Celo ergueu os olhos para ela, os lábios se apertando em uma linha tensa. Ela viu a hesitação instantânea, o olhar que misturava surpresa e resistência.
— Mari … — Ele começou, mas ela o interrompeu com um sorriso gentil.
— Eu sei que você não gosta da ideia. Sei que acha que podemos resolver tudo sozinhos, mas, sinceramente, amor … já tentamos, e olha onde isso nos levou.
Ele suspirou, ainda incrédulo.
— Eu só não sei se isso vai ajudar.
— Atrapalhar, também não vai. — Rebateu Mari, apertando a mão dele. — Mas o que custa tentar? É uma única sessão, só para você ver como se sente. Se for um desastre, prometo que encontraremos outra maneira de lidar com tudo isso.
Celo ficou em silêncio por um momento, brincando com o garfo sobre a mesa. Mari esperou pacientemente, deixando que ele digerisse a ideia.
Finalmente, ele soltou um longo suspiro, resignado.
— Tá bom … eu vou. Mas não prometo nada.
Mari sorriu, aliviada.
— Não precisa prometer. Só precisa estar lá.
Ela levou a mão dele até os lábios e beijou seus dedos. Era um pequeno passo, mas para Mari, era o começo de algo que poderia finalmente trazer a cura que tanto precisavam.
Continuando:
Parte 18: "É Sempre Mais Fácil Achar Que A Culpa É Do Outro”*
O consultório da Dra. Luciana ficava no terceiro andar de um edifício moderno, de linhas sóbrias e decoração acolhedora. Mari e Celo chegaram juntos, mas o silêncio entre eles era quase tangível. O ambiente tranquilo, com uma recepção bem iluminada e poltronas confortáveis, não fazia muito para aliviar a tensão que pairava no ar.
Mari segurava sua bolsa com força, como se aquilo lhe desse algum tipo de apoio, enquanto Celo folheava uma revista sem realmente prestar atenção. O relógio na parede indicava cinco minutos para a hora marcada e a recepcionista finalmente os chamou.
— Podem entrar, a Dra. Luciana já os está esperando.
Os dois se levantaram ao mesmo tempo e trocaram um breve olhar, antes de atravessar a porta do consultório. A sala da terapeuta era espaçosa, com um sofá confortável para os pacientes e uma poltrona onde ela os aguardava com um sorriso receptivo. A decoração neutra, os quadros de paisagens e o aroma suave de lavanda criavam um ambiente relaxante.
— Sejam bem-vindos, fiquem à vontade. — Disse a Dra. Luciana, indicando o sofá para eles.
Mari e Celo se sentaram, mantendo uma distância mínima entre si. A terapeuta cruzou as pernas, apoiou um caderno no colo e começou com um tom acolhedor:
— Antes de começarmos, quero agradecer por confiarem em mim para conduzir essa jornada de vocês. Sei que esse primeiro momento pode ser desconfortável, mas, quero que saibam, que estão em um espaço seguro. A ideia aqui não é apontar culpados, mas compreender melhor o que trouxe vocês até aqui.
A terapeuta olhou mais diretamente para o Celo:
— Apesar de Mari e eu sermos amigas, saiba que é justamente por isso que me sinto mais do que preparada para ajudar vocês. Eu já sei tudo pelo que ela passou. Inicialmente, eu gostaria de saber mais sobre você. Podemos começar?
Celo assentiu discretamente, enquanto Mari sorriu de leve, tentando aliviar a tensão. A Dra. Luciana prosseguiu:
— Então, vamos do começo. Quero conhecer e entender a história, as experiências que os trouxeram até este momento. Celo, podemos começar com você? Quero que me conte sobre sua relação com o desejo e como isso se desenvolveu ao longo dos anos.
A pergunta pairou no ar por alguns instantes. Celo inspirou fundo, desviando o olhar para a janela. As memórias começaram a se formar em sua mente, trazendo de volta sensações, frustrações e momentos que, por muito tempo, ele manteve guardados para si.
E então, enquanto se abria para a terapeuta, ele voltou no tempo ...
“Os primeiros anos de casamento com Mari foram intensos e cheios de paixão. Havia desejo, havia novidade, e o sexo acontecia com frequência, mesmo que morno. Mas, conforme os anos foram passando e a rotina se instalou, as coisas começaram a mudar.
Mari, que sempre foi mais reservada naquele aspecto, começou a recuar cada vez mais. O que já era básico, o mínimo necessário, tornou-se previsível, sem espontaneidade, sem espaço para experimentação. Toda vez que Celo tentava trazer alguma novidade, alguma variação, a resposta era sempre a mesma: "Não vejo necessidade disso" ou "Por que mudar algo que já funciona?".
No início, ele tentou relevar, afinal, amava sua esposa. Mas, aos poucos, o ressentimento foi se instalando. Ele não queria apenas o ato em si, queria conexão, queria que Mari se entregasse a ele da mesma forma que ele se entregava a ela. Mas ela parecia incapaz de ir além do que considerava confortável. Ele se sentia culpado por querer mais, por desejar algo diferente, mas não conseguia ignorar a frustração crescente.
Mari associava um comportamento mais safado entre quatro paredes, à promiscuidade. Ela sempre se defendia da mesma forma:
— Uma mulher direita não faz esse tipo de coisa.
