A noite estava silenciosa. Depois de um longo dia no Encanto Real, Miguel finalmente chegou ao seu pequeno apartamento. As luzes da cidade piscavam pela janela, lançando reflexos suaves sobre o espelho do quarto.
Normalmente, a primeira coisa que fazia ao chegar era se despir apressadamente, removendo cada peça do figurino como se fosse apenas um fardo a carregar. Mas naquela noite… algo estava diferente.
Ele hesitou diante do espelho.
O vestido rosa de Aurora ainda envolvia seu corpo com seu brilho acetinado e sua leveza etérea. A longa saia se espalhava pelo chão, as mangas bufantes descansavam sobre seus ombros de maneira delicada, e o corpete ajustado moldava sua silhueta com precisão.
Miguel respirou fundo, encarando sua própria imagem. Os cachos dourados da peruca emolduravam seu rosto suavizado pela maquiagem. Seus olhos, agora acostumados ao peso dos cílios longos, pareciam ainda mais intensos sob a luz baixa do quarto. Os lábios rosados e ainda úmidos de batom estavam ligeiramente entreabertos, como se esperassem um sussurro, um segredo a ser revelado.
O espelho não refletia apenas Miguel. Refletia Aurora.
E, pela primeira vez, ele não queria se desfazer daquela imagem.
Ele não queria arrancar o vestido. Não queria simplesmente voltar a ser Miguel, como se Aurora fosse apenas uma máscara que usava por algumas horas. Porque, de alguma forma, a fantasia estava se tornando real.
Com gestos suaves, ele ergueu as mãos e deslizou os dedos pelo tecido do corpete, sentindo a textura lisa e firme do cetim. Era um toque diferente de qualquer outro que já experimentara. O vestido não era apenas uma peça de roupa — era uma segunda pele, uma nova identidade.
Lentamente, ele desabotoou o primeiro botão do corpete. O som suave do tecido se soltando ecoou no quarto silencioso. O segundo botão veio logo em seguida. E então o terceiro.
Cada desabotoar parecia um passo mais fundo em algo novo, algo tentador
.
Quando finalmente soltou o último fecho, ele deslizou a peça para os lados, deixando-a cair suavemente sobre seus braços. A pressão do corpete se desfez, e ele sentiu um leve arrepio ao perceber sua cintura livre.
Ele fechou os olhos por um instante. Inspirou.
E então, o vestido deslizou pelo seu corpo como um sussurro de cetim.
O tecido macio roçou sua pele exposta ao cair, acariciando suas pernas cobertas pelas meias 7/8, e finalmente repousou sobre o chão em um montinho de brilho acetinado.
Agora, Miguel estava apenas de lingerie.
E sua imagem no espelho era arrebatadora.
Ele nunca havia se visto assim antes.
A calcinha de renda rosada que usava era tão delicada que parecia feita de puro ar. A renda se ajustava perfeitamente à sua cintura, o elástico fino repousava suavemente sobre sua pele, marcando um contraste sensual entre o tecido e seu corpo.
O sutiã combinando, também de renda, modelava seu torso de maneira perfeita, segurando-o de forma sutil, enquanto as alças ajustadas sobre seus ombros traziam uma nova postura. Era um encaixe natural, uma sensação de pertencimento.
As meias 7/8 de lycra, firmemente presas logo acima de suas coxas, faziam sua pele formigar a cada leve movimento. A renda da borda segurava-se com firmeza, como um lembrete constante da feminilidade recém-descoberta.
Seus pés ainda estavam nos sapatos de salto médio, os tornozelos envoltos pela tira fina e elegante. Cada pequeno ajuste de posição fazia os músculos de suas pernas se alongarem de maneira graciosa, como se sua própria postura estivesse se moldando a algo mais refinado, mais feminino.
Ele levantou uma das mãos e tocou os próprios lábios. O batom rosado ainda estava ali, levemente borrado, mas ainda presente. O toque da ponta dos dedos sobre a superfície cremosa do batom era uma lembrança de que aquela boca, aquela imagem refletida, não era apenas uma ilusão.
E então, ele notou outro detalhe.
Os brincos.
As pequenas pérolas brilhavam em suas orelhas recém-furadas. Uma lembrança definitiva de que ele havia cruzado um limite que antes parecia intransponível.
Miguel correu os dedos sobre os lóbulos das orelhas, sentindo a leveza dos brincos balançando com seu movimento. Eles pertenciam a ele agora. Assim como tudo o mais.
Seus olhos voltaram para o espelho, e ele se viu por inteiro.
A lingerie delicada abraçava seu corpo, as meias moldavam suas pernas, o salto lhe dava uma postura esbelta e graciosa. O batom, os brincos, as unhas pintadas... cada detalhe contava uma história.
Não era apenas um figurino.
Não era apenas um trabalho.
Era algo mais profundo.
Era algo que sempre esteve ali, latente, esperando ser descoberto.
Ele não queria mais tirar aquela roupa e voltar a ser apenas Miguel.
Porque, acima de tudo…
Ele gostava de ser Aurora.
Continua...