Em meados de 2023, esse ainda era um perfil novo e esta era a minha terceira série autoral como Lukinha. Naquela época, eu estava dividindo meu tempo, criando e postando três séries ao mesmo tempo. Alguns leitores me fizeram refletir, mostrando que uma série acabava roubando atenção e, principalmente, qualidade da outra.
De lá para cá, amadureci, criei diversas outras séries, contos curtos, ou para os desafios da casa e acredito que tenha evoluído um pouquinho como autor.
Por diversas vezes, pensei em retomar essa história, terminá-la de uma vez, mas sempre começava um novo projeto e ia adiando. Essa série foi muito elogiada e, desde seu hiato, sempre aparecia algum leitor pedindo que eu a retomasse. As estrelas e comentários a cada parte deixam isso evidente.
Desta vez, irei até o final, sem interrupções. Peço desculpas a todos por ter feito que esperassem por tanto tempo.
Um abraço e ótima leitura a todos.
Continuando:
Após aquela noite inesperada, mas muito gostosa, na casa de swing da Natasha, fomos direto para o apartamento da Josi e não demoramos a chegar, pois o trânsito estava tranquilo. Fizemos amor calmo e carinhoso, de casal, e dormimos agarradinhos.
Se tudo o que aconteceu com Natasha já tinha balançado meus alicerces, me fazendo reavaliar todos os meus “pré-conceitos”, a viagem à praia não seria diferente, pois minhas convicções seriam levadas ao limite. Josi estava realmente a fim de me testar.
Acordamos cedo, fizemos um desjejum simples, nos arrumamos rapidamente e pegamos a estrada. A viagem foi tranquila, pelo menos até chegarmos à praia.
Assim que estacionei, que subimos e chegamos à porta do apartamento, percebi que o caos já estava instaurado. Antes mesmo de abrir a porta, dava para ouvir risadas, música e discussões acaloradas sobre algum jogo de cartas. Olhei para Josi, que me lançou um sorriso cúmplice.
— Preparado para o pandemônio? — Ela brincou, já abrindo a porta sem esperar resposta.
Logo que entramos, fomos engolidos pela confusão generalizada. Lariane e Simone estavam esparramadas no sofá, discutindo sobre quem havia trapaceado no truco, enquanto Lucas, completamente alheio à briga, analisava algo no celular, provavelmente “hackeando a NASA” por diversão. Laura estava na cozinha, tentando se esquivar de Daiane e Alexandre, que debatiam sobre qual era o melhor churrasco: o brasileiro, o argentino ou o uruguaio.
— Finalmente, eles estão aqui. — Lariane levantou os braços de forma teatral. — Já estávamos considerando rifar o quarto de vocês.
— Se rifar, eu acampo na praia. — Respondi, largando as malas ao lado da porta.
Lariane, sempre ela, se virou para nós, dramática.
— Por que vocês não me contaram que a viagem era para um convento? Não tem álcool suficiente aqui!
Laura a repreendeu, mas de forma divertida.
— Como assim? Compramos várias garrafas ontem.
— Sim, e já bebemos metade! — Daiane apontou para a mesa, cheia de garrafas vazias.
Alexandre, que até então estava observando tudo com um copo na mão, se aproximou de mim.
— Mano, se quiser um copo, é melhor correr. O Lucas bebe mais que um Opala seis canecos.
Lucas, sem tirar os olhos do celular, retrucou.
— Eu, né? Até parece. Essa mulherada que não tem fundos. Parecem esponjas.
Laura, que parecia ser a única sensata ali, cruzou os braços.
— E quem vai limpar essa zona toda depois?
Silêncio. Todos se entreolharam, fingindo não ter ouvido a pergunta.
— Boa sorte com isso. — Lariane riu. — Agora, alguém me leva para a praia? Quero ver o mar antes de ser soterrada por esse caos.
O burburinho voltou, agora com um plano improvisado de irmos todos juntos. Peguei uma cerveja antes que acabassem e, por um momento, me permiti relaxar. O clima estava leve, o caos era familiar e, apesar da bagunça, estávamos felizes por estar ali.
