Amor Sob Regime Fechado. Cap.3

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 2303 palavras
Data: 22/04/2025 18:44:46

Acordei com o barulho seco de um tapa. Não foi em mim, mas do outro lado da cela. Me sentei, ainda meio zonzo. Aquele cheiro de mofo e suor velho impregnado nas paredes começava a se misturar ao meu olfato como se fosse normal, mas nada ali era normal. Nada. Eu havia dormido sem nem ter chegado a noite, estava tão desorientado que só me joguei no colchão velho no chão e dormi!

— Dormiu bem, princesa? Acordou justamente na hora de dormir, como pode ser tão inútil ?!— uma voz grossa e irônica soou do outro lado.

Virei devagar e encarei o cara da barba cerrada. Ele estava sentado numa das duas camas de casal que ocupavam boa parte da cela. Usava uma regata branca, suada, revelando os braços musculosos e tatuados. A barba era bem feita, mas o olhar... o olhar era de quem não me queria ali.

— Fábio, pega leve com o novato — disse o outro preso, um cara mais velho, talvez uns trinta e poucos anos, corpo definido, cabelos escuros jogados pra trás com uma faixa improvisada. Era o João.

Fábio. Finalmente sabia o nome do cara da barba cerrada. E assim que descobri, também percebi: ele não gostava de mim. Nenhum pouco.

— Pietro, né? — João sorriu, se levantando da cama como quem se apresenta a um visitante. — Eu sou o João. Bem-vindo ao paraíso.

Sorri sem graça. Paraíso? Aquilo ali parecia o inferno depois de uma reforma barata. Mas a forma como ele falou tinha ironia e... um certo charme. Eu percebia agora os olhares que João jogava em mim. Não era só curiosidade. Tinha algo a mais.

— Dorme onde hoje? — ele perguntou casualmente.

— No chão, ali mesmo, no colchão que jogaram — respondi, coçando a nuca, desconfortável.

João riu, quase debochado.

— Por que não dorme aqui comigo?

Arregalei os olhos. Fábio, atrás dele, parou o movimento que fazia com a toalha e me encarou, como se eu tivesse acabado de cuspir no prato de alguém.

— Dormir... contigo?

João deu de ombros, como se fosse a coisa mais comum do mundo.

— A cama é de casal. Cabe nós dois tranquilo. A outra é do Fábio, mas ele não divide com ninguém. Eu divido, se quiser.

— Mas... duas camas de casal? — olhei ao redor, tentando processar. Aquilo ali não fazia sentido nenhum.

— Quando se tem poder, se tem tudo — ele falou, se sentando de novo. — Aqui dentro, quem manda sou eu e o Fábio. A direção sabe. Os outros presos sabem. Agora você também sabe. Não percebeu que essa cela tem o dobro de tamanho das outras?

Fábio bufou e jogou a toalha no chão.

— Tá se achando, viadinho. — Ele falou com raiva nos olhos, cravados em João, depois em mim. — Esse aí já tem dono.

— D-dono? — gaguejei, ainda tentando entender o que tava acontecendo.

— Bola. O gordinho lá do pátio. Ele é seu dono, esqueceu? - Lembrei do Bola me defendendo, dizendo que era meu dono!

— Ele... não... — tentei responder, mas João me cortou.

— Ah, o Bola? — riu João. — Eu compro ele.

— Como assim? — falei, confuso, olhando de um pra outro. Fábio bufava de raiva, e João parecia se divertir com a situação.

— Simples. Todo mundo tem um preço. E se o Bola que tem você, eu posso fazer ele mudar de ideia. Eu ofereço um favor, ou dois... ou uma encomenda. E pronto. Você é meu.

Eu não sabia o que responder. Era como se minha presença ali tivesse virado um leilão silencioso. Um jogo onde eu era a peça principal e todos estavam jogando menos eu.

Fábio deu um passo na minha direção.

— Olha aqui, novato. Não se mete com João. Ele só brinca com os outros. Mas no fim... ele sempre deixa eles quebrados. E você, você já tem dono. Bola não vai gostar de saber que tão querendo deitar com o brinquedo dele.

Eu fiquei paralisado. Meu coração batia rápido, a respiração curta. João se levantou devagar, caminhando até mim. Parou a poucos centímetros. Seu cheiro era forte, mistura de sabonete barato e algo mais amadeirado.

— Quer dormir no chão ou numa cama quentinha? — perguntou, quase num sussurro.

Eu engoli seco. Meus instintos gritavam, mas parte de mim estava curiosa. Não sobre João. Mas sobre tudo aquilo. A dinâmica. O poder. Os códigos.

Assenti, quase imperceptivelmente. João sorriu.

Fábio cuspiu no chão.

— Isso vai dar merda.

Me deitei na cama ao lado de João, sem tirar a roupa. Fiquei imóvel, tenso, olhando o teto, tentando ignorar o calor do outro corpo ali perto. A tensão era quase física. A cela, antes fria, parecia fervilhar.

