O SABOR DE UMA DOCE VINGANÇA Cap.2

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 2480 palavras
Data: 18/03/2025 23:13:37

Pix pra ajudar o autor desempregado, qualquer valor já ajuda!

lexsilva99@gmail.com

TERÇA FEIRA

O telefone tocou três vezes antes de meu pai atender.

— Fala, Pedro.

A voz dele era sempre firme, direta. Nunca sabia ao certo como interpretar.

— Oi, pai.

— Tudo bem?

— Sim… — Menti.

— E a escola?

Eu poderia ter dito a verdade. Poderia ter contado sobre Arthur, sobre as risadas, sobre os olhares que me perseguiam nos corredores. Mas o que adiantaria? Meu pai nunca foi o tipo de pessoa que entendia esse tipo de coisa.

— Tá tudo certo — respondi.

— Bom. Espero que esteja se esforçando.

Assenti, mesmo sabendo que ele não podia me ver.

— Tô.

O silêncio entre nós durou mais do que deveria. Ele não era de falar muito. Nem eu.

— Alguma novidade? — ele perguntou.

Sim. Eu poderia dizer que, às vezes, sinto como se estivesse me afogando sem que ninguém perceba. Que cada piada que fazem comigo é como um corte invisível que nunca cicatriza. Que eu tenho medo. Medo de nunca poder ser eu mesmo. Medo de que, se ele soubesse quem eu realmente sou, nunca mais olharia para mim do mesmo jeito.

Mas, em vez disso, só disse:

— Não. Tá tudo normal.

— Certo. Me avisa se precisar de alguma coisa - Meu pai era pedreiro, e no momento estava trabalhando em uma obra, numa cidade um pouco longe, então eu ficava de segunda a sexta em casa sozinho, porque ele só voltava pra casa aos finais de semana!

— Tá.

A ligação terminou ali.

Eu suspirei e larguei o celular na cama.

**Preciso sair daqui.**

__________________________________________

O ar fresco da tarde bateu no meu rosto enquanto eu corria pelo parque. A música da Adele tocava nos meus fones, abafando o som do mundo ao redor. Correr sempre me ajudava a esquecer, nem que fosse por alguns minutos.

As árvores formavam sombras longas no chão, e o céu estava tingido de laranja com o pôr do sol. Pessoas passavam por mim, algumas caminhando, outras rindo, vivendo suas vidas sem nem imaginar que eu carregava um peso que parecia esmagar meu peito.

Diminuí o ritmo até parar perto de um canto mais isolado do parque, onde um banco de madeira ficava sob uma árvore alta.

Sentei, tirei os fones e fechei os olhos.

E então, tudo veio de uma vez.

A falta da minha mãe. O som da risada de Arthur. O medo constante de que meu pai nunca me aceitaria.

Eu engoli em seco, mas era inútil segurar. Senti as lágrimas escorrerem antes mesmo de perceber que estava chorando.

Apertei os olhos, como se isso pudesse fazer tudo desaparecer. Mas não podia.

Quando finalmente consegui respirar fundo, enxuguei o rosto e olhei ao redor, esperando que ninguém tivesse me visto. Foi então que notei um casal sentado em um dos bancos mais distantes. Dois caras.

Eles estavam de mãos dadas. Um deles ria de alguma coisa que o outro dizia, e o jeito como se olhavam… era diferente.

Eu senti um aperto no peito.

**"Eles parecem tão… livres."**

Como se o mundo não importasse. Como se ninguém pudesse machucá-los por serem quem são.

Desviei o olhar, sentindo um nó na garganta.

**"Eu nunca vou ter isso."**

Meu pai nunca aceitaria. Eu nunca poderia ser assim, andar por aí de mãos dadas com alguém que eu amasse sem medo de quem estivesse olhando.

Talvez fosse melhor continuar escondendo. Fingindo.

Mas, naquele momento, sentado sozinho naquele canto do parque, tudo o que eu queria era parar de ter tanto medo.

O caminho de volta para casa foi tranquilo, mas a sensação de peso no peito continuava. Quando abri a porta, fui recebido pelo mesmo silêncio de sempre.

