Prólogo da Regurgitação

Da série Areia de Sangue
Um conto erótico de SIFUNORRIS
Categoria: Heterossexual
Contém 5934 palavras
Data: 14/03/2025 17:16:09

Em fim de jornada nesse planeta condenado pela raça humana, me via buscando por razões para continuar.

O pensamento do suicídio me perseguiu de antes adolescência até o meio da vida adulta.

Como uma cura, ou remédio que o valha, o amor apaziguou esse sentimento. O desejo o fez por mais tempo. Ilusões de uma vida escravizada pela inércia, e por governantes cujos nomes e rostos jamais conheci.

Se nasce condenado a morrer no exato mesmo lugar.

E a que âmbito pertence um órfão?

Aos pais adotivos, e se esses resguardassem pouco ou quase nada?

A engrenagem que sustenta a sociedade é inexorável, seus combustíveis? Alienação religiosa, hobbys esdrúxulos, e, sobretudo, o uso do tempo finito em busca de mentiras infinitas.

Nas palavras de Twain; “um Deus que pudesse fazer a bons filhos com tanta facilidade quanto os faz maus e ainda assim preferisse fazer os maus.”

A conclusão do sábio escritor é a de que você é um pensamento, insano, como num sonho, pois só no mais louco dos sonhos a realidade se faria possível. Não existiria nenhum Deus, e nenhum Inferno. Uma conclusão reconfortante.

Em minha resposta encontro algo diferente.

Deus existe. E é o Trilema de Epicuro a resposta.

Sincretizado numa questão simplória, o Trilema seria reduzido a; “por que o mal existe se é o Deus onipotente, onisciente e onibenevolente?”

É um trilema, pois ambas as descrições anulam uma a outra.

Um Deus onipotente e onisciente tem poder e ciência para acabar o mal, contudo, existindo o mal, Deus não poderia ser onibenevolente.

Um Deus onipotente e onibenevolente tem poder e vontade para acabar com o mal, logo, existindo o mal, faltaria a Deus ciência.

Um Deus onisciente e onibenevolente teria ciência e vontade para acabar com mal, ou seja, existindo o mal, faltaria a Deus o poder.

Mas eu encontrei a resposta.

O mal é a resposta.

Pode qualquer elemento que compõe o universo ser mal? Não, nem árvore, nem rocha, nem chuva, nem máquina, nem terremoto ou estrela, nem planeta ou galáxia é o mal.

Apenas o ser humano é o mal, ou seja, acabar com o mal seria o mesmo que extinguir a humanidade, logo, um Deus pode ser onipotente, onisciente e onimalevolente, contudo, é esse Deus o que dizem, a imagem e semelhança do homem.

Deus bate punheta assistindo estupro após estupro. E é estuprado. E é o estuprador. Uma perversão possível apenas à onimalevolência.

Mesmo um resquício da eternidade, e de sabedoria, e de poder, teria lidado com o mal antes dele nascer, e seria, nesse caso, a humanidade um sonho, uma maldição na cabeça de um Deus minimamente benevolente, mas não há se quer uma medida qualquer disso em uma criatura cuja essência é a onimalevolência.

Segurei a arma dentro da boca e disparei, enfim, a paz.

ISEKAI TENSEI

— O que um homem oferta a outro homem? — minha voz no novo mundo, um sotaque como pensava, mas em outro idioma, aos poucos esquecendo meu idioma na primeira vida. Era um dia especial, meu pai me levava até o templo. Eu tinha quatorze anos.

— Um homem oferta o que Deus permite. — o homem gordo e largo soprava fumaça ao fumar num cachimbo enorme. O aroma do fumo, bris e grizeís, se impregnava a carruagem.

— Errado. Regurgitação. Isso é o dízimo, a oferta, o que um homem oferta a outro. — fora da carruagem o lugar era uma caverna ampla, com a luz do âmbito advinda de cristais distantes. Colossal, com quilômetros de altura, a caverna tinha edificações acima de ruínas de rochas negras. Acima, no teto, com raízes para cima e galhos para baixo, hectares de árvores perdiam folhas como uma chuva verdejante. — O homem dá o excesso. Ele primeiro se farta, e depois vomita o que não cabe em si. Não confie nesse mestre que se aproxima de nossa família com promessas e presentes.

— Você é uma criança. Que sabe da vida? Essa negatividade. Deveria ter contratado professores melhores. Ou é de sua mãe que aprende essas insanidades? Criar um filho na casa de uma mulher é como ter duas vadias para sustentar. — ele soprava fumaça pelo nariz. A barba longa branca descia até a protuberante barriga onde os botões da camisa eram estufados. — Escuta. É seu casamento combinado com mestre Vilkas desde antes de você nascer. É a palavra dos Lugda’velir e é a palavra de mestre Villæska Vilkas. Criei um filho ou uma puta?