E naquela noite, eu aprendi: dentro da prisão, o valor de um corpo muda. E quem dorme com quem... é só mais um jeito de mostrar quem manda.

__________________________________________

Acordei sentindo algo duro pressionando minhas costas.

Levei alguns segundos para entender onde eu estava. O colchão macio demais pra uma prisão, o cheiro misturado de suor e sabonete barato, o calor do corpo atrás de mim... e o peso de um braço forte, firme, me envolvendo pela cintura como se eu fosse dele. Porque ali, aparentemente, eu era.

A ereção de João estava encostada na minha bunda.

Não era sutil. Era firme, presente, impossível de ignorar. Tentei não me mexer bruscamente, com medo de acordá-lo, mas ao mesmo tempo, o desconforto crescia em mim como uma agulha enterrando aos poucos na pele.

Respirei fundo.

A cela ainda estava escura, mas os primeiros feixes de luz do corredor começavam a invadir o ambiente pelas grades. Foi quando ouvi o som metálico de um cassetete batendo nas celas ao lado, como se o guarda anunciasse o início do dia.

— Acorda, vagabundagem!

João se remexeu atrás de mim, murmurando alguma coisa indecifrável, e soltou um suspiro quente que bateu na minha nuca. Me arrepiei inteiro. Com cuidado, fui me afastando do corpo dele, tirando o braço que ainda pesava na minha cintura como uma âncora. Sentei na beirada da cama, o coração acelerado, tentando entender o que aquilo significava.

Foi então que levantei o olhar... e o vi.

Fábio estava sentado na cama dele, de braços cruzados, olhos fixos em mim. O olhar não tinha uma única gota de simpatia. Era um misto de desprezo e raiva contida. Um olhar que queimava. Como se eu tivesse feito algo sujo. Algo imperdoável.

A vergonha veio como uma onda. Senti minhas bochechas queimarem.

Levantei rapidamente, desviando o olhar, tentando me ocupar com qualquer coisa. Meus pés descalços tocaram o chão frio enquanto eu andava pela cela, fingindo interesse em tudo, qualquer coisa que me fizesse esquecer da ereção de João e da expressão de nojo de Fábio.

Foi aí que notei os detalhes. E entendi, de vez, que aquela prisão não funcionava como deveria.

No canto da cela, ao lado de um pequeno armário improvisado, havia um **frigobar**. Sim, um frigobar. Branco, limpo, com ímãs grudados, como se fosse de uma casa qualquer. Me aproximei, quase sem acreditar, e abri a porta. Água gelada. Refrigerantes. Um pacote aberto de presunto. Chocolate. Até um pequeno potinho com a etiqueta de "doce de leite".

Fechei devagar, como se aquilo pudesse desaparecer se eu piscasse.

Na parede, uma televisão pequena, presa por um suporte enferrujado. O controle remoto dormia jogado na cama de Fábio. Do outro lado, embaixo da cama de João, uma caixa de som Bluetooth piscava discretamente em azul. E no chão, havia até um tapete fino, gasto, mas claramente colocado ali com cuidado.

— É... aqui é outro mundo — murmurei pra mim mesmo.

Ouvi uma movimentação atrás e me virei. João se espreguiçava, deitado ainda de lado, sem pressa nenhuma de levantar. O lençol descia até o limite da virilha, revelando parte da cueca apertada e o volume ainda evidente entre as pernas.

— Bom dia, docinho — disse ele, com um sorriso torto. — Dormiu bem?

Engoli seco. Assenti com um aceno vago, ainda tentando recuperar o controle do corpo e da cabeça.

Fábio se levantou sem dizer nada, foi até a pia pequena ao lado da privada com divisória improvisada, lavou o rosto com água fria e me encarou de novo pelo reflexo no espelho quebrado.

— Aproveitou a noite, novato? — cuspiu as palavras como se tivesse um gosto ruim na boca.

Não respondi. Não sabia o que dizer. Porque por mais que nada tivesse acontecido de fato, eu me sentia invadido. Sujo. Não pelo toque, mas pela dinâmica toda. Pelo jogo de poder que parecia permear cada movimento, cada cama, cada olhar naquela cela de dois donos.

— Tá com vergonha por quê? — João se levantou, pegou uma garrafinha de água no frigobar e deu um gole longo antes de completar — Aqui dentro, ou você se adapta, ou vira bicho. E, pra ser sincero, Pietro... você tá se saindo melhor do que eu esperava.

— Isso não é normal — murmurei, mais pra mim mesmo do que pra eles.

João deu uma risada baixa e colocou a garrafinha de volta na porta.

— Aqui dentro, normal é uma palavra que perdeu o sentido faz tempo. Fábio e eu, a gente construiu nosso reino aqui. A cela é nossa. Os guardas sabem. Os outros presos também. Ninguém entra, ninguém sai sem a nossa permissão. Quer comida? A gente tem. Quer cama? A gente tem. Quer segurança? A gente oferece. Só tem um preço.