Ou:
— Não há necessidade de ultrapassar certos limites e me transformar numa mulher promíscua.
Celo nunca duvidou do amor que sentia por Mari. Desde que a conheceu, ela foi sua companheira, sua melhor amiga, a mulher que escolheu para dividir a vida. Mas, ao longo dos anos, havia um vazio que ele tentava ignorar. O sexo entre eles sempre fora morno, quase mecânico, e qualquer tentativa de conversa sobre isso resultava em discussões ou no afastamento dela. No início do casamento, ele tentava abordar o assunto com paciência, buscando entender os bloqueios de Mari, mas sempre era recebido com um silêncio defensivo ou uma recusa fria.
Ele não sabia do trauma que ela carregava do relacionamento passado, mas com o tempo, se ressentiu por nunca conseguir ultrapassar aquela barreira. Desejava que Mari se entregasse a ele com mais intensidade, com mais desejo. Mas, em vez disso, ele se acostumou a uma rotina previsível. Não havia novidade, não havia entrega total. Havia apenas a obrigação silenciosa de cumprir um papel, e isso começou a corroer algo dentro dele.
Foi assim que, pouco a pouco, Celo começou a buscar refúgio na pornografia. No começo, era apenas uma forma de aliviar a frustração, de encontrar uma saída para o desejo reprimido. Mas, conforme os anos passavam, tornou-se um hábito. Ele se via cada vez mais preso à tela, consumindo vídeos que mostravam casais em situações que ele jamais experimentara.
Não demorou para que encontrasse um nicho específico que o intrigava: casais liberais, homens que compartilhavam suas esposas e, em troca, tinham liberdade para explorar suas próprias fantasias, com outras mulheres.
Traumatizado também, incapaz de revelar a própria verdade para Mari, Celo achou que uma relação mais aberta, uma liberdade falsa, pudesse resolver seus problemas, sua necessidade fisiológica cada dia mais crescente.
Aquilo despertou algo em Celo. Não era apenas a excitação momentânea. Era a ideia de que existiam relações em que o sexo não era uma obrigação, mas uma celebração. Maridos que não precisavam mendigar desejo de suas esposas. Mulheres que se entregavam de verdade, que não viam o prazer como algo sujo ou vergonhoso. Era como se tivesse descoberto um universo paralelo, onde o desejo não era reprimido, mas incentivado.
Nos primeiros meses, ele se recusava a admitir o quanto aquilo mexia com ele. Mas, com o tempo, percebeu que não era só curiosidade passageira. Era um pensamento persistente, algo que, uma vez plantado, não podia ser ignorado. Celo queria mais do que apenas assistir. Queria sentir. Queria entender se aquilo poderia ser a resposta para o buraco que crescia dentro dele.
Uma situação específica o fascinava: Vídeos de casais compartilhando experiências, trocando parceiros, explorando fantasias que iam além do convencional. Aquilo crescia e se enraizava dentro dele. Não apenas pelo aspecto físico, mas pela cumplicidade entre aqueles casais. Eles pareciam livres, conectados de uma forma que ele nunca se sentira com Mari.
Um aspecto importante, não passou despercebido por Celo. Os depoimentos dos casais que participavam daquele mundo diferente. Claro que ele viu casais que não se deram bem e criaram mais cicatrizes do que conexões. Contudo, existiam muitas experiências que demonstravam como evoluiu o relacionamento do casal, a partir do momento em que experimentaram coisas novas. E era isso que ele queria.
Celo nunca pensou em trair sua esposa, mas não conseguia evitar a sensação de que algo lhe faltava. Ele queria entender se aquilo era apenas uma fantasia ou se havia algo mais profundo por trás de sua curiosidade crescente. Se aquilo poderia ser uma solução.”
De volta ao consultório, à realidade, Celo piscou algumas vezes, voltando ao presente. A Dra. Luciana observava atentamente, esperando que ele continuasse. Revelar aquela verdade tão bem guardada, vendo Mari o encarando de olhos arregalados, fez bem para ele.
Ele respirou fundo antes de continuar, sabendo que colocar em palavras algo que por muito tempo ele manteve apenas para si, fora mais terapêutico do que ele imaginava.
Mari, sensível as revelações do marido, disse:
— Nossa, amor. Me desculpe por te empurrar para esse mundo. Sem querer, achando que estava me protegendo, me fechando, acabei fazendo com que você sofresse.
Celo estava cansado de subterfúgios, de rodeios, e resolveu ser direto.
— Sei que estamos num momento delicado, numa zona preocupante, mas existe uma forma eficiente de navegar por esse mar revolto, doutora? Existe uma chance de reverter as coisas e salvar nosso casamento.
A Dra. Luciana o encarou pensativa, enquanto Mari se assustou com as palavras tão diretas do marido.
— Eu não gosto deste termo, Celo. Salvar casamentos não é o meu trabalho. Eu lido com pessoas, as ajudo a entender se querem continuar juntas. Casamento nada mais é do que o desejo de duas pessoas em dividir a vida.
Celo entendeu o que ela queria dizer.
— Você tem razão, doutora. O casamento em si é apenas a decisão de duas pessoas. Não existe salvação, apenas desejo em permanecer e lutar juntas para fazer dar certo.
