1 ANO DEPOIS
O céu se tingia de tons dourados e alaranjados quando parei diante da varanda da casa. A brisa soprava suave, trazendo o cheiro da terra molhada e do campo. O cheiro de casa.
Um ano desde que eu e Eduardo assinamos os papéis, tornando-nos oficialmente donos da fazenda. O peso daquela conquista ainda era algo difícil de descrever. Quando pedi ajuda ao meu avô, Gustavo, sabia que ele não nos daria nada de graça. Ele me olhou sério, como sempre fazia, e disse:
— Se eu vou emprestar esse dinheiro, quero ter certeza de que você sabe o que está fazendo.
Na época, minha voz saiu firme, mesmo com o coração batendo forte:
— Eu sei, vô. Sei mais do que nunca.
E agora, ali estávamos. Eduardo ao meu lado, observando o pôr do sol como fazíamos todas as tardes. Tudo era nosso. Cada árvore, cada cerca, cada pedaço de chão.
— Isso aqui agora é nosso… — Eduardo disse, com um meio sorriso.
Eu segurei sua mão e apertei forte. Porque, por muito tempo, achei que não teríamos um final feliz. Passamos por tempestades, erros, separações, reconciliações… Mas agora, aquilo não era mais um sonho distante. Era realidade. Nossa realidade.
De longe, vi Túlio e Miguel lidando com os cavalos. Túlio resmungava, Miguel ria. Sempre a mesma coisa. Mas a verdade é que, desde que começaram a morar juntos na casa próxima à fazenda, pareciam ter encontrado um equilíbrio estranho.
— Esses dois ainda vão dar um jeito de se matar ou… — Eduardo comentou, seguindo meu olhar.
Sorri.
— Ou se casar.
Ele riu, balançando a cabeça.
Mas nada, nada no mundo, era maior do que a vida que construímos com Ana.
Sentada nos degraus da varanda, balançava as pernas, os cabelos longos presos em uma trança. Quando me viu, sorriu daquele jeito que fazia meu coração derreter todas as vezes.
— Olha isso! — Ela correu até mim com um caderno nas mãos. — Fiz um desenho da gente!
Me abaixei ao lado dela e peguei o caderno. Era um rabisco colorido, mas cheio de vida. Nossa casa, a fazenda, os cavalos… e nós três no centro, de mãos dadas.
— Ficou lindo, meu amor — eu disse, sentindo um nó na garganta.
Ela sorriu, orgulhosa, e se jogou nos meus braços.
O sol desaparecia no horizonte, e o céu se enchia de estrelas. Ana bocejou baixinho, e eu a abracei, pensando no quanto ele teve que amadurecer tão rápido devido as circunstâncias . Meu coração apertou. O tempo passava rápido demais.
Eduardo se aproximou, envolvendo nós dois em um abraço.
— Conseguiu tudo o que queria? — ele perguntou, baixinho.
Olhei ao redor. Túlio e Miguel discutindo como sempre, mas juntos. A fazenda viva, pulsante. Ana ao nosso lado.
Respirei fundo, deixando as palavras saírem com todo o peso do que sentia.
— Consegui mais do que sonhei.
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Eu e Eduardo estávamos deitados na laje da nova baía, lado a lado, olhando as estrelas. O cheiro da terra, o frescor da brisa, tudo parecia em perfeita harmonia.
Ficamos ali sem falar nada por um tempo, apenas sentindo a presença um do outro. Até que Eduardo suspirou!
— Sabe o que é louco? — ele murmurou. — A gente começou isso tudo por obrigação.
Eu soltei um riso curto, sem tirar os olhos da paisagem.
— Você quer dizer quando tivemos que casar por causa do dinheiro?
Ele virou o rosto para mim, sorrindo de lado.
— É. Naquele dia, eu pensei que a gente ia acabar se matando!
— Não teria sido surpresa. A gente brigava o tempo todo.
Eduardo riu.
— Brigava não, a gente se engolia vivo.
— Ainda brigamos.