— Um filho. Que se preocupa com a família. — era mais um temor que uma mera preocupação. Esse mundo era diferente do outro.

Aqui não existia magia, mas outras coisas eram absurdas...

Toda a superfície era coberta de desertos e ruínas, e lá existia uma guerra, mundial pelo que tive acesso nos escassos estudos. A lei existia somente nas cidades enterradas.

Eu reencarnei numa família nobre. O que extinguiu em mim a ânsia da morte.

A dor que a riqueza não apaga não é dor, é vontade.

E como filho da família Lugda’velir resguardava deveres. Dentre esses, o alistamento num templo, que me enviaria para uma divisão do exército. E um casamento, que poderia, ou não, ser com uma virgem.

E aqui se desenhava meu problema.

Era a filha de mestre Villæska Vilkas uma mulher viúva com uma filha.

E em minhas tratativas com meu pai, ele se mantinha irredutível sobre o assunto.

Nesse mundo era comum que os homens formassem haréns segundo a própria riqueza. Minha mãe mesmo era a sétima esposa de meu pai, e entre irmãos e irmãs o número chegavam em vinte e sete contando todas as esposas.

Para piorar, as leis organizavam os estudos, entenda, as técnicas de combate.

Cada filho possuía uma arma diferente, ensinada por um mestre diferente, dos quatro aos quatorze anos meus estudos acompanharam o estilo awælésfér com mestre Cydi.

Minha arma era uma calibre doze de três coroas, ou escopeta, ou shotgun, como preferir. A arma pesada era segura pelas duas mãos, e levei anos apenas para a sustentar com primor. Por fim, aprendíamos a fabricar munições e a forjar peças para reparar a arma.

Eu trocaria essa merda por uma metralhadora ou rifle, e já teria feito se não existissem outras peculiaridades.

Primeiro, o Deus era a estrela Phœnix, e orávamos diariamente à ela três vezes ao dia, com toda a cidade parando o que fazia, onde estava, se ajoelhando.

Eles usavam pequenos cristais para saber a posição correta da estrela, afinal vivíamos nos subterrâneos, e os sinos, dos templos, soavam indicando o momento de começar as orações; em outras palavras, eles eram religiosos extremistas.

Segundo, os templos escolhiam as armas, ou seja, o arquétipo de luta, assim que a criança nascia. Não tinha como estudar outra coisa.

Enfim, das peculiaridades, as mulheres usavam véus negros. Era impossível ver os rostos ou os corpos. E até os olhos eram cobertos.

— Você pelo menos viu essa mulher?

— É óbvio que não a vi. O que pensa que eu sou? E o que pensa que ela é? — irritado, meu pai se ajeitava no confortável banco. Nos guiando estava o cocheiro Bil, mas não existiam cavalos ou qualquer animal da Terra. Aliás, apesar de se assemelhar a uma cocheira, diante de Bil estava um motor a vapor de cristal. Existiam máquinas a vapor, e uma ferrovia que cortava a cidade, além disso vi muitos dirigíveis quando era menor. Armas de fogo eram comuns. E todo homem carregava consigo a arma de seu arquétipo. Meu pai pertencia ao estilo olfren, com duas pistolas nos coldres à altura da pança. — Sei que está nervoso, é o dia de descobrir seu número, mas isso não é razão para descontar em sua esposa.

Meu número...

Primeiro aos quatorze anos, depois de sete em sete anos.

Uma oráculo do templo do arquétipo que você pertence faz algo, um ritual? Em resumo não é magia, mas me soa como magia...

Não sei ao certo, ainda não passei por isso.

E ali ela te coloca no ranking da família.

Os Lugda’velir eram oitocentos e noventa e três ao todo, espalhados por várias cidades do reino de Dacma do Dilúculo.

Pensando positivo qualquer coisa abaixo de quatrocentos era um bom início, mas eu evitava pensar nisso por não poder controlar, e por saber que esse número poderia diminuir com o tempo.

Mesmo que também pudesse aumentar...

Sai pensamento ruim!

O mais próximo de um era o melhor.

Sendo o número um o patriarca da família.

— Não vou descontar nela.

— E nem em mim.

— Não estou descontando no Senhor... — era muito mais simples. O preço de uma virgem era vinte vezes o de uma viúva. Era minha primeira esposa. Eu queria uma ninfeta. Não queria uma mulher usada. E o pior, sustentar uma casa sem filhos era mais barato. A mulher vinha com uma filha, ou seja, dois custos! — Você casou com minha mãe virgem.

Ele suspirou, e depois sorriu com as bochechas rosadas.

— Paguei por ela. E não foi barato.