Mari, orgulhosa, segurou as mãos do marido e repousou a cabeça em seu ombro.
Celo respirou fundo, reunindo coragem para continuar. Ele olhou para Mari, que permanecia ao seu lado, atenta, absorvendo cada palavra. A Dra. Luciana manteve o olhar paciente, incentivando-o a prosseguir.
— Quando comecei a me interessar por esse mundo, não foi apenas pelo sexo. — Ele confessou. — Claro, a parte física sempre foi um fator, mas o que realmente me chamou atenção foi a cumplicidade entre os casais. A forma como pareciam livres, conectados de uma maneira que eu nunca senti que tínhamos. Eu precisava entender melhor.
Ele se sentiu confiante , como se estivesse se preparando para desenterrar algo que há muito tempo guardava para si.
— Foi então que conheci um homem. Um guru, por assim dizer, dentro desse universo liberal. Ele tinha experiência em ajudar casais a entender se aquilo era para eles ou não. Era um sujeito carismático, inteligente, com uma visão de mundo bem diferente da que eu tinha. Procurei ele porque precisava de orientação, porque queria entender se esse caminho poderia ser uma solução para nós.
— E o que ele te disse? — Perguntou a Dra. Luciana, interessada.
Celo olhou para um ponto indefinido da sala e voltou no tempo, viajando por suas memórias enquanto contava.
“Celo se lembrava do dia em que encontrou o tal guru, numa sessão de bate papo online, um homem chamado Vicente. Após dias de comunicação digital, Celo estava realmente interessado em entender melhor sobre o assunto e sugeriu um encontro presencial, já que Vicente e ele moravam na mesma cidade.
O encontro aconteceu em um bar discreto, um lugar frequentado por casais que já viviam aquele estilo de vida.
Vicente, um homem de meia-idade, com um sorriso fácil, o recebeu com um aperto de mão firme e um olhar avaliador e perspicaz. Após a quebra do gelo inicial, algumas doses de bebida e conversa informal, o homem foi direto.
— Então, Celo, você está curioso sobre o mundo liberal? — Vicente perguntou, enquanto bebericava um copo de uísque.
Celo assentiu, meio sem jeito.
— Quero entender melhor. Não sou um cara infiel, nunca pensei em trair minha esposa. Mas há anos sinto que algo está faltando entre nós. Vi como outros casais parecem mais conectados nesse estilo de vida e me pergunto se é isso que falta para nós.
Vicente sorriu, apoiando-se na mesa.
— Sabe, a maioria dos homens que vêm falar comigo tem exatamente essa dúvida. Eles acham que um relacionamento liberal vai resolver os problemas do casamento, mas nem sempre é assim. A base de tudo é comunicação, cumplicidade e respeito. Se não há isso, abrir a relação só vai piorar as coisas. Você acha que sua esposa quer isso também?
Celo hesitou antes de responder.
— Não sei. Mari sempre foi mais reservada, tem muitos bloqueios em relação ao sexo. Mas eu amo minha esposa. Eu só queria que ela se libertasse um pouco mais.
Vicente deu uma risada curta e ergueu o copo.
— Meu amigo, libertação feminina é um conceito poderoso. Mas tem que vir dela. Você não pode forçar, nem empurrar. Só pode dar espaço para ela explorar. Se ela quiser, ela vai. Se não quiser, você tem que aceitar.
— E como eu faço isso? — Perguntou Celo, ansioso. — Como eu sei se ela quer ou não?
Vicente inclinou-se para frente, baixando o tom da voz.
— Você libera. Você tira as amarras e observa. Se ela tem curiosidade, ela vai demonstrar. Se não, vai recuar. Mas tem uma coisa, meu amigo … — Ele deu um gole no uísque e estreitou os olhos. — ... Quem brinca com fogo se queima. Se você abrir essa porta, precisa estar preparado para tudo. Para o prazer, mas também para a dor. Não dá para voltar atrás, depois.
As palavras de Vicente ficaram gravadas na mente de Celo. Ele sabia que estava pisando em um território perigoso. Mas, no fundo, queria acreditar que Mari também poderia querer aquilo.
Celo deu um gole em sua cerveja, respirando fundo antes de soltar:
— A verdade é que, por muito tempo, Mari parecia encarar o sexo como uma obrigação. Algo mecânico, sem aquela entrega verdadeira. Como se fosse só um papel que ela precisa desempenhar. Nunca soube se era por falta de interesse, medo ou qualquer outra coisa.
Vicente inclinou a cabeça, avaliando as palavras de Celo com um olhar experiente.
— Isso pode significar duas coisas, meu amigo. — Ele girou o copo entre os dedos antes de continuar. — Ou ela tem algum trauma, algo que a fez criar barreiras, ou … — Ele fez uma pausa proposital, deixando o suspense no ar — ... Mari pode ser uma loba em pele de cordeiro.
Celo franziu a testa, sem saber ao certo como interpretar aquilo.
— O que você quer dizer com isso?
Vicente sorriu de lado, como se estivesse acostumado com aquele tipo de conversa.
— Às vezes, uma mulher que parece fechada pode estar apenas reprimindo um desejo que não sabe como explorar. Ou que tem medo de mostrar. Muitas mulheres foram criadas para acreditar que prazer é pecado, que não podem querer mais do que o básico. Mas quando encontram a oportunidade certa, se soltam de um jeito que você nem imagina.
