Essa história fictícia se passa em uma cidade do interior, os personagens principais dessa narrativa são Hugo e Joaquim. Hugo, o típico aluno exemplar sem tanto traquejo social, e Joaquim, a sua contraparte: um garoto extrovertido, amigo de várias pessoas e o talentoso atleta da escola. Aos olhos dos colegas de escola, os dois pareciam destinados a nunca se dar bem. O pontapé inicial dessa história? Uma típica manhã de segunda-feira, o clima no corredor principal era o mesmo de sempre. Hugo ajustava a alça de sua mochila enquanto Joaquim, encostado na parede, lançava provocações.
JOAQUIM: Já está sabendo que vamos estudar na mesma sala, gatinha? Esse ano vai ser bem divertido....
HUGO: Olha só, parece que você tem alguma serventia além de ficar espancando bola em interclasse. Se bem que a norma é passar qualquer um de ano, então...- Os colegas ao redor de Joaquim riram, ele arqueou as sobrancelhas, como forma de repreensão. Enquanto isso, Hugo acompanhado de Felipe, seu melhor amigo, seguiram direto para a sala de aula.
Na classe, Hugo sentou-se na frente do amigo, em uma fileira localizada no canto ao ambiente. Felipe, que era o fiel escudeiro de Hugo, resolveu questionar o amigo:
FELIPE: Por que você não reclama com a diretora?. Hugo olhou para ele, franzindo o cenho.
HUGO: Do que você está falando? – Perguntou como se não soubesse do que o amigo estava falando.
FELIPE: Do Joaquim, É OBVIO! Ele não te deixa em paz. Se fosse comigo, já tinha resolvido isso faz tempo.
HUGO: Hoje eu respondi e o deixei sem resposta. Você viu que até aquelas hienas que andam com ele acharam engraçado.
FELIPE: É, mas depois de ter passado metade do ano passado ouvindo insultos e provocações em silencio...
HUGO: Ele não me atinge com aquelas provocações. E se eu for reclamar na direção é capaz dele pegar ainda mais no meu pé. É nosso último e eu não quero me preocupar com coisas sem importância, já basta o enem que vai me tirar a paz pelo resto do ano. Então é só deixar para lá.
Naquele instante, o sinal ecoa pelos corredores, e a sala de aula começa a se encher com a chegada dos estudantes. Joaquim entra na sala e encara Hugo com um sorriso malicioso.
FELIPE: Ah lá o babaca te provocando...Vou te falar viu, o que esse ruivo tem de insuportável ele tem de lindo, até que esse corte militar combinou com ele, você não acha?
Hugo desviou o olhar para a janela mostrando indiferença, mas ele concordava com o amigo. Hugo jamais admitiria em voz alta, mas ele achava Joaquim atraente, principalmente quando estava vestido com camiseta regata exibindo os músculos.
Aquele primeiro dia de aula seria dedicado a apresentação dos professores, o cronograma escolar, dinâmicas e jogos no pátio e na quadra para tornar a volta as aulas mais leves para os alunos. Hugo não adepto de esportes, tão pouco atividades que exigissem algum esforço físico, por causa disso resolveu ficar sentado jogando conversa fora com Felipe.
HUGO: Ai amigo, eu tenho tanto inveja desse seu cabelo, queria ter nascido com ele liso, as vezes eu tenho vontade de tacar química nessa juba aqui.
FELIPE: Seu cabelo é lindo, o problema é que você não cuida. Não vê o cabelão da Mari, ele é todo cacheado e super bem cuidado, você só precisa deixar de ser preguiçoso e começar a finalizar as madeixas.
HUGO: Pode ser... Eu estava pensando em pintar de azul ou fazer umas mechas coloridas. Acho o castanho uma cor tão básica e sem graç...Felipe você está me escutando?
FELIPE: Amigo não olha agora, mas o Joaquim não para de te encarar.
HUGO: Ai vamos sair daqui. Eu trouxe algumas besteiras, mas precisamos ir lá na classe pegar a minha mochila, e depois a gente sobe lá na sala de leitura que deve estar vazia.
Biscoitos, salgadinhos, uma fatia generosa de bolo e latinhas de Coca-Cola eram o cardápio daquele almoço antecipado. Enquanto comiam, os dois observavam a movimentação no pátio da escola.
HUGO: Ai amigo, acho que exagerei na coca, vou ir rapidinho no banheiro, já volto.
Hugo estava na última cabine. Embora o banheiro estivesse vazio, ele sempre se sentia desconfortável em usar o mictório. Agora a sensação era de alívio, nada como poder esvaziar a bexiga. Quando saiu do cubículo, o som da porta do banheiro se fechando atrás dele o fez gelar. Hugo virou-se, e ele sabia que a pessoa que estaria ali seria Joaquim.
JOAQUIM: Fugindo de mim, Hugo?- Joaquim disse, com um sorriso maroto no rosto, suas mãos nos bolsos do short, a postura relaxada, mas a tensão visível no olhar.
Hugo estremeceu por um segundo, mas não queria demonstrar. Não na frente de Joaquim. Ele tentou manter a expressão impassível, mas o instinto de se afastar o fez dar um passo para trás.
HUGO: Eu, fugindo? não estou fugindo de ninguém. Eu estava ocupado....é jogando na quadra.
