A Transformação: A Magia da Primeira Vez
O treinamento de Miguel começou na manhã seguinte, e tudo parecia um sonho — ou talvez um desafio impossível.
Ele mal havia processado a ideia de que interpretaria uma princesa e agora estava diante de um espelho imenso, cercado por maquiadores, figurinistas e estilistas, todos focados em transformá-lo na Aurora perfeita.
O primeiro passo foi a escolha da personagem. O coordenador de elenco passou os olhos pelo seu rosto, avaliando seus traços com precisão cirúrgica. Miguel não era alto nem musculoso. Seu corpo esguio e seus traços delicados eram perfeitos para uma princesa de postura clássica e suave.
— Aurora. — disse Marcelo, sem hesitar. — A Bela Adormecida será perfeita para você.
Miguel sentiu um frio na barriga. Aurora. Seu primeiro papel de princesa.
Nos dias seguintes, ele foi submetido a uma imersão completa.
A primeira grande transformação começou com a maquiagem.
— Seu rosto tem uma estrutura linda — disse uma das maquiadoras enquanto segurava seu queixo, analisando-o de perto. — Vamos apenas refiná-lo um pouco.
O processo começou com a aplicação de uma base leve, criando uma pele impecável, aveludada, sem imperfeições. Um pincel fino deslizou sobre suas bochechas, esculpindo sombras suaves que afinavam seu rosto, destacando os ângulos delicados.
Os olhos ganharam um brilho especial. Sombras rosadas e douradas foram aplicadas suavemente sobre suas pálpebras, iluminando seu olhar. Seus cílios foram alongados com máscara, e um delineador fino desenhou uma curva elegante na borda dos olhos, deixando-os expressivos e femininos.
E então veio o batom.
— Aurora tem lábios rosados, doces, como pétalas de flores — murmurou a maquiadora, enquanto deslizava um tom delicado de rosa sobre sua boca.
Miguel sentiu um arrepio ao ver sua própria imagem no espelho. Seus lábios pareciam mais carnudos, mais convidativos. Sua pele brilhava sob a luz, e seus olhos, antes comuns, agora cintilavam com um brilho misterioso.
— Pronto. — A maquiadora deu um passo para trás, admirando sua obra.
Miguel engoliu em seco. Ele parecia... bonito. Delicado. Quase não reconhecia seu próprio reflexo.
— Hora do cabelo! — anunciou Carla, a figurinista.
Em questão de minutos, trouxeram uma peruca loira, longa e volumosa, com cachos perfeitamente modelados que desciam suavemente pelos ombros.
Quando a peruca foi ajustada sobre sua cabeça, algo mudou. O peso dos fios sobre sua pele trouxe uma sensação nova, envolvente.
Miguel balançou levemente a cabeça e sentiu os cachos deslizando pelos ombros. O toque dos fios sedosos contra seu pescoço lhe causou um arrepio inesperado.
— Agora sim, temos uma princesa.
E então veio a parte mais impactante de todas.
Os assistentes trouxeram um vestido rosa cintilante, volumoso, esvoaçante, digno de um conto de fadas. O corpete ajustado era bordado com fios dourados, e as mangas delicadas davam um toque de realeza.
Mas antes de vestir a peça principal, veio a parte mais inesperada.
— Antes do vestido, precisamos preparar sua silhueta. — disse Carla, segurando um conjunto de roupas íntimas femininas.
Miguel piscou, surpreso.
— Como assim?
— Para que o vestido fique perfeito, é essencial que você use as peças corretas.
Carla entregou-lhe uma calcinha de renda rosada, pequena, delicada, com um elástico fino que desenhava curvas invisíveis no tecido.
— A calcinha é essencial para o ajuste da silhueta, e a anágua dá volume ao vestido.
Miguel segurou a peça em suas mãos e sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O tecido era incrivelmente macio, leve como um sussurro contra sua pele. Por um momento, ficou paralisado, hesitante.
— Algum problema? — Carla perguntou com um sorriso leve, como se já soubesse o que se passava em sua mente.
— Não... é só que... eu nunca... — ele hesitou, sentindo o rosto esquentar.
Carla apenas piscou.
— Primeira vez sempre é especial.
Ele engoliu seco e entrou no provador.
Com mãos trêmulas, deslizou a calcinha rendada sobre suas pernas. O tecido abraçou sua pele com uma suavidade que nunca havia sentido antes. A renda era macia, o elástico ajustava-se perfeitamente à sua cintura, moldando seu corpo de uma maneira sutil, porém inegável.
A sensação era estranha. E ao mesmo tempo... deliciosa.
Ele fechou os olhos por um instante e inspirou fundo. Havia algo viciante no contato do tecido delicado contra sua pele.
A próxima peça foi uma anágua branca de tule, volumosa e levemente transparente, que descia até suas coxas. Assim que a vestiu, percebeu o efeito imediato: sua silhueta estava suavemente arredondada, sua postura mais ereta, sua presença mais feminina.
Por fim, Carla ajudou-o a vestir o corpete. O tecido era ajustado ao corpo, prendendo-se firmemente sobre seu torso. Assim que as fitas foram apertadas, Miguel sentiu sua cintura se afinando levemente, sua respiração sendo guiada por uma nova postura.
E então, o vestido.
Quando a peça deslizou sobre seu corpo, o efeito foi imediato. O brilho do tecido refletiu na luz, a saia se espalhou ao seu redor, e ele se viu completamente envolto em uma fantasia que parecia ter saído de um sonho.
Quando abriu os olhos e olhou no espelho, ficou sem palavras.
Ele não reconhecia mais a pessoa à sua frente.
Os cachos dourados emolduravam seu rosto suavizado pela maquiagem. Seus olhos brilhavam, os lábios rosados estavam levemente entreabertos. A renda da anágua e da calcinha criavam um sutil volume sob o vestido, fazendo com que a peça caísse perfeitamente sobre seu corpo.
Por um momento, ele se esqueceu de que era Miguel.
Ele parecia uma princesa.
— Meu Deus… — murmurou, sem fôlego.
Carla sorriu atrás dele.
— Bem-vinda ao Encanto Real, Aurora.
Continua...