Celo ficou em silêncio, assimilando aquelas palavras.
— Você acha que esse pode ser o caso da Mari?
Vicente deu de ombros.
— Não sou adivinho, meu amigo. Mas já vi de tudo nessa vida. O único jeito de saber é observar. Você a conhece melhor do que ninguém. Ela sempre recusou qualquer ideia fora do convencional por convicção ou por insegurança? Ela já demonstrou alguma curiosidade, mesmo que de forma sutil?
Celo desviou o olhar, pensando em todas as vezes que Mari reagiu com hesitação, mas também nas pequenas brechas que ela, sem perceber, deixava escapar.
— Às vezes … Eu achava que via um brilho diferente nos olhos dela quando falávamos sobre algumas coisas. Mas sempre que eu tentava aprofundar o assunto, ela recuava.
Vicente sorriu, apontando o copo para ele.
— Então aí está sua resposta. Se há curiosidade, há possibilidade. Mas cuidado, Celo. Porque se Mari for uma loba em pele de cordeiro, uma vez solta … — Ele riu baixo, balançando a cabeça. — ... Você pode acabar descobrindo que o problema nunca foi falta de desejo. Mas sim falta de incentivo, ou melhor, do inventivo certo.
Celo sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele queria acreditar que aquela conversa traria clareza, mas saía dali com mais dúvidas do que certezas.
Vicente bateu no ombro dele e finalizou:
— Só não esquece, meu amigo … quem brinca com fogo, se queima. Você está pronto para lidar com as consequências se abrir essa porta?
Celo não soube responder.
De volta ao consultório, Mari o observava com os olhos arregalados, absorvendo tudo o que ele acabara de dizer.
— Então foi por isso que você nunca insistiu diretamente? — ela perguntou, num tom quase suave.
Celo concordou.
— Sim. Eu queria ver até onde você iria sozinha. Queria que fosse um desejo seu, e não algo que eu impusesse. Mas eu não esperava que … — Ele hesitou, desviando o olhar. — ... Não esperava que a primeira vez que te visse explorando isso fosse daquela forma. Com Paul.
Mari sentiu um nó no estômago ao ouvir aquilo. A culpa, o remorso, tudo voltou à tona. Ela segurou a mão de Celo, apertando-a suavemente.
A Dra. Luciana observava tudo com atenção e então interveio:
— Celo, você se sentiu traído, mesmo sabendo que, de certa forma, queria que Mari explorasse essa liberdade?
Ele fechou os olhos por um instante antes de responder.
— Sim. Porque eu não fazia parte disso. Porque aconteceu sem que fosse algo nosso. E porque, no fundo, eu tinha medo de que, uma vez experimentando essa liberdade, ela não me quisesse mais.
O silêncio preencheu o consultório. Mari engoliu em seco e respondeu com firmeza:
— Eu nunca quis outra pessoa além de você. Nunca.
Celo soltou um suspiro pesado, sentindo um alívio estranho ao finalmente colocar tudo para fora.
A Dra. Luciana sorriu satisfeita, vendo que, apesar da dor, aquele momento era um avanço.
— Esse é o tipo de conversa que vocês precisavam ter há muito tempo. E agora que tudo está às claras, podemos começar a entender o que fazer daqui para frente.
Celo e Mari se entreolharam, sentindo que estavam realmente se escutando. Mari brincou:
— Eu acabei me transformando na loba, então? — Mari sorria, mas estava nervosa.
Celo a acalmou:
— Nem tanto. Sua reação, o arrependimento, mostra que eu não tenho motivos para desconfiar da sua honestidade. Você me mostrou com ações, não apenas com palavras vazias, que estava arrependida.
Infelizmente, a primeira sessão de terapia do casal havia chegado ao fim. Ver Celo se abrindo, colocando tudo para fora, só deu a Mari ainda mais certeza de que deveria fazer o mesmo. Uma nova luz, esperança genuína, brilhava sobre eles.
Mesmo com Mari entusiasmada, querendo continuar a conversa em casa, Celo precisava de tempo. Já na manhã seguinte, tinha uma reunião importante, o dia de mostrar para o cliente o novo projeto que vinha sendo criado há meses.
Já era tarde da noite, e Celo ainda trabalhava em seu escritório, corrigindo e revisando os últimos detalhes para a manhã seguinte, quando Mari adentrou o escritório. Ela vestia apenas uma camisola semitransparente, sem nada por baixo. Só de vê-la, o pau dele deu tranco.
— Você está linda. — Ele disse.
Mari deu uma voltinha, rebolando a bunda, mexendo com todos os instintos do marido.
— Já acabou? Estou com saudade. — Mari caminhou de forma bem sensual até ele. — Eu quero compensar todos os anos de recusas e recato. Você merece o melhor de mim. Merece uma esposa que o faça feliz em todos os sentidos.
Celo não se segurou, agarrando Mari pela cintura e a fazendo se sentar em seu colo.
— Vem aqui, sua safada. Eu que não vou recusar.
O beijo já começou intenso, desesperado, as línguas se procurando sem descanso. Celo desceu beijando o pescoço, apalpando os seios e dando um apertão mais forte na bunda.