Ele me olhou com aquele brilho divertido nos olhos.
— Mas agora é diferente.
Fiquei em silêncio por um instante, sentindo o peso das palavras dele. Sim, era diferente. Agora, cada briga era só mais um detalhe em uma história que nunca deixaria de ser nossa.
— Lembra quando você quase matou o Edward e depois ainda ficou todo bruto comigo — provoquei.
Eduardo revirou os olhos.
— Você mereceu que eu ficasse chateado né.
— Eu só falei que você tava com ciúmes sem motivo.
— Você *sempre* dava motivo!
Dessa vez, eu gargalhei.
— Você odiava o Edward né ?
— Odiava mesmo. E tava certo. Se eu tivesse dado mole ele teria feito de tudo pra te roubar de mim! E você é só meu!
Balancei a cabeça, rindo. O ciúme dele sempre foi explosivo, e talvez tivesse razão em algumas coisas. Mas mesmo quando Eduardo era irracional, quando se fechava e ficava difícil de lidar, eu nunca deixei de amar ele.
— E eu? — perguntei, arqueando a sobrancelha. — Não tem nada de ruim pra falar de mim?
Ele cruzou os braços, me analisando como se estivesse tentando decidir por onde começar.
— Você cozinha bem demais.
— E isso é um defeito?
Ele suspirou, fingindo indignação.
— É, porque agora eu sou viciado na sua comida.
Eu ri, e Eduardo sorriu junto. Aqueles sorrisos que só nós dois entendíamos, que carregavam anos de história, de amor, de tudo o que passamos.
— Você não existe, Eduardo.
— E mesmo assim, você me ama.
- Mas eu errei muito! - Suspirei!— Eu… — comecei, sentindo o peso do que eu precisava dizer. Minha voz soou mais falha do que eu imaginava. — Eu demorei tanto pra perceber o que estava bem na minha frente, Eduardo. Tantas vezes eu tentei ignorar o óbvio, tentei ser algo que não sou, e acabei quase te perdendo.
Eduardo ficou sentado e me olhou, confuso e atento, mas seu olhar não deixou de ser acolhedor. Ele não dizia nada, mas estava esperando. Esperando por mim.
— Eu fui imaturo, muito imaturo — continuei, as palavras saindo mais devagar do que eu queria, como se eu tivesse medo do que poderia acontecer depois. — Não soube lidar com o que sentia por você. Tantas vezes te afastei com minhas inseguranças, meu orgulho… Eu não consegui abrir meu coração pra você, não consegui me entregar, e isso só fez a gente se afastar.
Eu sentia o arrependimento apertar meu peito, como se fosse difícil respirar. Tantas coisas que eu queria ter dito e não disse. Tantas vezes em que estive com você e não fui capaz de ser quem eu realmente sou. Eu quase perdi tudo por isso.
— Eu… eu não te disse o quanto te amo. Eu não consegui, Eduardo. Eu tinha tanto medo de te perder que… acabei te afastando de mim. Eu sei que errei. Me arrependo profundamente de tudo isso.
As palavras ficaram presas por um momento. Eu não esperava que fosse tão difícil falar tudo isso, mas eu precisava. Eu precisava que ele soubesse.
Eduardo não falou nada, mas vi em seus olhos que ele estava me entendendo. Ele se aproximou de mim, com a expressão suave, como se já soubesse o que estava se passando dentro de mim. Eu queria mais, queria poder mudar tudo que fiz errado, mas não havia como voltar atrás. O que eu podia fazer agora era ser honesto.
— Eu sei que errei, e tudo o que mais me dói é saber que poderia ter feito as coisas de outra forma. Se eu tivesse confiado no que estava dentro de mim desde o começo, tudo teria sido diferente. Mas, por medo, acabei nos colocando em risco. E eu me arrependo de não ter falado antes, de não ter sido mais sincero com você.
Eduardo me olhou em silêncio por um momento. Não havia raiva, não havia ressentimento. Apenas uma compreensão profunda. Ele colocou a mão no meu ombro, e eu senti o alívio de, finalmente, poder dizer tudo o que estava guardado dentro de mim.