O dia na praia não poderia ter sido melhor. O sol brilhava no céu sem nuvens, a água estava na temperatura perfeita e a brisa salgada trazia aquela sensação de liberdade que só a praia consegue proporcionar. Nossa galera ocupava um bom pedaço da areia, com cangas espalhadas, um isopor abarrotado de cerveja e outras bebidas, e um som tocando alguma playlist aleatória que ia de samba a pop sem critério nenhum.
Simone já estava sentada confortavelmente, de biquíni vermelho e óculos escuros gigantes, mordiscando um espetinho de queijo coalho. Lariane, sempre cheia de energia, ajustava o biquíni fio-dental antes de correr para o mar, fazendo um aceno para Laura.
— Vamos, mulher! Quero ver se esse bronzeado carioca tá em dia! — Ela desafiou, já puxando minha irmã pelo braço.
Laura hesitou, mas o incentivo coletivo foi imediato.
— Se não for agora, a Lari não vai te deixar em paz. — Lucas comentou, tomando um gole da cerveja e ajeitando os óculos de sol.
— Eu vou, eu vou! — Laura sorriu, finalmente se levantando.
Apesar do semblante ainda cansado, afinal, sua saúde não estava completamente restaurada, dava para ver que ela estava aproveitando o momento.
Daiane e Alexandre estavam um pouco afastados, tentando, sem muito sucesso, como duas crianças, montar um castelo de areia. O tamanho do cara tornava tudo ainda mais cômico.
— Tá torto! — Daiane apontou, rindo.
— Eu sou arquiteto, não pedreiro! — Alexandre rebateu, começando a se zangar.
Josi, ao meu lado, me cutucou e apontou para a cena.
— Eu acho fofo. Olha só, até o gigante tem seu lado infantil.
— Não sabia que você curtia gigantes. — Brinquei, observando Alexandre dar um tapa na torre de areia em frustração.
— Eu aprecio beleza em todas as formas. — Ela sorriu, enroscando o braço no meu.
Meus olhos passaram pelo grupo, e foi impossível não notar como todas as mulheres da nossa turma tinham sua própria beleza: Simone, de corpo mais cheio, exalava confiança enquanto ria alto, sem se importar com nada. Lariane, com seu corpo escultural, parecia uma modelo de praia, especialmente quando saía do mar, os cabelos grudados no rosto e o biquíni quase inexistente. Laura, mesmo ainda se recuperando, tinha aquela beleza natural e forte, que vinha de dentro para fora. E Daiane, apesar de estar se escondendo do sol, pois era muito branca, continuava impecável.
— Tu tá reparando demais, né? — Josi me provocou, a voz cheia de diversão.
— Só observando. — Fingi desinteresse.
— Pode falar, amor. A mulherada tá um espetáculo hoje. — Ela me olhou com um sorriso travesso. — Aposto que tu não sabe nem qual delas elogiar primeiro.
Ri, me inclinando para mais perto dela.
— Tu quer que eu fale, né?
— Quero! — Ela bateu as mãos. — Sem censura, sem medo.
Olhei de novo para o grupo.
— Ok, vamos lá … Simone? Confiança é sexy, ela tem de sobra. Lari? Bom ... não tem como não notar aquela mulher. Ela caminha e parece que o vento sopra só para ela. Laura? Beleza de família, né? — Pisquei. — Daiane? Gente boa demais, toda vermelhinha, sofrendo por causa do sol, mas ainda linda.
— E eu? — Josi riu, inclinando a cabeça para o lado.
Segurei seu queixo entre os dedos, puxando-a levemente para mim.
— Tu sabe que é a única que realmente me interessa.
— Boa resposta. — Ela mordeu o lábio, satisfeita.
A música aumentou e Lariane voltou do mar, sacudindo os cabelos e lançando um olhar sacana.
— Alguém quer fazer uma sessão de fotos digna de capa de revista? Estou disponível para modelar!
— Eu aceito! — Lucas levantou o celular. — Mas meu tempo é caro.
— Cínico! — Ela jogou um punhado de areia nele e a bagunça começou.