— Isso … faz o que quiser comigo … sou toda sua. — Mari o encorajou.
Celo, brincando, ameaçou limpar a mesa de trabalho, jogar tudo no chão como nos filmes, mas parou de repente.
— Não! — Ele sorriu para Mari. — São meses de trabalho. Seria difícil organizar tudo depois.
Celo pegou Mari no colo e caminhou com ela até o sofá do escritório e fez com que ficasse de quatro, apoiada no encosto. Ele levantou a camisola, admirando a bucetinha carnuda, lisinha, que já começava a se encharcar de tesão.
Com um movimento rápido, Celo abaixou as calças e a cueca, revelando seu pênis ereto e pulsante. Ele se aproximou de Mari, sentindo o calor do corpo dela e o aroma do perfume que ela usava. Com a mão, ele acariciou a bunda de Mari, sentindo a pele macia e quente. Em seguida, ele a penetrou com um movimento firme e rápido, fazendo Mari arquear as costas e gemer de prazer.
— Ah, Celo ... — Ela gemeu alto.
Celo começou a se mover em um ritmo intenso, cada vez mais rápido e profundo. Mari se apoiava no encosto do sofá, sentindo o prazer crescer a cada movimento. O som dos corpos se chocando ecoava pelo escritório, misturado com os gemidos de prazer dos dois.
Em poucos minutos, Celo sentiu que estava prestes a gozar. Ele apertou Mari com mais força, aumentando o ritmo e a intensidade. Mari, sentindo o clímax se aproximar, começou a se contorcer, o corpo trêmulo de prazer.
— Vai, amor ... vai ... — Ela sussurrou, quase sem fôlego.
Com um último movimento poderoso, Celo gozou, sentindo o prazer explodir em seu corpo. Mari também alcançou o clímax, o corpo sacudido por espasmos de prazer. Os dois permaneceram ali por um momento, abraçados, recuperando o fôlego.
Depois, Celo se afastou lentamente, ajudando Mari a se levantar. Eles se abraçaram, sorrindo um para o outro, o amor e o desejo ainda palpáveis no ar.
— Eu te amo. — Celo disse, beijando a testa de Mari.
— Eu também te amo. — Mari respondeu, a voz suave e carinhosa.
Eles se beijaram novamente, o amor e o desejo ainda ardendo entre eles, mas agora com uma sensação de paz e satisfação. Aquele sexo rápido, mas intenso, era apenas o início de uma noite tórrida de amor entre o casal.
O despertador do celular vibrou suavemente na mesa de cabeceira, mas Celo já estava acordado. O corpo de Mari, ainda envolto no lençol, se encaixava contra o dele, quente e confortável. A noite anterior tinha sido intensa, mas também cheia de risadas, beijos e toques que os fizeram esquecer do tempo.
Celo sorriu, sentindo o cheiro adocicado dos cabelos de Mari, e passou a ponta dos dedos pela curva de sua cintura.
— Já acordado? — A voz de Mari veio baixa e preguiçosa.
Ela se virou, os olhos sonolentos, mas brilhando ao encontrarem os dele.
— Difícil querer sair da cama depois da noite que tivemos. — Ele beijou a testa dela e suspirou. — Mas tenho aquela reunião importante daqui a pouco.
Mari fez um biquinho de falsa frustração e deslizou as mãos pelo peito dele antes de se esticar para um beijo demorado.
— Então vai tomar banho enquanto eu preparo o café. — Ela disse, saindo da cama com a leveza de quem parecia flutuar.
Celo a observou por um instante antes de se levantar e ir para o chuveiro. A água quente ajudou a espantar o resto de sono e o fez se concentrar na reunião que teria em breve. Ele se vestiu com calma, escolhendo um terno apropriado para a ocasião. Quando chegou à cozinha, o cheiro de café fresco e pão na chapa tomou conta do ambiente.
Mari estava ali, a mesma camisola da noite anterior, e cabelos presos de qualquer jeito, mas para ele, era a imagem do aconchego.
— Café preto, como você gosta, e um pãozinho pra te dar energia. — Ela sorriu, entregando a xícara.
Celo repousou a xícara na mesa e tomou Mari nos braços, beijando sua boca com desejo renovado.
— Obrigado pela noite incrível. Você tem me mostrado que eu estava certo em voltar para casa. — Celo se sentou, tomou um gole do café e fechou os olhos por um segundo, apreciando o momento.
Mari se apoiou no balcão, observando-o.
— Só estou garantindo que meu marido tenha a esposa que merece e que saía de casa feliz e bem alimentado.
Eles terminaram o desjejum entre conversas leves e sorrisos, com Celo aproveitando cada minuto antes de precisar encarar o mundo lá fora. Quando finalmente pegou as chaves e a pasta executiva, Mari o acompanhou até a porta.
— Você vai arrasar nessa reunião. — Ela segurou o rosto dele com as duas mãos e deu um beijo leve em seus lábios.
Celo sorriu, retribuindo o beijo e dando um último abraço antes de sair.
— Com um começo de dia desse, é impossível não arrasar.
E com isso, ele partiu, levando consigo a leveza daquele momento e a certeza de que, não importava o que o dia trouxesse, ele ainda tinha um porto seguro para voltar.