— O que importa é que estamos aqui agora, André. Juntos.
As palavras dele foram como um bálsamo, e algo dentro de mim finalmente se acalmou. Eu sabia que o passado não podia ser mudado, mas o futuro ainda estava ali, aberto diante de nós.
Ele se aproximou, segurando minhas mãos, entrelaçando nossos dedos como se quisesse me prender ali para sempre.
— Lembra quando eu prometi que ia te fazer feliz?
Eu assenti, sentindo o coração apertar.
— Lembro.
— E eu consegui?
Engoli em seco, porque meu peito parecia pequeno demais para a emoção que subia dentro de mim.
— Mais do que sonhei.
Eduardo passou os dedos pelo meu rosto, devagar, como se quisesse gravar cada detalhe da minha pele na memória.
— Então me promete uma coisa agora, André.
Minha voz saiu quase num sussurro.
— O quê?
Ele se aproximou, nossos rostos quase se tocando, o calor da respiração dele contra a minha pele.
— Que vai me amar até a morte.
Meu coração falhou uma batida. Mas eu já sabia a resposta, sabia desde o primeiro dia que nos conhecemos, desde o primeiro beijo, desde a primeira vez que brigamos e fizemos as pazes.
— Eu prometo — murmurei.
E então nos beijamos.
Foi um beijo lento, profundo, carregado de tudo o que já fomos e tudo o que ainda seríamos. Cada briga, cada reconciliação, cada vez que achei que não daríamos certo, e cada vez que provamos que o amor sempre nos encontrava de novo.
Quando nos afastamos, Eduardo encostou a testa na minha, e ficamos ali, respirando juntos. O mundo parecia longe. Só existíamos nós dois, sob aquele céu estrelado, diante da terra que construímos juntos.
E eu soube, com toda certeza, que nunca estaríamos sozinhos. Porque nosso amor era eterno. E sempre seria.E fiquei, solenemente, com meu destino ao meu lado, como se finalmente houvesse encontrado o caminho que sempre busquei.
FIM!!
**Agradecimento**
Escrever este livro foi uma jornada intensa, cheia de altos e baixos. Teve dias em que as palavras fluíam como um rio, mas também houve momentos em que tudo parecia seco, vazio… em que eu me perguntava se fazia sentido continuar. Tantas vezes pensei em desistir. Tantas vezes me senti pequeno diante da imensidão dessa história.
Mas então, eu lembrava de vocês.
De cada pessoa que, mesmo sem me conhecer, se entregou a essa história. Que sentiu as dores de André e Eduardo, que chorou com eles, que se desesperou, amou e teve medo junto com eles. Pessoas que, de alguma forma, se enxergaram ali, nos detalhes, nas falhas, na luta por um amor que insistia em resistir.
Não foi uma história fácil. Em muitos momentos, ela doeu em mim tanto quanto pode ter doído em vocês. Mas a vida também é assim, não é? Feita de despedidas que rasgam, de injustiças que sufocam… mas também de reencontros, de perdão, de segundas chances.
Se você chegou até aqui, saiba que esse livro não foi escrito só por mim. Ele foi escrito por cada um de vocês que me acompanharam até o fim, que dedicaram seu tempo, sua emoção e seu coração a esses personagens. Esse livro é nosso.
E mesmo que essa história termine aqui, quero que saibam que ela sempre estará viva. Em cada um que se identificou com André, que entendeu Eduardo, que sorriu com Túlio ou que se emocionou com Ana. Ela viverá para sempre em quem sentiu.
E se você, assim como eu, ainda tem fôlego para mais uma jornada… saiba que isso não é um adeus.
Uma nova história está vindo aí. Talvez ela também machuque, talvez ela cure. Mas, acima de tudo, eu espero que ela toque vocês da mesma forma que essa tocou.
Do fundo do meu coração, obrigado por tudo.
**Alex Lima Silva**