— Então? Que tal um presente para seu filho? Passe a...

— Torás’célascás.

— Torás’célascás... — repeti. Que tipo de nome é esse? — Passe ela para o próximo filho, vi que tem meninos próximos de minha idade. E minha mãe está grávida de novo...

— Calado Vasta Lugda’velir. — ele concluiu. Não estava irritado. Apenas parecia acostumado a mandar e ser obedecido. — Mostre respeito a ela quando chegarmos. E não peça para ela tirar o véu! Não me envergonhe na frente de mestre Villæska.

— Eu sei me portar. — e sabia mesmo. Exceto pelas aulas de luta, e um pouco de história, restavam na Academia Militar ensinamentos sobre boas maneiras no lar e nos templos.

Dentre todos os mundos para reencarnar, justo um sem magia e pior, onde não se vê uma só mulher?

Na mansão, até os empregados eram homens.

E exceto pela mãe desse corpo, que não conta, não vi uma mulher desde o início dessa nova vida.

Parecia uma peça pregada por Deus. O que passei vendo de putaria online no outro mundo aqui servia de memória na hora da punheta.

Outra peculiaridade era a água, abundante, advinda de poços e rios.

Exceto por papiros e pergaminhos de estudo, ainda não conhecia o deserto.

Tudo o que vi desse mundo foi essa cidade, Val do Florilégio, mais precisamente, a mansão onde nasci e o centro, onde fica a Academia Militar.

De resto apenas vislumbrava os prédios e residências de dentro da carruagem que me levava aos afazeres diários.

— Senhores... — Bil chama nossa atenção e observo os muros brancos, como calcário.

Guardas com fuzis e baionetas fazem a proteção local.

A residência de mestre Villæska toma toda uma colina.

— Ele é mestre de que?

— Alquimia.

— Que tipo de alquimia?

— Do tipo que for necessário. É uma mente brilhante. Seus herdeiros serão os mais sábios de nossa família.

— É um peso e tanto. — admiti.

— Um peso merecido. O saboreie. — suspirei ao o escutar. Com a língua nos lábios o único sabor era de umidade.

SALÉZ

Não encontrei minha noiva nessa chegada.

O tal mestre Villæska também não nos recebeu.

Guardas nos levaram até um templo, com seis colunas, na própria propriedade. Lá, eu entrei sozinho.

— Sê bem-vindo. Essa é a morada de nosso Pai. — a voz doce. Feminina. A primeira mulher que escutava nessa vida. — Entre. E não tema. Todos passam pelo mesmo.

— E como é esse ritual? — ela usava um véu negro, nada da pele era revelada. Mesmo os olhos permaneciam escondidos pelo manto.

— Não é um ritual. E nada precisa ser feito.

— Nada?

— Isso. Apenas me siga. Sou Saléz, a oráculo do Templo de Awælésfér. Envolve mais sorte, e para que saiba, eu li o número de três próximos ao número cem. — após a escadaria de entrada o templo seguia, com seis metros de altura, num longo corredor descendo novas escadarias, adentrando o solo. As luzes bruxuleavam de cristais pelas paredes, espaçados, na claridade diminuta os sons dos passos ecoavam, descendo e descendo.

— Qual o menor número lido nesse templo?

— Seis, foi lido por minha irmã Saskê. Ela se orgulha.

— Eu também me orgulharia.

— Isso foi muitos anos atrás. Antes de eu nascer. Nunca ninguém chegou perto desde então. Será que é hoje? Ansioso? — ela tinha um tom brincalhão, meio infantil. E parecia se divertir.

— Impossível. — eu não tinha sorte. Aliás, nem azar eu tinha. Medíocre, é o que sempre fui.

— Por que diz isso?

— Intuição.

Saléz não respondeu.

Andamos até a água tocar nossos pés descalços, banhando parte do manto escuro dela.

A água era de uma coloração ciano, e conforme descíamos tocava meus joelhos, e depois as coxas.

A luminosidade diminuía, e a sala se revelava ampla, tanto que deixei de ver as paredes, apenas seguindo os passos da oráculo.

Rumamos até não existir nenhum sinal de claridade.

Na escuridão eu seguia os sons frente meus corpo na água, agora na altura da cintura.

Dali por horas andamos, sem pausa, até que a água alcançou meus ombros.

Queria falar algo, mas ela nada dizia, então achei que era parte do teste.

Não sei quanto tempo levou, mas foi muito.

Até que pisando em falso senti a escadaria para cima, apenas alguns andares, me tirando da água, deitei pegando fôlego, como num palco fora da água.

Permanecemos por um tempo longo em silêncio, até que sem clímax ou emoção retornamos.

NÚMERO

Saléz me mandou esperar quando voltamos.