A sala de reuniões da TechShield era ampla, com paredes de vidro que refletiam a modernidade da empresa. No centro, uma mesa longa de carvalho escuro reunia executivos e diretores, todos atentos ao homem que liderava a apresentação. Celo se posicionava com segurança, exibindo gráficos e projeções sobre o novo sistema de monitoramento e segurança digital que estava propondo.
— Com essa implementação, garantimos um aumento de 70% na proteção contra invasões e fraudes. — Ele virou-se para os diretores. — Além disso, a tecnologia de machine learning identificará padrões suspeitos em tempo real, prevenindo ataques antes mesmo que aconteçam.
Os investidores trocaram olhares, impressionados. A TechShield queria um projeto inovador, e Celo estava entregando exatamente isso.
— E a integração com os sistemas legados? — Um dos diretores perguntou.
Celo olhou diretamente para o homem, confiante.
— Já mapeei as necessidades de compatibilidade. Em até três meses, garantimos uma transição fluida, sem impacto nas operações diárias.
Do outro lado da mesa, Chris escutava tudo com atenção. Ele não fazia parte da equipe da TechShield, mas era um dos consultores externos chamados para avaliar os riscos do projeto. No fim da apresentação, quando os aplausos discretos indicaram a aprovação dos executivos, Celo começou a organizar seus materiais para sair. Foi então que percebeu Chris se aproximando.
— Celo. — Chris estendeu a mão. — Faz tempo.
Celo retribuiu o aperto de mão, mantendo a postura profissional.
— Pois é. Surpresa te ver por aqui.
— Digo o mesmo. Você está com um grande projeto nas mãos. Mandou bem.
Celo deu de ombros, desconfortável com elogios vindos dele.
— Só fazendo meu trabalho.
Chris hesitou por um segundo, então decidiu ir direto ao ponto:
— Precisamos conversar.
Celo fechou sua pasta e verificou o relógio.
— Tenho outro compromisso agora. Podemos marcar para outro dia?
Chris concordou, mas havia urgência em seu olhar.
— É importante, Celo. Não tem a ver com trabalho.
Celo levantou o olhar, avaliando o agora considerado ex-colega. Algo no tom de Chris indicava que não era apenas uma conversa casual.
— Tudo bem. Me manda uma mensagem e vemos um horário.
Chris soltou um meio sorriso, aliviado.
— Vou fazer isso.
Enquanto se despediam, Celo sentiu que aquela conversa não seria fácil. E, pelo jeito, envolvia muito mais do que ele estava disposto a admitir.
Para manter controle sobre a conversa, Celo aceitou a mensagem de Chris dois dias depois e marcou o encontrou para sua casa. O dia do encontro chegou rápido, no sábado seguinte.
Chris respirou fundo, olhando para a esposa, Fabi, que apertou sua mão em um gesto de encorajamento. Ele então voltou o olhar para Celo, determinado a contar tudo.
— Celo, eu sei que sua visão do Paul não é das melhores agora. Mas antes de você julgar, quero te contar o que ele fez por nós.
Celo cruzou os braços, cético, mas não interrompeu.
— Nós conhecemos Paul e Anna na faculdade. Eu e Fabi já estávamos juntos há algum tempo, e eles também formavam um casal sólido. Mas, naquela época, nossa vida estava longe de ser fácil. Meu pai teve um colapso financeiro, perdeu quase tudo, e eu me vi sem apoio nenhum. Eu estava na metade do curso de Engenharia, e Fabi estudava Design. O problema é que, sem dinheiro, eu quase tive que abandonar tudo.
Ele fez uma pausa, como se revivesse aqueles dias difíceis.
— Paul foi a primeira pessoa a estender a mão. Ele tinha conseguido um estágio muito bem remunerado, sua família sempre teve boa situação financeira, e, sem que eu pedisse, apareceu um dia na minha casa com um contrato. Ele queria emprestar dinheiro para que eu continuasse estudando, mas fez questão de formalizar tudo para que eu não me sentisse humilhado ou inferior.
Mari e Celo se entreolharam, surpresos.
— Eu recusei, claro. Meu orgulho falou mais alto. Mas ele insistiu, dizendo que não aceitaria um "não". Se não fosse por ele, eu teria largado a faculdade e provavelmente estaria atolado em dívidas até hoje.
Celo respirou fundo, absorvendo aquela informação.
— Mas não foi só isso — Fabi interveio, seu olhar carregado de emoção. — Quando minha mãe ficou doente, Paul e Anna estavam lá. Eles nos ajudaram de todas as formas possíveis, seja emocionalmente, financeiramente, ou simplesmente sendo o ombro amigo que precisávamos.
Chris continuou.
— O que quero dizer é que, Paul pode ser um cara provocador, às vezes até arrogante, mas quando ele se importa com alguém, ele dá tudo de si. Ele nunca faz nada pela metade.
Celo ainda tentava processar tudo.
— Ok … Isso explica a parte do Paul ser um bom amigo. Mas onde entra o fato de isso ter a ver com o que aconteceu com a gente?
Chris respirou fundo, sabendo que aquela era a parte mais delicada da conversa.
— Do mesmo jeito que ele fez com vocês, Celo, fomos nós que o iniciamos, anos atrás.
— Como assim? — Mari perguntou, curiosa.