— E qual é o preço? — perguntei, mesmo sabendo que talvez não quisesse ouvir a resposta.

João se aproximou, abaixou a voz.

— Lealdade. E... gratidão.

Fábio passou por mim, esbarrando no meu ombro com força de propósito.

— E vergonha na cara, também seria bom — murmurou.

Fiquei ali, parado, entre os dois. O cara que me deu uma cama quente e o outro que me olha como se eu fosse a pior coisa que já entrou ali.

A prisão, percebi, não era feita só de grades e concreto.

Era feita de jogos. De alianças silenciosas. De olhos que pesam mais que socos. E, principalmente, de poder. Poder disfarçado de favores. De camas de casal. De frigobares escondidos atrás do caos.

Enquanto eu menos esperava,João encostou os lábios na minha nuca com uma lentidão quase ensaiada. Seu braço passou ao redor da minha cintura num gesto que parecia afeto, mas pesava como uma corrente invisível. Seu corpo pressionava o meu pelas costas, firme, confortável… perigoso.

Eu congelei. Não por medo, não exatamente. Mas por saber que aquilo não era mais sobre mim. Era sobre ele. Sobre o domínio dele. Sobre o jogo dele.

Antes que eu pudesse reagir pra tentar falar alguma coisa, um som metálico ecoou no lado de fora da nossa cela. Mas não foi o barulho habitual dos cassetetes nos ferros. Era diferente. Mais lento. Respeitoso. Um *toc, toc* preguiçoso na grade. Quando olhei, vi o guarda ali — o mesmo de ontem. Ele nem falava. Apenas observava, como se soubesse exatamente o que acontecia naquela cela e tivesse aprendido a não se meter.

A chave girou e a porta se abriu.

Assustado, me livrei do braço do João,saí e olhei em volta. Todas as outras celas continuavam trancadas. Nenhum outro preso à vista. Só eu, João e Fábio, livres pra sair. Caminhei devagar pelo corredor, confuso.

— Por quê? — perguntei, mais pra mim mesmo.

Fábio apareceu atrás de mim, com os olhos semicerrados e a mesma expressão de quem sempre está por explodir.

— A gente sai primeiro pra tomar banho — disse, sem me olhar. — A cela tem pia e privada, mas não tem chuveiro. E tem coisa que até aqui a gente não abre mão. Higiene é uma delas.

O jeito que ele falava era ríspido, direto. Mas carregava uma verdade indiscutível: eles mandavam ali. Não era só uma cela com dois homens privilegiados. Era o *comando* da cadeia.

O banheiro era frio, com piso escorregadio e um cheiro forte de sabão barato. Os chuveiros abertos, sem nenhuma privacidade, com a água escorrendo em jatos finos. Hesitei, mas tirei a roupa e entrei.

A água caiu sobre mim como uma bofetada. O frio da manhã e o peso dos últimos dias ainda colavam na pele. Eu precisava daquilo. Um momento. Um respiro.

— Toma. — A voz de João veio do lado. Quando virei, ele estava ali, totalmente pelado, segurando um sabonete perfumado e um frasco de shampoo daqueles bons, que custavam caro até fora da prisão.

Peguei sem dizer nada.

Ele se aproximou mais e começou a ensaboar minhas costas. Devagar. Em silêncio. Senti seu pau duro como rocha acima da minha bunda, pois ele era mais alto.Havia algo mais profundo ali: *intenção*. João cuidava de mim como quem marca território, como quem diz ao mundo que *esse aqui agora é meu*.

E eu deixei.

Não por gosto. Mas porque, pela primeira vez desde que entrei ali, senti alguma segurança. O jeito como ele falava comigo. Como o guarda respeitava aquela cela. Como Fábio parecia guardar distância, mesmo odiando tudo aquilo. Era estranho, mas eu me sentia protegido.

E é aí que o jogo começou.

Enquanto ele esfregava minhas costas, eu pensava. Pensava que não podia me deixar levar. Que não podia acreditar em cuidado dentro de um lugar onde todos usavam máscaras. João era manipulador. Carismático, sim. Mas perigoso. O que ele queria era me ter do lado dele. Usar minha presença, meu corpo, minha obediência, pra manter sua autoridade.

Então eu decidi: se esse era o jogo dele… eu ia jogar também.

Eu podia sorrir. Concordar. Me deixar cuidar. E, pouco a pouco, conquistar o que ele tinha. Os privilégios. A proteção. A posição. Até a hora certa de virar a mesa.

João me entregou a toalha e sorriu.

— Tá se acostumando, né?

Eu retribuí o sorriso. Não disse que sim. Mas também não disse que não.

Porque, ali, palavras demais podiam ser um erro.

E, pela primeira vez, percebi que se eu soubesse jogar direito… talvez conseguisse sair da prisão com mais do que entrei.

Talvez, com tudo.

Continua...

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