Joguei a mochila no sofá e passei os olhos pela sala. Tudo estava no lugar, mas ainda assim, parecia… sem vida. Como sempre.

Suspirei e fui até a cozinha. O balcão tinha algumas migalhas do café da manhã, e o chão precisava de uma varrida. Peguei o pano úmido e comecei a limpar a mesa, passando o pano devagar, como se aquilo fosse me distrair da sensação que me acompanhava desde o parque.

Fui para o quarto, arrumei a cama, dobrei as roupas que estavam jogadas na cadeira. No banheiro, troquei a toalha, organizei os produtos no armário. Fazer isso me mantinha ocupado, me dava uma sensação de controle, ainda que pequena.

Depois de tudo, fui para o quintal.

A pequena horta no fundo da casa era um dos poucos lugares que me traziam paz. Minha mãe adorava cuidar das plantas, e depois que ela se foi, eu nunca deixei de regá-las.

Ajoelhei na terra fofa e passei a mão pelas folhas de manjericão, sentindo o cheiro fresco no ar. Havia também algumas mudas de tomate crescendo aos poucos, além da hortelã que insistia em se espalhar para todo canto.

Peguei o regador e molhei cada planta com cuidado. Gostava de fazer isso, mas ao mesmo tempo, cada vez que vinha até ali, a ausência da minha mãe se tornava ainda mais real.

Fiquei ali por mais alguns minutos, observando as folhas balançarem com o vento, até que um vazio começou a crescer dentro de mim.

**"Por que essa casa parece tão grande quando eu tô sozinho?"**

Levantei, limpei as mãos na calça e voltei para dentro. O silêncio continuava.

Me joguei no sofá e encostei a cabeça para trás, sentindo a tristeza pesar sobre mim.

A casa estava limpa, a horta regada. Mas nada parecia preencher esse vazio no meu peito.

Me joguei no sofá e encostei a cabeça para trás, sentindo a tristeza pesar sobre mim.

Subi pro meu quarto e peguei meu caderno de matemática, abri na última página de exercícios e comecei a resolver. Números sempre me ajudavam a esquecer do mundo, a focar em algo que fazia sentido.

Mas, no meio do silêncio, senti um arrepio na nuca.

Era como se tivesse alguém ali.

Olhei ao redor, mas a casa estava vazia. Sempre estava.

Respirei fundo, tentando me concentrar nos cálculos, mas a sensação não passava. Um incômodo, uma inquietação. Talvez fosse só cansaço. Talvez fosse só o peso do dia.

No fim, fechei o caderno. Não conseguiria estudar daquele jeito.

No dia seguinte, a escola parecia igual a todas as outras vezes. Corredores lotados, vozes misturadas, passos apressados. Eu queria apenas passar despercebido, mas isso nunca acontecia! .

A manhã passava arrastada, e tudo o que eu queria era que aquele dia acabasse logo. Cada aula parecia durar o dobro do tempo, e eu mal conseguia focar no que os professores diziam. Meu estômago ainda estava embrulhado desde o dia anterior.

Na terceira aula, pedi para ir ao banheiro. Queria apenas lavar o rosto, respirar fundo e ter alguns minutos longe de todo mundo.

Mas assim que entrei, senti que algo estava errado.

O banheiro estava vazio, silencioso demais. Caminhei até a pia, liguei a torneira e joguei um pouco de água no rosto. O frio me despertou um pouco.

Foi aí que vi, pelo reflexo do espelho, a porta se fechando.

E então, duas sombras surgiram atrás de mim.

Meu coração disparou.

— Fala, nerd — a voz de Gabriel veio carregada de ironia.

Meu corpo inteiro travou. Tentei manter a expressão neutra, mas já sabia que não adiantava.

— Olha só quem veio se refrescar — Thales riu baixo, cruzando os braços. — A gente queria trocar uma ideia contigo.

Engoli em seco, tentando não demonstrar medo.

— O que vocês querem?

Gabriel se aproximou mais, encostando-se na pia ao meu lado.