Ela foi até a biblioteca, no nível térreo e eu permaneci num corredor qualquer.

A espiei, ela pegou vários livros e começou a procurar por algo.

Após muita pesquisa, próximo do centro do que parecia a madrugada, quando os cristais no teto da caverna emitiam menos luz, a sacerdotisa retornou:

— Oitenta e oito! — ela bateu palminhas, alegre. E sem que eu demonstrasse algo, ela incitou após perceber que eu desconhecia a sequência dos eventos. — É agora que você sai e comemora. É meu menor número! E é um ótimo início, seu pai, sogro, e noiva vão adorar as boas novas.

— Obrigado... — agradeci antes de deixar o templo e ganhei um aceno de mãos, por baixo do manto longo, sem revelar a pele.

— Então?

— Então?

— Então?

Além das dezenas de guardas, e do meu pai, conheci o nobre Villæska Vilkas, com vestes semelhantes às de meu sangue, bem como, aspecto, grande e gordo.

Ao lado dele, a filha, ansiei vê-la, mas tudo que vislumbrei foi o azul quase preto do véu.

Disse meu número, oitenta e oito, e começamos a beber ainda no jardim.

Mesmo os guardas comemoraram.

Era a união de nossas famílias, afinal.

E durante o banquete Villæska se mostrou não somente cordial, mas agradável, e depois soube que ele era casado com uma irmã de minha mãe, o que gerou o acordo de meu casamento com a filha dele, de outro casamento, não o de minha tia.

CASAMENTO

Não que eu esperasse por algo muito diferente, mas no jantar com minha esposa não falei com essa.

Os costumes ditavam que o encontro de noiva e noivo ocorria nove dias antes do casamento. E assim foi.

Nove dias depois vi o primeiro dirigível.

Eram os portões para a superfície abertos de sete em sete anos. E assim desciam inúmeros dirigíveis, o que explicava minhas lembranças confusas.

Eles sobrevoavam o espaço abaixo do teto da caverna e a cidade.

Eram grandiosos, carregados de todo tipo de especiarias, e, principalmente, soldados.

Os soldados voltavam para casa, para passar um ano de férias após sete anos de serviços nas guildas.

Os aeroportos ovais eram margeados por arquibancadas, e lá os parentes aguardavam o retorno dos entes queridos.

A alegria nos rostos enchia meu peito de esperança, mas vi também o desespero das viúvas e filhos desamparados daqueles que não retornaram.

Enquanto aguardava o dirigível para as terras altas, tentei assimilar a situação.

Podia ser meu adeus ao conhecido. Não pareceu muito.

E assim zarpamos no ar, com muitos aristocratas e crianças menores correndo entre as fileiras dos bancos.

Não era semelhante a uma viagem de avião, parecia uma travessia de ônibus pelo bairro.

Muitos fumavam.

E toda a classe das vestimentas, cartolas, fraques, smokings, casacas e sobrecasacas, desaparecia na confusão de línguas e risos. Era um momento importante, talvez único.

O cheiro de metal das estruturas levantando voo. A visão das ruínas abaixo da cidade, colossais estruturas marcando o solo tomado por outra arquitetura. A alegria de outros noivos, também partindo para as terras acima. Tudo marcava minhas memórias.

No ar rumamos por poucas horas.

Lagos, cataratas, e rios entre as vias da cidade refletiam o movimento gracioso no ar.

Quando subimos mais adentramos uma caverna no teto, e lá vi trabalhadores e vaporíferas engrenagens em portões circulares abertos, grandes o bastante para a passagem dos balões de gás de dirigíveis em duas mãos. Lado a lado outros dirigíveis passavam por nós.

E as cidades se revelavam próximas aos portos.

Descemos num porto semelhante ao que partimos, contudo, ali a caverna tinha o teto baixo, menos de cem metros de altura.

Ali, as árvores de galhos negros e curvados, de até trinta metros de altura, carregadas de folhagens verdejantes e com raízes fincadas profundamente em terra e rocha, permaneciam na posição contrária às do teto.

As estradas seguiam térreas, e em carruagens a vapor a família avançou. E muitos eram os convidados que eu não conhecia o vínculo consanguíneo me parabenizando.

O festim acontecia quando despontamos na propriedade herdada.

Presente de meu avô, que não conheci.

A residência em dois andares tinha madeira branca e longas janelas vítreas, ao redor, um gramado vasto com mesas e decoração para o casamento.

O bispo da Sacra Apostólica me recebeu com os braços abertos, e um forte aroma de vinho.

E ali, diante do altar, por horas esperei minha noiva.

Ela estava com o véu comum, preto.

Entre os presentes comemorando a chegada da prometida, famílias inteiras, com as mulheres usando semelhante vestuário, sem nada à mostra.

