Nada é Tão Ruim que...

Um conto erótico de Lore <3
Categoria: Lésbicas
Contém 4229 palavras
Data: 14/03/2025 23:38:40
Assuntos: Lésbicas

Algum tempo se passou, o meu tratamento seguia bem. Precisei alterar a primeira medicação, mas já na segunda, mesmo havendo altos e baixos, tinha dias em que eu acordava disposta, outros em que não queria sair da cama. Às vezes, desejava fugir do meu caos interior e descontava isso em corridas, exercícios ou até mesmo no que eu achava que era a fonte do meu estresse: o trabalho. Me enfiei em vários projetos. Sempre gostei de experimentar coisas novas no âmbito profissional, quase sempre tive liberdade para isso e adorava explorar, aprender, me atualizar e me aventurar em contextos inéditos, desafiadores e diferentes.

~ Inclusive, foi nesse momento que surgiu aquela proposta que me expuseram injustamente nos comentários dizendo que eu aceitaria para impressionar minha sogra, sobre trabalhar em um seminário. Ia ser interessante, não posso expor, mas era algo bem diferente. Não aceitei porque eu precisaria dormir por lá e eu gosto de pegar no sono com minha muié nos braços 🤣

A vida estava seguindo o seu percurso, eu sentia o ambiente mais controlado. Às vezes fugia do meu controle, mas reajustava nas sessões de terapia.

Eu recebia muitos cartões de psicólogos e psiquiatras e pensei em marcar com alguns para ver no que dava. Me deparei com algumas pessoas com o raciocínio um tanto... peculiar, com visões claramente distorcidas da realidade. Um, na primeira sessão, me diagnosticou com bipolaridade. Apertei as mãos dele e disse: — Cara, você é o Psi das galáxias, porque em uma sessão você me desvenda assim tão facilmente... Foda!

E teve um outro que me entregou uma cartilha de Ho'oponopono. Saí gargalhando da sala dele. Também tive boas experiências com jovens terapeutas. Souberam me ouvir e abrir a minha cabeça de forma positiva para outras perspectivas.

[...]

Cheguei em casa com as crianças. Júlia tinha AC nesse dia, então chegava mais tarde. Ou seja, uma vez por semana, Brad ficava de guarda na porta, esperando-a.

Seguimos nossa rotina normalmente e sentamos no tapete da sala, com o propósito de assistir algo interessante, mas começamos a conversar sobre o aniversário dos dois que se aproximava.

Juh e eu tínhamos decidido não fazer mais festa, não pela briga feia que eles tiveram para decidir o tema no ano anterior, mas por já estarem grandinhos. Víamos a necessidade de fazer alguma coisa diferente, mesmo sempre tendo um bolinho.

— Será que até lá eu já tirei esse gesso? — Perguntou Mih.

— Provavelmente sim — Falei.

— O que nós vamos fazer, mãe? — Perguntou Kaká, animado.

Eu ainda não havia conversado com Juh sobre isso.

— Huuuuuuum, não sei... Que tal a gente ficar aqui em casa? — Brinquei.

— Ahhhh, naaaao — Disseram, rindo, em coro. Sabiam que eu estava zoando.

Enquanto eles respondiam à atividade, eu fiquei conferindo meus e-mails. Tinha algumas opções que me interessaram e aguçaram a minha curiosidade em seguir. Fiquei em dúvida entre duas: Consultoria na produção de um curta-metragem e prestar atendimento exclusivo para atletas, ambos serviços voluntários. Fiquei pensando um pouquinho, imaginei que Kaká e Mih iam achar interessante o meu convívio com esportistas e talvez se interessassem em me acompanhar de vez em quando, porém o audiovisual não estaria no meu controle quando poderia surgir a oportunidade novamente, então resolvi optar por ele.

Fiz uma espécie de inscrição e, quando ia mudar para o e-mail da clínica, Kaique e Milena falaram que já haviam terminado a atividade e, mais, queriam que eu brincasse com eles, pois estavam entediados.

— Tá, do que querem brincar? — Perguntei.

— Não posso treinar o Kaká... — Disse Milena.

