eu consigo fazer e nem é tão eficiente quanto aos prazos, ou seja passo para eles só o trivial e fico com o pesado todo pra mim.
— Como chefe você não pode contratar outras pessoas?
— Até poderia, mas não quero demitir ninguém, e meu setor tem feito boas entregas, os chefes me adoram e trabalho melhor sozinho mesmo de qualquer forma — Rubens é um cara muito inteligente e profissional pelo jeito, mas é óbvio que não se dá muito bem com pessoas.
Levo o Rubens no Graffiti, é um restaurante onde a comida é deliciosa e a decoração é bonita. Como já era de se esperar, o local está lotado, mas conseguimos uma mesa perto da porta, o pessoal me conhece pois venho muito comer aqui.
Rubens até melhorou um pouco seu humor, o garçom me cumprimenta e percebo um sorrisinho vindo dele, depois de fazermos nossos pedidos pergunto a ele o que ele achou engraçado.
— Desculpe não é nada — ele desconversa agora tímido.
— Oxe pode falar, não vou ficar bravo prometo — estou bem curioso agora.
— É só que já reparei que as pessoas ficam te chamando de doutor e tipo não sabia que veterinários também podiam ter o título.
— Bem tecnicamente os veterinários não tem, mas é bem comum que nos chamem assim, só que no meu caso me chamam de doutor porque eu meio que sou doutor.
— Doutor não é quem faz doutorado? — Ele insiste e estranhamente vindo dele isso me diverte bem mais do que me irrita.
— Você está correndo senhor Rubens e sim este simples veterinário sentado na sua frente é mestre em cirurgia veterinária pela UECE e doutor em ciência veterinária também pela universidade estadual do Ceará — ele fica em silêncio — minha especialidade é cirurgia veterinária de animais de pequeno, médio e grande porte.
— Nossa, agora tô me sentindo um idiota — Rubens fica engraçado quando está envergonhado.
— Fica tranquilo, não esquento com isso não e também não tinha como você saber — ele sorri ainda tímido e você imagino que tenho uma graduação foda pra trabalhar com isso?
— Sim, mas boa parte do que aprendi foi na prática e fazendo milhões de cursos, não queria fazer faculdade, mas tive que fazer quando entrei nessa empresa que estou hoje — tem algo no Rubens que transmite interesse, não sei explicar ele é tão inteligente e bem articulado — o que foi?
— O que? — Pergunto sem entender.
— É que você está me encarando — nem percebi.
— Foi mau, só estou prestando atenção no que você está falando — ele ficou corado de tanta vergonha.
— Pra resumir eu tenho mestrado e estou me preparando pra fazer um doutorado — ele volta a falar — eu ia fazer depois do.
Rubens simplesmente para sua frase bem no meio e desconversa, é óbvio que quase me contou algo que não queria, embora isso tenho me acendido uma curiosidade sobre o que seja, finjo que não percebi e mudo de assunto para tranquilizá lo, seus olhos parecem aliviados quando ele ver que não insisto no assunto.
No fim do nosso almoço Rubens foi firme em não me deixar pagar a conta, mesmo comigo dizendo que era uma compensação por deixá-lo esperando, acabou que dividimos a conta. No caminho pra casa passamos no supermercado, normalmente venho no mercado com Dona Teresa ou sozinho, aqui observando o Rubens percebo que ele e a avó tem muito em comum, eles seguem a mesma lógica de iniciar por um corredor específico e assim traça todo um caminho até o caixa, totalmente diferente de mim que simplesmente saio pegando as coisas na ordem em que vou lembrando.
— Otimizar o tempo no supermercado é essencial pra evitar estresse, ainda mais com ele lotado assim Antônio.
— Parece até a Dona Teresa falando, a fruta não cai longe do pé mesmo — digo sorrindo, toda vez que ele fica tímido ou bravo faz uma cara muito engraçada.
— Você pode pegar as carnes, eu vou ver umas frutas, assim ganhamos mais tempo — Rubens é meio engessado, conheço ele a pouquíssimo tempo, mas já dá pra perceber que ele vive em constante vigilância e rigidez.