Qual a minha surpresa quando não precisei dizer nada.

Invejei a noiva então ajoelhada ao meu lado, diante do altar, ante o bispo num discurso mais sobre a igreja que sobre a cerimônia, ela podia bocejar por baixo do véu, eu não.

No fim, mais uma surpresa.

Na carruagem com minha noiva fui levado até outra residência, na mesma propriedade.

A casa em que estávamos era o chamado salão de festins.

Nosso lar ficava floresta a dentro.

Com galhos de árvores como túnel, escondendo a luz dos cristais, que surgia por frestas como colunas luminescentes em reentrâncias pelos rochedos do teto, elucidei algo:

— Está de acordo com esse relacionamento? — eu não podia simplesmente me casar com uma mulher obrigada a isso. E conhecendo essa sociedade, tal situação não pareceu impossível. — Agora estamos casados, exijo que me fale apenas a verdade.

— Pelo contrário, meu Senhor. É uma honra ser sua primeira esposa.

— Se é obrigada a dizer isso, retiro essa obrigação, pode falar a verdade.

— Essa é a verdade. Uma viúva, é o que sou, e gratidão se faz meu nome. — ela pareceu irritada ao responder, mas precisei forçar um pouco.

— Torás’célascás, é um belo nome. — ela não me respondeu.

Chegamos na mansão e a carruagem parou diante da imponente porta.

O cocheiro Mu, filho de Bil, me deu um educado cumprimento antes de se afastar.

Tinha três andares altivos, imponentes.

As árvores ao redor bloqueavam toda luz.

Numa clareira, com pequenos caminhos de pedras esbranquiçadas ovaladas, a residência transparecia riqueza.

Dentro os móveis antigos e obscurecidos pelo tempo seguiram nossos passos.

A escadaria levava ao segundo andar, e até o terceiro andar precisávamos atravessar um hall e subir por outra escadaria, oposta, essa dupla.

— Você parece impressionado.

Não consegui responder a ela, entrávamos no quarto com o dossel na cama segurando os véus que escondiam o corpo dela.

Torás’célascás, agora Lugda’velir, tirava o véu.

Eu parecia um garoto, passando por cima da grandiosa cama até a vislumbrar do outro lado.

Ela tinha olhos negros. Cabelos em mesmo tom, ondulados, longos. A pele era levemente escura. O rosto de mulher, com certa altivez, quase desdém, comigo a encarar o corpo dela.

Seios fartos, caídos. A bunda enorme.

E as orelhas longas e pontudas.

— Que há com suas orelhas?

— Que haveria? Sou uma fhauren.

Eu deveria saber o que é isso?

— Gostei. Fica bem em você. — sim, eu disse isso. Ela não respondeu, apenas ajustou a calcinha preta rendada como o sutiã.

Na pele dela ainda se viam tatuagens.

Não eram conservadores?

Tatuagens?

Ela não demonstrou nenhuma reação quando vi as tatuagens, então decidi que era algo normal. Mesmo anotando mentalmente para pesquisar mais tarde.

PRIMEIRA ESPOSA

O rosto dela era jovem.

Queria perguntar a idade.

Não parecia ter vinte anos.

Viúva.

Me aproximei dela, e a agarrei pela bunda enorme juntando nossos corpo.

A beijei e ela babou.

— O que está fazendo?

— Te beijando.

— Beijando? — inquisitiva, ela desconhecia o ato.

— É algo comum entre casais. — expliquei.

— É? — ela pareceu desconfiada, mas quando juntei nossos lábios e línguas ela aprendeu rapidamente, comigo a induzindo para cima de mim enquanto sentava na cama com ela no meu colo. Me abraçando com as pernas.

Viúva.

Com uma filha.

Eu era prometido a ela desde antes de eu nascer?

— Espera. — ordenei. E ela arfando me encarou de perto. As orelhas longas tremeram de leve ao me escutar. — Se sou prometido a você desde antes de eu nascer, por que você se casou com outro antes de mim?

— Eu ainda não era prometida a você quando me casei. Isso foi trinta anos atrás, eu ainda tinha sete anos na cerimônia de casamento. E meu marido morreu no ano que você nasceria.

Ela tinha trinta e sete anos!

Impossível.

Fhauren? O que seria isso?

Elas deviam envelhecer lentamente.

Tinha inúmeras questões, mas, com Torás’célascás na cama só conseguia pensar em uma coisa.

A deitei e ela abriu as pernas, comigo ficando entre as coxas gordinhas.

A boceta quente era segura por minha mão sentindo as rendas da calcinha, e as voltinhas da pele conforme a alisava, sem deixar de a beijar.