Laura se jogou no mar com Simone, Daiane tentou salvar o que restava do castelo, Alexandre abriu outra cerveja resignado e Lucas gravava tudo, provavelmente para usar contra nós no futuro.
Josi se inclinou para mim, apoiando a cabeça no meu ombro, e suspirou.
— Tá vendo? É disso que eu gosto. Amigos, sol, mar … nós dois.
Passei um braço por sua cintura, puxando-a para mais perto, colando seu corpo ao meu.
— E eu gosto de te ver assim, feliz. Só que eu conheço essa cabecinha. Tu tá aprontando alguma.
Ela sorriu, mas não disse nada. Apenas pegou minha mão e entrelaçou os dedos nos meus. Eu deveria ter insistido, mas preferi aproveitar o momento. O que quer que ela estivesse planejando, eu descobriria muito em breve.
Fomos para o mar e aproveitamos o resto da tarde. O sol já ia se despedindo quando começamos a recolher nossas coisas. A brisa estava mais fresca, trazendo o cheiro do mar misturado ao de protetor solar. Entre risadas e provocações sobre quem pegou mais sol — Daiane definitivamente perdeu a disputa — fomos nos organizando para voltar.
Lariane, sempre ela, já tinha arranjado companhia. Um cara alto, bronzeado e com pinta de surfista. Ela se despediu com um aceno displicente, garantindo que sabia se virar. Lucas, por sua vez, estava animado, conversando com um sujeito que conheceu ali na praia. A conversa fluía solta e ele parecia interessado, mas, como sempre, sem revelar muito sobre si mesmo.
— Vou ficar mais um pouco, depois volto. — Ele disse, sem dar muitos detalhes.
Troquei um olhar rápido com Josi, que sorriu. Todo mundo meio que já suspeitava das preferências do nosso amigo, mas ele nunca falava sobre si mesmo. E ninguém forçava.
Voltamos para o apartamento em um clima leve. O dia tinha sido divertido e todo mundo estava relaxado. Cada um, aguardando sua vez, seguiu para o banho e eu, como sempre, fui rápido. Deixei a água tirar o sal da pele e saí antes de todo mundo, vestindo uma camisa de linho aberta e um short confortável.
Laura sugeriu um restaurante e eu achei uma ótima ideia. Já estava até pegando o celular para procurar um bom lugar quando Josi, do nada, pediu desculpas à cunhada:
— Laura, eu preparei uma surpresa para o Clay hoje. Vamos ficar de fora do jantar.
Minha curiosidade disparou na hora.
— Surpresa? Que tipo de surpresa?
Josi sorriu, mordendo o lábio, se divertindo com minha inquietação.
— Se eu contar, deixa de ser surpresa …
— Mas pelo menos me dá uma pista. — Insisti.
— Não.
— Alguma dica?
— Também não.
— Pequena?
— Não adianta insistir. — Josi riu e se levantou, indo para o quarto. — Vou me arrumar. Já volto.
Fiquei olhando para a porta fechada, frustrado e intrigado.
Daiane, Alexandre, Laura e Simone deram risada da minha cara.
— Boa sorte descobrindo, mano. — Alexandre debochou, enquanto pegava a carteira.
— Seja o que for, você está ferrado. — Simone brincou, rindo de mim antes de sair.
Fiquei sozinho na sala, tentando adivinhar o que aquela maluca iria aprontar. Me joguei no sofá, olhando distraído para o celular, rolando a tela por vídeos engraçados.
O tempo passou devagar até que a porta do quarto se abriu e Josi apareceu. E, meu Deus …
Josi é uma mulher linda. Mas ali, naquele momento, vestida para matar, ela parecia irreal.
O vestido era justo nos lugares certos, marcando a cinturinha fina, descendo perfeitamente pelas curvas até o final das coxas bem torneadas. Os seios médios, na medida certa, desenhavam um decote tentador e, o tecido leve, parecia deslizar pela pele macia. O cabelo solto caía sobre os ombros e os olhos brilhavam com aquela malícia divertida que só ela tinha.
