A FORÇA QUE ENCONTRO EM TI - CAPÍTULO BÔNUS 3: EMMETT E O JANTAR

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2786 palavras
Data: 24/04/2025 11:15:28

Escrito por Emmett

Enterrar a Rachel foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que fazer na vida. Porém, ter o George ao meu lado deixa tudo sereno. Sabe quando você encontra o seu ponto de equilíbrio? O meu é o George Fletcher Sanches. Além de ter bons conselhos, o George beija muito bem. O meu carro virou o nosso point favorito para pegação.

Por um lado, eu não quero me assumir para a minha mãe. Por outro, o George não quer falar para os pais sobre nós. Na verdade, eu nem sei o que temos. Eu não quero rotular nada, pois eu não tenho nenhum crivo para relacionamento, afinal, minha única namorada foi a Rachel. Tudo bem, era um namoro fake e por pura piedade dela.

Além de ficar com o George, coloquei toda a minha concentração na natação. Cara, a Sra. Yadav faria treinador da antiga escola chorar. Ela nos faz alcançar o máximo, mas claro que respeitando o limite de cada um. Claro que eu arrasei no cardio e tive que adaptar algumas atividades na academia da escola.

Pouco a pouco, eu fiz amizade com alguns caras do time de natação. Os mesmos papinhos de sempre, qual era a garota mais gata da escola, os melhores lugares para pegação e as piadas sem graça. Era quase uma versão menos nociva da minha equipe antiga. Porém, eu me coloquei em um lugar de observador e fiz os exercícios solicitados.

No dia seguinte, a professora Yadav ia fazer uma segunda seletiva. Aproveitei o tempo livre para treinar e assistir vídeos na internet. Peguei um pouco das técnicas de treino do Futebol Americano, que basicamente é assistir o desempenho dos adversários. Fora que precisei mudar muitas coisas da minha dieta, afinal, pensei que a minha vida de atleta tinha acabado.

O George passou a me ajudar em algumas atividades, como por exemplo nas corridas. Na realidade, era uma desculpa para a gente se ver, mas era fofo como ele se esforçava.

— A professora Yadav podia pegar leve com vocês. — Um cansado George falou, enquanto corria ao meu lado.

— Mas a professora não pediu para eu correr. — Confessei, parando e olhando para ele, que fez uma careta muito engraçada. — Olha, se você quiser me esperar no carro. Eu dou mais duas voltas e...

— Estou de boa, parceiro. — O George respirou fundo e voltou a correr, mas acabou tropeçando e caindo.

— George! — Exclamei e o ajudei. — Calma, por favor. Você se machucou?

— Desculpa, a minha visão é limitada e não vi a pedra no chão. — Ele se justificou e senti uma pontada no meu coração.

— Ei, você não tem que pedir desculpa. — O ajudei a ficar em pé. — Consegue andar?

— Sim. — George respondeu, mas ao tentar andar sentiu dor.

— Eu vou te carregar para o carro. Vamos para o hospital. No caminho, você avisa sua mãe. — Pedi.

Carregar o George nas costas foi mais difícil do que eu esperava. Não pelo peso, mas pela responsabilidade. Cada passo que eu dava, sentia a tensão no corpo dele. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas repleto de pensamentos não ditos. Ele tentou argumentar que poderia andar sozinho, mas o vi cambalear ao tentar apoiar o pé no chão. Não ia deixá-lo piorar a situação por orgulho.

O caminho até o carro pareceu mais longo do que o normal. O George resmungou algo sobre ser pesado e sobre como essa cena parecia saída de uma novela clichê, mas ignorei. Ele precisava descansar e, acima de tudo, ser cuidado. Coloquei-o no banco do passageiro com o máximo de cuidado possível antes de dar a volta e assumir o volante.

A viagem até o hospital foi silenciosa. A cada semáforo, eu o observava de relance, verificando se estava bem. O maxilar travado e a expressão fechada denunciavam sua dor, ainda que ele tentasse disfarçar. Eu me sentia responsável. Se eu não tivesse insistido naquela corrida, isso não teria acontecido. A ideia de que ele poderia se machucar mais por minha causa era insuportável.

Quando chegamos ao hospital, ajudei George a descer do carro e o apoiei até a recepção. Ele tentou protestar novamente, mas um olhar meu bastou para fazê-lo suspirar e aceitar o apoio. Após preencher a ficha, ele foi levado para ser examinado, e eu fiquei na sala de espera.