— Ahhhh, sério? Achei que vinha algo mais leve, algo que desse para brincar... Deitada... — Falei, me espalhando no tapete.

— Eu sou a árbitra!!! — Ela exclamou, animada.

— Mas eu nem sei fazer nada desse negócio de vocês — Tentei.

— Por favor, mãe — Implorou meu filho, com as mãos postas.

— Tive uma ideia, vamos fazer assim... — Começou a dizer Milena.

Ela me pegou pela mão e começou a posicionar nós dois de forma que Kaique tentasse sair. Mih ficava o tempo todo mandando eu colocar mais força. Ela pulava do sofá para o chão, rindo, super empolgada. Também instruía o irmão, indicando maneiras dele se livrar de mim.

— Finge que nossa mãe é uma assassina e tá querendo te matar!!!! — Mih gritou animada e eu levei um susto.

— Que isso, tá maluca? — Perguntei e eles riram.

— É brincadeira, mãe, entra na brincadeira — Ela me respondeu.

— Até porque se eu fosse uma assassina já tinha ganhado isso aqui faz tempo — Falei e ri.

Kaique parou de tentar se remexer e me encarou.

— Como? — Ele me interrogou, parecia não me entender.

Peguei o controle da televisão, ainda mantendo meu filho abaixo da minha perna e apontei para ele.

— Facada, facada, facada, facadaaaaa — Gritei, o atacando com o objeto e os dois caíram na risada.

— Queria brincar também — Falou Mih, sentando ao meu lado.

— Achei a brincadeira de vocês meio mixuruca — Disse-lhes, levantando devagar.

Segurei nos tornozelos de Milena e, em um rápido ato, a puxei de vez, deixando a árbitra de cabeça para baixo.

— Sua vez de tentar sair, Mimi — Desafiei, gargalhando.

— Socorro, isso não é jiu-jitsu!!!! — Ela exclamou, se divertindo, enquanto tentava se desvencilhar de mim.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! — Foi a última coisa que eu ouvi antes de sentir um forte impacto nas costas.

Kaique pulou e se pendurou em mim.

— Dois fracotes! — Provoquei e comecei a girar com eles, infelizmente, mais devagar do que eu gostaria.

Nós começamos a rir muito e eu fui perdendo as forças, quando estava prestes a desistir. Brad começou a latir muito para a janela e, quando olhei na direção, uma gatinha nos observava através dela, com um rostinho cansado, mas com o sorriso mais lindo do mundo nos lábios.

— Olha quem chegou — Falei para eles.

— Mamãe, ajuda a gente!!! — Eles começaram a pedir, e ela finalmente entrou.

— Eu só sei negociar beijinhos, serve? — Juh perguntou.

— Huuuum, depende de quantos — Respondi, fingindo uma certa dificuldade.

Júlia foi soltando a bolsa no chão, fez carinho no Brad e veio em nossa direção. Segurou o meu queixo e foi me dando inúmeros selinhos. Com cuidado, coloquei Mih no chão, mas fiz questão de segurar Kaká por mais um tempo, o valor do resgate tinha que ser um pouquinho mais alto.

Como eu não tinha mais reféns, achei prudente agarrar aquela mulher para mim. A segurei pela cintura e caí sobre ela no sofá. Juh me abraçou bem forte, com os braços e com as pernas.

— Você é uma mãe incrível, amo você e amo a nossa família — Ela disse, levemente emocionada, fazendo carinho no meu rosto, e eu, em meio a um sorriso, a beijei.

E com a guarda completamente arriada, molinha de amor... Fui pega pelos meus filhos, que se jogaram em cima de mim, me segurando como se estivessem me prendendo.

— Acho que caí em uma armadilha — Brinquei.

— Fim da linha, mãe! — Finalizou Milena.

— Gente... Eu tô aqui... — Ouvi Juh dizer, e saímos rindo de cima dela.

