Um mês se passou desde que a construção da nova casa começou, e agora ela estava finalmente pronta. O pequeno casarão de madeira, com varanda na frente e quartos suficientes para os novos funcionários, ficava perto do curral, proporcionando um espaço confortável para os recém-chegados.
Naquela manhã, enquanto eu ajudava a levar alguns sacos de ração para o depósito, vi Túlio e Miguel discutindo perto das baias.
— Eu já disse que esses cavalos não precisam do seu método exagerado, Miguel — Túlio falou, cruzando os braços.
— E eu já disse que você não entende nada sobre doma racional, moleque — Miguel retrucou, ajustando o chapéu e olhando Túlio de cima.
Desde que Miguel chegou, os dois não se bicavam. Túlio, orgulhoso e de temperamento explosivo, parecia odiar admitir que Miguel era talentoso com os cavalos. Já Miguel não fazia questão nenhuma de amenizar as provocações, e aquilo estava prestes a virar um problema sério.
— Só porque você fica bancando o encantador de cavalos não significa que é melhor do que todo mundo aqui — Túlio bufou.
— Melhor que você, com certeza sou — Miguel sorriu de canto, satisfeito com a irritação do outro.
Antes que a briga piorasse, resolvi intervir.
— Chega, vocês dois. Temos trabalho a fazer — falei, me colocando entre eles.
Túlio me lançou um olhar furioso, mas virou as costas e saiu pisando duro. Miguel deu um riso baixo.
— Ele é fácil de provocar.
— E você gosta disso, né? — Cruzei os braços, sem paciência.
— Um pouco — ele admitiu, antes de sair assobiando.
Suspirei. Aquilo ainda ia dar merda.
__________________________________________
Enquanto tentava esquecer as brigas de Miguel e Túlio, outro problema se arrastava na minha cabeça: Lucas.
Eu tinha prometido a Eduardo que ia me afastar dele, mas Lucas parecia não ter recebido o memorando. Toda vez que ficávamos sozinhos, ele arranjava uma desculpa para se aproximar.
— Tá fugindo de mim, André? — ele perguntou naquela tarde, quando fui buscar algumas ferramentas no celeiro e dei de cara com ele encostado na porta.
— Não tô fugindo de ninguém — respondi, seco.
Ele se aproximou um pouco, os olhos brincalhões.
— Desde aquele beijo, você mal olha na minha cara.
Fechei os punhos.
— Porque não devia ter acontecido. Você sabe disso.
Lucas sorriu, como se aquilo não fosse nada.
— Não precisa agir como se tivesse sido o fim do mundo.
— Pra mim, foi.
Ele pareceu surpreso com minha resposta.
— Eu amo o Eduardo, Lucas. Não quero mais essa história.
Pela primeira vez, ele não teve uma resposta pronta. Apenas assentiu, com um sorriso sem graça.
— Entendi.
Sem dizer mais nada, passei por ele e saí. Eu só esperava que aquilo fosse o suficiente para encerrar o assunto de vez.
__________________________________________
NARRADOR
O dia estava quente, e o trabalho na fazenda seguia a todo vapor. Depois de uma manhã movimentada com os novos funcionários se adaptando às suas funções, Raimundo apareceu com uma nova tarefa.
— Miguel, Túlio, vocês dois vão até a parte baixa e troquem os bois de pasto. Montados, de preferência. Quero que seja rápido — ele ordenou, enquanto tomava um gole do café preto que sempre carregava na garrafa térmica.
Túlio torceu a boca ao ouvir que teria que trabalhar ao lado de Miguel.
— Não tem outro pra ir comigo, não?
— Não, tem não. Agora, anda logo, que não tenho o dia todo — Raimundo retrucou, sem paciência.
Sem escolha, os dois foram até o curral e montaram nos cavalos. Túlio, teimoso como sempre, fez questão de demonstrar que era tão bom cavaleiro quanto Miguel, saindo na frente, cavalgando rápido, sem nem esperar o outro.
Miguel apenas balançou a cabeça, como quem já sabia que aquilo ia dar errado.
Chegando no pasto, os bois estavam espalhados, e o trabalho não seria difícil. Mas Túlio, ainda querendo se provar, tentava tocar os animais com manobras desnecessárias.
— Vai devagar, idiota — Miguel advertiu. — Não precisa fazer cena, só conduzir os bois com calma.
— Eu sei o que tô fazendo, não precisa de palpite seu! — Túlio rebateu, puxando as rédeas com força.
Foi exatamente nesse momento que seu cavalo, sentindo o puxão brusco e a tensão do dono, empinou as patas dianteiras, assustado. Túlio, pego de surpresa, perdeu o equilíbrio e caiu de costas no chão, levantando poeira ao redor.
Miguel prendeu o riso, mas logo desceu do cavalo e se aproximou.
— E aí, machucou? — perguntou, estendendo a mão para ajudar.
Túlio, vermelho de raiva e vergonha, ignorou a mão e tentou levantar sozinho. Mas Miguel foi mais rápido, segurando seu braço e puxando ele para cima.
— Eu não preciso da sua ajuda! — resmungou, tentando se soltar.
— Cala a boca e fica quieto — Miguel revirou os olhos, passando as mãos pelos braços e ombros de Túlio, checando se ele não tinha se machucado. — Não quebrei nada, né?
Túlio engoliu seco. A proximidade o deixou desconfortável. Ele não estava acostumado a receber esse tipo de atenção, principalmente de alguém como Miguel, que ele insistia em odiar.
— Já disse que tô bem! — resmungou, afastando-se bruscamente.
Miguel sorriu de canto, como se soubesse que aquilo tinha mexido com o outro.
— Ótimo. Então volta pro cavalo antes que o Raimundo descubra que você caiu igual um saco de batata.
Túlio bufou, mas obedeceu, ainda sentindo a pele queimar nos lugares onde Miguel o tocou.
Continua...
ENTREM NO GRUPO EM NOME DA RAINHA ADELE!
https://chat.whatsapp.com/FKdxVOBwKhM5uCk3lcFRtu
Atenção! Os capítulos serão publicados diariamente! Então fiquem atentos! Me sigam!