— Sim senhor — respondo para provocá-lo,mas fui pego totalmente de surpresa com um sorriso cheio de dentes, desses que os olhos quase se fecham, parece até outra pessoa.
— Lembrei de uma coisa, vai logo que o supermercado está lotado, assim vamos ficar muito tempo na fila — o breve momento de liberdade se apaga e ele volta para sua postura séria.
Rubens tinha razão sobre a fila do caixa, passamos meia hora contado no relógio até sermos atendidos e assim como no restaurante ele pagou por umas coisas que comprou e metade das comprar se casa, nem insiste porque já sei que ele é cabeça dura como Seu Lúcio. Estamos colocando as compras no Fuscão quando recebo uma mensagem de Luana avisando que já está em casa e que só vai dormir um pouco, mas que vai está pronta na hora que eu for buscá-la.
Estou muito ansioso, até comprei o Gim que ela gosta. Durante a volta para casa Rubens se fecha em seu mundo de novo, seus olhos fixos pra tela do celular, já sei que deve está trabalhando então não atrapalhei, apenas sigo viagem em silêncio também.
Já em casa ele me ajuda a guardar as compras e depois vai pra biblioteca, me ofereço para ajudar a montar a cadeira, mas ele diz que não precisa, tem algo estranho com ele, desde que o encontrei no consultório, não sei o até é, mas meu palpite é que se trata de algo além do trabalho.
Meu plano era descansar em casa até a hora de ir buscar a Luana, mas logo depois do meu banho o consultório me liga dizendo que tem um pastor alemão precisando urgentemente de mim, nesse caso não tem muito o que fazer, passo as orientações para os técnicos manterem ele bem até que eu chegue, aviso ao Rubens que vou passar a noite fora, mas que qualquer coisa ele pode me ligar que vou manter o telefone ligado para o caso de uma emergência.
Com uma muda de roupa na mochila retorno para a clínica, o cachorro é de um casal de idosos, eles estavam cuidando do neto e em um momento de descuido a criança deu algo que o cachorro não podia comer, deu um pouco de trabalho, mas no fim resolvi o problema é o meu paciente vai se recuperar muito bem.
Como voltar pra casa seria muito contra mão e não daria tempo tomo meu banho na clínica mesmo, me arrumo e fico cheiroso pra minha morena, antes de sair mando mensagem e ela responde que está pronta. Me dirijo para sua casa mas tenho uma surpresa desagradável quando vejo sua prima Karla junto dela toda arrumada na porta de casa.
— Oi amor — ela me beija assim que desço do carro, retribuo o beijo, mas aínda estou a encarando esperando uma explicação.
— Antônio a Karla pegou o Gutenberg com a vizinha deles, ela está mau e não tive escolha a não ser convidá-la pra sair com a gente — ela me diz de cantinho e quando sua prima conversa com minha sogra.
— Luana a gente não ia direto pra um motel ficar de boas?
— Eu sei, mas olha a gente sai com ela, bebe um pouco depois a gente pode aproveitar nossa noite — fico chateado, mas topo mesmo assim.
Bem, o que deveria ser umas bebidas foi muito além, tanto Karla quanto Luana estão bebendo muito e se divertindo dançando juntas, elas são muito amigas e não é problema para mim que a Luana dê uma força para a prima, só que essa deveria ser a nossa noite. Pouco depois da meia noite a prima começa a querer ir para outro lugar e para piorar Luana também, eu estou cansado por conto do dia cheio que tive e querendo ficar sozinho com minha namorada, porém começo a entender que isso não vai acontecer, infelizmente meu cansado se mistura com a frustração e fica nítido meu descontentamento.
— Antônio desfaz esse bico — Luana briga comigo, o que me deixa um pouco mais irritado.
— Que horas que vamos levar sua prima pra casa? — Pergunto.
— Ela está muito mal, amor, você não está vendo, não sei se é uma boa deixá-la sozinha hoje — não acredito nisso.
— Luana era pra essa ser nossa noite amor, tem dias que não temos tempo pra namorar.
— Aí prima tá vendo homem é tudo igual mesmo só quer saber deles mesmo — Karla se intrometer em nossa conversa é preciso respirar fundo pra não perder a paciência de vez.