Os minutos se arrastavam. Meu pé batia no chão impacientemente, os pensamentos me corroendo por dentro. Eu não conseguia me concentrar em nada além do fato de que tudo isso era minha culpa. Se eu tivesse sido mais cuidadoso, se tivesse lembrado da sua visão limitada, nada disso teria acontecido.

Foi então que a mãe de George chegou. Assim que a vi, minha garganta secou e me levantei de imediato. Ela olhou ao redor até seus olhos encontrarem os meus. Caminhei em sua direção, o nervosismo tomando conta de mim.

— A culpa foi minha, Sra. Sanches. Eu não lembrei da falta de visão do George e...

— Calma, Emmett. Tá tudo bem. — Sua voz foi suave, mas firme. — Na verdade, a culpa foi minha. Eu tive que levar a Cachorra no abrigo.

Franzi o cenho, surpreso pela resposta.

— Alguma coisa de errado?

— Ah, não. É uma visita de verificação. Querem saber se ela está sendo bem cuidada. — Ela explicou, parecendo cansada.

Antes que eu pudesse responder, a voz de George interrompeu nossa conversa.

— Mãe?

Ele nos olhava do corredor, um misto de surpresa e alívio no rosto. Suspirei, sentindo um peso sair dos meus ombros. Ele estava bem. Isso era tudo o que importava.

— Filho... — A senhora Sanches aproximou-se de George e beijou-lhe a testa.

— Mãe, para... — Ele pediu, sem jeito.

— Rebecca Fletcher Sanches? — Perguntou a recepcionista.

— Sou eu. — A senhora Sanches ergueu a mão. — Com licença, meninos. — E saiu para acertar a conta com o hospital.

— E aí? — Perguntei, aproximando-me. Acabei tocando seu rosto, mas recuei imediatamente.

— Torci o pé. Dois dias de descanso. — Ele explicou, e notei que agora andava com o auxílio de uma muleta.

Puxa, foi tudo culpa minha. Pedi desculpas mais umas quinze vezes, até deixar o George irritado. A mãe dele me convidou para jantar tentei encontrar uma desculpa, mas ela insistiu e, por fim, aceitei. Nunca tinha ido à casa de alguém que eu gostava.

Fui para casa e tomei um banho reforçado, confesso que passei perfume em todos os lugares. Será que exagerei? Também escolhi roupas bonitas e novas. No caminho, busquei no Google dicas de como me comportar.

Estacionei o carro e li o artigo que encontrei:

1. Seja você mesmo

Parece clichê, mas é real. Você quer que eles gostem de você pelo que você realmente é, não por um personagem que você cria só pra impressionar.

2. Educação sempre

Cumprimenta todo mundo com um sorriso.

Se for jantar, espera alguém indicar onde sentar.

Evita mexer no celular durante a refeição.

3. Observe o tom da conversa

Se os pais dele forem mais formais, tente manter um tom respeitoso. Se forem mais descontraídos, pode relaxar um pouco e entrar no clima.

4. Demonstre interesse

Pergunta coisas leves, tipo hobbies, filmes que gostam, se têm pets... Isso mostra que você se importa e não tá ali só pelo crush.

5. Cuidado com assuntos polêmicos

Evita política, religião e qualquer coisa que possa gerar debate acalorado, pelo menos no primeiro encontro.

6. Elogie sem exagero

Se a comida estiver boa, elogia. Se a casa for bonita, comenta. Mas sem parecer forçado.

7. Agradeça no final

No fim da noite, agradece pelo jantar e pela recepção. Se quiser marcar pontos extras, manda uma mensagem depois falando que adorou conhecê-los.

Se ficar nervoso, respira fundo e lembra que eles só querem te conhecer melhor. E, acima de tudo, aproveita!

***

Eu devia estar feliz. Afinal, ia jantar na casa do George, coisa que eu nunca imaginei que aconteceria depois de quase arruinar o pé dele. Mas, em vez disso, meu estômago estava em um nó tão apertado que eu mal conseguia respirar.

— Respira, Emmett. — Murmurei para mim mesmo, batendo levemente no volante.

O artigo que eu tinha lido dizia pra "ser eu mesmo", mas o problema era: quem diabos era "eu mesmo" numa situação dessas? Eu nunca tinha conhecido os pais de um alguém que eu gostava. Nunca tinha gostado de alguém assim antes, pra começo de conversa.

Desliguei o carro e dei uma última olhada no celular, como se aquelas dicas genéricas fossem me salvar. "Seja educado, demonstre interesse, não fale de política." Ótimo. Só faltava dizer "não faça besteira e não estrague tudo de novo".

