Todo mundo na rua conhecia o Luan. Era o tipo de garoto que se apontava pras visitas e dizia com orgulho: "Esse aí é criado aqui, educado, respeitoso." Aos dezoito anos, ainda andava de camisa social bem passada, botões sempre fechados até o colarinho, a cruz de prata pendurada no pescoço repousando entre os ossos do peito. O cabelo, dividido de lado, parecia nunca sair do lugar, e a voz? Suave, baixa, sempre cheia de por favor, com licença, Deus abençoe.
Na igreja, era presença fixa. Chegava cedo, ajudava a arrumar os bancos, acendia as velas, cuidava dos fios do microfone como se fossem nervos sagrados. Quando o padre tossia, era Luan quem aparecia com o copo d'água. Quando uma senhora tropeçava no altar, era ele quem estendia a mão primeiro. Todo mundo via nele um anjo em terra — e ele fazia questão de manter esse papel.
Mas o que os outros não viam era o que acontecia entre quatro paredes, atrás da porta do quarto de paredes brancas, cortinas fechadas e uma tranca bem firme que só girava à noite.
Ali, o anjo saía do corpo.
O rosto continuava o mesmo, o cabelo no lugar, mas os olhos... os olhos queimavam. A boca se abria devagar, as palavras mudavam de tom. A cruz no peito ainda brilhava, mas agora tremia sobre uma camiseta colada ao suor, colada à pele. Ali dentro, Luan era outro. Era o que sempre quis ser.
Era Boca de Veludo.
O apelido tinha surgido por acaso, numa dessas noites em que ele passou tempo demais com a boca ocupada. O homem era casado, amigo do pai dele, vizinho do fim da rua. Entrou na casa como quem ia pedir açúcar, saiu com as pernas bambas e o pau melado. Três dias depois, o vídeo circulava num grupo fechado, imagem borrada, mas o suficiente pra um deles comentar:
— Essa boca é de veludo, caralho.
O nome pegou. E virou convite.
Luan criou um perfil falso num app de encontros, onde postava frases enigmáticas e fotos sem rosto — só a boca aberta, lambuzada, com gotas na língua ou a marca de uma rola nas bochechas. Não demorou muito e a fila cresceu. Motoristas de aplicativo, pedreiros, pastores, entregadores de gás, até um policial de plantão que ele recebeu escondido no quintal, com o cachorro latindo enquanto engolia a farda toda.
Mas nada disso quebrava a fachada. De manhã, era o mesmo. O menino de fala mansa, que carregava sacolas pra vizinha idosa, que entregava folheto da campanha da igreja no semáforo com um sorriso angelical. Por fora, pureza. Por dentro, perdição.
Era essa dualidade que o deixava duro toda vez que trancava a porta.
Ali, no escuro do quarto, acendia uma vela só pra deixar o clima mais carregado. O chão frio contra os joelhos nus, a cruz no peito descendo à medida que a camiseta subia. Pegava o celular, via as mensagens:
"Você atende hoje?"
"Quero gozar na tua cara, posso passar?"
"Tô com pau latejando por tua boca. Bora?"
Ele respondia com um áudio. Voz baixa, quase uma oração:
— Tô te esperando. Porta dos fundos destrancada.
Nessa noite, ele já sabia que a mãe ia sair pro culto. Saiu às sete, de vestido longo e Bíblia embaixo do braço, achando que o filho ficaria em casa estudando pro Enem. Mal sabia que ele tinha um lubrificante escondido atrás da Bíblia, um plug dentro da gaveta de meias e o rabo raspado horas antes, no banho demorado que tomou de porta trancada.
O ritual começava sempre com ele ajoelhado no tapete. Deixava a luz apagada, só o brilho do celular em cima da cômoda. Camiseta branca, a mais fina, daquelas que deixam os mamilos marcados. Cueca? Nenhuma. O cu livre, o cu à disposição.
Às vezes, colocava uma música de fundo — uma que tivesse batida lenta, gemido no instrumental, alguma coisa que o preparasse pro que viria. Mas naquela noite, ele queria silêncio. Queria ouvir tudo. A chave na fechadura. O ranger da porta. O estalar do cinto. O som da rola saindo da calça.
O primeiro da noite já tinha mandado mensagem. "Tô a caminho."
Era caminhoneiro. Trinta e cinco anos. Corpo largo, mãos calejadas. Já tinha ido outras vezesSabia o caminho de cor, sabia onde deixar o chinelo, sabia que não precisava falar nada.