Minha boca secou. Aquele corpinho mignon ficava ainda mais sexy com a roupa certa.
— E então? O que achou? — Josi girou devagar, me dando a visão completa daquela obra de arte.
— Caralho … — Foi tudo que consegui dizer.
Ela sorriu, orgulhosa, sabendo muito bem o efeito que tinha sobre mim.
— Isso foi um elogio? — Ela provocou.
— Foi um … “estou completamente fodido”. — Pensei em voz alta.
— Gostei da resposta. — Ela se aproximou, deslizando os dedos pelo meu peito. — Então … está pronto para sua surpresa?
Eu segurei sua cintura, puxando-a para perto.
— Do jeito que tu tá, minha vontade é cancelar qualquer plano e ficar aqui.
Josi riu, mas se afastou com um olhar travesso.
— Nem vem! Tu vai gostar. Confia em mim.
E eu confiava. O problema era a minha curiosidade, que estava me matando.
— Tá, tá … vamos logo antes que eu desista.
Ela pegou minha mão, me puxando para fora, mas eu a detive, e a imprensei contra a parede, beijando sua boca e roçando a pica, que já endurecia, em seu ventre.
— Caralho, mulher! Tu tá um espetáculo. — Desci beijando o pescoço, e enfiando uma mão entre suas pernas.
Josi fingia reagir, se debatendo sem força, mas levantando a cabeça, expondo o pescoço aos meus beijos.
— Não, Clay … vai amassar meu vestido. Não, para … não … não para … — Eu já enfiava um dedo naquela buceta que melava rápido ao meu toque.
Apertei aquela bunda carnuda, sentindo que a safada estava sem calcinha.
— Tu é muito puta mesmo … tá pro crime, né? — Provoquei.
— Sempre … Tu me conhece bem … — Ela respondeu, com seu olhar malicioso.
Beijei sua boca novamente, mas encontrei forças para me afastar. Finalmente respirando fundo e contendo o desejo ardente dentro de mim.
— Vamos logo … ou eu não respondo por mim.
Ela apenas me encarava, sorrindo aquele sorriso sacana e safado que eu adorava.
A noite estava perfeita para um passeio, então, esquecemos o carro e resolvemos caminhar.
A brisa fresca do mar aliviava o calor do dia e o som das ondas quebrando na areia, criava uma trilha sonora relaxante. Caminhávamos de mãos dadas pela orla, sem pressa, sentindo a areia fofa entre os dedos dos pés. Eu carregava meu chinelo e as sandálias da Josi.
Sempre à frente, ela me puxava de vez em quando para um beijo apaixonado, e eu, lógico, correspondia sem hesitar. Ela era irresistível. E eu me via cada vez mais apaixonado. O jeito que ela se encaixava em mim, a pele quente sob os meus dedos, a forma como me olhava com aqueles olhos cheios de promessas … Tudo nela era viciante.
Fizemos uma parada rápida para tomar água de coco. Nos sentamos em um daqueles banquinhos de madeira, olhando o mar, os pés balançando no ar.
— Eu poderia passar a vida inteira assim. — Murmurei, girando o canudo dentro do coco.
Josi riu, encostando a cabeça no meu ombro.
— Ah, então é fácil te agradar. Praia, água de coco e uns beijos no meio do caminho?
— Simples assim. Mas com uma condição … — Inclinei o rosto até nossos narizes se tocarem.
— Qual?
— Que seja sempre com você.
Um sorriso doce se formou em seus lábios antes que me puxasse para mais um beijo. Beijo lento, daqueles que a gente sente na alma.
Mas tinha algo. Josi, apesar de toda a cumplicidade, estava claramente ganhando tempo. A cada poucos minutos, pegava o celular, conferia a hora e voltava a me beijar ou puxar para outro ponto da orla. Íamos e voltávamos, sem realmente sair do mesmo lugar.
Eu percebia. Só não falava nada. Ela achava que estava me enganando, mas eu já tinha sacado que aquilo era um jogo. E quer saber? Eu ia dar corda. A noite estava perfeita.
— Vamos? — Ela finalmente disse, guardando o celular.