Os cabelos longos ondulados acima dos lençóis limpos. O perfume. A expressão desviando o olhar. Tudo nela me excitava.

Quando tirei a calcinha dela, e ela abriu ainda mais as pernas, a segurei pelas coxas grossas e comecei a foder com toda a força, a provocando.

O olhar irritado da mulher me excitava mais e mais. E das coxas dela fui até os seios, puxando a peça do sutiã para baixo, revelando os mamilos longos e escuros.

A boceta peluda engolia meu caralho de moleque.

Ela tinha muito tesão e controlava o rosto, tentando manter a expressão séria e irritada, mordendo os lábios ao arquear as costas após as estocadas fortes não cessarem.

Jorrei dentro dela com tanta vontade que a inundei, me abaixando, a abraçando abaixo dos seios, a chupando, mamando nos peitos duros.

Ela apertava os peitos na minha boca conforme o caralho perdia os últimos jatos na boceta apertada.

Ainda era jovem demais nesse corpo.

Queria continuar.

Queria foder a noite toda e banhar essa puta com porra.

E abraçado deitei, com os olhos cerrados.

A viajem foi longa. E o festim exaustivo, horas em pé. Suspirei até adormecer.

A baixa claridade devido às altivas árvores ao redor da propriedade, iludia ser ainda noite quando despertei pela manhã.

Sozinho na cama segui o som das águas.

Havia um banheiro no quarto. No centro do cômodo, um tipo de ofurô de madeira em tom carmim era preenchido com baldes de água por Torás’célascás.

Ela me preparava o banho.

Usava vestes brancas, como um tipo de short e pijama, semitransparente, longo acima, até o pescoço e os punhos, mas permitindo a visão dos seios e da boceta pelo pano fino, um tipo de linho delicado.

Eu estava nu.

Caminhei até o ofurô e ela, em pé, do lado de fora, começou a me banhar com essências e perfumes.

Meus cabelos foram banhados e após o relaxar se tornou óbvio o membro apontando para cima.

Ela, ainda vestida, entrou na água e eu a coloquei de joelhos.

Em pé diante da esposa submissa, coloquei o pau na boca dela.

Depois tive que a ensinar a bater punheta.

Chupando, como um filho chupa o peito de uma mãe, ela mamou sem cessar a punheta batida forte, quase esmagando o pau.

Ela de olhos abertos sentiu a porra na boca.

O rosto de nojo tomando aquilo, engolindo, apenas me excitou. Ela se levantou e eu a ajoelhei de novo.

O pau ainda estava duro.

E limpando o esperma com a boca a mulher obedeceu ao instinto feminino, aprendendo a arte do boquete facilmente, colocando o pau inteiro na boca, tirando, dando um show, mamando a segunda vez e exibindo a porra antes de engolir com ainda mais nojo.

Suspirando, me sentei diante dela, a água até os peitos dela, quando ela se movia revelava os mamilos, e os peitos grandes.

Ela me banhou mais, esfregando minha pele com as mãos nuas cheias de loções, que em vítreos coloriam a borda do ofurô.

A água antes morna se esfriou.

E ela ameaçou sair, para pegar mais da água quente num dos muitos baldes ao redor do ofurô quando a segurei, a trazendo até meu colo.

— Quantos anos tem a sua filha?

— Quatorze. — a mesma idade que eu.

— E ainda não se casou?

— Ainda é criança.

— Criança? Você se casou aos sete, ela tem quatorze.

— Quis dizer... — Torás’célascás corou. As vestes semitransparentes coladas ao corpo, molhadas, revelavam muito da beleza dela. — Minha filha ainda não sangrou.

— Entendi. E quando ela chega?

— Quando o período de núpcias acabar. Temos ainda o restante da estação.

Nesse mundo existem cinco estações na superfície que nada alteram nos subterrâneos.

Serenata, a estação do casamento. De sete em sete anos os portões para a superfície são abertos nessa estação de acordo com os ciclos lunares. Pelo que li, na superfície os desertos registram temperaturas entre trinta e cinquenta graus.

Silêncio, a estação do frio extremo, a temperatura cai para até menos trinta graus no deserto.

Voragem, a estação dos furacões, temperaturas de quarenta até sessenta graus na superfície, sem a possibilidade de uso de dirigíveis devido aos ventos.

Alegro, a temperatura se torna amena, de vinte até cinquenta graus, época dos festins e comemorações, com os dirigíveis e caravelas a vapor zarpando pelas areias navegáveis, ainda não tinha visto nenhum desses maquinários, mas estava curioso sobre a navegação nas areias finas dos desertos.

E umbrosa, período de onze noites de eclipse total, a escuridão permanece da primeira à última hora da estação, marcando o final do ano e o início do novo ciclo de vida.