Joaquim deu um passo à frente, aproximando-se de Hugo. O cheiro de menta e gel da sua colônia preenchia o espaço, tornando a atmosfera ainda mais carregada.
JOAQUIM: E desde quando você se tornou uma pessoa que prática qualquer tipo de atividade que exige se movimentar?
HUGO: A conversa está ótima, mas eu preciso voltar lá para fora. Tem gente me esperando – Disse em um tom quase de alerta.
Joaquim segura Hugo pelo braço e o pressiona contra a parede.
JOAQUIM: Tá na hora da gente se divertir um pouco!
De repente a porta do banheiro se abriu abruptamente, e Felipe entrou, seu olhar imediatamente fixou-se nos dois. Ele parou na entrada, os olhos arregalados, e uma sensação estranha surgiu no ar.
FELIPE: Bem que eu estranhei a sua demora, sabia que estava acontecendo alguma coisa.
HUGO: Não está acontecendo nada, Felipe. Está tudo bem. – Aquela resposta não foi o suficiente para tranquilizar Felipe. Ele olhou rapidamente para Joaquim, seus músculos tensos como se estivesse pronto para intervir.
JOAQUIM: Cai fora, japonês! Você está atrapalhando a conversa que eu estou tendo com a sua amiguinha. - Joaquim disse com a voz carregada de sarcasmo. Ele se aproximou de Felipe de maneira ameaçadora, o sorriso esboçado no rosto parecia tudo, menos amigável.
Felipe não hesitou, mas seu rosto ficou tenso ao perceber a atitude de Joaquim. Ele olhou para Hugo, esperando uma reação, mas Hugo não tinha palavras para dar. Apenas manteve os olhos no chão, evitando olhar diretamente para Joaquim.
FELIPE: Você não me assusta, Joaquim. E você deveria baixar a sua bola.
Joaquim deu uma risada cínica e deu um passo mais perto de Felipe.
JOAQUIM: E você vai fazer o que, hein, seu merda?
Felipe não se deixou abater com a ofensa. Ele levantou o queixo e respondeu com uma calma calculada.
FELIPE: Isso era para me intimidar? Eu posso muito bem ir até a diretoria contar o que eu acabei de presenciar.
O clima era tenso, e Hugo sabia que precisava intervir, mas não sabia como lidar com a situação. Ele não queria ver o amigo comprando uma briga que não era dele.
HUGO: Felipe, calma, vamos embora! - Hugo tentou, finalmente quebrando o silêncio. Ele olhou para Joaquim com um olhar frio, tentando recuperar o controle da situação.
Felipe, no entanto, não parecia disposto a recuar. Ele olhou para Hugo, depois para Joaquim, antes de dizer com firmeza:
FELIPE: Eu vou agora mesmo falar com a diretora. Alguém precisa dar uma lição nesse idiota que não te deixa em paz.
Joaquim riu, aquele sorriso fazia com que Felipe sentisse mais raiva ainda.
JOAQUIM: Fica à vontade, Felipe. Vai lá e faz seu showzinho. Eu não estou nem aí. - Felipe, furioso, deu as costas e saiu do banheiro.
Assim que Felipe saiu do banheiro, em um impulso, Hugo correu atrás do amigo. Sua respiração estava acelerada e o coração batendo forte no peito.
HUGO: Felipe, espera! - gritou, Hugo, tentando alcançar o amigo. - Felipe não virou, e acelerou o passo. Ele estava decidido a ir até a diretoria. Quando Hugo finalmente o alcançou, agarrou seu braço com força.
HUGO: Não faz isso! Por favor, Felipe, não vai até a diretoria - Felipe o encarou, com o olhar confuso.
FELIPE: Por que não? Eu vi o que aconteceu lá dentro, Hugo! Ele te encurralou. Se eu não estivesse chegado, sabe se lá o que ele teria feito com você. Isso não pode continuar, eu não vou mais deixar ele fazer essas coisas com você!
Hugo sentiu o peso das palavras, mas não sabia como explicar a situação sem revelar a sua real intenção. Ele olhou para o chão, seu rosto vermelho de vergonha, e a garganta apertada com a dificuldade de se expressar.
HUGO: Eu... Eu não posso deixar você fazer isso. Não é o que você está pensando. - Hugo sussurrou, quase sem coragem de olhar nos olhos de Felipe.
FELIPE: Hugo, você não precisa ter medo dele. Isso não é normal, você precisa se defender!- Hugo sentiu uma onda de desespero tomar conta de si. Ele sabia que não podia continuar mentindo, não poderia manter essa fachada por mais tempo. Ele puxou Felipe para um canto, longe de qualquer olhar curioso, e olhou fundo nos seus olhos.
HUGO: Felipe, por favor... você não entende. - Hugo começou, sua voz tremendo. - Eu... não posso deixar você ir até a diretoria. Não posso.- Felipe franziu a testa, agora completamente sem entender.
FELIPE: Eu sei que você está com medo, mas esse imbecil não pode ficar te perturbando - Hugo respirou fundo, a angústia tornando cada palavra mais difícil de ser dita. O medo de ser descoberto, o pavor de que tudo fosse destruído naquele momento, quase o impediu de falar. Mas ele não podia mais esconder.
HUGO: Por favor, não entregue o garoto que eu amo. Não entregue o meu NAMORADO!