~ Tadinha 🤏🏽❤️‍🩹🤣

Fiz ela se alimentar e depois Júlia subiu para se higienizar. As crianças ficaram mais um pouco comigo, correndo com Brad pela casa, e eu fui finalmente checar os e-mails da clínica. Lembrei que o mestre de obra pediu para eu ligar para ele, e assim eu fiz. Demoramos mais do que eu imaginei e Milena e Kaique acabaram indo dormir, depois de me darem um beijinho.

Quando desliguei, fiquei um tempo olhando para a tela, pensando se valia a pena continuar para adiantar as pendências ou se uma pausa seria mais proveitosa. Só que os passos lentos da minha gatinha descendo as escadas me chamaram a atenção. Ela tinha um envelope nas mãos e usava uma das minhas camisas do Flamengo. Essa é retrô, com gola, e ficou bem despojada no corpo dela. O cabelo agora estava preso em um coque alto e volumoso. Tudo fica sexy na minha muié.

Eu tinha comprado uma pelúcia para ela através da internet e havia chegado. Era um pouquinho diferente, porque tem os movimentos de respiração e faz uns barulhinhos. É o tipo de coisa fofa que eu vejo e lembro dela na hora.

Fui pegar e, quando voltei, peguei um vinho e uma taça. Juh automaticamente se acomodou no meu colo.

— Tão cheirosinha — Falei, dando beijinhos em seu pescoço.

— Você também, amor — Ela disse, devolvendo os beijos.

Júlia estava um pouco calada, julguei ser pelo cansaço.

— Tenho uma coisa para você, acho que vai te animar — Falei, passando o dedo nos lábios dela, revelando um sorrisinho.

— E você pode beber, Lore? — Juh me perguntou, séria, se referindo ao vinho.

— Não, mas acho que vai te relaxar — Nesse momento, servi uma taça para ela. — Mas não estou me referindo ao vinho... — Apontei com o queixo para a caixa.

Só então ela viu.

— O que é isso??? — Júlia perguntou, visivelmente mais animadinha.

— Abre... Olha, acredito que finalmente acertei em algo para você — Falei com sinceridade.

— Para com isso, você sempre acerta — E agora foi ela quem passou os dedos nos meus lábios, só que eu mordi.

Eu estava lutando para manter o clima mais meigo, mais fofinho, e não insinuar nada sexual. Eu sempre quebro a vibe. Juh não se importa, ela acha o meu jeito engraçado, porém, esses momentos também são bem significativos e têm muito valor para minha muié romântica.

Só que aí ela resolve virar delicadamente o restinho do vinho e escorregar entre as minhas pernas, fazendo a camisa subir e revelar suas coxas nuas... Haja concentração!

Ela, toda cuidadosa, abrindo a caixa, e na minha cabeça, passando os pensamentos mais impuros.

— Um ursinho!!!! — Juh exclamou, abraçando-o ainda no plástico.

— Ele faz uma coisa legal, olha — Falei, me aproximando de seu corpo e segurando a película por cima de suas mãos, como em um abraço.

Apertei no pezinho do bicho e... Nada! Putz, lógico que ia precisar de baterias!

Peguei o bichinho, fui ao depósito, precisei de uma chave estrela, coloquei as baterias, testei e, dessa vez, funcionou. Acendeu uma luz na barriguinha e ele começou a se movimentar.

Deixei a sala escura e entreguei para minha gatinha, voltando para a nossa posição inicial.

— Agora simmmm, se eu lembrasse antes, não tinha feito você esperar — Disse-lhe, mas acho que Juh nem prestou atenção, ela estava curiosa.

Apertamos juntas e a mágica aconteceu. Dessa vez, com o ambiente escuro, ficou bem mais bonito.

— Amoooor... — Ela disse baixinho, quase em um sussurro. — Que coisa mais lindinha... — Finalizou, virando-se para mim.

— Gostou? — Perguntei, já sabendo a resposta, e sem deixá-la responder, dei vários beijinhos.

Ficamos um tempo abraçadas, com o urso entre nós. Eu coloquei mais um pouquinho de vinho para ela e ficamos conversando.

— Ele é o nosso filhinho, bora dar um nome? — Me perguntou.

— Orion! — Brinquei, porque ela não gosta do nome.