— Ué, mas agorinha mesmo tu queria ficar mais um pouco aqui …
— Mudei de ideia. Vamos jantar. — Ela sorria, meio debochada.
— Jantar? Mas não era uma surpresa? — A encarei em desafio.
Ela riu, me puxando pela mão.
— Tu pergunta demais. Deixa de ser chato.
Eu apenas sorri, pegando na mão dela e a seguindo.
Apenas atravessamos a rua, até um restaurante de frutos do mar. O cheiro de peixe grelhado, alho e limão tomou conta do ar, antes mesmo de entrarmos. O ambiente era aconchegante, com uma iluminação suave e um toque rústico na decoração: mesas de madeira maciça, detalhes em conchas e redes de pesca compondo um visual praiano sofisticado.
Fomos recebidos por uma atendente simpática que nos levou até uma mesa já reservada.
— Vocês querem começar com algo para beber?
— Eu quero uma caipirinha de maracujá. — Josi respondeu sem hesitar.
— Uma cerveja para mim. — Pedi.
A mulher anotou e se afastou, nos deixando sozinhos no clima agradável do lugar.
— Então essa era a grande surpresa? Um jantar comigo? — Provoquei, brincando com o porta-guardanapos.
Josi arqueou uma sobrancelha, divertida.
— Tu parece desapontado …
— Eu nunca fico desapontado contigo. Mas … — Sorri para ela, quase me desculpando. — Tu tá muito misteriosa.
Ela riu, apoiando o queixo nas mãos.
— Talvez eu só quisesse te ver curioso.
— E está conseguindo. — Concordei.
Ela deslizou um pé por minha perna sob a mesa, com um sorriso malicioso nos lábios.
— Eu gosto de te provocar.
Peguei sua mão sobre a mesa e beijei seus dedos lentamente.
— E eu gosto de ser provocado … contanto que não fique apenas na provocação.
A troca de olhares foi intensa, carregada daquela química insana que existia entre a gente.
Mas então … uma voz bem conhecida soou atrás de mim:
— Demorei?
Virei-me no mesmo instante e ali estava ela: Rafaela. E se Josi já tinha me deixado sem palavras antes, agora eu definitivamente estava sem reação.
Rafa sempre chamou atenção. A mistura perfeita dos traços delicados japoneses com a pele marcante, morena, herdada do pai negro, fazia dela uma presença impossível de ignorar.
Mas, naquela noite, ela parecia ainda mais deslumbrante. O vestido justo delineava seu corpo menor e mais esguio, realçando a elegância natural que sempre carregava. Os olhos puxados brilhavam sob a luz do restaurante, e a maquiagem perfeita, leve, desenharam um sorriso satisfeito ao notar minha surpresa.
Josi se levantou para cumprimentá-la com um abraço caloroso.
— Tu tá maravilhosa!
— Olha quem fala! — Rafa retribuiu, piscando para ela antes de olhar para mim. — E então, Clay? Sentiu minha falta?
Eu demorei um segundo para responder, ainda tentando processar a situação.
— Cês são amiguinhas agora? Com certeza estou surpreso.
Josi riu ao se sentar novamente e Rafa fez o mesmo, completamente à vontade naquela situação.
— Tu é muito fácil de enganar, amor. — Josi provocou.
Eu olhei de uma para a outra, balançando a cabeça.
— As duas armaram isso juntas?
— Claro! — Josi respondeu, pegando seu drink recém-chegado e dando um gole. — E tu caiu direitinho.
Eu ri, sem acreditar.
— Então me digam … qual é o plano aqui?
Rafa apoiou os braços na mesa, encarando-me com um sorriso divertido.
— Que tal você descobrir?
Encarei Rafaela com um sorriso enviesado.
— Com a Josi no meio, já imagino o que seja ...
Rafa soltou uma risada curta.
— É tão previsível assim?
Josi, no entanto, não riu. Seu semblante ficou sério, e ela segurou minha mão sobre a mesa.
— Antes de qualquer coisa, eu queria te agradecer, Rafa.