— Simples. Você vai fazer o trabalho de geografia sozinho. Coloca nossos nomes e pronto.

Meu coração batia tão rápido que parecia que ia explodir.

— E se eu não fizer?

Um silêncio pesado tomou conta do banheiro.

E então, de repente, senti um puxão violento na minha cabeça.

Gabriel agarrou meu cabelo com força, puxando para trás. A dor foi instantânea, um ardor no couro cabeludo que me fez arregalar os olhos.

— Você não tem escolha, idiota — ele sussurrou no meu ouvido.

Minha respiração ficou presa. Meus olhos ardiam, mas eu não podia chorar. Não ali.

— Vai chorar bebê ?— ouvi Thales fazendo voizinha de criança!

Gabriel riu!

— Você vai ser um bom garotinho e fazer o que a gente mandou, né?

Eu queria responder. Eu queria gritar. Mas antes que conseguisse, senti o impacto.

Thales me deu um soco seco na barriga.

O ar saiu dos meus pulmões, e eu me curvei automaticamente, segurando o estômago. A dor era forte, latejante. Minhas pernas tremiam.

Os dois riram. Para eles, era só uma brincadeira. Para mim, era mais uma cicatriz invisível.

Gabriel finalmente soltou meu cabelo com um empurrão, me fazendo tropeçar para trás.

— É bom que esse trabalho fique impecável — ele disse, batendo no meu ombro com força antes de sair do banheiro.

Thales hesitou um segundo antes de ir atrás.

Fiquei ali, sozinho, respirando com dificuldade, o gosto amargo do medo ainda na minha boca.

Me apoiei na pia, sentindo o corpo inteiro tremer.

Engoli o choro.

Eu não podia chorar.

Eu só queria desaparecer.

Ainda estava encostado na pia, tentando recuperar o fôlego, quando ouvi passos se aproximando.

Virei o rosto rápido, ainda meio ofegante. Meu corpo enrijeceu quando vi Mateus parado na porta do banheiro.

Ele franziu a testa ao me olhar, os olhos escuros se fixando nos meus por alguns segundos.

— Pedro? — A voz dele era mais suave do que eu esperava. — Tá tudo bem?

Minha garganta estava seca.

— Tô — menti, desviando o olhar.

Mas Mateus não parecia convencido. Ele se aproximou devagar, como se estivesse lidando com um animal assustado que poderia sair correndo a qualquer momento.

— Você não parece bem — ele insistiu, encostando-se à pia ao meu lado.

Senti um arrepio na nuca. O perfume dele era amadeirado, diferente dos outros garotos da escola.

Respirei fundo, tentando manter a compostura.

— Só… bateu um mal-estar.

Mateus inclinou a cabeça de leve, me analisando como se tentasse decifrar um quebra-cabeça.

— Se foi o Gabriel e o Thales, você pode me contar.

Minha cabeça girou na hora. Como ele sabia? Será que viu alguma coisa?

— Eu… — minha voz falhou.

Mateus deu um meio sorriso, mas era um sorriso triste, como se já soubesse a resposta.

— Eu sei como esses caras são — ele disse, cruzando os braços. — Se precisar de alguém pra conversar, sei lá… tô por aí.

Meu coração deu um salto estranho no peito.

Mateus me olhou mais uma vez, como se quisesse dizer algo a mais, mas então apenas soltou um suspiro e saiu do banheiro.

Fiquei ali, parado, sentindo um calor esquisito no rosto.

**"Tô por aí."**

As palavras dele ficaram ecoando na minha cabeça.

O resto da aula foi um borrão. Minha mente ainda estava presa no que tinha acontecido no banheiro e na forma como Mateus tinha falado comigo.

Na hora do intervalo, não queria ir para o pátio, então me escondi na biblioteca. Era o único lugar onde eu conseguia respirar sem medo.

Peguei um livro qualquer e sentei em uma mesa mais afastada. Tentei focar na leitura, mas minha cabeça ainda estava uma bagunça.

— Esse é bom?

Levantei os olhos e vi uma garota parada ao meu lado.

Ela tinha cabelos escuros presos num coque bagunçado e um olhar curioso. Nunca tinha falado com ela antes.