Luan ajeitou o cabelo no espelho, passou um pouco de hidratante na boca, mordeu os lábiosSe olhou de lado.
Tinha algo sagrado em se preparar assim pra foder.
Algo que ele mesmo não sabia nomear.
A campainha tocou. Mas ele não se levantou.
Era assim que funcionava.
Quem entrava, já sabia onde encontrá-lo.
O rangido da porta.
O barulho do chinelo sendo tirado.
Os passos pesados no corredor.
A porta do quarto abriu devagar.
Luan não se virou. Ficou ajoelhado, mãos apoiadas nas coxas, a cabeça baixa, como quem reza.
O homem ficou parado na porta, observando.
— Já tô duro só de ver essa porra — disse.
Luan não respondeu. Só abriu a boca.
O caminhoneiro se aproximou. O som do zíper descendo foi como um sino de missa. O corpo de Luan estremeceu por inteiro, não de medo, mas de antecipação. Ele não precisava olhar pra saber o que vinha — já conhecia o cheiro, o calor, a textura. Aquele caminhoneiro era reincidente, vinha sempre que o caminhão dava folga e o saco pesava. E Luan, santo do bairro, era o destino certo de descarga.
— Abre essa boca, Boca de Veludo — murmurou ele, segurando a rola com uma mão e os cabelos do garoto com a outra.
A cabeça de Luan inclinou-se levemente pra trás, a boca abrindo num ângulo perfeito, a língua pousada no centro como um altar, pronta pra receber o sacramento.
O caminhoneiro não teve pressa. Enfiou a cabeça grossa devagar, lambendo com a ponta só pra ver o brilho nos olhos de Luan. Mas Luan queria mais. Abaixou o rosto de encontro à carne dura, sugando com vontade, os lábios se moldando ao formato do pau com precisão de quem treinou, de quem nasceu pra servir. Boca quente. Sucção firme. Nada de brincadeira.
— Porra, tu mama que nem puta de beira de estrada, moleque — rosnou, empurrando mais fundo.
O gemido que escapou da garganta de Luan não era dor. Era prazer abafado.
A mão do homem apertou a nuca dele e afundou a rola até a garganta.
Luan engasgou, os olhos lacrimejaram, mas ele não recuou.
A saliva já escorria pelo canto da boca, brilhando no queixo, descendo pelo pescoço e molhando a cruz que ainda pendia entre os peitos.
O caminhoneiro socava com força agora, os quadris batendo no rosto do garoto com estalos úmidos e sujos.
Glub. Glub. Glub.
A respiração de Luan sumia.
Mas ele não precisava de ar.
Precisava de rola.
Tirava a boca só pra cuspir e voltar. Masturbava o homem com a língua, com os lábios, com a garganta que se contraía a cada investida mais funda. O cu se contraía junto, latejando no ar, apertado, exposto, virgem só até o próximo macho chegar.
— Olha pra mim — ordenou o caminhoneiro.
Luan ergueu os olhos marejados. O pau ainda na boca, babado, vibrando.
— Isso... assim que eu gosto. Um santinho de joelhos, mamando como se tivesse fome.
Mais dois estocões e ele gemeu.
A rola tremeu.
Veio.
O primeiro jato acertou a garganta, quente, grosso, salgado.
O segundo subiu pela língua, explodiu entre os dentes.
O terceiro ele segurou na boca, olhos fechados, corpo tremendo.
Engoliu.
Deixou escorrer o resto nos lábios, lambuzando a cruz no peito.
— Caralho... essa tua boca é um pecado — disse o caminhoneiro, ofegante, o pau ainda úmido, balançando entre os dedos.
Luan não respondeu. Só lambeu a cabeça da rola devagar, recolhendo a última gota de gozo como se fosse hóstia. Levantou-se devagar, pernas trêmulas, rosto vermelho, sorriso tímido. Foi até a pia, lavou o rosto, mas não tirou a camiseta — deixou secar a porra nela, como lembrete do que era.
O caminhoneiro vestiu a calça, olhou mais uma vez pro garoto, mas agora com uma mistura de respeito e medo.
— Um dia tu vai matar alguém do coração com essa boca.
Luan riu.
— Antes isso do que matar de tédio.
A porta se fechou.
Ele ficou sozinho por um minuto.
Sentou na cama. Respirou fundo.
Pegou o celular. Tinha nova mensagem.
"Chego em 10. Quero teu cu."