— Não, Luighi — Ela brincou de volta.

— Nem fudendo! — Falei, rindo.

Quando Juh estava grávida e nós discutíamos as possibilidades de nomes, não entramos em consenso em momento nenhum em relação a nomes masculinos, mas esses dois foram os que mais nos fizeram rir. A gente implicava demais.

Eu gosto de Harry Potter e, na saga, tem a família Black, onde todos os membros possuem nomes de estrelas, constelações e galáxias. Na verdade, o meu nome preferido é Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno. Mas daria muito trabalho explicar para minha filha, especialista em nomes, que eu queria pôr o nome do cara que se transforma em cachorro no filme e faz parte da constelação Cão Maior, para o irmãozinho dela, sendo que ela implicou com o nome Max por ser o "dog" do avô... Então, para evitar a fadiga, fico com a minha segunda opção mais bonita.

— Talvez eu deixe ser Orion, porque não vou precisar colocar esse nome esquisito em opção novamente — Ela falou enquanto eu a servia mais uma taça.

— Ahhhh, então pode ser Luighi... — Falei, rindo, mas logo completei. — Brincadeira, gatinha, é seu, pode pôr o nome que quiser... Até se for esse nome de mauricinho — Finalizei, e ela sorriu.

O mauricinho venceu a constelação.

Após algum tempo, ela se deitou encostada em mim e eu fiquei fazendo carinho em suas costas, por baixo da camisa.

— Tô tão cansada hoje... — Ela confessou.

— Eu desconfiei, vamos dormir? — Perguntei, mas não nos movemos.

Eu ri, olhando em seus olhos, e dei um selinho.

— Tá rindo de quê? — Juh me perguntou, sorrindo sutilmente.

— Eu jurei que, quando você desceu as escadas, estava má-intencionada — Disse-lhe.

— Má intencionada tá você, me dando vinho no meio da semana — Me falou, rindo.

Desdenhei dela e fui me aproximando um pouco, ela também e ficamos dando selinhos, que foram se transformando em beijos mais molhados e sonoros, mais lentos, envolventes e cada vez mais carregados de intensidade.

Minhas mãos desceram de suas costas para seu bumbum, no desejo de arrancar a calcinha dela, mas Júlia não usava uma.

— Amor, você é safada demais, diga agora que não tinha outras intenções comigo nessa noite — Falei pertinho de sua boca.

— Eu não sei do que vocês está falando — Ela me respondeu baixinho, cheia de si.

— Fala que você não queria isso aqui — Disse-lhe, e me enfiei por baixo da camisa, para chupar seus peitos.

Júlia arfou com o toque da minha boca em seus mamilos e eu fui deitando nossos corpos sobre o tapete, ficando por cima dela.

— As crianças... E se acordarem? — Juh me perguntou quando percebeu o progresso da minha movimentação.

— Nunca acordam... E tá escuro, você sabe que eles não vão descer antes bater na porta do nosso quarto... — Respondi já direcionando minha boca para sua pepeca.

— Espera!!!! — Júlia ordenou e eu parei no mesmo segundo.

— O que foi???? — Perguntei.

— Não consigo com ele olhando para a gente — E apontou para o urso.

— Nem o olho aberto ele tem, mulher —Falei e tentei prosseguir, mas Juh fechou as pernas.

Sem opção, levantei e coloquei o coloquei no sofá de costas para nós.

— Pronto? Mais alguma coisa, senhora? — Perguntei, sem muita paciência.

E ela me agarrou pela camisa, foi me empurrando para trás e me deu vários beijos logos, enquanto ia tirando a minha roupa.

Juh se posicionou para um 69 e eu fui só aceitando e nos acomodamos da melhor forma. Existe uma sincronia inexplicável entre nós, não apenas nos movimentos físicos, mas eu definiria como uma comunicação invisível que transcende as palavras, um entendimento mútuo que se expressa através de cada toque, de cada olhar (quando possível) , de cada pequeno gesto que reflete a conexão profunda entre nossos corações, como se fôssemos duas melodias compondo uma única canção. Há em nós uma sintonia, uma fluidez que só o amor pode proporcionar. Na sincronia de movimentos, os nossos corpos se fundiam em um ritmo único e a gente se compreendia sem que fosse preciso dizer uma única palavra, nossos suspiros, espasmos, choques e pequenos gemidos falavam por nós, pelo nosso desejo e pela nossa vontade.