Nos casamos no dia vinte e quatro de serenata.

A estação tem cinquenta e um dias, e no dia cinquenta, eu, e todos os demais jovens que se alistaram, partiremos à superfície para cumprir os primeiros sete anos de alistamento obrigatório.

No dia primeiro de silêncio os portões para a superfície serão fechados por um ano, e depois serão abertos por mais uma serenata, e fechados no silêncio até a temporada de serenata sete anos depois.

Posso chamar de rotina o que se seguiu.

No período da estação antes do embarque, todo despertar foi semelhante.

Banho e boquete, com Torás’célascás adestrada para degustar o momento.

— Acha que isso ajuda a engravidar? — e eu fiz que sim, mesmo sabendo de tal impossibilidade.

Ela cresceu e foi ensinada a cuidar do lar, e dentro da casa ela era a única. Nenhum empregado possuía o direito de pisar dentro da lar.

Por sua vez, os empregados eram homens, alguns bem mais velhos, e outros ainda meninos.

Aqueles em idade de estudo ou trabalho com ensino seguiam e moravam na cidade, que ficava três horas distante na carruagem a vapor.

A propriedade possuía uma pequena vila, com treze casas, lá viviam as esposas dos empregados.

Existia um celeiro com alguns animais, todos desse novo mundo, e um salão de engenharia, com peças e maquinários para o conserto das carruagens.

Existia também uma farmácia, assim chamada, mas em nada semelhante às da Terra.

Era um terreno com muitas ervas e espaço para um laboratório, para a feitura de medicamentos.

Não tinha uso pela falta de um boticário na propriedade.

Esse foi o primeiro passo.

Rumar para cidade para contratar um boticário.

Na sequência, a compra de materiais como madeira, pregos, e o que mais fosse necessário para a manutenção da propriedade.

Conhecer os funcionários se tornou prazeroso, pelas bebedeiras e canções ao redor da fogueira nas noites frias.

Ali o clima era sempre gélido, e as roupas se faziam pesadas, com chapéus e golas altas deixando somente os olhos dos homens à mostra.

No caso das mulheres era o mesmo, porém o véu agora parecia aprazível pela proteção contra o clima hostil.

— Se não é o Senhor Lugda’velir! — a presença de um nobre era acompanhada do sorrir e da falsa intimidade daqueles em trabalho.

Era o mesmo no outro mundo.

Lembro se escutar uma mulher, na Terra, reclamando do atendimento de cara fechada. Era uma mulher rica, do tipo que pensa que é pobre e que nunca trabalhou. Confesso que tinha por ela aversão semelhante a que resguardava aos nazistas, logo, essa lembrança pode estar contaminada.

Era a mulher esposa de alguém de fama, não uma estrela, apenas alguém que se destacava da escumalha social, e dela as reclamações com atendentes compreendi aqui. Quando se cresce com falsos sorrisos, e mentiras que inflam seu ego, é fácil, e viciante, sucumbir à ignorância.

Ser bem tratado nada é se não medo.

Talvez até desespero. De perder o emprego. De ter a atenção chamada. De perder um cliente que sustenta um negócio.

Nesse mundo fui bem tratado, mas ainda conservava do outro mundo os rostos e olhares.

Lá, sendo órfão eu vi a verdade.

Dazai definiu esse sentimento em uma frase; “o fim do dinheiro é o fim das relações.”

Eu mudaria a frase para o fim do dinheiro é o fim das relações aparentes, pois as relações em si se quer existem.

Claro, existe a imbecilidade, aqueles que dedicam, vida, tempo, e o próprio corpo, por um ideal, uma religião, ou fazer o certo. Esses são caso perdido e tem mais é que se foder mesmo.

O que é certo? Se não o que os dominantes decidiram.

E isso é nada se não o que mantém o domínio e os dominados em inércia.

— É uma honra te receber meu Senhor! — esse atendente não recebia nada acima do valor cobrado.

— Posso ajudá-lo? — esse atendente sem humor, irritado, recebia um bônus.

— Sim? — esse que se quer me olhava, postergando a interação, recebia ainda mais.

Era costume desde Héracles, em Alceste de Eurípides, o criado não demonstrar pesares ante o amo ou superior, e nesse mundo não se fazia diferente. Qualquer falta deveria ser incentivada.

— Dormiu? — Torás’célascás inquiriu na noite antes da partida.

Foram muitos dias. Muitos afazeres. Muitas fodas na boceta da esposa.

Após dias de convivência o amor surgia.

Tão forte quanto alguns dias de pobreza o matariam para sempre.

— Com medo? — ela insistiu. A baixa luz emoldurava o belo corpo se virando ao meu lado.