— Antônio o que te deu, você está se comportando como a idiota — estou incrédulo pois Luana nunca falou assim comigo antes.
— Idiota? Luana eu estou cansado, tive que levar o Rubens pra casa e depois voltar pra operar um cachorro.
— Ah você vai deixar ele falar assim com você Luana? — Karla que já está bêbada começa a atiçar minha namorada.
— Karla não se mete por favor — digo um pouco menos paciente agora.
— Quem é você pra me mandar calar a boca?! — Ela se exalta.
— Luana — lancei um olhar pra minha namorada como um pedido que ela intervenha por mim, mas as coisas só pioram, pois ela está um pouco alterada também pela bebida.
— Karla só um minuto — Ela até se afasta da prima, mas sua cara não é a de quem vai parar de brigar comigo, pelo menos Karla nos deu mais espaço — qual seu problema?
— Meu problema? Luana a gente não tem um momento só nosso tem um tempo, eu gosto dos seus amigos, mas as últimas vezes em que saímos ou foi pra trabalhar ou foi com suas amigas.
— Até parece que você não fica a noite toda conversando com os caras também — Luana e suas amigas são muito próximas e por consequência acabei virando colega dos namorados também.
— Não me importo de sair com o pessoal, mas hoje era pra ser só a gente, eu estou estressado e cansado, queria só aproveitar um pouco com você — ela fica em silêncio.
— Você acha que eu não estou cansada? EU TRABALHEI UM PLANTÃO INTEIRO ANTÔNIO! — Luana me surpreende mais uma vez, alimentando sua voz e chamando atenção pra gente de uma forma que detesto.
— Eu sei Luana, por isso comprei o Gim que você gosta, por isso ia pedir comida pra gente e aproveitar pra fazer uma massagem nos seus pés como costumo fazer quando ficamos só nos dois — digo com meu tom de voz normal, nunca vou gritar com uma mulher ainda mais com a que eu amo.
— Eu não vou deixar minha prima sozinha hoje Antônio — apenas aceno com a cabeça.
Preciso respirar um pouco, essa foi nossa primeira briga e não gosto disso, odeio brigas, eu sei pra onde a raiva de alguém pode levá-lo, não vou seguir por esse caminho, não vou ser como eles. Fora do bar consigo ver Luana e Karla dançando, melhor assim, fico escorado no meu carro esperando até que elas decidam ir embora.
Depois de um tempo Luana vem até onde estou com um refrigerante na mão, ela me passa suas mãos em volta do meu pescoço me abraçando, sinto o gelado na lata na minha nuca, mas nem ligo, Luana me beija e me entrega a lata, depois ganho mais um beijo e ela volta pra dentro, esse é seu pedido de trégua na nossa primeira briga, estou um pouco mais aliviado agora, mas meio que ainda estou chateado, porque queria muito ter esse momento com ela hoje, talvez esteja sendo egoísta com a prima dela, é só que sempre parece ter alguma coisa rolando e que não tem como evitar, ou é um aniversário, confraternização das enfermeiras, problema de família, jantar em família enfim está ficando cada vez mais raro nossos momentos juntos a dois, e quando isso finalmente iria mudar Rubens chegou e mudou nossos planos, eu sei que não foi culpa dele, porém sua chegada estragou minha chance de poder passar noites e mais noites amando minha morena em casa só nós dois.
Quando o bar começou a fechar Karla começou a pedir para ir a outro lugar, entretanto até mesmo o entusiasmos da minha namorada não é o bastante para vencer seu cansaço, então ela mesma convence a prima a voltarem para casa, elas entram no Fuscão preto e assim a noite acaba pra elas, levo as duas de volta para casa. Karla entra trocando as pernas, mas consegue andar sozinha pelo menos, Luana a ajuda a entrar em casa depois retorna até o Fuscão onde estou esperando por ela.
— Então, onde vamos? — Ela me lança como se nada tivesse acontecido.
— Eu vou para casa — digo encarando o volante.
— Serio, Antonio?
— Estou cansado e não estou mais no clima e amanhã é meu dia de ir pra ong.