A língua daquela gatinha entrando em mim enquanto a minha fazia o mesmo nela, com cada vez mais firmeza, mais força e mais agilidade. Subindo e descendo e sabendo onde ir... Indescritível a sensação, nós duas tivemos alguns orgasmos intensos nessa noite, até ficarmos exaustas.

Após algum tempo deitada sobre o meu corpo, Júlia foi se levantando, de forma que, ficou sentada sobre a minha cintura.

— Ai meu Deus! Ah, nãooooo!!! — Ela exclamou.

— O que foi, amor? — Perguntei, um pouco assustada, porque Juh parecia nervosa.

— Meu filhooooooo! — Ela se levantou rapidamente. — Desculpa por você ter presenciado isso!!! — Finalizou, se agarrando a Brad.

Ele estava no cantinho dele, tranquilaço, e ficou todo bobão com Júlia fazendo carinho nele.

— Viu como sua mãe é safada, Brad? — Brinquei, dando um tapinha na bunda dela.

— Amor, agora ele vai ficar traumatizado — Juh falou, bravinha.

— Que traumatizado, amor? Vai ficar é inspirado com a visão do paraíso que ele teve — Disse, rindo, e a levantei para dar um beijo.

— Pede desculpa para ele também... — Juh me aconselhou.

Eu comecei a rir dela, o que não foi visto com bons olhos.

— Você tá de brincadeira, né? — Perguntei, e ela foi se soltando de mim. — Desculpa, Brad... — Falei, revirando os olhos, para que o lindo sorriso dela florescesse.

— Muito obediente você — E, sinicamente, Júlia riu de mim, e eu mordi o lábio inferior dela.

A gente estava subindo as escadas para o quarto, e eu notei novamente o envelope em suas mãos.

— Por que está carregando isso para cima e para baixo? — Perguntei.

— São meus exames e minhas receitas. Ia te mostrar quando desci... Mas deixa isso para amanhã — Ela me respondeu.

— Não, mostra agora, amor... — Pedi.

— Não tem nada demais, só... Várias pequenas coisinhas fora do lugar... E eu tomei uma injeção hoje — Juh me disse melancolicamente.

— Ohhhh, tadinha do meu amorzinho... Mas acho que não está doendo, né? Te amassei todinha e você não reclamou — Falei, a abraçando por trás e beijando seu pescoço, conseguindo arrancar um sorrisinho dela.

— Tá vendo, não tinha má intenção nenhuma minha... Eu só estava à vontade e queria contar da minha consulta — Júlia me disse, e havia uma feição convencida em seu rosto.

— Sei... Sei... — Respondi, cerrando os olhos.

Nós tomamos banho e fomos dormir. No outro dia, eu levaria Mih para uma nova revisão, com a possibilidade de retirada do gesso, mas essa segunda parte ela não sabia.

Pela manhã, foi uma correria para Juh e Kaká, porque esquecemos de colocar o alarme. Acordei em um pulo e fui, ainda de pijama, levar os dois para o colégio.

Saí com Milena mais ou menos às 09h. Assim que chegamos lá, ela foi atendida. O pai dela confirmou que ia aparecer, então Mih ficou um pouquinho triste quando entramos sem ele, porém logo se animou ao saber que os dias de múmia dela haviam chegado ao fim.

Milena adorou a serra, não sentiu medo algum porque expliquei para ela como funcionava, só ficou um pouco assustada porque sentiu o braço bem molinho, o que é completamente normal.

— Você vai fazer umas sessões de fisioterapia, e ele vai ficar normal rapidinho — Explicou o ortopedista.

— Ela tá nervosinha assim porque é atleta, dr... Jiu-jitsu — Justifiquei.

— Não dá para treinar assim — Ela confirmou.