Luan sorriu.
Levantou.
Foi até o banheiro. Se lavou por fora, mas não por dentro.
Queria que o segundo viesse sentindo o gosto do primeiro. Porque ali, naquela casa de esquina, o culto nunca acabava.
E ele era o altar.
Boca de veludo. Cu de bênção. Alma de puta.
A casa estava mergulhada no mesmo silêncio quente de sempre. A luz da cozinha apagada, a vela no quarto já queimando na metade. O cheiro de porra ainda pairava no ar, misturado com o perfume barato de Luan, aquele adocicado que enganava até a libido mais esperta. O chão ainda brilhava com saliva seca, o tapete guardava marcas de joelho, e a camiseta branca seguia colada ao corpo, agora com um círculo translúcido bem no centro do peito.
A cruz no pescoço seguia firme. Lambuzada. Consagrada.
Luan ajeitou os travesseiros no chão, olhou para a janela com a cortina encostada. O relógio marcava 22h08. O segundo da noite estava atrasado. Mas ele viria. Sempre vinham. E Luan gostava assim — com tempo pra antecipar o gosto, pra deixar a pele mais sensível, o cu mais exposto, o coração batendo no ritmo do próprio nome: Lu-an, Lu-an, Lu-an.
Um estalo seco na porta.
Dois toques.
Ele não precisou perguntar.
Abriu. E ali estava o motorista de aplicativo. Trinta e poucos anos, rosto quadrado, barba por fazer, braços tatuados até os pulsos e aquele jeito de macho cansado que só pensa em meter e sumir. Camiseta preta, bermuda larga, chinelo. O celular no bolso da frente. Pau crescendo embaixo.
— Entra. — disse Luan, já se afastando, voltando a andar de costas pelo corredor. A voz mansa, o andar suave, o rabo empinado por natureza.
O motorista trancou a porta atrás de si.
Não disse nada.
Não tirou os chinelos.
Só o cinto.
O som do couro estalando enquanto se desenrolava foi como um chicote no ar. Luan já estava de quatro, em cima do tapete, a cara baixa, os braços esticados, o cu piscando como quem implora.
O homem se aproximou.
Passou a mão pela bunda exposta. Apertou. Espalhou as nádegas e cuspiu no meio, como quem marca território.
— Usado hoje já? — perguntou com a voz grossa.
— Uma rola na boca. Nenhuma no cu... ainda.
— Então hoje é meu.
E foi.
Sem carinho, sem beijo, sem preparação. Cuspe, dedo, e depois a cabeça da rola empurrando com força, abrindo caminho centímetro por centímetro. Luan gritou baixo, mordeu o travesseiro, apertou os punhos. A rola entrou quente, grossa, torta. Do tipo que rasga.
O motorista segurava a cintura dele como alça. Cada investida vinha com estalo.
PAF. PAF. PAF.
Os testículos batiam com força, o som ecoando pelo quarto. O corpo de Luan ia pra frente e voltava. A boca aberta. A saliva escorrendo. O gemido abafado pela toalha que ele mordeu só pra não acordar a vizinhança.
— Tá gemendo por quê, puta?
— Porque teu pau tá abrindo minha alma.
O homem riu.
Cuspiu de novo. Bateu duas vezes na bunda dele.
— Vai ficar com esse cu arrombado até amanhã.
— Promete? — Luan gemeu.
Foi então que o motorista virou bicho. Começou a socar com força, segurar o pescoço de Luan com uma mão, a outra apertando os quadris com raiva. O garoto babava, gozava sem tocar, explodia de tesão só pelo ritual de ser usado. Queria isso. Era isso. Um objeto de prazer. Um cu quente no meio do breu.
O gozo veio com um urro. O motorista travou dentro dele, enfiou até os pentelhos grudarem na bunda de Luan e derramou tudo. Porra quente, jorro pesado, uma, duas, três, quatro bombadas. A rola pulsando por dentro, batendo na parede do prazer.
Luan chorava. Literalmente.
De tesão.
De entrega.
De gratidão.
O homem saiu devagar. Olhou pra aquela bunda vermelha, tremendo, com porra escorrendo no vão. Cuspiu mais uma vez em cima.
— Guarda aí. Não limpa não. Quero ver tua cara de puta quando abrir a porta pro próximo.
Luan não respondeu.
Só riu, ainda de quatro, a porra escorrendo pela coxa.
O motorista pegou a bermuda, vestiu.