— O quê? — perguntei, confuso.

Ela apontou para o livro na minha mão.

— Esse livro. É bom?

Olhei para a capa e percebi que nem tinha prestado atenção no que tinha pego.

— Ah… eu acho que sim.

Ela riu, puxando uma cadeira sem nem pedir permissão para sentar.

— Você sempre fica aqui no intervalo?

Assenti devagar.

— Na maioria das vezes.

— Entendi — ela apoiou o queixo na mão, me estudando. — Você é do primeiro A, né?

Fiquei surpreso por ela saber.

— Sim… e você?

— Primeiro B — ela sorriu. — Sofia.

— Pedro.

— Eu sei — ela piscou. — A professora de matemática falou de você pra mim!

— Falou o que ?

Sofia fez uma careta.

— Sobre como você é um bom aluno e blá blá blá... Pelo visto você é bom em matemática. Pode me ajudar com uns exercícios depois?

Eu pisquei algumas vezes, tentando entender.

Ela queria ser minha amiga? Ou só me usar ?

— Ahm… claro - Falei no automático!

Sofia sorriu de novo, e algo dentro de mim relaxou pela primeira vez naquele dia.

Talvez… só talvez… eu não estivesse tão sozinho assim!

Continuamos conversando e descobri que ela também gostava de ler, mas seu gosto era completamente diferente do meu. Enquanto eu preferia romances dramáticos e histórias profundas, Sofia adorava thrillers e livros de suspense.

— Como você aguenta tanto drama? — ela perguntou, depois de eu falar que amava A culpa é das estrelas!

— E como você aguenta tanta tensão? — rebati, erguendo uma sobrancelha.

— Suspense é viciante! — Ela deu um sorriso convencido. — Você nunca sabe o que vai acontecer.

— Exatamente o que eu odeio — balancei a cabeça. — Eu gosto de histórias que me fazem sentir algo.

— Ah, então você gosta de sofrer.

Revirei os olhos, mas ri junto com ela.

Além de livros, descobrimos que tínhamos gostos musicais diferentes. Sofia adorava rock alternativo, enquanto eu me perdia nas músicas da Adele.

— Você não cansa de chorar ouvindo essas músicas? — ela provocou um dia.

— É sobre sentir — expliquei, como se fosse óbvio.

Ela riu.

— E eu achando que você só queria ser triste mesmo.

- Olha quem fala... - Ri - E como você eu também amo história, mas me conte, como você consegue decorar todas essas datas? — perguntei!

— Faço associações — ela respondeu. — Por exemplo, 1789. Imagina que é o preço de um hambúrguer gourmet muito caro.

— Isso não faz o menor sentido.

— Mas você vai lembrar agora, não vai?

- Não né - Rimos!

Naquele dia, minha última aula foi educação física.

Eu odiava educação física.

Correr sob o sol quente, jogar futebol com garotos que mal disfarçavam o desprezo por mim… tudo era um pesadelo. Passei a maior parte da aula tentando não chamar atenção, mas no final, estava suado e exausto.

Quando o professor liberou a turma, fui direto para o vestiário. A maioria dos alunos já tinha se trocado e saído, então o ambiente estava mais tranquilo.

Abri meu armário e peguei minha toalha, pronto para tomar um banho rápido. Mas quando me virei, congelei no lugar.

Mateus estava ali.

Só de cueca.

Meu cérebro simplesmente… travou.

Ele estava secando o cabelo com uma toalha, despreocupado, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Seu corpo ainda estava levemente úmido do banho, e eu tentei — **tentei mesmo** — desviar o olhar.

Mas falhei.

Foi só um segundo, um instante em que meus olhos se demoraram no peito definido, no abdômen marcado, nas gotas de água escorrendo pela pele.

Quando percebi que estava encarando, arregalei os olhos e virei o rosto depressa, sentindo meu rosto pegar fogo.

Mateus percebeu.

E, para piorar, ele riu.

— Gostou do que tá vendo, Pedro?

Minha alma quase deixou meu corpo.

Continua...

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