— Logo você vai estar cheia de medalhas — O médico tentou animá-la.

— Não, não... Sem medalhas, mais um grau na faixa e eu fico muito feliz — Ela disse, já sorrindo.

~ Às vezes nem acredito que saiu de mim, uma fofa!

Entramos no carro e achei que ela estava mais quietinha por não poder retornar aos treinos ainda. Perguntei se ela queria escutar o cantorzinho preferido, e ela negou, mas mesmo assim coloquei... Aí que eu percebi que o negócio era mais embaixo, pois ela não deu nem uma animadinha... Só que, aparentemente, Mih não estava querendo conversar muito.

Somente quando parei o carro na frente do colégio, ela veio para o meu colo e se grudou em mim.

— Que foi, neném? Não quer ir para a aula? Acho que a mamãe e o Kaká vão adorar saber que você está com o bracinho livre agora — Perguntei.

— O papai disse que vinha e não veio... Por quê? — Mimi perguntou, de forma direta.

— Eu não sei, você quer ligar para ele? — Perguntei, e ela acenou que sim.

Liguei e ele atendeu, e eles ficaram conversando. O pai disse que teve um compromisso de última hora e não pôde aparecer, contudo, iria vê-la no meio da semana. Ela ficou mais visivelmente feliz, e eles se despediram... Só que a ligação não foi encerrada.

— Tá vendo aí? A mãe marca as coisas e não me diz, e a menina acha que eu estou me ausentando. Ela faz de tudo para me tirar da vida da minha filha, ela quer incluir outras pessoas e me tirar... Fora que eu fiquei sabendo que esse aqui é o atual estado mental dela, e é mais por isso, Dr., que quero solicitar logo essa guarda unilateral, quero um oficial de justiça na porta dela! — Ele finalizou, rindo.

Meu coração gelou, estremeceu.

— Que isso, papai? Unilateral? — Mih perguntou, de forma inocente.

E só então a ligação se deu por encerrada.

— Mãe, mas eu disse ao papai que era hoje, e ele disse que vinha — Milena insistia repetidamente para mim.

— Filha, ele deve ter esquecido. À noite vocês conversam melhor... Vamos lá, você vai acabar perdendo outra aula. — Falei, e ela assentiu, mesmo um pouco contrariada.

Fui com o carro para o estacionamento e mandei mensagem para Juh me encontrar. Ela demorou um pouco, tempo o bastante para eu pensar inúmeras coisas e, ao mesmo tempo, não pensar em nada.

Quando nos encontramos, Júlia veio comemorando que Mih havia tirado o gesso, porém, logo percebeu que eu não estava legal.

— Tá sentindo o que, amor? O que aconteceu??? — Ela me perguntou, preocupada.

Eu contei o que ouvi, e identifiquei o mesmo desespero que eu sentia naquele olhar.

Eram tantas perguntas... Qual estado mental ele se referia? O que ele ia alegar contra mim?

Assim que nos divorciamos, eu que não sou idiota, ingressei com o pedido de regulamentação da guarda compartilhada, como é regra, e houve consenso, então foi fácil conseguir. Apesar de não termos uma boa relação no pós-término, eu conseguia lidar muito bem, e quanto mais independente nossa filha ficava, mais fácil era para mim.

Eu tenho plena convicção de que dou o meu melhor para meus filhos e, mesmo assim, naquele momento, tremi na base. Marquei com meu advogado, e Juh não me deixou ir sozinha. Ela foi dirigindo para mim.

Tudo o que eu ouvia era: "Lore, fique calma... Não tem como ele conseguir isso", "A situação está a seu favor", "Você tem provas suficientes"... Mas o que acontece é que ninguém conhece mais o que aquele cara é capaz do que eu. A justiça estava do meu lado somente até o sobrenome e o dinheiro dele aparecer na jogada.

Eu morri de medo... Estava bem trêmula, Juh também parecia extremamente nervosa, mas ela segurava minhas mãos, fazendo carinho, tentando me confortar.

Era para eu sair aliviada, porém não me ajudou em nada. Não consegui tirar aquela sensação do peito.