Eu encarei a tela do celular e depois para a casa do George. Meu coração batia forte, e minha mão suava contra o volante. Nunca pensei que um jantar pudesse me deixar tão nervoso. Mas era a casa do George. A casa do homem que eu não conseguia tirar da cabeça.

Respirei fundo e saí do carro. Caminhei até a porta e toquei a campainha. Poucos segundos depois, a porta se abriu, revelando a Sra. Sanches com um sorriso caloroso. Do nada, a Cachorra apareceu e começou a me cheirar.

— Emmett, querido! Seja bem-vindo! — Ela me deu um abraço rápido e me puxou para dentro.

— Boa noite. — Sorri, então voltei a minha atenção para a cadela que pedia atenção. — E ai, garota. Soube que fez exames hoje? Espero que esteja tudo bem. — Acariciei os pelos dela.

— A saúde da Cachorra é melhor que a minha. — Brincou a Sra. Sanches, pegando o guia da cachorra e a levando para a sala. — Vamos comer, garota.

A casa tinha um cheiro bom, de comida caseira e um pouco de canela. O ambiente era aconchegante, com fotos da família espalhadas pelas paredes e uma decoração que me fez sentir em um lugar seguro.

— Oi. — George apareceu na sala, apoiado na muleta, e me olhou como se tentasse decifrar o quão nervoso eu estava. Spoiler: muito.

— E aí? — Eu sorri e ergui a mão em um aceno desajeitado. Minha mente repetia as dicas que li no artigo, mas meu corpo parecia decidido a ignorá-las.

— Vem, vamos jantar. — Ele apontou para a mesa posta na sala de jantar.

Segui o conselho número dois da lista e esperei alguém me dizer onde sentar. A Sra. Sanches indicou um lugar ao lado do George, e eu me sentei tentando não parecer rígido. Eu precisava relaxar. "Seja você mesmo", dizia a primeira dica. Mas e se meu eu mesmo fosse um desastre?

Quando a Sra. Sanches me convidou para jantar na casa dele, eu hesitei. Não por não querer ir, mas porque ainda não sabia direito como navegar nessas situações — como ser o cara que perdeu um braço em meio a conversas casuais e pratos cheios. Mas ela insistiu, e eu aceitei.

Sabe a parte boa? O Sr. e a Sra. Sanches pareciam de boa com a minha vista, sem aquele olhar de pena que eu já estava cansado de ver. Quer dizer, a irmãzinha do George, a Anne, me estranhou no início, sempre me observando e cochichando algo para a mãe, que ria.

— Emmett, que bom que você veio! — Disse o Sr. Sanches, enxugando as mãos no avental antes de me cumprimentar com um leve toque no ombro. — Espero que esteja com fome. Fiz o meu melhor.

Eu olhei para a mesa e senti um nó na garganta se desfazer.

Não havia um banquete elaborado, nada que exigisse facas afiadas ou equilíbrio preciso entre garfo e prato. Em vez disso, havia uma macarronada de frango desfiado — fácil de enrolar no garfo com uma única mão — e nachos já montados em porções individuais, crocantes e prontos para serem pegos. Os copos estavam cheios, suco de manga num, água no outro, ambos com canudos inclinados para mim.

Nada disso era óbvio, nada disso foi dito em voz alta. Mas estava tudo ali, cuidadosamente pensado.

— Então, Emmett, você é um atleta? — O Sr. Sanches perguntou enquanto tirava o avental e sentava à mesa.

Respirei fundo e sorri. Perfeito. Um assunto seguro.

— Sim. Sempre gostei de atividade física. Meu pai me colocou no Futebol Americano quando eu tinha seis anos. Sempre gostei muito. — Peguei um pedaço de carne e tentei não parecer apavorado.

— Imagino que tenha sido difícil parar. — A Sra. Sanches comentou com um olhar compreensivo.

Pigarreei. Essa parte era complicada. Não queria falar sobre como eu me sentia incompleto sem o futebol ou como minha identidade parecia meio fragmentada desde o acidente.

— Sim, mas estou me ajustando. — Respondi, desviando um pouco do assunto. O conselho número cinco dizia para evitar polêmicas. Será que traumas pessoais contavam como polêmica?

George me cutucou de leve com a perna e sorriu. Um sorriso pequeno, mas sincero. Me acalmou um pouco.

— E você, George, já levou o Emmett para conhecer o Food Truck do seu pai? — A mãe dele perguntou animada.

— Ainda não. Mas ele merece um prêmio por sobreviver ao jantar sem derrubar nada. — George debochou, e eu revirei os olhos.