Rafaela franziu ligeiramente a testa, virando-se para Josi.
— Agradecer?
— Sim. Pelo que tu fez pelo Clay ... e, por tabela, por mim.
Eu olhei de uma para a outra novamente, sentindo uma leve tensão no ar. Josi apertou minha mão de leve e me olhou com aquela expressão calma, mas cheia de significado.
— Quando tentaram acabar com ele nas redes sociais, tu não só defendeu a verdade, como se colocou na linha de frente.
Rafa balançou a cabeça e levantou a mão, como se quisesse cortar a formalidade do agradecimento.
— Eu só fiz o certo. Não ia assistir a um mal-entendido escalar até destruir a reputação dele. Não era justo.
Eu lembrava bem da situação. O escândalo, os ataques, a chuva de comentários tóxicos. Rafa tinha surgido como um raio em meio ao caos, desmontando as mentiras espalhadas e colocando os fatos no lugar.
— Mas tu não precisava ter feito nada. — Josi insistiu. — Poderia ter deixado tudo rolar e seguido sua vida. Inclusive, tenho a mais absoluta certeza de que teria ganhado ainda mais seguidores.
Rafa suspirou, mexendo distraidamente no guardanapo.
— Eu não suportaria saber que contribuí para prejudicar alguém. E mesmo que tudo fosse casual, Clay é um cara gentil, honesto e que não merecia aquilo.
Rafa levantou os olhos e me encarou.
— A gente se divertiu juntos, Clay. E foi especial para mim. Eu jamais compactuaria com aquela mentira.
Rafa é mesmo uma pessoa fora de série. Linda e justa. Eu mentiria se dissesse que nosso tempo não significou nada. Mas eu estava machucado demais para investir em algo sério.
— Ok, mas tem algo me incomodando aqui ... — Inclinei-me um pouco para frente, observando Josi. — Como diabos as duas se conheceram?
Josi sorriu, como se estivesse esperando a pergunta.
— Eu procurei a Rafa, online. — Ela disse sem mais nem menos, naturalmente.
Pisquei, surpreso.
— Procurou?
— Sim. Disse quem eu era, que queria conversar. E foi isso. Simples assim.
Rafa riu, cruzando as pernas.
— E, surpreendentemente, a gente se deu muito bem.
— Era óbvio, né? — Josi brincou, piscando para ela.
Eu encarei uma, depois a outra, tentando absorver aquilo.
— Então, quer dizer que as duas são amigas agora?
— Mais ou menos isso … — Rafa disse, apoiando os cotovelos na mesa. — A gente se entendeu. Você sabe que eu também sei apreciar “os dois lados da moeda”. Josi tem um jeito de fisgar a gente, não é?
— Ah … — Murmurei, assimilando a informação.
— Josi foi muito honesta comigo. Foi fácil gostar dela.
Me recostei na cadeira, esfregando o queixo. Rafa ainda disse:
— Ainda mais depois de conversar com a Laura.
“Eita porra! Até minha irmã estava na conspiração?”.
— Até a Laura? Como ela entra nessa história?
Rafa deu de ombros.
— Bom … depois que falei com a Josi, acabei procurando a Laura. Eu queria saber mais. Confirmar se a Josi era confiável.
Minha atenção se prendeu nela de imediato.
— E o que Laura disse?
Rafa jogou o cabelo para trás e sorriu.
— Só coisas boas. Mas, sem querer, ela também deixou escapar uma coisa interessante.
Quase me engasguei com a cerveja.
— O quê?
Rafa me olhou fundo nos olhos.
— O quanto você sofreu ao se separar da Josi.
O silêncio se instalou na mesa por um instante. Meu olhar foi até Josi, que me observava com uma expressão indecifrável. Respirei fundo, tentando manter a compostura.
— Eu já tinha sacado que você sofreu, Clay — Rafa continuou, agora mais suave. — Mas foi diferente ouvir isso de Laura.
Minha garganta secou um pouco. Eu não esperava que a conversa fosse por aquele caminho. Josi deslizou os dedos pela borda do copo, sem dizer nada.