— Eu sempre percebi que havia algo nele e na Anna, algo que eles talvez nem entendessem totalmente na época. Eles tinham aquela conexão intensa, mas havia uma inquietação neles, uma curiosidade que ficava no ar. Eu notei, porque passei pela mesma coisa com a Fabi.
Fabi sorriu disfarçadamente, lembrando-se daqueles dias.
— Nós já tínhamos experimentado esse tipo de relação, mas sabíamos que dar o primeiro passo era difícil. Muitas pessoas passam a vida inteira presas em algo que não as completa porque têm medo do que os outros vão pensar ou medo do que vão descobrir sobre si mesmas.
Chris se inclinou um pouco para frente, enfatizando suas palavras.
— Foi por isso que tomei a iniciativa de falar com Paul e Anna. Mas fiz isso porque eu sabia que o desejo estava lá. Vi isso nos olhos deles muito antes de eles admitirem para si mesmos. Se eu não tivesse dito nada, talvez ele e Anna nunca tivessem encontrado esse caminho juntos.
Celo absorveu aquela informação, sentindo um leve incômodo ao perceber o paralelo com a abordagem de Paul com Mari.
— Então … — Celo começou escolhendo bem as palavras. — ... Você acha que Paul fez comigo o que você fez com ele?
Chris confirmou.
— Sim. Eu acho que ele viu algo em você e na Mari que talvez vocês mesmos não tenham percebido. Só que a diferença é que ele errou na abordagem, e as circunstâncias foram outras. Mas eu te garanto, Celo … Paul nunca quis te machucar.
O silêncio tomou conta da sala. Mari abaixou os olhos, tocada pela história. Celo, por outro lado, sentia um nó no estômago. Ele ainda não sabia como perdoar Paul, mas, sentia que precisava enxergar o homem além dos erros.
Celo franziu a testa, sentindo a tensão crescer dentro de si. Ele não gostava do rumo que aquela conversa estava tomando.
— Do que você está falando, Chris? Seja mais direto. — Celo perguntou, cruzando os braços.
Chris respirou fundo, escolhendo bem as palavras antes de continuar.
— Estou falando sobre aquele feriado na casa de praia. Celo, eu e Fabi estávamos lá o tempo todo, observando vocês. Você acha que Paul simplesmente tirou essa ideia da cabeça dele? Não, cara. Vocês dois deram todos os sinais de que estavam dispostos a dar esse passo. Vocês foram sabendo onde estavam se metendo.
Celo bufou, balançando a cabeça.
— Isso é ridículo. Eu nunca …
Chris ergueu a mão, interrompendo.
— Celo, vamos ser honestos aqui. Você acha que Paul teria forçado a barra se não tivesse certeza? Nós sempre tivemos esse instinto para perceber quem está pronto e quem não está. Fizemos isso com Giba e Cora, e estávamos certos. Fizemos isso com outros casais antes, e nunca erramos. Só que, no caso de vocês, havia algo diferente … Algo que nenhum de nós viu a tempo.
Mari mexeu-se desconfortável no sofá.
— O que quer dizer?
Chris olhou diretamente para ela.
— Que, fora o desejo que vocês tinham — e, sim, vocês tinham —, existiam problemas maiores entre vocês. Coisas que vocês mesmos não queriam admitir.
Celo sentiu o estômago revirar. Ele abriu a boca para rebater, mas nada saiu. Chris continuou.
— E eu vou perguntar algo, e quero que sejam sinceros. Vocês estão sendo totalmente honestos sobre a situação de vocês? Sobre o que realmente estava acontecendo antes daquela viagem?
Mari desviou o olhar, engolindo em seco.
— Chris …
— Não, Mari. Eu preciso perguntar isso. Porque, sinceramente, eu sinto que, fora tudo o que rolou na casa de praia, vocês já tinham questões urgentes para resolver. E, desculpe se isso te incomoda, Celo, mas Paul não é totalmente culpado por tudo o que aconteceu.
O silêncio foi esmagador. Mari olhou para Celo, que mantinha a expressão fechada. Mas dentro dele, o turbilhão era incontrolável.
Chris encostou-se ao sofá, exausto.
— Eu sei que não posso mudar o que aconteceu. Sei que Paul pode ter exagerado na abordagem, e talvez tenha cometido erros. Mas eu precisava que vocês entendessem que ele nunca quis destruir nada. Ele só viu em vocês o que viu em tantos outros casais, antes. Só que, daquela vez, havia mais por trás.
Fabi finalmente se pronunciou, sua voz suave, mas firme.
— Vocês não precisam perdoá-lo agora. Talvez nunca perdoem. Mas, por favor, tentem olhar para essa situação com um pouco mais de clareza.
Mari respirou fundo, apertando as mãos no colo. Celo continuava em silêncio. Mas não conseguia simplesmente negar tudo o que estava ouvindo.
O clima na sala ficou pesado. Celo apertava os punhos, tentando conter a raiva que crescia dentro dele.
— Você não acha que está sendo desrespeitoso? Entrando na minha casa e me tratando como um imbecil? Quem você acha que é para me dar esporros?
Chris manteve a calma, mas sua expressão carregava cansaço. Ele suspirou, apoiando os cotovelos nos joelhos, e olhou diretamente para Celo.