— Cara você é muito infantil, puta que pariu — ela balança a cabeça em negação — está chateado porque não fizemos o que você quis?
Suas palavras me pegam mais do que deveriam, eu sempre faço as coisas do jeito dela e agora estou sendo acusado do contrário, bem respiro fundo e apenas fico em silêncio, ela está sentada do meu lado esperando uma reclamação da minha partes mais tudo que eu faço é olha pra ela.
— Odeio quando você faz isso.
— Isso é o que Luana? — Estou me esforçando para manter a calma, não entendi ainda como isso escalonou tanto.
— Você nunca reagi Antônio, porra, eu gritei com você na frente de todo mundo e você simplesmente ficou no Fuscão me esperando pra ir embora — agora é que estou perdido mesmo.
— Você queria que eu te deixasse lá sozinha com sua prima? — Pergunto realmente confuso.
— Se você não queria mais dormir comigo hoje por que você me esperou Antônio, se você ainda está puto comigo por causa do nosso encontro hoje por que você ainda está aqui?
— Porque eu te amo Luana, casais brigam, acontece, nossa primeira briga demorou até pra acontecer.
— Demorou porque você nunca reclama de nada — ela tem razão, mas não quer dizer que guardo as coisas pra mim, eu resolvo, mas de forma racional e só depois de esfriar a cabeça, não quero fazer como ele, não vou descarregar minha fúria nela, jamais.
— Esperei você porque você é minha namorada e não vou dormir com você porque fiquei chateado, talvez seja infantil da minha parte, mas eu só não quero estar com você agora — ela me olha atônita, então sem dizer uma palavra ela desce do carro e bate a posta com força.
— Eu te amo — digo, mas ela não responde e nem olha para trás.
Volto pra casa refletindo sobre o que rolou, racionalizando como de costume, chego em casa perto das duas da manhã, as luzes estão apagadas, Rubens deve ter ido dormir, então vou entrando bem devagar para não acordá-lo, mas infelizmente esqueço que Dona Teresa e seu marido já estão acostumados com o barulho do Fuscão preto, mas Rubens não, então dou de cara com ele na cozinha tomando água e com uma cara amassada de quem estava dormindo.
— desculpe ter te acordado — detesto incomodar as pessoas.
— Eu estava com cede e precisando ir no banheiro mesmo — ele diz com os olhos baixos e uma voz rouca de sono — você não ia dormir fora?
— Tive uma briga feia com a Luana e nem sei direito, mas acho que juntou outras coisas ao motivo, ainda estou buscando entender.
— Ah sei bem como é, a gente acha que está tudo bem, você se dedica para a pessoa e aí quando você menos espera ela diz que tem outro cara e que ele trata melhor do que você — Rubens cobre seu rosto com uma das mãos limpando os olhos.
— Ela disse que eu nunca brigo, que não reajo às coisas que acontecem — e ele estamos escorados na mesa um do lado do outro.
— Eu trabalho demais e aparentemente não estava dando a atenção desejada — ele diz abertamente e é como se tivesse tirando um peso das costas pois notei seu corpo relaxar.
— Não gosto de brigar, só isso — digo.
— Não quer dizer que não se importe — ele completa e nós encaramos, de uma forma estranha eu sei que ele sabe exatamente como me sinto.
— Por isso você veio pra cá? — Pergunto, então do nada Rubens vai até o quarto sem dizer nada, acho que forcei demais, não devia ter perguntado nada, porém antes que eu também vá para o meu quarto ele reaparece como uma caixinha nas mãos e me entrega.
Duas alianças de ouro branco, são grossas e muito bonitas, nem preciso ser um especialista pra saber que isso deve ter sido cara pra caralho, as coisas começam a fazer um pouco mais de sentido agora, essa tristeza que ele carrega é por conta disso, nossa pedir alguém em casamento e depois terminar deve ser horrível mesmo.
— Ninguém sabe então por favor — ele começa mas levanto a mão o interrompendo.
— Não vou contar nada pra ninguém relaxa.
— Obrigado.