— Achei que você gostava de mim. — Fingi uma expressão ofendida.

— Quem disse que eu gosto? — Ele arqueou a sobrancelha.

A Sra. Sanches riu e o Sr. Sanches balançou a cabeça, divertido. O clima ficou mais leve. Eu sobrevivi ao jantar. Não derrubei nada, não falei besteira e até consegui arrancar risadas. Segui as dicas do Google direitinho. Até a confiança de Anne consegui, principalmente quando a ajude com um pedaço de macarrão que estava preso em seu cabelo.

Quando a refeição terminou, me levantei e sorri para os pais do George.

— Sr. e Sra. Sanches, muito obrigado pelo jantar. Estava ótimo. — Elogiei com sinceridade.

— Nada disso, por favor, me chame de Rebecca. — Pediu a mãe dele.

— Sou Juan. — O pai dele esticou o braço e me cumprimentou.

— Eu juro que vou me acostumar. — Afirmei, sorrindo.

Acho que, no fim, ser eu mesmo não foi tão ruim assim.

— Mãe, posso levar o Emmett pro meu quarto? — George perguntou, para meu desespero.

— Claro, filho. — Ela respondeu, enquanto recolhia algumas louças.

A irmãzinha de George brigava com um pedaço de nacho, o que chamou a atenção do Sr. Sanches, que prontamente ajudou a filha. A família dele era tão unida... Não que a minha não fosse — meus pais fariam qualquer coisa por mim —, mas um jantar em família como aquele simplesmente nunca aconteceria na minha casa. Sempre havia uma reunião, um encontro de liderança ou alguma emergência de trabalho.

— Vamos, Em. — George me chamou. Sorri ao ouvir o apelido — era a primeira vez que ele me chamava assim, igual à Rachel. Pedi licença e o segui.

— Portas abertas! — Gritou o Sr. Sanches, fazendo George corar de vergonha. — Tô falando sério! — reforçou.

— Juan, para de provocar! — repreendeu a Sra. Sanches.

Quando George abriu a porta do seu quarto, eu não sabia o que esperar. O lugar era simples, mas cheio de vida – livros empilhados, um setup gamer no canto e, na parede principal, um mural que me fez parar de respirar por um segundo.

Fotos. Dezenas delas.

George, Zeek e Rachel. Sorrindo, abraçados, fazendo caretas. Algumas desbotadas pelo tempo, outras ainda vívidas, como se o furacão Fernandes nunca tivesse levado eles embora. Meus dedos tremeram quando toquei uma imagem de Rachel com os braços abertos, como se estivesse prestes a sair do papel e me envolver num abraço.

— Eu queria tanto que eles estivessem aqui... — minha voz saiu rouca, quase um sussurro.

George ficou quieto ao meu lado, mas então senti seu braço envolver meus ombros, puxando-me contra ele. Apertei os olhos para segurar as lágrimas, mas uma escapou mesmo assim. Foi quando ouvi um click familiar.

Piscando, me virei e vi George segurando uma Polaroid, a foto já deslizando para fora. Ele a sacudiu com um sorriso maroto antes de mostrá-la: eu, de olhos vermelhos, meio surpreso, com ele ao meu lado fazendo uma careta ridícula. Não pude evitar uma risada.

— Essa vai pro mural — anunciou, colando-a entre as outras memórias.

— Sério? — perguntei, olhando as fotos outra vez.

— Só coloco gente especial aqui.

O coração acelerou no meu peito. Especial. A palavra ecoou na minha cabeça enquanto eu olhava para ele, para aquele sorriso que já me fazia falta antes mesmo de ir embora. E então, sem pensar nas regras da casa, nas consequências, eu me inclinei e beijei George. Foi rápido, mas suficiente para deixar meus lábios formigando.

Quando me afastei, ele estava paralisado, os olhos arregalados. A adrenalina bateu, mas eu não me arrependi.

— Você quer namorar comigo? — soltei, sem filtro.

George ficou mudo, a expressão presa entre o choque e algo mais... esperançoso?

(Ou ele me mata ou me beija de volta.)

E então, devagar, um sorriso começou a se formar no rosto dele.

— Que maneira idiota de pedir em namoro, Emmett.

Mas quando ele puxou meu rosto de volta para o dele, eu soube que a resposta era sim.

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Comentários

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Cara, seu conto é perfeito, envolvente, consegue transmitir tantos sentimentos diferentes e apesar de ter momentos tristes, consigo terminar todos os capítulos com a sensação de felicidade!

Parabéns por sua escrita maravilhosa!!

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