— Não. — e não era mesmo medo. Era um sentimento de frustração. Saber que seu corpo é instrumento na mão de pessoas que você nunca conhecerá.

Por outro lado não queria encher a mente da esposa dedicada com meus problemas.

A estação passou veloz e ainda deixei muito a ser feito.

Era frustração contra o todo. E comigo.

— Estou atrasada. Quando voltar terá um bebê de sete anos.

— Não case ele, ou ela, sem minha autorização. — redargui lembrando da história da própria Torás’célascás. Ela me deu um tapa de leve no ombro atraindo minha atenção.

— Volte. — não foi um pedido. Foi uma ordem. Anuí.

Pela manhã levantei antes dela, e preparei um banho.

Os servos ajudaram esquentando a água lá fora, deixando os baldes na porta de entrada, só tive o trabalho de subir as escadarias e encher o ofurô.

As bolsas estavam cheias. E a arma preparada.

Se quer treinei durante as núpcias.

Não existia muito a aprender.

Eu sabia a técnica.

Apenas aprimorei o montar e desmontar da mesma.

Deixei para pensar nesse problema na superfície.

— Obrigado. — escutei de uma esposa corada.

O plano era deixar ela na água, mas não resisti, lavando os cabelos negros dela, e descendo as mãos ao corpo voluptuoso.

As masturbações faziam ela gozar como uma adolescente no cio.

As pernas dela se abriam, e via que Torás’célascás apreciava ser vista, testemunhada com tesão.

Saímos juntos.

O cocheiro Mu nos aguardava, e nos levou até o porto.

— Fiz as viagens tantas vezes. É a primeira vez que presencio trânsito. — as vias adjacentes à cidade tinham carruagens de muitos tipos uma atrás da outra. Senti algo familiar com a situação e comentei com a mulher agarrada ao meu braço.

— Trânsito? — ela não reconheceu a palavra. Talvez não tenha entendido se quer o conceito.

— Obrigado por todo esse tempo...

Ela me agarrou, fincando as unhas na minha pele. Me virei ante o retorquir interruptivo:

— Não fale assim. — como estávamos fora da propriedade, ela usava véu, o que abafava as palavras. — Quando nos reencontrarmos da próxima vez teremos um ano e não só uma estação. Não fale como se em despedida.

Sete anos de serviços nas divisões. Um ano de foda com a esposa.

Para quem reclamava do seis por um, aqui era sete anos por um ano.

— Não tema. Sou dos mais fortes em minha técnica. — tecnicamente, eu era o único, mesmo sendo medíocre, logo, era verdade e mentira ao mesmo tempo.

A cidade estava festiva.

Decorada e até grupos de dança e música se apresentavam pelas esquinas.

Existiam guardas limitando o acesso ao aeroporto.

E os prédios em até cinco andares no centro de Ar Sinfonia, a cidade na parte de cima da caverna, tinha dirigíveis quase tocando os telhados.

— Se for menino, nosso filho partirá também.

— Não pense nisso. Não agora. Ainda existe muito tempo.

— Maldita seja a guerra. Malditas sejam as armas. — reconheci a voz chorosa dela. Em alguns momentos tudo o que um homem pode fazer a uma mulher é mentir:

— Se for menino, ele voltará. Como eu voltarei. — a verdade diferia, diziam que toda vez que um soldado partia Deus jogava uma moeda, metade voltava, metade nunca era encontrada. E ela sabia disso, todos sabiam. Os rostos entre os parentes se despedindo emulavam falsos sorrisos, falsas falas. E quem os julgaria? — Retornarei antes que sinta saudades. Se for menina darei a ela uma casa em nossa propriedade, para que não se sinta sozinha.

— Isso é impossível. — ela me abraçou e eu retribuí.

— Quando pensar em mim, lembra que penso em ti. E é, e sempre será igual.

— Você jura?

— Juro.

— Pela minha morte?

— Beneath my palm trees, by the river side, I sat a-weeping, in the whole world wide, there was no one to ask me why I wept, and so I kept, brimming the water-lily cups with tears, cold as my fears. Beneath my palm trees, by the river side, I sat a-weeping: what enamour’d bride, cheated by shadowy wooer from the clouds, but hides and shrouds. Beneath dark palm trees by a river side? — cantei a ela. Ela não compreendeu a linguagem, mas meu sentimento foi compartilhado.

O abraço se encerrou após um longo momento de união.

Levantei o véu e a beijei.

Foi nossa despedida.

Quando entrei num dos muitos dirigíveis ancorados no gramado do aeroporto, vi os presentes acenando nas arquibancadas. Retribui.

E quando no ar procurei a carruagem de minha esposa, e levei comigo a visão dela com as mãos no vidro, o véu a cobrindo, e o desconhecido esperando a nós dois.

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