— Foi difícil, não foi? — Rafa perguntou, com um tom que não era provocação. Era compreensão. Eu ri baixo, desviando o olhar por um momento antes de voltar para as duas.
— E agora as duas decidiram reviver esse assunto justo aqui, no meio do jantar?
Rafa sorriu.
— Ora, Clay … que mal há em mexer um pouquinho no passado?
Olhei de relance para Josi, que me observava com aquele ar misterioso de sempre, e foi então que percebi. Aquele jantar … aquela noite … Não era só um jantar qualquer. Era um teste. E eu estava bem no meio dele.
Eu olhei de Josi para Rafa e de volta para Josi. Minha mente processava rápido, mas não rápido o suficiente para acompanhar aquela conversa.
Josi apertava minha mão e percebi que ela também segurava a de Rafa. Seus olhos, intensos como sempre, estavam fixos em mim.
— Eu já te disse, amor, mais de uma vez, que tu é o único homem para mim.
Aquela frase, já ouvida antes, soou diferente naquele momento. Mais densa, mais carregada de significado.
— E também disse que, se tu quiser, se tu se permitir, assim como ontem, nós podemos sempre mais.
Engoli em seco.
— Tu não precisa escolher, não precisa deixar para lá. Pode ter as duas.
Fiquei em silêncio por um instante, sentindo a tensão no ar. Foi quando Rafa quebrou a pausa com sua voz divertida.
— No meu caso, eu confesso que é uma proposta bastante atraente.
Ela girou o canudo no copo, me olhando com aquele brilho maroto nos olhos.
— Eu também tenho meus desejos, minhas vontades, e a química com você foi incrível.
Ela deu um sorriso debochado.
— Eu não me importo de fazer esse sacrifício.
Aquilo foi o suficiente para me fazer rir, e Josi também não segurou a risada.
— Sacrifício? — balancei a cabeça, achando graça. — Tá falando sério, Rafa?
— Claro! — Ela piscou. — Mas e você, Clay? Tá falando sério?
Meu sorriso diminuiu um pouco. “Eu Estava?”. Eu não sabia.
Passei a mão pelo rosto, soltando um longo suspiro enquanto tentava organizar os pensamentos. Josi me conhecia bem demais. Sabia que minha cabeça dura precisava de mais tempo para absorver certas ideias.
Então, ela retomou, mais firme:
— Eu já disse, Clay … tu não tem com o que se preocupar.
Seus dedos roçaram os meus com carinho.
— Tu é o único para mim.
Mas, logo em seguida, seus olhos desviaram para a mesa. A mudança sutil no semblante dela me atingiu na hora.
— Eu sei que muitos me veem como uma safada … até me chamam de promíscua pelas costas …
— Que isso, amor. — Segurei seu queixo com delicadeza, a fazendo olhar para mim. — Tu nunca me deu motivos para desconfiar da tua lealdade. Eu sei que você não é assim …
Ela sorriu, e foi um daqueles sorrisos honestos, que vêm direto da alma.
— Obrigada, amor.
Josi respirou fundo e continuou:
— Para mim, tu é único, Clay. — Ela mordeu de leve o lábio inferior antes de continuar. — E sendo totalmente honesta, para mim, estar com homens ou com mulheres … não faz diferença.
Rafa escutava em silêncio, observando Josi com admiração e cumplicidade.
— Estar com quem se ama, sim. Isso faz diferença. E eu te amo, cara. Com todo o meu coração.
Meu peito apertou, meu coração batia acelerado. Ela levou minha mão até seus lábios, depositando um beijo ali.
— Se eu posso te dar essa experiência, essa forma de viver … e ainda assim estar ao teu lado, respeitando teus limites … o que mais eu quero dessa vida?
Eu não sabia o que responder. Estava emocionado. Aquela declaração de amor era poderosa, vinda do fundo do coração.
Rafa quebrou o silêncio, curiosa.
— Peraí … o que aconteceu ontem? Josi acabou de dizer: “se você se permitir, assim como ontem, nós podemos sempre mais”.
Eita! Corre que é cilada, Bino!
Continua …