Saiu sem dar beijo, sem dizer nome, sem olhar pra trás.
Era assim que Luan gostava.
Era assim que se sentia inteiro.
Com o cu cheio. O corpo vazio. E a cruz balançando sobre o peito.
A notificação acendeu o celular.
"Sou o terceiro. Tô na rua de trás. Manda a localização."
Luan lambeu os dedos.
Ajeitou a vela.
Empinou de novo.
A vela tremia.
A chama dançava no canto do quarto como se também esperasse. O cheiro de porra se misturava com o da cera derretida, suor seco e aquele fundo amargo de cu usado que grudava na parede como papel de parede maldito. A camiseta ainda estava no corpo. Molhada, rasgada no ombro, cruz pendurada torta no peito, grudada de sêmen já seco.
Luan se levantou devagar, as pernas bambas, o cu escorrendo. Fez questão de não limpar. De não apagar nada. Queria ser recebido como estava: fodido.
O terceiro era novo. Nunca tinha vindo. Era o do perfil com foto de boné, sem rosto. Corpo trincado. "Casado e discreto", dizia a bio. Mas a vontade de meter transbordava nas mensagens.
"Te arrombo de farda."
"Hoje tu vira minha puta."
"Quero ver tua cara quando gozar dentro de ti."
Luan respondeu só com localização.
Cinco minutos depois, ouviu três toques curtos na janela da sala. Correu, destrancou a porta dos fundos.
Ali estava ele.
Alto. Moreno. Corpo de academia. Rosto escondido sob o capuz do moletom. Mas a rola... a rola marcava a calça. Pesada. Pronta.
Não houve palavra.
Só olhar.
Um olhar que dizia: Se prepara, puta. Agora é diferente.
Luan abriu espaço e já foi voltando de costas, andando devagar, deixando o homem observá-lo. O rabo exposto, brilhando com a porra do último, rebolando só de existir.
— Deita. — disse a voz grossa.
— Onde o senhor quiser.
Ele puxou Luan pelo braço com firmeza.
Fez o garoto ajoelhar sobre a cama.
Tirou o moletom. O corpo do homem era obra de fúria e testosterona. Ombros largos, peito marcado, braços que podiam esmagar.
A rola? Desumana. Grossa, cheia de veia, pesada como martelo.
— Tu aguenta isso?
— Eu fui feito pra isso — respondeu Luan, abrindo as pernas, esticando os braços, encostando o peito no colchão, empinando o cu com orgulho.
O homem cuspiu, espalhou com a rola, e sem aviso enfiou.
Rasgou.
Luan gritou.
De prazer. De dor. De alívio.
O macho começou a socar.
Sem ritmo. Sem carinho. Só soco de carne.
O colchão batia na parede, o som ecoava. As mãos do homem seguravam a cintura como garras. Cada estocada fazia Luan ranger os dentes, apertar os lençóis, soltar gemidos que nem ele sabia de onde vinham.
— Tu gosta, né, vadia? Gosta de ser usada.
— Eu... nasci pra isso...
— Então geme. Quero ouvir esse cu pedir mais.
E ele gemeu.
Berrou.
Se contorceu.
Gozou sozinho, sem tocar no pau, enquanto era espancado por dentro.
O homem se inclinou.
Mordeu o ombro.
Cravou os dentes.
E estocou mais forte.
— Agora vai calar essa boca. Vai engolir meu gozo por inteiro.
Virou Luan de costas com brutalidade.
Levantou as pernas dele nos ombros.
Enfiou de novo, sem tirar nem dar tempo.
Rola roçando onde doía, onde ardia, onde o corpo já tava mole.
— Vai engolir meu nome, porra.
O gozo veio como uma bomba.
O homem urrava.
O corpo inteiro tremendo.
Os músculos contraídos.
A porra jorrando fundo, quente, animal.
Ele saiu de dentro e bateu com a rola ainda pingando no rosto de Luan.
— Abre essa boca.
— Sim, senhor.
E veio mais.
Na língua, no queixo, na cruz no peito.
Luan lambeu tudo.
Lambeu o pau até limpar.
Chupou como se fosse a última missa.
O homem vestiu a calça.
Não disse nada.
Deixou o quarto com a mesma brutalidade com que entrou.
Luan ficou ali.
No escuro.
Espalhado, lambuzado, glorificado.
Deus, se existia, tinha passado por ali.
E gozado fundo nele.
A vela apagou sozinha.
Fim do culto.
Mas o altar seguia aberto.