— Quero ir lá nos pais dele, o que acha? — Perguntei para Juh.

— Mas... Onde eles estão? Liga antes... — Ela sugeriu.

E tinha razão, eles nem sempre estão em Salvador, principalmente quando não se trata de período eleitoral.

A mãe do traste que atendeu, sempre me trata muito bem. Informei que precisávamos conversar e ela me disse que estava lá no interior. Acho que tanto Juh quanto ela tomaram um susto quando eu disse que estava indo para lá, pois era um assunto importante.

Eu sabia que ia demorar, o percurso não é simples, então sugeri ir sozinha. Obviamente, não foi acatado. Minha mulher não solta da minha mão por um segundo, nem mesmo quando tem o meu total apoio para isso. Ela ligou para Sarah pegar as crianças à tarde, e partimos.

Algumas horas depois, chegamos lá, em frente ao casarão deles. Eu, suando frio, agarrei na mão de Juh e segui em frente. Os dois estavam na sala, à minha espera, e fui direto ao assunto.

Mostrei os áudios de Milena para ele, falando sobre o médico, ele confirmando que iria, todas as vezes em que ele solicita trocar os finais de semana e eu aceito. Citei as infantilidades dele em procurar confusão na maioria dos nossos encontros e, por fim, comentei sobre a ligação.

Minha ex-sogra expôs em voz alta alguns questionamentos: "Quem vai cuidar de Milena se o trabalho não deixa ele parar em casa?", "Ele não tem horário fixo, viaja o tempo inteiro. Como minha neta vai ter carinho, educação e criação de qualidade? Com uma babá?"

E a única coisa que o meu ex-sogro disse foi:

— Com licença, farei uma ligação para resolver isso.

E, quando ele voltou, disse para ficarmos tranquilas, que nada daquilo ia acontecer e que eu ficasse despreocupada, pois tudo ia seguir da mesma forma de sempre. Ele nos informou que conversou com o filho e que nunca concordaria com essa injustiça, porque me conhece muito bem, e só o fato de eu me deslocar até a casa deles mostrava o quão eu me importava em manter a minha filha comigo.

Eu sabia que o pai de Milena jamais iria peitar a decisão dos pais, e somente assim, eu me senti segura.

Já estava escurecendo, e eu estava sem as chaves da casa dos meus pais, então era melhor partir, mesmo não estando próximo do nosso horário. Ficamos esperando na areia da praia, sentadas em cima dos saquinhos dos lanches que compramos, feito duas desabrigadas, e não era por falta de opção. Eu só queria ficar próxima do mar, observando a lua gigante com meu amorzinho... Tinha sido um dia muito difícil, e eu só almejava chegar em casa para ter a companhia dos nossos filhos.

Estávamos em silêncio, e era exatamente o que eu precisava. Quando eu falo da nossa conexão, é também sobre esses momentos que estou me referindo. Não preciso pedir ou colocar em palavras, fica subentendido, no ar... A gente se entende no olhar, pela respiração, pelo tom de voz... Nos mínimos detalhes!

— A gente vem pouco aqui, tem lugares que vocês não conhecem... Que tal aproveitar o aniversário dos meninos aqui? — Perguntei, após algum tempo.

— Com você, eu topo tudo... — Juh me respondeu, encostando a cabeça no meu ombro.

Começou a chover e nós corremos para nos abrigar. Na minha cabeça, só passou uma música.

~ Alexa, tocar "Água de Chuva no Mar" de Beth Carvalho!

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Foto de perfil de Lore Lore Contos: 99Seguidores: 38Seguindo: 4Mensagem Bem-vindos(as) ao meu cantinho especial, onde compartilho minha história de amor real e intensa! ❤️‍🔥

Comentários

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4229 ✍🏻😧

Obs: A garrafa de vinho caiu e o tapete branco nunca mais foi o mesmo

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Falando mais que a nega do leite aqui 🥛😂

Obs: Tudo hoje em dia é abstrato, arte contemporânea e é bom que toda vez que eu olho, eu lembro 😏🤷🏽‍♀️

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