— Me desculpe se soei desrespeitoso. Não tive essa intenção. Pelo contrário, só vim aqui porque gostamos de vocês e não queremos que se afastem. E nem vim como advogado do Paul, por ele estar sofrendo com o que fez. Vim porque Fabi me pediu, porque o respeito, Celo. Não perderia meu tempo, e muito menos o seu, se sua amizade não fosse importante para nós. Só queria que você soubesse quem é o verdadeiro Paul.
Mari olhava de um para outro, inquieta. Fabi manteve a mão sobre a perna do marido, um gesto de apoio silencioso.
Celo soltou um riso seco, estridente.
— O verdadeiro Paul? O cara que cruzou uma linha que não devia? O cara que se meteu no meu casamento sem saber de nada?
Chris meneou a cabeça devagar.
— O cara que errou? Sim. O cara que extrapolou? Sim. Mas também o cara que sempre esteve lá para os amigos, que ajudou muita gente a encontrar a própria felicidade. Inclusive nós.
Celo estreitou os olhos.
— O que quer dizer com isso?
Chris respirou fundo, como se estivesse se preparando para abrir algo que ficou guardado por tempo demais.
— Vou te contar uma história. Talvez você já tenha ouvido parte dela, talvez não. Mas quero que ouça até o fim.
Celo, ainda tenso, gesticulou para que ele continuasse. Chris ajeitou-se no sofá antes de começar.
— Eu e Fabi sempre tivemos uma relação muito forte, mas houve um período … sombrio. Um período em que tudo pareceu prestes a desmoronar. E foi Paul quem nos ajudou a encontrar o caminho de volta.
Fabi o encorajou, apertando levemente o braço do marido.
— Nós éramos jovens — continuou Chris — tínhamos acabado de ir morar juntos, e cometemos um erro que muitos casais cometem: nos afundamos em responsabilidades e esquecemos um do outro. O trabalho consumia meu tempo, e Fabi, mesmo tentando ser compreensiva, começou a se sentir sozinha. Nosso noivado se tornou … morno. Até chegamos a conversar sobre separação.
Celo observava em silêncio, a tensão no rosto suavizando aos poucos.
— Quando percebi, já havia um abismo entre nós. Um abismo tão grande que pensei que nunca mais conseguiríamos cruzá-lo. Foi nesse período que Paul entrou em cena novamente.
— Como assim? — Mari estava muito curiosa, interessada na história.
Fabi sorriu, relembrando.
— Paul nos conhecia desde a faculdade. Sempre foi um cara observador. Ele percebeu o que estava acontecendo com a gente antes mesmo de percebermos. E, em vez de julgar ou se afastar, ele nos fez uma pergunta que mudou tudo: O que vocês realmente querem?
Chris riu baixinho, balançando a cabeça.
— Foi tão simples, mas tão impactante. Ele não sugeriu nada, não impôs nada. Apenas nos fez olhar para dentro e nos perguntar se estávamos felizes do jeito que estávamos.
Celo estava concentrado, absorvendo aquilo.
— E vocês perceberam que não estavam.
Chris assentiu.
— Exato. Foi Paul quem nos ajudou a ter essa conversa difícil, a encarar nossos desejos e inseguranças. Ele e Anna já tinham passado por algo parecido, mas nunca nos pressionaram. Só que, quando viu que o interesse estava lá, que a gente só precisava de um empurrão para superar o medo, ele nos deu a coragem que faltava. Assim como fizemos com eles, um tempo antes.
Fabi olhou para Celo e Mari, séria.
— Se não fosse por ele, talvez tivéssemos continuado empurrando tudo com a barriga e até nosso casamento, não teria acontecido. Mas, por causa daquela conversa, nos reconectamos. Descobrimos uma nova forma de viver, de amar, e nos tornamos mais fortes do que nunca.
Chris respirou fundo antes de concluir.
— Então, quando Paul viu vocês na casa de praia, ele interpretou os sinais da mesma forma que fizemos com eles e com outros antes. Só que o que ele não percebeu foi que, no fundo, havia algo quebrado entre vocês. Algo que nenhum de nós viu a tempo.
Celo esfregou o rosto com as mãos, sentindo um peso estranho no peito. Ele ainda não sabia como digerir tudo aquilo, mas não podia negar que a história fazia sentido.
Chris inclinou-se um pouco mais para frente, olhando diretamente para ele.
— Eu não estou aqui para forçar nada, Celo. Só queria que você entendesse que Paul não é um vilão. Ele é um cara que acreditou que estava ajudando, da mesma forma que nós o ajudamos e que ele ajudou a gente.
Mari suspirou, a mente girando. Celo baixou a cabeça, absorvendo cada palavra. Ele ainda sentia a mágoa, a raiva, mas, naquele momento, a dúvida que já existia, começou a ganhar tamanho.
“E se … Paul realmente não fosse o único culpado? Era muito fácil esquecer de seus próprios arrependimentos e escolher alguém a quem culpar”.
De qualquer forma, aquele final de semana passou voando e a segunda-feira tinha chegado. E com ela, uma nova sessão com a Dra. Luciana. Era a vez de Mari encarar seu passado, e o compartilhar em detalhes com o marido.
Continua …
* Trecho de "Por quem os sinos dobram?", música do Raul Seixas.
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