Rubens volta o pro quarto e faço o mesmo, depois de tomar um banho tudo que mais quero é minha cama, só que mesmo cansado não consigo dormir de imediato, estou pensando no que Luana me falou, espero que quando ela acordar esteja com a cabeça fria para conversarmos, não quero terminar, ela é a pessoa com quero casar e ter filhos, Luana me faz me sentir como o homem mais feliz do mundo, acredito que por isso fico tão irritado quando nossos momentos tem que ser divididos com outras pessoas.
Depois de me revirar muita na cama pego uma rede e meu lençol, vou até o alpendre na lateral da casa e armo minha rede, está frio pra caralho aqui fora, mas estranhamente consigo fica mais calmo aqui, talvez seja por poder ver o céu, sei lá desde pequeno criei um fascínio por estrelas, não busco saber nada sobre elas e nem nada disso de astronomia, meu negócio com o céu é mais pessoal, eu observo o céu e ele me observa de volta, desde que perdi minha mãe lembro que uma amiga dela me disse que a estrela mais brilhante no céu era ela olhando por mim — eu sei que não é taus, mas gosto de pensar que sim, então quando preciso de conselho ou de colo eu olho pro céu pra procurar por ela.
O lado ruim de dormir aqui fora é que acordo muito cedo devido o sol, mas como hoje ainda vou trabalhar então até que é bom acordar cedo e não perder a hora, na cozinha Rubens está fritando uns ovos e preparando café, tenho a impressão de que sua noite não foi tão melhor que a minha.
— Obrigado por me ouvir ontem — falei me servindo de café.
— Foi bom colocar pra fora também — ele mantém seu foco nos ovos na frigideira sem olhar para mim, deve está envergonhado.
— Olha não tenho nada haver com sua vida, mas sério se quiser conversar mano estou aqui, tudo que me contar morrer aqui — Rubens finalmente olha para mim e vejo seus olhos ponderando se pode ou não confiar em mim, então após um pigarro ele fala um pouco mais.
— Eu ia casar, depois de quase sete anos de relacionamento, mas aí tudo acabou, acho que eu sabia que as coisas não estavam legais, mas quis acreditar que o que tínhamos era mais forte que isso — Rubens respira fundo e então continua — agora tenho que lidar com o cancelamento do casamento e o dilema que esbarrei ontem.
— Que dilema? — Me arrependi de ter perguntado, mas foi mais forte do que eu.
— Cara depois de seis anos as coisas se misturam, assinaturas feitas no meu cartão, parcela de presente de casamento que já chegou, tenho que pagar e olhar pra droga do presente que nunca vai ser entregue, o plano de saúde que é vinculado na minha conta — como Rubens manteve uma relação assim tão estável em segredo por todos esses anos? Estou sem acreditar e quero muito saber o porquê do segredo, mas não posso perguntar.
— Cancelar as coisas vão tornar o término mais real do que já é — pensei em voz alta enquanto ele me lança um olhar que indica que acertei na minha reflexão — mas vocês não têm a mesma chance de reatar?
— Não, infelizmente não — existe um grande pesar em sua afirmação, quero fazer algo pra ajudar, mas não faço a mínima ideia de como fazer isso.
— Olha não tenho muita experiência com términos, mas penso que se você veio até aqui pra se afastar o próximo passo é cortar essas ligações entre vocês — é o máximo que consigo dizer baseado em minha pouca experiência.
— Você está certo Antônio, eu sei disso, por isso é tão difícil.
— A gente não se conhece muito bem, mas sabe que pode contar comigo, né? — ele entrega um sorriso tímido então continuo — vou trabalhar hoje pela manhã, que horas você larga do serviço? — Pergunto.
— Por que?
— Quero te levar em um lugar — vou pelo menos tentar animá-lo, quem sabe assim consigo me distrair.
— Não sei se quero sair não — Rubens está muito triste e não gosto de vê-lo assim, ainda mais depois de ter sido contagiado com seu sorriso e descontração ontem no mercado.
— Por favor, eu prometo que você não vai se arrepender — insisto.
— Tá, se não aparecer nada de última hora consigo terminar as dezesseis, tudo bem pra você esse horário?
— Está perfeito — tenho certeza que ele vai curtir a surpresa.